Seus Detalhes escrita por Anny Andrade


Capítulo 1
Capítulo Único: Detalhes


Notas iniciais do capítulo

Gosto da ideia que é possível se apaixonar pelos detalhes.



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Estou sentada observando o salão principal. Olhando todos entrando lentamente, voltando para o próximo ano. Meus olhos a maior parte do tempo cobertos por um livro. Estava tão interessante a leitura que me obriguei a continuar lendo o máximo possível. E eu estaria completamente envolvida com a história se não fosse por ele.

Meu coração tem pequenas arrancadas quando vejo alguém cruzando as portas, quando meus olhos comprovam que não é a pessoa esperada o coração volta para o batimento regular de sempre. Então volto para a leitura.

Infelizmente preciso reler o parágrafo algumas vezes antes de conseguir voltar para dentro da história. Que na verdade no momento nem mesmo me importa. Era tão incrível e agora nem mesmo faz sentido.

Quando ergo os olhos consigo capturar finalmente quem meus olhos caçavam e quem meu coração tanto gosta de guardar seguro em uma portinha pequena, quase despercebida de qualquer outra pessoa que possa por ali andar.

Agora que ele está aqui meu coração não volta tão fácil ao ritmo comum. É difícil fingir que tudo está normal quando meu pescoço começa a esquentar e meu rosto pega fogo internamente. Sei que provavelmente estou vermelha, quase em chamas quando chega perto o suficiente para prestar atenção. Cabelos vermelhos e agora pescoço e rosto também vermelhos. Sou uma bola de fogo em forma de menina. Mas não consigo evitar. Por mais que eu queira que o calor vá embora meu corpo insiste em mandá-lo para meu rosto queimando tudo em volta, me fazendo sentir vontade de me esconder atrás do livro. Nunca fui esse tipo de garota.

Ele fez isso comigo.

E se por acaso eu me esconder não irei ter a oportunidade de fazer o que mais gosto. Observar todos os detalhes dele.

Os detalhes que me surpreende no meio da noite. Quando tento dormir e me deparo com seu sorriso roubando todos meus pensamentos.

Ele entra no salão olhando em volta.

Os largos ombros sustentando toda a confiança que somente os sonserinos possuem.

Seu sorriso dizendo algo aos amigos, tornando a volta menos dolorosa do que espera-se que seja. Os olhos cinzas absorvendo todo o ambiente.

Seu caminhar sério. Duro. Enérgico.

Seu jeito de encarar o caminho sem se preocupar com qualquer obstáculos.

Cada pequeno detalhe fazem com que meu coração dispare contra o peito sem medo de se suicidar. Se não fosse toda a armadura tenho certeza que se arremessaria em suas mãos.  Sem medo algum de morrer.

Prendo a respiração contando mentalmente o tempo que leva para que você chegue até mim.

Um.

Respiro fundo.

Dois.

Finjo ler palavras soltas no livro.

Três.

Viro a página.

Quatro.

Torço para o rosto perder a tonalidade vermelha.

Cinco.

Fecho os olhos.

Seis.

Me preparo para escutar meu nome.

Sete.

E você está parado em minha frente. Lendo o título do meu livro trouxa. Se preparando para me atrapalhar.

― Oi Rose...

E tudo explode em um simples segundo. Eu por outro lado junto cada caco espalhado e ergo meus olhos.

― Oi.

Você se espreme entre eu e a garota ao meu lado. Está sorrindo.

― Livro novo? – Me questiona enquanto eu coloco o marca páginas e fecho o entregando o livro.

― Comprei em um lugar de Londres. – Respondo.

Sinto minha voz falhar um pouco. Quantos dias não escutava sua voz? Ela me deixa um pouco nostálgica mesmo que presente.

― Um dia terá que me levar nesses lugares de Londres. – Sua voz é seria. Mas não sei se ele realmente aceitaria me acompanhar pelas livrarias e sebos de Londres.

