Os Sussurros Na Floresta escrita por An Imaginary Angel


Capítulo 1
Capítulo Único - Olá, garotinha


Notas iniciais do capítulo

OBS: sim, a Momo é mais baixa que a Jirou aqui. Lidem com isso.

Boa leitura ♥



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/791524/chapter/1

Há várias lendas rondando àquela floresta. Desde histórias de heróis corajosos e reais até boatos absurdos sobre dois irmãos em uma casa feita inteiramente de doces. Tolice.

Apesar de toda desconfiança por parte dos habitantes dos arredores, uma das supostas lendas sempre chamou mais atenção. Quando perguntados, a desculpa era parecida. "Em tempos tão perigosos, qualquer oportunidade de ensinar crianças a não confiar em estranhos é bem vista". No entanto, era a beleza fúnebre por trás de tudo que os encantava.

Não é pra menos, afinal, estamos falando da dama mais bela da qual já ouviram falar.

Apesar de sua beleza, não era nobre ou burguesa. Vivia em uma casa simples com sua mãe, e a ajudava na humilde padaria. Naquela tarde, especialmente, iria fundo na floresta entregar as encomendas de sua avó. Já virara tradição: uma vez ao mês, quando a Lua estava bem viva no céu, a menina passava a tarde fazendo companhia à senhora, comendo os doces que fazia com carinho, conversando e ouvindo as sábias histórias da longa vida dela. Era seu dia favorito no mês, terminando com o maravilhoso jantar, receita secreta da família.

Porém, era também a noite mais perigosa do mês. Apesar de não ser do conhecimento dos aldeões, uma alcateia peculiar vivia não muito longe, sempre à espreita, aguardando a presa perfeita. Não gostavam de se misturar com humanos, muito menos tê-los como alvos –adoravam a vida no desconhecido –, mas sempre sondaram a linda moça de vermelho que andava tão fundo na floresta. Seu cheiro era incrivelmente atraente, como a flor de perfume mais doce do campo. Um membro específico da matilha sempre a admirou. Sonhava em falar com ela, mas tal prazer não lhe era permitido; até aquela noite.

Não era de desobedecer a ordens, muito pelo contrário. Achava total perda de tempo rebelar-se contra seu líder, já que geralmente não resultava em nada a mais que uma punição. Não valia a pena. Mas àquela garota a estava enlouquecendo há meses! Seu perfume penetrava pela pele e a chamava, a atraía como um ímã. Talvez tenha sido por isso que, naquele dia, não resistiu.

—Não acho uma boa ideia, Jirou. Alfa disse claramente para não chegarmos perto dela.– Seu companheiro de caça e amigo, Kirishima, tentou a alertar. –Ele nunca dá ordens tão diretas. Você lembra como ele ficou nervoso... – Falava enquanto a seguia floresta à dentro até o limite de seu território.  –Tem alguma coisa errada com aquela humana.

—Eu só quero falar com ela! Vou ouvir sua voz, conversar por cinco minutos e então vou embora e nunca mais a vejo, prometo. Mas preciso vê-la, Kiri! Eu não entendo por que, mas preciso disso.– Insistia a morena. Sabia que não era certo, mas não conseguia parar de pensar nela desde a primeira vez que a viu.

—Desculpa, Ji, mas eu não te apoio dessa vez. Sabe que é errado, vai ser punida por isso... Não quero te impedir, mas não vou com você.– O ruivo recuou, parando de segui-la. –Os humanos têm se tornado perigosos, temos que nos proteger e nã–

—Ela faz doces, Eijirou! Numa padaria!

—E eu tenho uma floricultura E sou um lobisomem.– Eles se encararam por alguns segundos. Nenhum dos dois pretendia desistir, apesar dela não ter argumentos contra aquilo. Depois de quase um minuto inteiro, ele suspira. –Olha, eu sou seu amigo. Não quero que se meta em encrenca. Mas o Alfa deve ter bons motivos para nos mandar ficar afastados especificamente daquela humana.– Ele desvia o olhar, mordendo os lábios, para logo depois olha-la determinado novamente. –Se você for, eu vou ter que contar. Principalmente pela sua segurança.

A confiança da garota estava abalada. Entendia e concordava com o comportamento do menino. Tinha certeza que faria o mesmo em seu lugar. Mas não podia evitar agir assim.

Era mais forte que ela. Era mais forte do que qualquer coisa que já havia sentido. Pensar em não encontrá-la a matava. Por isso, olhou uma última vez para Kirishima, acenou positivamente com a cabeça, o abraçou e seguiu seu caminho pela floresta, sem olhar pra trás.

