Revolution of the Daleks escrita por EsterNW


Capítulo 12
O desandar da carruagem




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Por mais que houvesse o ansieo por esclarecimentos, os três prisioneiros nunca desejaram que este viesse na forma de um Dalek.

— Fiquem calmos — disse a Doutora, se colocando de frente contra os outros dois. — Não vou deixar que machuquem vocês.

— Quem você pensa que é? — disse a Senhora do Tempo menos otimista, levemente indignada pela repentina bravura.

A Doutora talvez devesse ter dito a verdade agora, falar sobre tudo que o seu nome significava e o que fariam, mas lembrou que eles eram Senhores do Tempo, talvez nem isso, apenas Gallifreyanos. O que achariam dela? Saberiam que foi a responsável por colocar um fim na Guerra, ou mesmo cogitariam acreditar? Não houve mais tempo para obter alguma dessas respostas.

— Abra — ordenou o Dalek para uma guarda que o acompanhava.

Só então a Doutora percebeu que esse era um tipo bem comum, de armadura preta e alaranjada, sem muitas extravagâncias. Também tinha uma mão metálica ao invés de desentupirdor, mas ainda precisava que lhe abrissem a porta. 

— Saia. — Apontava para a Doutora, mirando seu rosto, uma cena típica para ela em todas as regenerações, mas desta vez havia tanto mais em jogo...

— Pra onde vai me levar? — perguntou ainda imóvel.

O Dalek apenas precisou inclinar para a direita o seu olho, e no mesmo instante a guarda estava arrastando a Doutora para fora. Ela ainda tentou se segurar nas barras de metal da porta, mas uma corrente elétrica passou por seu corpo e a amoleceu. Eles tinham truques novos!

— Eu já volto, gente — disse com as mãos nas costas, tentando se recuperar de tudo ainda. — Continuem firmes.

Mas a guarda também pegou um dos prisioneiros, o mais entusiasmado. A outra se levantou e tentou puxá-lo, um ato vago de desespero e medo, mas levou um tapa da guarda, que não hesitou em usar para isso toda a extensão de seu braço. Ela caiu com o rosto no chão, mas ainda se ergueu e correu até a porta.

— Exterminar! — anunciou o Dalek, e concentrizou essa ação.

— Não! — gritou o outro, e a Doutora rangeu os dentes de fúria, mas não havia mais nada a ser feito.

— Por que atirou nela? — perguntou indo até o Dalek com ardor nos olhos. — O que ela poderia te fazer? Estava desarmada.

— Estava — disse o Dalek em concordância, surpreendendo a Doutora e o outro Senhor do Tempo. — Mas diversão é diversão.

Ela contorceu a face perante o pensamento dele e esse linguajar diferenciado. 

— Pois não somos preciosos para você?! — disse o Senhor do Tempo de cabelo ruivo, a brilhar na cor laranja, já contido. — Está nos usando para algo, seria mesmo são provocar uma regeneração às coxas?

O Dalek girou na direção dele e se aproximou, encarando seu rosto.

— Você não é nada. Temos centenas de vocês.

— Apenas matar por diversão, então? — disse a Doutora interrompendo a voz pausada e metálica. — Típico.

Ele não mais falou, apenas deu outra ordem para a guarda. Enquanto a Senhora do Tempo de cabelo roxo agonizava na cela trancada, os dois eram empurrados por um corredor sem portas ou janelas, que se tornava a cada passo e a cada dobra mais escuro, apenas a luz das antenas do Dalek a trazer alguma claridade. A Doutora se admirava com o fato de nem ao menos luzes de segurança haverem ali, como nos corredores que encontrou depois da sala das câmeras.

Ah! O plano. O Mestre. A Rani. O Monge. O Khayin. Todo mundo... Teria lhes sido reservado o mesmo destino daqueles miseráveis com os quais dividiu a cela, ou teriam conseguido escapar? Não tinha como saber agora, mas talvez eles fossem os únicos prisioneiros ali, para serem colocados juntos. Contudo, a sua máxima eram as suposições.

