(500) Days of Rose escrita por Paulie


Capítulo 10
Capítulo X - Como 500 dias com Rose o mudou


Notas iniciais do capítulo

E, enfim, o último dia do mês Scorose, e o último capítulo dessa história.

Vou deixar a falação pras notas finais, espero que tenham uma boa leitura!

Recomendo ouvirem Everglow, do Coldplay, durante a leitura do capítulo: https://www.youtube.com/watch?v=7pfX1OKqP80



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Capítulo X

Como 500 dias com Rose o mudou

 

Dia 500

Já havia passado da meia-noite e a madrugada de sexta começava a se estender pelo que antes havia sido a noite de quinta. E, mesmo assim, Scorpius ainda não havia tido notícias de Rose desde que haviam a colocado em uma maca e a levado para dentro dos corredores do hospital.

Na sala de espera já estavam, também, seus sogros e Albus, mas Scorpius não percebia nenhum deles naquele momento. Ele só queria saber de Rose, saber se ela estava bem.

Se levantou e andou até a entrada do corredor pelo qual não podia ir, por não ser permitido, mas que era por onde haviam a conduzido. Ainda desacordada. Depois de uma segunda convulsão.

Assim que Rose parou de se debater em seus braços, quando ainda estavam em casa, Scorpius desceu as escadas correndo com ela em seu colo, colocando-a no banco de trás do carro e indo em alta velocidade para o hospital mais próximo dali. Só depois de um tempo que já haviam a levado para o atendimento foi que ligou para Albus, contando onde estava. Foi ele quem ligou para os pais de Rose, não Scorpius. Ele não conseguia raciocinar o suficiente para isso, ainda em choque.

Passaram-se outros dez minutos antes que um médico, com as roupas verdes do hospital, viesse em sua direção. Hermione, Ronald e Albus levantaram-se junto com ele, em um pulo, ansiosos por qualquer notícia – que seja uma notícia boa, era a única coisa que ele implorava.

— Família de Rose Weasley? – ele confirmou, ao chegar mais próximo de Scorpius.

— Sim. Como ela está?

— A pré-eclâmpsia dela acabou se desenvolvendo em eclâmpsia, com a convulsão. Demos sulfato de magnésio para ela, para tentar controlar as convulsões, e agora ela está mais estável. Fizemos um teste com o bebê, um teste sem stress, para ver se está tudo bem com ela, mas os resultados começaram a piorar na última hora. Vamos ter de fazer uma cesárea de emergência, é a melhor opção para minimizar os danos para a bebê.

— Mas a bebê, não tá na hora, tá muito cedo ainda – ele começou.

— Rose completaria 34 semanas depois de amanhã, quando já começaríamos a pensar na possibilidade do parto, por conta das enxaquecas dela. Mas agora com essa condição dela... Já aplicamos corticoide pra estimular o pulmãozinho da bebê. Não esperamos grandes complicações para ela, se agirmos rápido.

Scorpius acenou, alisando com a mão a blusa social completamente amarrotada que tinha ido trabalhar e usava desde a manhã do dia anterior.

— Você é o pai? – ele diz, olhando para Scorpius, que só acena a cabeça em resposta – Se quiser entrar na cesárea, pra ficar junto de Rose, mesmo que ela não esteja acordada agora, e ver a bebê quando nascer, seria ótimo – ele sorriu, cansado, e apoiou uma mão no ombro dele – Vamos fazer nosso melhor para as duas.

Scorpius olhou para os pais de Rose, esperando algum tipo – qualquer tipo – de esperança vinda dali. Foi Hermione quem sorriu para ele e acenou com a cabeça.

— Vai, e trás nossas duas meninas de volta depois.

Ele acenou e então seguiu atrás do médico pelo corredor extremamente branco pelo qual havia visto Rose desaparecer há pouco tempo.

Colocou um pé atrás do outro na calça verde que o deram, e então um braço após o outro pelas mangas da camiseta também verde. Retirou o relógio, e colocou uma proteção de plástico ao redor dos sapatos sociais que usava. Guardou o celular no bolso da calça que agora usava. Dobrou as roupas que antes estava usando, fingindo não sentir o volume que a caixinha com o anel fazia no bolso do paletó – ele não podia lidar com isso nesse exato momento.

Parou na frente do pequeno espelho ao lado da porta no vestiário que usava, se concentrando em ter certeza que todos os seus fios loiros estavam bem colocados na touca descartável que também havia sido entregue a ele.

Quando se certificou que estava no lugar, foi o momento em que finalmente ele se dignou dar uma olhada para si próprio. Já não tomava banho há mais de um dia, já não comia há sabe-se lá quantas horas, e as olheiras acentuadas, junto à expressão de preocupação que parecia estar marcada de forma permanente no rosto, não deixavam mentir sobre esses fatos.

Ele estava exausto. Achava que nunca havia se sentido tão cansado assim em toda sua vida.