Era comum que a seguisse durante toda a viagem. A olhava de tão longe que não conseguia ouvir o som das folhas sob seus pés, sendo esmagadas a cada passo. Escutava apenas um sussurro doce, incompreensível. Via sua boca mexer, mas nunca realmente escutou sua voz; até agora.

Um passo. Só foi preciso um passo para mudar o mundo inteiro. Magicamente, a voz doce e delicada preencheu seus ouvidos. Soava alta e clara, como se estivesse a poucos metros de distância apesar de ainda ver apenas a silhueta pequena e saltitante ao longe. E aquilo, aquela força estranha que a atraía para ela, se fortaleceu cem vezes. Os passos a seguir foram simples, automáticos, como se fosse natural caminhar até ela. Aos poucos, os traços simétricos e elegantes foram se distinguindo. Qualquer um em sã consciência diria estar diante da realeza. Se não a viesse acompanhando durante tanto tempo, também diria. Ela era...

—Perfeita... – sussurrou para o vento. Não é certo se percebeu a fala. Estava tão hipnotizada pela garota que o mundo cairia ao seu lado, mas seus olhos não sairiam dela.

Aproximou-se mais. Seus instintos a fizeram ficar contra o vento, lentamente entre as árvores. Quase não fazia barulho devido aos anos de treinamento. Quando já era capaz de ver perfeitamente as ondas feitas nos cabelos negros pelo balançar inocente do corpo ao caminhar, acompanhando cada fio perfeitamente cortado e tratado, a realidade a atingiu como um sopro. O que falaria ? Com certeza a assustaria por aparecer de repente, no meio da floresta. O que diria?! “Oi, tudo bem? Estava seguindo você, mas resolvi falar dessa vez. O que? Ah, não, não é a primeira vez que eu sigo você haha”. Patético.

Respirou fundo, sentindo o desespero bater seu coração cada vez mais rápido. Só precisava se aproximar e dizer “olá”. Apenas “olá”. Nada demais. Respirou fundo mais uma vez, apertando o passo para ficar à frente dela na trilha. Sentou-se encostada na árvore mais próxima do caminho, fingindo estar durante o descanso merecido depois de horas a fio de caminhada na terra batida. Infelizmente, só conseguiu pensar nessa parte antes de ouvir os passos próximos demais. Segundos depois, o som da parada brusca, interrompendo o ritmado “poc poc” das sapatilhas vermelhas e a canção, que mais tarde se daria conta (tarde demais) de não ter prestado atenção à letra. Abriu um olho apenas, mantendo a pose com os braços atrás da cabeça e as pernas relaxadas, cruzadas à frente, propositalmente pegando uma parte da trilha.

—Ah, olá, garotinha.– Soltou, se arrependendo no mesmo momento. O quão humilhante deveria ser a cena, pensava. –O que faz sozinha tão fundo na floresta? – Soava quase natural demais.

—Bom dia, senhora. Estou a caminho de visitar minha avozinha.– decidiu naquele momento que amava a voz dela. Não se importaria em ouvi-la falar durante todo o dia, não importando as palavras.

Levantou-se rapidamente, ficando na frente dela, encarando pela primeira vez seus lindos olhos e quase suspirando em deleite. –Mas uma jovem tão delicada não deve andar sozinha por caminhos tão desertos. Há muitos perigos por essas redondezas.– Se você soubesse, nunca mais deixaria aquela simples padaria, pensou consigo mesma.

—Já estou acostumada, senhora.– sorriu gentilmente para a estranha. Estava acostumada com as pessoas a dizendo o que fazer, sem nunca a perguntarem o que sentia sobre. Era bom ter alguém preocupada consigo, para variar. –Eu sempre levo doces para minha avó nessa época do mês.

—Senhorita, por favor.– Pediu, realmente incomodada com o tratamento. Deveria ser apenas dois ou três anos mais velha que ela, afinal. –Mas não posso deixar de insistir na sua segurança. Posso ao menos acompanha-la ?– forçou um sorriso tímido, sentindo o coração palpitar. Estava se controlando para não implorar pela companhia. Queria estar com ela mais que tudo, depois de tanto tempo apenas observando de longe.

A mais nova pensou um pouco, enquanto analisava a estranha. Não parecia perigosa. Na verdade, parecia muito simpática. E estava cansada de fazer o mesmo caminho, toda vez, sem nenhuma mudança ou novidade. Seria bom ter companhia.

