Acordei naquele dia ensolarado que só acontece no Texas. Nada novo sobre o sol.

Eu estranhei o lugar que estava por alguns segundos até reconhecer o quarto de Emma. Ela havia pintado as paredes recentemente e eu ainda não havia me acostumado com a cor. A mãe dela gritava no andar de baixo:

—Pessoal, acordem! Vão se atrasar para a aula.- Cocei os olhos e olhei no relógio. Sete e meia.

Merda, não podia me atrasar. A primeira aula era de física, com um professor velho que achava que as escolas ainda deveriam ser mais rígidas como antigamente. Pulei da bicama e comecei a chacoalhar minha melhor amiga.

—Emmy, acorda. Estamos muito atrasadas. - Ela emitiu um som não identificável e virou para o outro lado.

Eu peguei meu travesseiro e joguei nela com força, abrindo minha mochila para em seguida para pegar a minha roupa e corri para o banheiro. Tentei abrir a porta. Trancada. Bufei:

—Cam, por favor. - Gritei para o irmão gêmeo da minha melhor amiga do outro lado da porta enquanto batia na mesma.- Preciso me arrumar para o colégio.

—Ninguém mandou ficarem acordadas até tarde. Se vira.- Gritou ele do outro lado. Eu grunhi em resposta. Como ele era irritante!

Voltei para o quarto da minha amiga e me troquei lá mesmo. Dobrei o cobertor e fechei a bicama num estrondo. Minha amiga deu um pulo assustada. Ela olhou o celular:

—Eu não acredito que você não me acordou. - Disse ela e eu revirei os olhos brincando.- Estamos muito atrasadas.

A vi entrar no closet e sair vestida enquanto eu penteava meu cabelo. Fiz um rabo de cavalo e voltei para o banheiro, batendo na porta novamente:

—Cameron, por favor. Só preciso escovar os dentes.- Disse e aguardei a resposta.

Ele saiu de lá apenas de calça jeans e com o cabelo molhado. Se eu não o odiasse tanto, talvez até pudesse me sentir atraída por ele. Jogador de basquete, cabelos castanho claros, olhos amendoados, corpo definido, mas personalidade do capeta.

 -Se você ou a minha irmã demorarem para chegar lá embaixo, vou deixar vocês aqui.- Disse ele sem olhar muito para mim, logo antes de bater a porta do seu quarto.

Eu entrei no banheiro, escovei os dentes e lavei o rosto. Estava pronta. Voltei para o quarto de Emma. Ela ainda não estava pronta.

—Em, seu irmão já está quase pronto. Precisa se apressar. - Ela olhou para mim enquanto passava o pincel de maquiagem no rosto.- Você não precisa disso, é linda naturalmente.

—Você também é, mas podia passar uma base de vez em quando. - Ela olhou pra mim e ponderou. - E um corretivo, suas olheiras estão enormes.

Peguei a mochila dela e a minha e desci as escadas, parando na frente do carro. Conhecia Cameron o suficiente para saber que ele partiria sem hesitar se não estivéssemos do lado de fora quando ele destravasse o carro.

Cameron apareceu rodando as chaves nas mãos e Emma apareceu logo atrás, ofegante. Entramos no carro, os dois nos bancos da frente e eu no banco de trás, como era o usual.

Em algum ponto do trajeto a música do Shawn Mendes começou a tocar no rádio. Me empolguei. Comecei a cantarolar junto com a melodia. Foi quando mudaram a estação de rádio.

—Porque você é assim? - Perguntou Emma.- Você viu que Sam estava aproveitando a música. - Ele deu de ombros.

—Não queria ouvir essa baboseira de manhã. Ainda bem que não tomei café da manhã. - Eu revirei os olhos. Custava ser educado?

***

Chegamos na escola em poucos minutos. Ele saiu do carro rapidamente, emitindo a frase que eu já conhecia por ouvir todas as manhãs:

—Finjam que não me conheçam. -Argh. Que raiva desse babaca.

Me virei para Emma:

—Como que sua mãe pariu vocês dois no mesmo dia? - Ela riu.- Vocês são tão diferentes.

—Ele já foi um cara legal. Não sei o que houve com ele.- Ela pensou por alguns segundos.- As vezes acho que namorar alguém legal faria bem pra ele.

—Seu irmão já tem namorada. - Respondi, olhando para a garota que se agarrava a ele na porta da escola.

—Todo mundo sabe que a Ashley traí o meu irmão com o Jason. Só ele não percebe.- Emma olhava a cena e negava com a cabeça.- Além disso, eu falei alguém legal. A capitã das líderes de torcida não se enquadra nessa categoria.

***

Na hora do almoço, estava tentando identificar a mesa que Emma estava, já que não a  encontrara em lugar nenhum. A avistei sentada com Ally e mais dois garotos que eu nunca havia visto.

—Oi.- Disse encostando na mesa e ocupando o espaço entre Emma e Ally.

—Sammy, - Disse Em. - Esses são Nickolas e Nathan. Eles chegaram hoje na escola.

—Prazer, Samantha. - Respondi estendendo minha mão para apertar a dos garotos.

