Revolution of the Daleks escrita por EsterNW


Capítulo 6
Contato Mediato




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A Doutora chegara à conclusão de que não se tratava mais de uma aventura qualquer, onde poderia apenas trabalhar um pouco, encarar as dificuldades e vencer ao final. Já havia alimentado esse sentimento no início, quando começou a descobrir as coisas e à cada passo uma nova descoberta se mostrava, mas agora entendia melhor a situação. 

À princípio não havia chegado a dar tanta importância aos velhos amigos que ali encontrou. O Monge era esperto, mas passava longe de um calculista e beirava a personalidade de um palhaço de circo. Ainda se admirava dele estar elaborando um plano detalhado ali. Bom, muito provavelmente a nova regeneração havia trazido novidades. 

Rani a preocupava em certos pontos. Era sempre metódica e não se importava com os custos para alcançar um objetivo. Poderia menosprezar a vida com muita facilidade se fosse necessário, e também era extremamente inteligente. Parecia ainda que o novo rosto lhe trouxera algo à mais de desprezo imparcial, e isso deveria ser o suficiente para ficar alerta, mas não havia chegado a se preocupar em demasia nem com isso. 

O tal do Khayin era um show a parte. Detestava-o na maioria das vezes pelo ar de arrogância e superioridade, mas afinal de contas, não eram todos assim os Senhores do Tempo? Lembrava-se muito bem de vários tipos, inclusive de si mesma, em que o orgulho reinava. Ainda não sabia muito sobre ele, mas talvez pudesse ser um membro importante de Gallifrey.

Sua terra natal... Por certo ângulo estar ali a confortava depois de tudo o que houve. Mas vamos lá, Doutora, foco. No que estava pensando mesmo? Ah, sim, preocupação! Não havia se dado ao trabalho de sentir mais receio do que o necessário durante sua estadia ali, e já haviam se passado dias. Mas, agora, clandestinamente naquela sala de vigilância, Rani falava calmamente apontando um prisioneiro, um que não reconheceu apenas pelo nome, mas também pelo rosto.

— Yana... — sussurrou para si enquanto Rani dizia algo sobre como o contataram.

Ela se voltou com a testa franzida, as linhas tão firmes que quase tinham vida.

— O que disse?

— Nada.

— Você disse uma palavra sim, eu ouvi. E agora parece nervosa — disse quase encostando o rosto no da loira. — Não estaria escondendo algum informação, não é? 

A Doutora conteve a respiração e o suor que começavam a brotar na pele. 

— Não precisa ser tão desconfiada.

— Preciso sim. — Ela rangia os dentes. — Já estou cansada de estar aqui, contendo minha respiração e medindo cada passo. Não vou deixar que o plano falhe por causa de besteiras, então ou se concentra no que estamos fazendo ou se entrega ao controle.

Ela acabou suspirando e relaxou os ombros, se rendendo à autoridade da outra. Não poderia rebater como gostaria, para preservar a possibilidade de aliança.

— Vou perguntar de qualquer forma mas você responde se quiser — a Doutora acabou por dizer, com certo receio. — Quem é esse Mestre?

— Um dos bons — disse Rani com a ponta de um sorriso, ao que a outra pensou. — Descobrimos ele com algum esforço, pois nunca esteve ao nosso lado no pátio.

— Entendo. Estou curiosa para saber como o descobriram mas sei que vai me ignorar, então só mais uma coisa, vocês planejam soltá-lo?

Rani não respondeu por cerca de um minuto, apenas passou para visões de outras regiões. Percorreu dezenas de imagens de centenas de ângulos das câmeras. A Doutora ainda se questionava onde elas se encaixavam no panorama da arquitetura local, mas já havia percebido que pareciam estar em quase todos os lugares.

— Nós vamos contatá-lo — acabou por dizer enquanto regredia para a figura do homem em posição de meditação em sua cela.

— Por voz?

Rani sacudiu a cabeça com certa decepção.

— Não, minha cara, vamos contatá-lo. 

A Doutora compreendeu depois da ênfase que ela deu nessa palavra. Seus últimos contatos telepáticos com Senhores do Tempo não haviam sido muito animadores, e achava que aquele não quebraria a tendência, então tentou se manter alegre para disfarçar o nervosismo, uma tática que frequentemente usava.

— Mas ele não está meio longe?

— Essa é uma das razões de te trazer aqui.

— Ah, entendi. Um contato duplo para fortalecer a comunicação. Isso é quase obsceno, hein, mas vamos em frente.

— Muito bem, só chegue mais para o lado, para o ponto mais próximo dele em que podemos estar. — Posicionou a Doutora próxima das telas do lado direito, e então se colocou de frente para ela. Quase lhe escapou um riso ao encarar a face da cientista, sempre de mau humor, mas agora em pé de igualdade com a outra.

Contato — disse fechando os olhos e tocando as têmporas da Doutora.

Contato.

Quase escapou das entranhas da Doutora uma vontade ancestral de adentrar os pensamentos de Rani, ver mais sobre seu passado e como havia chegado ali, mas ela não era estúpida. Sua mente era uma fortaleza impenetrável, assim como a dela. As duas chegaram a pensar em se invadir, mas seria um impasse terrível, como aquela vez em que os Daleks estavam em guerra com uma raça de androides e... Ah, foco, Doutora! 

