All Star Philosophy escrita por Millis


Capítulo 7
Pink


Notas iniciais do capítulo

roii, a msc do cap é chlorine
boa leitura amores♥



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 Moment is medical

                                                                                                                          Sippin' on straight chlorine

Encarei meu all star imundo estreitando os olhos, afundei-me na cadeira com as mãos enfiadas no bolso da jaqueta, era já a sexta aula e eu não estava nem um pouco interessada nos poemas de Clarisse Lispector, não que eu não gostasse, mas eu apenas achava que seus poemas eram irrelevantes para a situação na qual eu estava metida, ver Rachel daquela maneira havia mexido comigo de uma forma que eu nem mesmo conseguia explicar, talvez porque eu já tivesse sentido o mesmo, sei que deveria estar feliz, Percy não estava ignorando ela como havia feito comigo, mas deu pra notar que ele estava se afastando dela cada dia mais, e, visto que os dois pareciam quase namorados e Percy a tratava como tal, não era difícil imaginar como ela se sentia, talvez porque a poucos dias atrás eu estava sentindo algo semelhante, suspirei tentando afastar a sensação, falhei miseravelmente.

—Hey—Nico que estava sentado na carteira atrás de mim me cutucou

Virei meu rosto na sua direção.

—hm?—Foi a única coisa que consegui dizer

—ce ta bem, loirinha?—Sua voz tinha um tom preocupado

—Ah—Eu poderia negar, mas não tava afim de guardar aquela sensação só para mim—Podemos conversar depois da aula?

Nico franziu as sobrancelhas em preocupação e eu tive vontade de abraça-lo até seus ossos se partirem.

—Claro—Ele pôs sua mão sobre meu ombro na tentativa de me reconfortar do que quer que estivesse acontecendo –E a verdade, é que funcionou-

Guardei meu estojo na mochila pouco cheia, a aula havia acabado e a professora de literatura havia nos liberado antes do sinal visto que, segundo ela, “nos comportamos direitinho” (que era só um jeito mais educado de dizer que tínhamos calado a boca durante sua explicação), coloquei a mochila sobre as costas enquanto me levantava, Nico estava escorado sobre a carteira a minha frente, ele vestia uma blusa preta de manga longa com caveiras e os dizeres “hell is my home” –o inferno é meu lar em tradução literal- estampado sobre a mesma, jaqueta de couro por cima e calças pretas, além do all star surrado e surpreendentemente limpo, uma corrente fina de prata com pingente de cruz rondava seu pescoço, sua expressão era séria.

—Vamos?—Ele apertou os dedos na alça da mochila em suas costas

—Uhum—baixei o rosto tentando me concentrar

Andei atrás de Nico até chegarmos na entrada do colégio, como havíamos sido liberados adiantados, o pátio e estava quase vazio, os poucos alunos que ali estavam permaneciam calados, não fosse pelo barulho alto da conversa dos alunos dentro de sala, estaria tudo silencioso.

—Quer ir no Amelia’s?—Parei ao lado de Nico

—Pode ser—Ele deu de ombros

Caminhamos novamente lado a lado, apesar do silêncio, o ar não estava nada pesado ou constrangido, andar com Nico era igual andar com Thalia: a energia boa dispensava palavras. Seguimos por duas quadras antes de avistar o local colorido e sentir o cheiro de café passado e pão doce com os dizeres AMELIA’S em letreiros grandes; ok, existem duas coisas que vocês precisam saber:

1º- O Amelia’s, junto com a Cd’s House, eram os lugares mais fantásticos de Londres(pelo menos dos que eu havia visitado)

2º-Era também o lugar favorito de Thalia, por conta da sua obsessão com pinturas de Van Gogh e se ela soubesse que eu havia ido lá sem ela, provavelmente me cortaria a cabeça e a empalharia para pendurar em seu quarto como se eu fosse um urso e ela o caçador.

Adentramos o local, era simplesmente o lugar mais aconchegante do mundo: o chão era de um assoalho claro, as paredes alternavam de branco puro até outras com papeis de parede estampados de azul, um balcão quadrado de mármore preto estava no centro do local, ali tinham maquinas de café expresso e cappuccino e algumas decorações esquisitas, haviam quadros com algumas pinturas famosas -e outras nem tanto- de Van Gogh, prateleiras pequenas com livros e poesias enquadradas decoravam todo o local, uma fileira de apenas um banco azul com cinco mesas de madeira estavam dispostos na lateral esquerda, além de banquetes de três pernas pretos, pequenas ramificações no teto juntamente com as lamparinas penduradas, davam ao local um ar rustico –eu disse, um paraíso-

Eu e Nico nos sentamos no banco azul enquanto a garçonete prontamente vinha em nossa direção.