Mas o médico disse que tudo ia ficar bem. E ele nunca havia acreditado tanto na palavra de um médico quanto naquela hora. Porque ele precisava, ele precisava acreditar, ele precisava que ele estivesse certo, ele precisava que aquilo fosse o melhor para suas mulheres. Ele precisava das suas mulheres bem, juntas dele.

Respirou fundo e caminhou para fora do vestiário, sendo conduzido por uma enfermeira muito alta e magra para a sala de cirurgia onde a cesárea aconteceria.

— Rose não está acordada agora, ela vai estar sob anestesia geral para evitarmos qualquer problema com ela. Você vai ficar do lado dela, perto da cabeça. Pode conversar com ela durante a cirurgia... Tem gente que acredita que eles conseguem nos ouvir mesmo estando desacordados agora – ela sorriu para ele, enquanto estavam parados do lado de fora da porta da sala – Você não pode encostar nos lugares azuis, tudo bem? É o campo cirúrgico, e é tudo estéril. Como a bebê vai chamar?

— A gente ainda não tinha decidido... Não era hora ainda.

A enfermeira sorriu e assentiu tristemente, entrando com ele na sala e mostrando para ele o lugar certo para ficar.

Rose já estava ali, deitada na mesa cirúrgica, com os olhos fechados com uma fita e um tubo descendo pela boca. Ele já não estava calmo, mas naquele momento, se sentiu desesperar. Seu coração pesou e sentiu um gosto amargo de bile na boca. Sua reação deve ter sido bastante expressiva, pois no momento seguinte o anestesista levantou-se de sua cadeira e lhe deu um tapinha no ombro.

— Boa noite – era o médico que havia conversado com ele na sala de espera, entrando na sala de cirurgia com roupas completamente azuis e as mãos enluvadas erguidas à sua frente – Vamos começar?

Ele e o outro médico que entrou com ele se posicionaram um de cada lado da barriga de Rose, e Scorpius desviou o olhar de lá, focando apenas no rosto da mulher.

— Eu posso encostar nela? – perguntou para a enfermeira que estava em pé perto de si.

— Só não pode encostar nas partes azuis e no tubo da boca, tudo bem?

Voltou a encarar a namorada. Ela parecia tão... Quieta. Tão sem cor. Tão não Rose. Aproximou a mão da bochecha dela, mas se deteve – e se ela estivesse fria? Ela não poderia estar fria, certo? Ela não estava morta. Ela não morreria. Venceu os últimos centímetros e a tocou, começando a fazer um caminho com os dedos das sobrancelhas até o queixo dela, indo e voltando.

Os bipes ritmados emitidos pelo aparelho que media os batimentos de Rose o acalmou, de certa forma, e ele conseguiu, concentrando-se apenas no rosto dela, ignorar o entorno. Não sabia descrever o que estava pensando naquele momento em palavras exatas, um misto de vai tudo ficar bem, com por favor, que tudo fique bem, provavelmente.

Foi despertado do seu estado de quase torpor um tempo depois, com um choro de bebê. Ergueu o rosto e se afastou um pouco de Rose, para se deparar com uma menininha sendo entregue do médico para outra médica, que a levava para uma mesinha afastada. Ela estava toda suja, e era tão pequena...

Levou um tempo para a ficha cair: ela era. Esse pequena bebê era sua filha. Era a filha deles. O choro fino que saia da boca dela pareceu assumir outro timbre para seus ouvidos a partir do momento em que percebeu isso. Não era mais tão agudo, ou tão irritante quanto sua primeira impressão.

— Eu posso ir ver a bebê? – ele perguntou para o anestesista, que ainda se sentava próximo a ele, mexendo calmamente no celular enquanto vez ou outra lançava olhares para os monitores.

Quando recebeu um aceno positivo como resposta, se afastou de Rose com um afago mais na bochecha. Precisava de cuidar da filha deles até que ela ficasse boa o suficiente para estar junto com ele.

Aproximou-se da mesa onde a filha já era envolta em cobertores, depois de ter sido examinada pela médica.

— Parabéns papai – a médica disse, com um sorriso no rosto – Sua bebê é novinha, mas é forte. Qual o nome dela?

— A gente ainda não tinha decidido... Acho que é bebê, por enquanto – ele disse, se aproximando mais do pequeno rolo de cobertores que sua filha havia se tornado.

As mãozinhas, mantidas de fora, estavam fechadas em um punho forte. Quando ele aproximou seu dedo, abrindo os pequenos dedinhos, logo eles voltaram a se fechar, dessa vez em torno do dedo que havia colocado ali. Ela era tão pequena, tão pequena. O nariz era fino e lembrava tanto o de Rose...

Seus olhos estavam marejados antes que ele pudesse se controlar.

— Quer que eu tire uma foto de vocês? – a médica perguntou, estendendo a mão para pegar o celular que ele a entregava.

Tentou sorrir, mas tinha certeza que seu sorriso havia saído extremamente forçado. Depois de bater algumas fotos dos dois, ela focou apenas na bebê que ainda segurava o seu dedo em sua mão.

