Dois meses. Faziam exatamente dois meses desde que seu amado Gray foi embora, deixando-a sozinha com suas lembranças e sua chuva.

Desde então chovia todos os dias, o dia inteiro. Ela não podia fazer nada a respeito disso. Todas as razões que a permitiam ver o sol tinham partido. Seus amigos da Fairy Tail, Gray... tudo tinha acabado e o que restaram foram apenas aquelas gotas gélidas e solitárias que sempre a seguiram.

Mas ela não podia perder a esperança, não conseguia. Ela precisava esperar que o Fullbuster aparecesse um dia, trazendo seu sol de volta. Ela precisava se agarrar a essa esperança.

Então ela permanecia, dia após dia, sentada em um banco do vilarejo, sentindo a chuva lhe molhar com força. Sentindo seus cabelos ficarem encharcados, suas roupas ficarem pesadas e suas lágrimas rolarem sempre que lembrava de como aqueles seis meses tinham sido felizes. Talvez os seis meses mais felizes de sua vida, porque apesar da guilda ter se dissolvido, ela ainda tinha Gray ao seu lado.

Um pequeno sorriso triste surgiu em seus lábios ao recordar-se de quando o mago de gelo chamou-a para viver com ele. Naquele dia ela achou que estava sonhando e demorou a cair a ficha de que seus sentimentos finalmente estavam sendo correspondidos.

— Juvia. – chamou, olhando-a de esguelho. A maga das águas tinha a cabeça baixa em um palpável tom depressivo. – O que foi?

— Juvia não é ninguém sem seus amigos da Fairy Tail e Gray-sama... – murmurou, sentindo seu coração doer. – O que Juvia fará agora que a guilda vai se dissolver?

— Juvia... – engoliu em seco, voltando-se à garota. – Levante a sua cabeça. Mesmo que a guilda se dissolva, você sempre será uma maga da Fairy Tail.

— Mas Gray-sama... – olhou-o, sentindo as primeiras lágrimas deslizarem por suas bochechas. – Sem vocês, a Juvia vai voltar a ser a mesma mulher da chuva que só traz tristeza às pessoas.

— Não diga isso. – suspirou em frustração, de certo modo ele conseguia entendê-la. A guilda também era importante para ele e nem ele sabia o que faria depois daquela repentina decisão do mestre. – Eu não sei bem o que vou fazer também...

— Gray-sama pode fazer qualquer coisa que sempre será amado e querido. – sorriu minimamente, cerrando os punhos com a breve imaginação de ver o garoto sendo rodeado por outras garotas. Mas no fim, ela não poderia fazer nada. Não era como se ele fosse querer que ela o seguisse onde quer que ele fosse...

Gray surpreendeu-se levemente com a afirmação de Juvia e por um instante sentiu fagulhas acenderem em seu coração. Fitou o rosto da maga e cerrou os lábios. Se ele não poderia permanecer ao lado de todos os seus amigos na guilda, então ao menos manteria por perto a pessoa mais importante para ele.

— Eu não quero ser amado e querido por todos. – afirmou, encarando-a e chamando a atenção da mulher. – Juvia, você vai continuar ao meu lado mesmo que acabemos sem conseguir trabalhar e passemos fome?

Os olhos da azulada arregalaram com a proposta, mas a expressão logo suavizou para um sorriso.

Um sorriso que dizia tudo. Ela iria até o fim do mundo se estivesse ao lado de Gray.

— Juvia pode ficar sem comer por uma semana para que Gray-sama não passe fome! – exclamou, pulando no moreno com os olhos apaixonado.

— Oe! Até parece que eu te deixaria fazer isso! – reclamou com uma careta, mas logo sorriu, abraçando-a de volta.

Juvia era importante demais para ele deixa-la escapar por entre seus dedos sem fazer absolutamente nada para impedir aquilo.

— Juvia sente falta. – olhou para o céu nublado. – Juvia só queria voltar no tempo e ter Gray-sama de volta!

Abraçou suas pernas com força, escondendo seu rosto e chorando piedosamente. Ela não tinha mais forças para lutar contra a realidade. Não tinha contato com ninguém da guilda, não tinha noticias alguma de Gray. Ela estava sozinha. De novo.

— Juvia. – arregalou os olhos ainda com o rosto afundado em seu colo. Por um instante jurou ter escutado a voz de seu amado.

—--- x ----

Finalmente conseguiu se libertar daquela maga das trevas que estava controlando-o, usando sua marca de demônio contra ele. Infelizmente, demorou mais tempo do que o imaginado, mas desde que recuperara a consciência a única coisa que conseguia pensar era em Juvia e em como ela deveria estar. Sentiu-se culpado, ele tinha prometido nunca mais deixá-la. Ele sabia o quanto a solidão era dolorosa para ela.

Após derrotar a maga, dirigiu-se correndo para o vilarejo onde viveu seis meses ao lado da azulada. Durante aquele tempo, ele chegou a imaginar que viver para sempre com a garota não era uma ideia tão ruim. Eles se davam bem, suas magias combinavam, conseguiam treinar juntos, conversavam sobre todos os assuntos e respeitavam o tempo um do outro. Eles também sabiam que sempre estariam ali um pelo outro.

Bom, ele sabia que Juvia jamais se deixaria ser tomada por uma marca como ele foi. E ele se odiava por isso. Cerrou os punhos, apressando seus passos, queria encontrar Juvia logo. Precisava encontrar Juvia logo.

—--- x -----

Sentiu seu coração apertar com força ao ver a maga das águas encolhida em um dos bancos do vilarejo. A chuva dava um sentimento de tristeza ao lugar. Praguejou, pensando em como ela deveria estar sofrendo. Aproximou-se a passos rápidos, chamando-a pelo nome.

— Juvia. – não viu nenhum movimento por parte da maga, então chamou-a novamente, acreditando que ela não tivesse escutado. – Juvia.

Viu-a levantar a cabeça e ao vê-lo, arregalar os olhos e levar as mãos a boca. Aproximou-se cautelosamente, parando a poucos passos da jovem.

— G-Gray-sama... – gaguejou, a voz entrecortada. Ela não podia acreditar que ele finalmente estava ali, na sua frente. – Gray-sama...

Levantou-se, andando na direção do mago e ficando frente a frente com ele.

— Juvia. – fitou-a intensamente. – Eu voltei para você. Desculpe a demora.

Sorriu. O primeiro sorriso de felicidade que ela dava em dois meses. Pulou no pescoço do moreno, abraçando-o com força.

A chuva tornou-se mais fraca e fina até parar e dar lugar a um sol estonteante.

— Bem-vindo de volta, Gray-sama. – sussurrou, sentindo-se ser abraçada de volta.