—Boa tarde, vão querer alguma coisa?— Ela sorriu mostrando os dentes perfeitos, o uniforme tão curto que me fez corar só de me imaginar usando-o

—Eu vou querer um café expresso—Nico sorriu apoiando o rosto sobre os cotovelos na mesa—E dois donuts de chocolate, por favor

Ela anotou seu pedido rapidamente sobre o papel, Nico virou seu rosto para mim

—Vai querer alguma coisa também?—Ela virou o rosto na minha direção quase sem tirar os olhos de Nico

—Um cappuccino com canela e dois donuts também—Cruzei os braços sobre a mesa—Por favor

Ela dirigiu seu olhar a Nico novamente.

—Certeza que não vai querer mais nada?—Ela sorriu novamente

—Certeza—Ele sorriu de volta

—Ok—Ela saiu decepcionada

Coloquei a mão sobre a boca para não rir.

—Ela quase escreveu o número dela na sua testa, sabia?—Eu o olhei provocativa

—Ai,ai—Nico revirou os olhos—É tão difícil ser irresistível

Ele levantou a mão sobre o rosto e se abanou como se estivesse cansado, não consegui conter meu riso.

—Enfim—Nico aproximou seu corpo do meu ficando sério— A gente veio aqui por um motivo, e não era tirar sarro da garçonete bonitona...

Ele deu um peteleco na ponta do meu nariz.

—O que você quer me contar, hein?—Nico passou um dos braços em torno de meu ombro

—Ah—Baixei o rosto me lembrando do real motivo de estarmos ali e me arrependendo profundamente de não ter mentido—É que...

Virei o rosto para os lados esperando que uma intervenção divina me tirasse dali.

—Annabeth...—Nico me encarou nos olhos— Você não precisa falar se não quiser, mas saiba que eu to aqui ok?

—Uhum—Baixei o rosto envergonhada

Nico se aproximou e envolveu seus braços em torno do meu corpo, deitei meu rosto sobre seu ombro me sentindo grata pela sua existência.

Nossos pedidos chegaram e antes que eu pudesse me dar conta já tinha despejado tudo em cima de Nico, tudo o que eu sentia, as duvidas na minha mente, os acontecimentos desde o dia do cinema, tudo. Quando consegui terminar, tinha a sensação de que um rinoceronte de uma tonelada havia sido tirado das minhas costas, o alivio foi tanto que eu quase chorei, Nico me encarava atentamente sem esboçar nenhum tipo de reação.

—Bem...—Ele apoiou o cotovelo sobre a mesa—Pelo que entendi, acho que Percy não esta sendo sincero com Rachel e nem com você em relação ao que ele sente...E isso acaba magoando as duas.

Pisquei os olhos, Nico havia acabado de resumir em uma frase o que eu demorei meia hora para tentar explicar, eu me senti minimamente envergonhada e minhas bochechas ferveram quase imediatamente.

—Eu vou falar com ele—Nico pendeu o corpo para trás apoiando as costas no banco

—Não...—Eu falei instantaneamente—Nico, você não pode fazer isso, Percy não pode nem sonhar que te contei essas coisas

—Ele não precisa saber que você falou nada—Nico passou uma mão pela minha franja—Mas eu não posso deixar que ele continue magoando vocês duas assim, eu entendo que ele tenha os problemas dele, mas isso não é desculpa pra ser babaca

Ele me abraçou e eu afundei meu corpo ao seu, sentindo que a amizade de Nico era a coisa mais preciosa do mundo.

(...)

Passei a mão sobre o espelho embaçado para lipa-lo, o vapor do banho quente havia se espalhado por todo o banheiro, deixando gotículas  de água espalhadas por todo o azulejo, torci os dedos sobre a toalha enquanto encarava o espelho, suspirei pesadamente lembrando de Rachel, ainda não tinha conseguido esquecer as lagrimas nos seus olhos quando ela fugiu da cafeteria. Sai do banheiro e caminhei até meu guarda roupa, vesti uma calça e um blusão folgados, já estava me preparando para me jogar na cama para mais uma sessão de crises existenciais quando um barulho na janela fez com que eu saltasse, olhei na direção sentindo meu coração disparado, a silhueta de Percy em cima da árvore brilhava sobre a luz fraca da noite, parecia um fantasma, andei até a janela a passos apreensivos e a abri.

—Que que ce ta fazendo aqui?—O vento gelado atingiu meu rosto assim que puxei o vidro para cima

Percy passou a cabeça pela janela e espremeu o corpo até estar dentro do meu quarto, ele deu um sorrisinho com o canto dos lábios e passou uma das mãos pelo cabelo rebelde, um de seus fones pendia solto pelo seu peito e o outro estava enfiado em sua orelha, a jaqueta de couro preta contrastando com a blusa cinza, os jeans rasgados e os tênis igualmente pretos, a corrente prata com pingente de cruz circulava seu pescoço, ele cheirava a cerveja e o perfume que eu já estava totalmente acostumada.

