P.O.V. Cameron

 Samantha Vermond. O encosto da minha vida, a pessoa sempre presente, a insuportável… Tinha muitos outros apelidos para ela, mas não eram relevantes neste momento.  Ela e Emma se conheceram quase quatro anos atrás, quando chegamos na cidade e, desde então, nossa vizinha se faz presente. Sim, ela me incomodava. Não tinha exatamente o porque, talvez apenas o fato de estar lá o tempo todo e não deixar barato a maioria das vezes que eu implicava com ela. Nossa relação era assim, como sempre foi: Eu implicava com ela e ela implicava de volta, nesta ordem.

Basicamente, a felicidade dela me irritava. O dia em que Emma voltou pra casa doente e ela saiu com o Nate, eu imaginava que ele a beijaria. Afinal, Samantha, apesar de intragável para mim, é bem bonita e tem um corpo legal. Eu sabia que qualquer cantada tosca a deixaria sonhando, porque, por conta de sua proximidade com Em, elas tendiam a afastar qualquer cara que se aproximasse sem perceber. Entretanto, tanto Em, quanto Sam, eram admiradas de longe por muita gente. Enfim, não esperava que o cara fosse usar uma cantada tão ultrapassada, mas acertei na mosca, o que a deixou irritada e consequentemente pude voltar para a minha paz de espirito.

 De alguma forma, as coisas mudaram no dia que ela entrou no meu quarto como um furação, enquanto eu ainda estava me trocando:

—Olha, Cam. Eu não sei qual é a sua necessidade de me torturar dessa forma, mas dessa vez você passou dos limites. De todos eles. - Ela gritava com uma raiva que eu nunca tinha visto nela antes.- Uma coisa é você me infernizar aqui, na escola, no caminho até ela ou através da janela. Outra, completamente diferente, é você fazer o que você fez.- Ela apontava para mim e, em algum momento, de sua fala lágrimas começaram a percorrer o seu rosto. Eu não entendia nada do que estava acontecendo, mas ela parecia fragilizada, como eu nunca havia visto, muito menos chorar. Samantha não chorava até onde eu me lembrava. -Eu tinha o meu refúgio longe de você, seu imbecíl.- Refúgio? Do que ela estava falando? - Todo mundo sabe o quanto lutei por esse papel, e você não vai me fazer desistir dele.

—O que está acontecendo aqui? - Emma apareceu na porta questionando, para a minha salvação.

—Pode me dar os parabéns, Em.- Sam se virou para ela.- Eu sou a nova protagonista da peça da escola. Junto com o seu irmão. - O que? Protagonista? Mas eu não tinha me inscrito para este papel. Emma olhou de Sam para mim repetidas vezes. - Agora, se me dão licença, eu quero distância de você enquanto ainda posso. - Disse ela se voltando para mim novamente, logo antes de sair.

—Eu não sei o que você quer com isso, Cam. - Emma olhava para mim irritada. Ela não iria nem, ao menos, me ouvir?- Mas se estiver fazendo isso só para ferir a Sammy ou estragar tudo no final, eu nunca mais falo com você. - Ela também saiu, me deixando sozinho no quarto.

 Eu não sabia como isso tinha acontecido, mas sabia que precisaria ir até o fim e fazer bem feito se quisesse a minha nota em literatura.

Ao longo de boa parte do dia, consegui ouvir Samantha chorando em seu quarto através da janela. De alguma forma, que não deveria acontecer, aquilo me quebrava o coração. Sammy chorando era algo extremamente novo para mim.

***

No dia seguinte de manhã, decidi que tentaria explicar tudo para Samantha, assim que Emma saísse de perto, pois, se ela soubesse sobre as minhas notas, contaria para os meus pais. Assim que passei pela porta, vi Sam entrar no carro de Nathan, o novo namorado dela. Aquilo me incomodou um pouco. Ela estava brava comigo a ponto de não ir mais para a escola com a gente? Desde quando Samantha Vermond ficava, deliberadamente, afastada de Emma Woods?

 Tentei aguardar o final do ensaio para falar com ela, que, aliás, foi horrível, mas assim que os demais saíram, a professora ameaçou expulsar os dois da peça se não soubéssemos como funcionar bem juntos e saiu. Eu não sabia como começar o assunto, com medo de que o encosto contasse para minha irmã sobre minhas notas, mas, depois de meia hora em completo silêncio, consegui começar a falar.

No fim, depois de uma pequena discussão, decidimos instaurar uma trégua, o que pareceu razoável para ambos.

***

Três dias depois, logo antes do ensaio, decidi treinar algumas cestas. Como suei, passei no vestiário para tomar uma ducha. Foi quando os vi. Ashley, a minha - até então - namorada, e Jason, meu melhor amigo, transando no chuveiro.

Burro e idiota são duas coisas que eu nunca fui, mas Ashley era boa de cama e me trazia um certo status na escola. Eu suspeitava que os dois estavam ficando nas minhas costas, mas não tinha como confirmar. Ali estava. Terminei com Ashley no ato. Afinal, ela era a minha namorada, e não Jason. O segundo veio me pedir desculpas e dizer que tudo estava acabado entre eles no dia seguinte. Preferi não discutir com ele naquele momento, mas nos afastamos bastante.

Por algum motivo, Jason tinha a tendência de correr atrás das coisas que eu possuía. Virei capitão do time, ele exigiu que a votação fosse refeita; comecei a banda com Tyler, ele quis entrar como tecladista; comecei a namorar Ashley, ele correu atrás dela… Isso, sem contar o fato que ele, constantemente, dá em cima da minha irmã gêmea.