Elas cruzaram o pensamento pelas dezenas de cabeças ali presentes, esbarrando em não poucos Senhores do Tempo abobados de mente vazia, mas acabando por se concentrar e chegar ao objetivo.

Boa noite — disse a voz do Mestre quando bateram à sua porta. — Não esperava visitas hoje.

Considere uma surpresa — falou a Doutora telepaticamente, sem conseguir se conter. 

Concentre-se na conexão — Rani a repreendeu. —, eu cuido da diplomacia.

Então vieram com bons propósitos, senhoritas?

Você sabe que sim, Mestre. Lembra de mim, do Monge e do Khayin, não é? Lembra do que propusemos?

— Eu lembro de uma conversa desestimulante com jovens que sonham com o impossível. 

— Eu tenho mil e trezentos anos! Não sou jovem e o Khayin não fala por mim.

— Mas é do seu grupo. Me diga, espera mesmo obter algum êxito no que planejam?

Mas é claro, estamos reunindo os melhores, e com a sua presença não há chance alguma de dar errado.

Ele fez uma pausa, se concentrando em si. A cela vazia trazia a possibilidade maravilhosa de refletir diariamente, e estava conseguindo se sair bem na companhia de sua mente, mas agora, nesse momento, tinha de lidar com duas novas colegas. Ah, como detestava as pessoas, geralmente eram úteis em seus planos, mas mesmo Senhores do Tempo podiam ser apenas uma pedra no sapato. 

Pois eu não penso assim, senhorita. — Acabou por dizer, tomando uma decisão sobre a proposta delas. — Os guardas são mais fortes do que pensa, e quem está lá em cima observando tudo é imbatível. Não vejo razão alguma para me envolver em sua infantilidade quando nem ao menos tem total confiança no próprio plano ou em seus parceiros. Eu estou ótimo por aqui.

— Se me permite... — interrompeu a Doutora antes que Rani desatasse em súplicas ou xingamentos. — Bom, senhor Mestre (se posso lhe chamar assim), todos parecem bem seguros de si nas redondezas, não acha? Você mesmo está totalmente isolado em uma cela, a meditar, sem companhia e nada para passar o tempo, mas ainda assim se diz em uma situação confortável?

Eu estou cumprindo a minha pena. E quem é você mesmo? Ah, não me diga. Outra jovem iludida.

Não sou o que pensa. Mas não vamos nos alongar nisso. Se está cumprindo sua pena e tem consciência disso, então é diferente dos demais. Eu e uma penca de outros Senhores do Tempo aqui não sabemos o motivo de estarmos presos.

— Pois certamente que cometeram algum crime. Ou cometerão. Me admiro que não pensem sobre a não linearidade do tempo.

Tenho plena consciência disso, como qualquer um, mas acho que são coincidências demais. Me diga, quem o colocou aqui?

Ele parou e deu uma leve gargalhada, olhando para cima. Rani e a Doutora permaneciam na mesma posição na sala das câmeras, mas suas mentes estremeciam de ansiedade.

Os Senhores do Tempo, naturalmente.

Os Senhores do... Certo, mas qual deles?

Não vejo sentido em sua pergunta. Naturalmente trata-se de Rassilon e sua troupe.

Sim, naturalmente...

Um silêncio se prolongou por algum tempo ali, mas aquela conversa já estava encerrada antes mesmo de começar. Não puderam mais se alongar quando alguém se aproximou da sala das câmeras, e após uma repentina despedida logo estavam se arrastando de volta pelos dutos. 

O Mestre não se dispôs a ajudar de modo algum, e a missão pareceu ter se encerrado com essa conclusão. Apesar de tudo, Rani havia demonstrado alguma satisfação com o desempenho da Doutora, e ninguém do grupo pareceu querer desistir perante a negação do Mestre. Eles estavam determinados a sair dali, e com certeza acabariam por tentar outra vez. 


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Notas finais do capítulo

Will:
E aí, curtiram esse primeiro contato da Doutora com o Mestre? Como viram, é a versão do YANA (embora mais jovem), que só apareceu no episódio Utopia, mas daremos algum destaque a mais pra ele por aqui. Estamos gostando bastante de ver as teorias de vocês, é divertido, e é legal ver o engajamento nessa história que estamos nos divertindo tanto escrevendo.

Ester:
Senhores do Tempo reunidos, claro que a gente não ia deixar de fora o clássico Contato xD Mas hummm, será que o Mestre vai suspeitar de algo da Doutora? Eu não confiaria em ninguém por aí...
Até semana que vem, povo o/


CENAS DO PRÓXIMO CAPÍTULO:

[...]

— Por que não me deixam tentar falar com ele outra vez? — sugeriu, ignorando as insinuações de Khayin.

[...]

— Conversar comigo mesma já perdeu a graça a essa altura — disse para as paredes. — Nenhuma de nós tem as respostas que preciso.

[...]

— Uma pergunta por uma resposta?
— Nada mais justo, não?

[...]

— Você sabe muito bem qual o destino dos desertores em nosso povo. 

[...]