—Olha, eu vou ter que seguir por aqui mesmo. Vou até a clareira do grande carvalho, a gente pode ir juntas até onde der.– Sabia o caminho que ela percorreria de cor, o local de cada buraco na trilha. A casa da avó era nos arredores do maior carvalho da floresta, para muitos da aldeia o maior que veriam na vida. Seu tronco era estranhamente resistente e de uma regeneração inexplicável.

—Eu vou até o grande carvalho também. Vovó mora a oeste das raízes saltadas.– declarou alegremente a morena mais baixa.

—Então não há mais desculpas. Eu a acompanho.– Lhe ofereceu o braço, só entendendo o que fizera quando a viu rir envergonhada, mas aceitar timidamente.

Puseram-se, assim, a caminho da casa da avó da moça, que Jirou descobriu se chamar Momo durante o caminho. A cada nova palavra que saía de sua boca, Jirou tinha que controlar seu corpo para não demonstrar o calafrio que lhe atingia a nuca. O toque em seu braço, que se tornou mais íntimo e seguro durante o caminho, também não colaborava consigo. Cada momento com ela era como estar no céu por um ano inteiro.

A jovem moça não estava em situação diferente. Para si, o momento mais marcante foi ao tocar em seu casaco, quando o cheiro de pinheiros desgrudou das vestes e pele dela e encheu suas narinas. Aquele momento. Foi quando teve certeza de que a amava.

As próximas horas foram regadas de risadas calorosas, toques cada vez mais frequentes e libertos, grandes histórias... Mas após cada conclusão, vinha aquela troca de olhares, carregada de sentimentos escondidos apenas mostrados entre elas. Momo nunca admitiria, mas quase ficou triste ao ver a copa majestosa da enorme árvore. Quase.

Ao chegar à cerca da casa amarela e aconchegante da avó de Momo, Jirou suspirou baixo, pegando a mão da mais baixa que estava em seu braço, pondo-a entre as suas. –Bem, está entregue.– quase sussurrou, com os olhos baixos e a postura caída.

— É, eu acho que sim... – apertou a mão da mais alta, olhando triste para os dedos longos e calejados dela. Depois de alguns segundos imersa em pensamentos, sentiu a separação começando, junto com o calor da pele áspera indo embora. Demorou um pouco, quase demais, para se decidir, porém ainda conseguiu segurar a ponta dos dedos alheios no último instante. –Eu sei que é repentino e que você deve ser muito ocupada... Mas eu adoraria que você ficasse para o jantar.– Deu seu sorriso mais gentil e verdadeiro, na esperança de que fosse o suficiente para convencê-la.

—Seria um prazer.– Jirou teve que segurar um suspiro de alívio. Estava rezando para que ela a convidasse para entrar, mas já tinha perdido as esperanças de passar mais tempo com ela. Sabia que não deveria estar ali; e a promessa que fez para Kirishima, de apenas conversar e voltar, martelava em sua mente. Só que, a simples possibilidade de se afastar dela, talvez nunca mais vê-la... Nem conseguia continuar o raciocínio, quase sentia dor física.

Nesse momento, se deu conta de que não demoraria muito até chegarem até ela. Provavelmente, não sairia do território da alcateia –se é que sairia de casa– durante anos.

Bem, mais um motivo para aproveita.

A expressão que recebeu em resposta faz valer a pena qualquer sacrifício que poderia fazer por ela. Bem, quase.

Teve seus dedos entrelaçados, sendo puxada portão adentro, passando pela cerca e atravessando o caminho de cascalhos até a modesta casa. Só conseguiu reparar na hortinha na lateral da residência e nas flores amarelas, de relance. Mas Momo parecia estar animada demais pra deixar que Jirou apreciasse a paisagem.

Ao entrar, a casa era tão aconchegante, com um leve cheiro de baunilha e morangos que parecia impregnado na estrutura, as paredes azul-celeste e os móveis de madeira simples e bem distribuídos, que fazia Jirou ter a sensação de ter chegado de uma longa viagem, podendo finalmente descansar em casa.

Dois segundos depois, uma senhora de média idade aparece de uma passagem, que Jirou imaginou ser para a cozinha. Extremamente simpática, a acolheu e mimou como fazia com sua própria neta. Recebeu mais pão do que jamais poderia comer, e mais amor do que se lembrava ter sentido em toda sua existência. Naquela pequena mesa, dividindo uma deliciosa torta de banana, chegou à óbvia conclusão de que estava no melhor momento de sua vida. Pela primeira vez, a arroxeada sentiu o que era passar uma tarde em família.