— Ela vai ficar bem, não é? — perguntou de repente o seu companheiro, após metros cruzados em silêncio. 

— Não sei, você é o rapaz da positividade.

Ela sorriu, mas isso só o havia deixado mais nervoso.

— Tudo bem, não se preocupe, não há nada que possamos fazer agora. Por enquanto, é melhor seguirmos o andar da carruagem. Converse comigo. Qual seu nome mesmo?

— Ahmar. Mas de quê isso importa agora?

— Importa muito. Um nome é uma das coisas mais valiosas sobre você, depois de sua vida. E o nome da sua colega?

— Arijwani. Mas não sei se vou conseguir chamá-la assim se tiver mudado.

— Mas deverá tentar. Vi que os dois são muito ligados, deverá agradecer por ela estar viva quando voltarmos, mesmo que com outro rosto e um modus operandi um pouquinho diferente. 

Ele sacudiu a cabeça e a baixou, consternado. A Doutora queria dizer mais, porém ainda estava tentando focar em tudo o que houve e no que estava se passando. Um tiro de Dalek não era fatal se você soubesse se regenerar, mas muitos outros poderiam não ter tido a mesma sorte.

Acabaram por alcançar uma luz ao fim dos corredores, uma porta larga. Tudo aquilo de algum modo lembrava a Doutora de seu primeiro dia ali, e não foi de toda a sua surpresa ao se deparar com um salão tomado por Daleks. Largos e estreitos, escuros e claros, unidos pelo ódio e trabalhando em maquinários que ela não teve tempo o suficiente para decifrar, pois só estavam lá há dois segundos.

— Traga o prisioneiro 19206305 — ordenou um Dalek maior, de frente para uma grande parafernalha com o que parecia ser uma cadeira no centro.

A guarda arrastou o Senhor do Tempo recém chegado até o lugar, enquanto a Doutora, mesmo tentando dar alguns passos, era impedida por outros semi Daleks que a contiveram.

— O que vão fazer com ele? — gritou, mas apenas foi ignorada. Repetiu a interrogativa, até ser silenciada por mais choques elétricos.

Olhou para as paredes, tonta, tentando focar. Ainda estavam mesmo em Shada? A única parte daquele lugar que a lembrava da prisão era a sala com as câmaras de êxtase, mas mesmo aquilo parecia um delírio distante agora.

Seu fluxo de consciência se perdeu quando o seu colega disparou um grito profundo, entalado, que parecia rasgar sua garganta enquanto era proferido, cada nota rompendo uma corda. Estava sentado à cadeira de frente para o grande Dalek. Todo o corpo atado e um capacete de fios envolvendo a cabeça. Seus dedos se contorciam e sua pele em um instante estava a romper em veias, saltando. Por um momento a Doutora achou também ter visto seu cabelo vibrante tornar-se opaco, acinzentado e sem vida. Mas não focou nisso, pois estava tremendo para conter a vontade de se jogar no meio daquelas criaturas e parar imediatamente o que faziam. 

— Vão fazer isso até matá-lo?! — Não houve também uma resposta, talvez pelo grito do jovem que tomava o ambiente inteiro ou pelo simples desejo dos Daleks de apreciá-lo.

Dois, três, quatro minutos de extrema agonia. Cada centímetro dele já parecia contorcido, destruído e queimado, até que uma luz se acendeu, a Doutora pôde ver, em um artefato prateado que por um lance de segundo achou familiar. Mas o que acabou por perceber melhor foi uma luz a se acender em sua superfície. Era algum tipo de placa com letras gravadas, que não conseguia ler, mas que já tinha dezenas de pontos brilhantes sobre sua superfície.

— Transfusão de corrente neural em sete rels — anunciou um Dalek que supervisionava o processo em uma tela.