― Você nunca estará preparado para esses passeios. – Digo sorrindo.

Ele está lendo a primeira página do livro. Morde o canto do dedão da mão esquerda, o que significa que está concentrado. Enruga a testa o que significa que está confuso. Me olha o que significa que vai me devolver.

Seu sorriso faz com que eu sorria de volta.

― Não imaginava que seria seu tipo de livro. – Ele me entrega como se fosse uma bomba prestes a explodir.

Lembro-me da primeira cena da história. Aparentemente uma cena quente, mas apenas uma metáfora da protagonista entrando em uma banheira para relaxar depois de ter um péssimo dia.

― Romances?

― Romances Trouxas.

Dou risada.

― Os romances trouxas são muito mais leves do que os bruxos. Se soubesse o que nossas mães ou avós leem, você ficaria traumatizado.

Ele faz uma careta.

Gosto das caretas porque são raras. Scorpius é sempre sério e controlado. Caretas são uns dos meus detalhes preferidos. São genuínos.

― Por que está lendo essas coisas? – Ele evita falar a palavra romance.

― Estudo de campo. – Respondo dando de ombros.

― O projeto de se transformar em uma escritora. – ele diz percebendo que lembra-se de uma conversa que tivemos no ano anterior. Muito antes das férias.

Eu aceno afirmativamente.

― Como está indo?

― Eu tenho algumas crônicas, alguns contos, começo de histórias. – Digo pensativa pois não acho que nenhum é realmente bom.

― Uau.

― Não sou tão boa como as meninas do grupo de escrita. – Falo rápido demais, porque às vezes entro no modo faladeira. – Elas são ótimas.

― Que legal.

― Você gostaria de ler algo delas? – Pergunto enquanto penso em qual texto poderia lhe entregar para que ele leia. Algum realmente bom.

― Não quero ler o delas, mas um dos seus eu gostaria de ler.

E meu pescoço volta a queimar.

Não poderia mostrar meus textos quando cada um dos personagens masculinos tinham algo dele. Ele se reconheceria na primeira linha.

― Um dia quem sabe. – Respondo.

― Preciso voltar para minha mesa, vai começar a seleção desse ano. – Ele diz beijando minha bochecha e tocando em minhas costas. – Depois continuamos conversando.

E quando ele já está bem longe consigo voltar a respirar.

Foram seus detalhes que me trouxeram para esse lugar. Para a posição de Rose apaixonada.

No começo eu apenas o observava para lembrar de não me aproximar muito dele, como papai me disse no primeiro dia de Hogwarts.

Depois ele começou a se aproximar por causa de Alvo. Foi quando eu podia vê-lo mais de perto, quando começamos a conversar.

No quarto ano eu estava no dilema entre me apaixonar pelo melhor amigo ou apenas negar até os fins dos dias. E quando os detalhes começaram a se tornar meus pensamentos preferidos.

Eu ainda continuo negando qualquer sentimento. Mas nos textos posso usar o cinza de seus olhos em um recepcionista fofo que ajuda a garota em um dia triste. Posso usar seus cabelos em um vendedor de livros que esbarra nas prateleiras e derruba tudo, completamente desastrado. Posso usar seus lábios em um músico desiludido que toma café em uma lanchonete durante a madrugada e acaba inspirado pela garota com vestido de baile que entra pela porta.

Scorpius Malfoy em seus detalhes consegue me oferecer características para todos os personagens que eu escrever. E cada vez que escrevo penso o quanto estou apegada nesses detalhes dele.

Seus detalhes me fazem querer prestar ainda mais atenção. Nos sorrisos e nos olhares.

Perco toda a seleção pensando nele. Me perco de mim. As vezes até mesmo dele.

― Voltei. – Ele diz me puxando para caminhar pelos corredores. – Vou com você até a porta da Grifinória.

Scorpius sempre faz isso. Me espera depois do café da manhã. Anda ao meu lado até as aulas. Sentamos juntos. E depois no final do dia o beijo depositado na bochecha. Somos uma dupla.