—Pode me chamar de Nate.- Os dois eram bem bonitos e até parecidos. Encarei os dois procurando algum sinal por um tempo, então sorri e apertei sua mão.- Somos gêmeos. Fraternos.- Completou ele, sanando minha dúvida.- Começamos a conversar com Emma na sala por conta disso.

Ambos eram atraentes, mas cada um tinha sua particularidade. Enquanto Nate era mais solto e despojado, Nickolas parecia mais sério e tímido. Ambos tinham o mesmo par de olhos azuis, mas o formato do nariz e a cor do cabelo eram diferentes, assim como os lábios de Nate eram mais carnudos e os de Nickolas, mais finos. Olhei nos olhos de Nate, que me olhava de volta. Sorri mais uma vez. Ok, Nate, você é meu mais novo crush.

Conversávamos os cinco animados sobre coisas aleatórias, como os filmes que estavam em cartaz e qual era o cardápio da semana na cantina:

—Vim avisar que terão que voltar de ônibus hoje. - Era a voz do capiroto bem atrás de mim, atrapalhando a minha conversa com Nate.

—Tudo bem, Cam. - Respondeu Em.- Só lembre de avisar a mãe. Caso contrário, ela inferniza o meu ouvido atrás de você.

—E você, encosto?- Retrucou ele com o apelido carinhoso que havia criado para mim no ano passado.- Não vai falar nada? - Virei de leve a cabeça por cima do ombro.

—Está falando comigo? - Perguntei cínica.- Achei que era pra fingir que eu não te conhecia.- Encarei seus olhos verdes, que me encaravam de volta com raiva. Ele deu de ombros e saiu.

O sinal bateu e descobri que eu e Nate teríamos aula juntos no período da tarde. Estávamos caminhando em direção ao laboratório de biologia:

—Onde você mora? - Perguntou ele.

—Cinco Ranch. Não fica muito longe daqui.

—Que coincidência. - Retrucou surpreso.- Se quiser, eu e Nick podemos te dar uma carona até em casa, moramos por lá também.

—Seria incrível.- Respondi com sinceridade.- Obrigada.

***

Na aula de biologia, ganhei um presente. Nate seria meu novo parceiro, o que foi ótimo, porque eu não aguentava mais carregar Nathalie Lowe nas costas. Ele era bem inteligente e prestativo, itens que só agregavam a lista mental de qualidades que eu estava montando sobre ele.

Cam também estava nessa aula, mas como sempre, simplesmente ignorávamos a presença um do outro alí.

***

Ao final do dia, Nate e Nick deram carona para Emma para mim. Foi interessante ver Nick se soltando, aos poucos, perto de nós e entrando na conversa.

—Obrigada, meninos. - Dissemos descendo do carro ao mesmo tempo.

Sim, eu e Emma éramos vizinhas. Não, nós quase nunca éramos vistas separadas. Desde que Emma mudou com sua família para a cidade, três anos e meio atrás, ficamos muito amigas e não nos desgrudamos mais.

Entramos na minha casa, que estava vazia e silenciosa, como sempre. Deixamos as mochilas no meu quarto e descemos para a cozinha. Eu pulei no balcão, me sentando neste e Emma foi assaltar a geladeira. Ela pegou uma tigela de morangos e colocou ao meu lado:

—Hey, o que achou dos meninos novos?- Disse Emma começando o assunto.

—Já gamei. - Rimos.- Continuo aumentando minha lista de qualidades de Nate. Quanto ao Nick, não sei se saquei a dele ainda.

—Ele é tímido.-Emma respondeu colocando um morango na boca.- Achei fofo.- Eu levantei uma sobrancelha.

—Se eu bem te conheço, vai tentar sugar toda a timidez do coitado.-Ela gargalhou antes de responder.

—O que eu posso fazer? É um dom.

***

Emma ficou até o final do dia na minha casa. Mesmo que não tivéssemos as mesmas matérias, gostávamos da companhia uma da outra quando estávamos estudando. Ficávamos em silêncio, concentradas, mas sabendo que a outra estava ali. De vez em quando trocávamos comentários.

***

Já passava da meia noite quando meu pai chegou. Ele passou pela porta no meu quarto no caminho para o seu:

—Oi, Querida.

—Oi, Pai. Como foi seu dia?

—Produtivo e o seu?- Sempre o trabalho.

—Interessante. Fiz amigos novos. - Disse empolgada. Não era algo muito comum para mim.

—Isso é ótimo, mas o que faz acordada a essa hora? - Disse ele levantando uma sobrancelha.

—Ops.- Disse forçando um sorriso.- Se estiver com fome, eu e Em fizemos lasanha.

—Ok, filha. Boa noite. - Disse ele apagando a luz.

—Boa noite, pai.

Meu pai trabalhava no centro, em uma indústria de petróleo, assim como muitos na região, mas por conta disso quase não ficava em casa ou na cidade. As vezes, como hoje, eu ficava acordada até mais tarde, apenas para ter o prazer de ouvir a sua voz. Mesmo em conversas rápidas como essa, conseguimos nos entender bem.