—Eu só queria te ver—Ele brincou com os fones

Percy parecia esquisito, ele estava um pouco feliz demais, me encarava com uma expressão divertida ao invés da expressão irônica de sempre.

—Percy, você ta bêbado?—Dei um passo para trás—Calma...Você tava me espionando?

Me forcei a não aumentar meu tom de voz para não acordar meu pai, mas a vontade socar o nariz de Percy já estava me dominando, um sorriso travesso surgiu nos seus lábios.

—Você tem belas pernas—Seu sorriso aumentou como se ele ainda estivesse me observando trocar de roupa

—Vai se ferrar

Suspirei para controlar os nervos, Percy deu um passo na minha direção e isso fui suficiente para que seu corpo encontrasse o meu.

—Tava com saudade—Ele roçou o polegar na minha bochecha

—Percy...—Afastei sua mão do meu rosto—Você ta bêbado, é melhor ir pra casa

De repente sua expressão mudou, dando espaço ao Percy sarcástico que eu já estava acostumada.

—Ta me expulsando?—Ele arqueou uma das perfeitas sobrancelhas

—Percy...—Suspirei—Desculpa, eu não quis dizer isso

—Ta—Ele baixou o olhar, a voz com o habitual tom de sarcasmo voltando—E o que você quis dizer então?

Percy voltou a olhar para mim e cruzou os braços, de repente sua expressão parecia mais irritada do que o normal.

—Eu só quis dizer que...Esquece

Sentei na cama sentindo o peso voltar aos meus ombros, lembrei de Rachel e lembrei da mãe de Percy, a verdade era que eu não queria magoar Rachel, mas também não queria magoar Percy e não queria me magoar, minhas opções do que fazer estavam escassas.

—O Nico me contou...—Percy soltou de repente

Meu sangue gelou.

—Contou o que?—Cruzei as pernas tentando não transparecer meu nervosismo

—Fala sério, Annabeth—Ele cruzou os braços— Você sabe

Seu tom era ríspido, tive vontade de sumir.

—Ah...—Baixei os olhos e encarei minha meia de cupcakes— Isso

—É—Percy me encarou— Isso

O ar ficou tenso em questão de milésimos de segundos, Percy parecia irritado, ele passava a mão pelo cabelo suspirando varias vezes.

—É isso que você pensa de mim?—Ele voltou a me encarar—Que eu não me importo com você? Que eu não me importo com a Rachel?

—Eu nunca disse isso— Encarei Percy— A questão é que eu acho que você nunca deixa claro o que você quer

Percy deu uma risada sarcástica.

—EU nunca deixo claro, Annabeth?— Ele apontou o dedo para si mesmo— Você só pode estar de brincadeira...

Outro riso sarcástico.

—Você me afastou várias vezes, nem olhava pra mim—Percy deu um passo na minha direção— Ficava só com aquele Léo ou com o Nico, e nem por isso eu fiz tempestade em copo d’agua.

—Tempestade em copo d’agua?—Cerrei os olhos querendo socar o nariz de Percy

Dei dois passos e abri a janela novamente, o vento gelado ainda riscando minha pele.

—Percy...— Suspirei— É melhor você ir embora

—Não— Ele cruzou os braços e deu dois passos na minha direção— A gente vai resolver isso

—Ok— Caminhei de volta até a cama e sentei

Percy me seguiu e parou em pé na minha frente, ele suspirou.

—Por que você tem que ser tão complicada?— Um sorrisinho brincou no canto dos seus lábios

—Eu sou?— Baixei o rosto sentindo minhas bochechas esquentarem

Percy se ajoelhou até que seus olhos encontrassem os meus, ele ergueu meu rosto com o polegar até nossos narizes se tocarem.

—Você é

Percy juntou seus lábios aos meus, uma de suas mãos traçou linhas suaves nas minhas cochas, a outra massageava meu cabelo, ele puxou meu corpo contra o seu e minhas mãos percorreram o seu cabelo bagunçando os fios, Percy ergueu seu corpo e me deitou na cama, ele desceu seus lábios para meu pescoço dando mordidinhas suaves, meus dedos percorreram seu peito e ele me puxou ainda mais, os beijos no meu pescoço continuaram, eu estava quase rendida a ele, mas a parte lúcida de meu cérebro sabia que aquilo não ia terminar bem empurrei-o de leve, Percy não se mexeu, ele continuou a beijar meu pescoço com cada vez mais intensidade.

—Percy...—Tentei afastar seu rosto com as mãos

Ele continuava a me beijar, empurrei Percy com toda a força e ele se afastou confuso, parecia perdido, ele me encarava com uma expressão desnorteada.

—Eu...—Baixei o rosto tentando manter a voz firme— Não quero fazer isso...agora

Percy levantou uma das sobrancelhas e cruzou os braços.

—Ok—Sua voz tinha um tom ríspido

Ele caminhou até a janela e saiu sem dizer mais nenhuma palavra.


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Notas finais do capítulo

até o proximoo



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