A Doutora mal teve tempo de calcular quanto valia um rel e a contagem já havia se encerrado. Ahmar não gritava mais, seu corpo apenas deu um sobressalto com uma faísca que lhe infringiram. Após alguns segundos a cabeça pendeu para um lado. Havia sido isso, então? A Doutora se limitara a assistir a morte dele, de braços cruzados e mãos atadas? Não, essa não era ela, mesmo sem um plano não podia permitir que isso continuasse. 

— Daleks, sabem que eu sou?

Tentou se mostrar imponente, inflando o peito e erguendo a voz, mas eles estavam extremamente concentrados em realizar qualquer que fosse seu experimento e ignorá-la não seria uma tarefa extraordinária.

Preparava-se para voltar a gritar, mas o corpo de Ahmar começou a brilhar. Um tom arroxeado, com traços de verde e laranja, que após cobrir toda a superfície de sua pele explodiu em uma rajada de cor e fúria.

A Senhora do Tempo, a observar, por um momento sorriu achando que aquilo talvez ajudasse contra os Daleks, mas ignorara o fato de já terem feito aquilo mais vezes do que poderia contar em seus dedos. Dirigiram a energia, de algum modo, para um refrator circunférico e translúcido. A luz não se dispersou por ele, tampouco o quebrou. Aquilo havia sido projetado com muita dedicação para o meio ao qual estava sendo destinado agora.

Um Dalek se aproximou, um bem comum e semelhante ao que trouxera os dois Senhores do Tempo ali. A energia ainda era emanada em abundância, até que alguém moveu um botão ou alavanca e fez o corpo de Ahmar dar outro sobressalto. De repente a energia foi parando de fluir, um rio se tornando em cascata, e revelando um novo rosto. Mais velho, quase grisalho, em um magro ao extremo.

O Dalek ao lado da esfera de energia regenerativa conectou sua garra em um receptor, e o que a Doutora já suspeitava se fez acontecer. A energia se dirigiu inteiramente para ele, lustrando sua armadura de um novo tom, um que emanava discrepância perante os outros. Parecia um filho do Dalek maior que guiava tudo, um já nada igual aos demais em cor e poder, ao que parecia. 

A Doutora se permitiu rir deles. Usavam antigos truques, nada de criatividade, mas o que esperar? Se algo dava errado aperfeiçoavam, e se não conseguiram se reerguer no encontro que tiveram em Skaro, uma vida atrás, tentavam como crianças birrentas fazer dar certo esta vez. Decerto haviam aprendido. De algum modo retiraram a consciência de Ahmar por um instante, pouco antes de regenerar, para que mais e mais energia fluisse dele. Um golpe baixo, mas a sobrevivência era um objetivo que o corpo de um Senhor do Tempo perseguiria até sua derradeira célula desistir.

— Tragam o prisioneiro 21310439.

A Doutora se surpreendeu, olhando para os lados e tentando fincar os pés no chão, mas seus carrascos eram fortes. Cada passo que dava era uma tentativa de reter informações e uma estratégia rápida, um suspiro por sobrevivência.

Suspeitava agora, depois de tudo o que passou recentemente, que seu limite de regenerações fosse além do usual, mas não desejava ficar ali para morrer dia após dia em benefício dos Daleks. Ainda nem havia tomado sorvete de café ou açaí nessa regeneração. Precisava fazer algo.

— Inciar extração dupla — disse o Dalek mestre quando já a prendiam em uma cadeira ao lado de Ahmar. Ele permanecia desacordado. 


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Notas finais do capítulo

Will:
Um capítulo com MUITA informação nova! O que acharam? Mais teorias? A Doutora ainda está absorvendo tudo, imagino que vocês também, e não acabou por aí. Semana que vem acompanharemos como as coisas vão suceder a isso. Até lá!

CENAS DO PRÓXIMO CAPÍTULO:

[...]

— Não sabia que estavam zanzando por aí feito caçadores de tesouros. Por acaso andaram assistindo Indiana Jones?

[...]

— Diga o que sabe — o líder disse em sua voz sem vida.

[...]

— Os mais inteligentes irão servir — o líder afirmou categórico.

[...]