Com esse pensamento, várias cenas de sua alcateia reunida na fogueira, seus amigos se preparando para uma caçada, banhos de rio e receitas desastrosas vieram a sua mente. Ela tinha uma família, que a amava e protegia. Sempre teve. Mas por que não sentia que pertencia a ela como pertencia àquele lugar? Pensar neles a fez acordar por alguns segundos daquela bolha de felicidade. Os passos suaves, as respirações baixas. Rastejando, esgueirando, aproximando. Um sussurro simples, leve, baixo; chamando. Desespero correu por suas veias. Só percebeu que estava sentada ao sofá quando teve de se levantar dele.

—Perdoe-me, já me estendi demais. Não quero atrapalhá-las mais e-e...—se desconcentrou novamente, ouvindo seu nome. Uma ordem direta. Quase podia sentir as gotas de suor se acumulando à pele do rosto. Limpou a garganta sem jeito. – E eu também tenho compromissos... – Quase depressa demais, ia se afastando das mulheres e se dirigindo a porta. Momo quase pulou do acento, com medo e dor no olhar. Jirou hesitou, apenas um segundo. Seu coração batendo mais forte e dolorido apenas com a antecipação à ausência dela. Não deveria deixá-la, não sabendo que nunca mais a veria; entretanto, não podia desobedecer a seu alfa. O frio do metal da maçaneta na ponta de seus dedos foi como um soco em seu estômago.

—Por favor, não vá agora.– A morena parecia implorar. Sua avó, ainda sentada, não estava muito diferente. Os olhos baixos, mirando a xícara de chá que tinha em mãos, estavam decepcionados e caídos. – Já está quase na hora do jantar, ao menos nos acompanhe essa noite. – Momo se pôs a andar em direção a porta, ficando próxima o bastante de Jirou para notar os mínimos calafrios que esta tentava esconder.

—Eu adoraria, realmente adoraria.– Uma pontada aguda atingiu sua espinha, fazendo-a tremer um pouco mais. Suas intenções de desobediência se refletiam pelo corpo, em sinais que ela se esforçava fortemente a ignorar. Ao mesmo tempo, seu consciente gritava fatos e lógicas que sempre defendeu. Sua alcateia era tudo o que tinha. Uma traição era imperdoável; e a desobediência a tantas ordens estava manchando sua honra e moral cada vez mais. Se esperasse por mais alguns minutos, um pouco mais de sofrimento, sua conexão se partiria. Tornar-se-ia uma loba solitária. Mas, céus, valia a pena abandonar sua vida por uma humana, uma estranha que acabou de conhecer?
E afinal, por todas as estrelas, como havia se passado tanto tempo?
Segurou a maçaneta, se preparando para finalmente girá-la. – Mas eu não posso. Sinto muito, sinto mesmo. – girou o metal.

—Jirou. – Momo deu um passo à frente, esticando seu braço. – Por favor. – O olhar se manteve firme nos olhos da mais baixa, mostrando toda mistura de sentimentos que este continha.

Quando a pele fina de seus dedos tocou as costas da mão de Jirou, tudo o que esta sentia parou. Os sons da floresta se silenciaram, assim como os sussurros. A arroxeada soltou em um suspiro forte a respiração que, sem ao menos perceber, prendia. Cedendo a ela mais uma vez, se deixou ser levada para a copa da casa, onde havia uma mesa desproporcionalmente grande quando comparada com o resto da residência. Puseram a mesa com um sorriso contido nos rostos, trocando olhares indiscretos e, vez ou outra, encabulados. A avó, que saíra para buscar os preparativos do jantar, observou a cena orgulhosa, oferecendo um singelo sorriso para a neta.

Os demais convidados chegaram alguns minutos depois, como de costume. Exatamente no mesmo horário de exatamente um mês antes, duas batidas foram dadas na madeira firme da porta, sendo seguidas pelos passos apressados da senhora, que recebia a todas com um sorriso aberto. Suas irmãs, como Jirou percebeu que ela chamava, eram igualmente frágeis. Algumas poucas tinham aparência mais jovem, a lembrando da mulher simpática que sempre recebia Momo com alegria na porta da simples padaria. A princípio, sua presença pareceu intimidadora, inoportuna. Mas, quando a avó de Momo lhe apresentou e a jovem saltitante quase flutuou ao seu lado, contando como tinham se encontrado e a tarde feliz que passaram, a postura defensiva se afrouxou aos poucos.