Eu sempre fui a Rose Weasley centrada, aquela que sabe o que é certo e errado, que luta por causas, que é contra muitos comportamentos tóxicos, que briga pelo direito de ter voz ativa. Sempre fui direta. Um pouquinho grossa. Uma mistura um tanto intensa entre a inteligência de Hermione e a teimosia de Ronald. Mas com ele não sei direito quem sou.

Nós conversamos sobre tudo. Como o fato dele querer experimentar o estudo trouxa. Talvez seja um pouco culpa minha contando sempre sobre universidades e a vida dos campus espalhados pelo mundo. Seus olhos brilham com a possibilidade de vivenciar tudo que um universitário pode encontrar pela frente. Sinto um pouco de ciúmes desse brilho e dessa curiosidade e ao mesmo tempo o incentivo porque ele conseguiria ser o primeiro Malfoy a frequentar comunidades trouxas.

Ele sabe o quanto é importante para mim que as notas sejam no mínimo perfeitas e o quanto eu gosto de ir escondida para a cozinha conversar com os elfos enquanto tomo café. Todo bom escritor precisa de uma boa caneca de café.

― Vamos para Hogsmeade juntos no fim de semana?

― Vamos?- pergunto tentando esconder a ansiedade que toma conta de meu ser.

― Prometo que pago algum doce pra você. – Ele sorri e paramos no meio do corredor.

― Hum... Quero um de caramelo. – suspiro. – Combina comigo.

Um pouco doce, mas com aquele salgado escondido. Que gruda no céu da boca e ao mesmo tempo derrete na língua. Meu tipo preferido de doce.

― Rose?

Ele está aparentemente constrangido. E me pergunto se falei algo ou fiz alguma expressão estranha.

Apenas sorrio.

― Oi.

― Eu... – Sua voz congela por um segundo.

E novamente a careta. Meu detalhe preferido.

― Senti sua falta esses dias. – E quando termina a frase sei que meu coração ganha energia suficiente para uma maratona. Ganharia o prêmio de “ coração que bate mais rápido do mundo".

― Eu também. – Quase engasgo. – Não conseguimos nos falar tanto dessa vez.

― É verdade. – Ele coloca as mãos dos bolsos. – Eu gosto de falar com você. E não gosto de falar com quase ninguém.

― Também gosto de falar com você.

― Rose, só conto as coisas de casa, dos Malfoys para você.

Fico sorrindo igual uma boba, porque saber disso me faz ter vontade de gritar. E por mais que eu sinta uma breve esperança de termos muito mais que amizade. Nunca tenho certeza.

Continuamos a andar. Ele falando sobre a vida. Eu decorando seu cheiro, seu jeito, sua voz. Cada mínimo detalhe que poderei lembrar daqui um, dois, dez anos.

― Até amanhã. – Ele para em frente a entrada da Grifinória. E mais um beijo na bochecha.

Fico parada vendo ele se distanciar. Torcendo para que se vire. Rezando para mais um sorrido. E quando ele finalmente se virá. Eu tenho certeza que seus detalhes nunca vão me deixar.

Não importa quanto tempo passe. São seus detalhes que me fizeram me apaixonar. E por sorte ainda teremos um ano pela frente para que eu possa decorar ainda mais segredos escondido.

No meu quarto escrevo mais uma página. Um conto em que o jovem rapaz gosta de colocar as mãos nos bolsos enquanto acompanha a melhor amiga até seu lar.

Fecho meus olhos. E sinto seus lábios em minha face. Posso dormir esperando pelo próximo dia. Esperando o momento certo de deixar de ser apenas Rose. Para me tornar Rose e Scorpius. Scorpius e Rose.

 


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado desse momento fofo, aguardarei comentários. Aproveitem o Junho Scorose, nos veremos mais vezes durante o mês. Até a próxima!
Beijos.