Perdeu a noção de quanto tempo ficou ouvindo as histórias delas. Conheceu maridos, filhos e filhas, netos e netas, vizinhos, amantes proibidos, amigos de infância... Yui, a netinha da senhora Yei, era uma garotinha linda e animada, que Jirou teria o prazer de conhecer um dia. E Cheng, o primeiro amor da senhora Mihan, não merecia o destino que teve. A vida havia tirado muito da pobre senhora, foi impossível para a arroxeada não se compadecer por ela. Ao menos Monmu, o marido e companheiro da idosa, a proporcionou uma longa vivência, repleta de amor e ternura. O jeito que a mulher contava a história de seu romance era tão puro que não conseguiu resistir ao ímpeto de direcionar o olhar para outra jovem da sala. A xícara de chá em suas mãos quase foi ao chão no momento em que encontrou lindos olhos negros, encarando-a de volta. O rosto de Momo se avermelhou instantaneamente ao ser flagrada, desviando o olhar para o chão com um sorriso contido de nervoso e entusiasmo. Demorou um pouco mais do que Kyouka desejava para que, em meio à conversa animada de Yei e Amarou, Momo alcançasse seu olhar novamente. O tom cúmplice em seus olhos precedeu perfeitamente a discreta jogada de cabeça, indicando o corredorzinho da casa, que ligava a sala ao quarto, o banheiro e a copa.

Se ao menos se lembrasse dele, teria agradecido o instinto lobo que a permitiu sair sem ser notada. Não que adiantasse muito já que Momo não parecia muito boa em discrição. A aura de clandestinidade e rebeldia adolescente tornava o frio na barriga ainda mais gostoso. A mão de Momo na sua, levando-as longe o suficiente para sair do campo de visão de todas. Cada parte de si clamava por ela, e o lábio mordido em conjunto com os olhos inquietos dela a convenciam de que partilhavam o mesmo sentimento.

Não demorou muito para que os sussurros empolgados fossem interrompidos pelo beijo tímido, inseguro. O corredor era estreito, não foi difícil para Momo terminar com a distância entre os corpos. A surpresa fez Jirou se afastar inicialmente, notando o medo e arrependimento na expressão da mais baixa. O toque desajeitado pareceu fazer efeito apenas segundos depois, e é certo que a visão dos grandes olhos violeta brilhando intensamente para si, antes da amante lhe puxar enfim para um beijo, ficaria eternamente marcada na mente de Momo.

Não contaram os beijos dados. Não perceberam em que momento a sensação de êxtase as dominou totalmente, nem quando as mãos saíram dos rostos, descendo para os braços, os quadris. Nenhuma das duas se incomodou com o gosto metálico em meio ao beijo intenso. Em contrapartida, os sorrisos apenas se expandiram, meio distorcidos pelo ato. Jirou se sentia inconscientemente ligada a ela. Quanto mais ela aparentava bem estar, mais forte era a atração que sentia por ela. A euforia, a mais plena alegria corria por suas veias. Em certo momento, tal sensação pareceu a preencher tão plenamente que não coube dentro de si, a fazendo gargalhar. O som era alegre, contagiante, incontido. Seu riso era puro, como a primeira gargalhada de um pequeno bebê. O contraste entre sua felicidade e o uivo de lamento de seu Alfa, ainda escondido pela mata fechada, era sinistramente perturbador. Kirishima foi o primeiro a se juntar a ele, e o coro de tristeza que se formou atravessou a noite, acompanhando a gargalhada melodiosa. Esta seguiu por muito tempo.

Jirou não sentiu os passos que deu pelo corredor ou as outras mãos, já afetadas pela idade, que a arrumaram delicadamente pela mesa. Tudo que sua mente percebia eram os lábios da bruxa nos seus, depois em seu pescoço, por seus braços. Em algum momento, os gritos se juntaram a sua alegria, distorcidos devido pedaço faltante da língua. Durante todo o sabbat, Momo expressava sua alegria por ter a pessoa que amava eternamente consigo, sempre e para sempre, a partir daquele dia. Seu toque era delicado, quase devoto. Os beijos que distribuiu pelo corpo macio eram dados com desejo, vontade. Milhares de “eu te amo” foram ditos naquela noite.

Mas não houve um só momento, mesmo que mínimo, que não fosse banhado pelo melodioso som, puro, sincero, contente.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Bem, é isso. Se você, ser desafortunado que teve o azar de chegar até aqui, quiser e se sentir confortável para deixar sua opinião, crítica ou simples high five nos comentários, será muito bem vindo e me fará muito feliz. Se não, tudo bem, eu parei de postar pensando no retorno há muito tempo (tirando que eu parei de postar e ponto mas me deixa com a minha postura de auto-suficiência só por mais alguns segundos).
Eu agradeço seu tempo e atenção para ler minha história, espero que tenha gostado. A gente se vê quando eu resolver voltar dos mortos novamente.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Os Sussurros Na Floresta" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.