— Ela é linda, parabéns – entregou o aparelho de volta para ele – Vamos ter de levar ela para a UTI para observação, pelo menos de hoje para amanhã. Mas você pode vir ver ela, quando quiser, tudo bem?

Acenou em resposta e observou levarem sua filha pela grande porta de correr da sala. Se virou para Rose e percebeu que já estavam acabando com a cirurgia dela também. Aproximou-se dela, bem próximo do rosto.

— Ela é linda, Rose. Linda, linda. Tanto quanto você. Você tem de ficar boa, tudo bem? A gente precisa de você. Eu preciso de você – sorriu e percebeu que estava chorando quando uma lágrima caiu sobre a bochecha ainda pálida dela.

Não sabia precisar quanto tempo mais ficou ali, agachado próximo dela, com a mão encostada na bochecha dela.

— Sr. Malfoy? – uma das enfermeiras o tocou no ombro, recebendo um olhar em resposta – Vamos levar ela pra sala de recuperação anestésica agora. Te chamamos de novo quando ela for para o quarto, tudo bem?

Ele concordou com a cabeça, se abaixou e beijou demoradamente a bochecha dela.

— Vou estar te esperando lá, com a nossa filha – ele sorriu e se afastou.

Se livrou das roupas verdes, toucas e proteções para os sapatos, vestindo sua própria roupa no vestiário antes de se encaminhar novamente para a sala de espera, onde os pais de Rose, e Albus, ainda estavam sentados nas poltronas do canto. Eles se levantaram antes dele sequer se aproximar muito, com expressões ansiosas no rosto.

— Ela está na sala pra recuperar da anestesia, mas parece estar estável – ele se sentou, soltando uma respiração profunda que ele nem sabia que prendia até aquele momento – E a bebê está na UTI, para observação, mas está bem. Ela é pequena, e tem o nariz de Rose, vocês têm de ver.

Hermione soltou o corpo na poltrona ao seu lado, enquanto Rony começou a chorar aliviado sem perceber. Albus saiu um pouco de perto deles, indo ligar para o resto da família e avisar que já havia nascido, e que estava tudo bem.

Scorpius escorregou para frente e apoiou o pescoço no encosto da poltrona, encarando o teto com luzes tão brilhantes, e então fechando os olhos.

— Você devia ir aproveitar para tomar um banho, enquanto Rose não acorda da anestesia. Ela vai querer que você esteja aqui quando acordar – Rony disse, depois de um tempo, apoiando a mão no ombro do genro.

Ele não queria ir, não queria deixar nenhuma das duas ali. Mas realmente agora parecia ser a melhor hora, e ao se atentar um pouco mais ao seu cheiro ou ao estado de suas roupas, ele concordou com um aceno.

— Eu te levo – Albus se ofereceu – Aproveitamos e pegamos na volta algo no drive-thru para todo mundo.

Olhou para os sogros que acenaram com a cabeça – eles haviam chegado depois, então estavam em uma condição um pouco melhor que a dele.

— Vocês deviam ver a bebê, se eles deixarem – ele sorriu levemente, antes de alçar-se aos apoios para ter força para levantar.

— Sabe, vocês têm de escolher um nome logo – Albus disse, quando já iam entrando no carro dele – Não dá mais pra continuar chamando ela de bebê por muito tempo.

— Eu sei, a gente ia pensar nisso mais pra frente, ainda faltava mais de um mês – ele reclinou a cabeça e fechou os olhos.

Antes que percebesse, Albus havia estacionado o carro em frente a sua casa e estava o cutucando para acordá-lo: havia cochilado sem querer. Levantou balançando a cabeça e passando os dedos pelo cabelo, tentando espantar a sensação que restava do cochilo e indo direto para o banho.

Nunca havia tomado banho mais no automático do que naquele dia. Pelo visto, só devia agradecer aos anos e décadas de banhos que o levaram a fazer tudo o que devia ser feito sem que tivesse que pensar muito, porque não confiava muito na sua habilidade de raciocinar agora. Também, pudera, tantas horas acordados e uma situação que nunca se havia imaginado como essa...

Ele não tinha uma religião, na verdade nunca havia pensado tanto nisso a ponto de se definir como acreditando em uma entidade pré-estabelecida ou nos dogmas de alguma das crenças em específico. Acreditava, no entanto, em algum ser superior, de alguma forma, e naquele momento se pegou pedindo, repetidas vezes enquanto passava o shampoo pelo cabelo e sentia a água batendo forte nas suas costas, para que, quem ou o que quer que estivesse lá, não deixasse que ele perdesse qualquer uma das duas. 

Não deixasse que ele perdesse sua filha que mal havia nascido e já preocupava e ocupava tanto espaço da sua mente – que se perguntava a cada momento como ela estaria agora, se ela estaria bem, chorando, ou com fome. Não deixasse que ele perdesse Rose... Que não deixasse que sua filha sofresse do mesmo mal que ele havia sofrido. Que crescesse sem uma mãe. Que não deixasse que ele tivesse de passar por isso sozinho, porque ele podia jurar naquele momento que não conseguiria, de forma alguma.

Vestiu uma calça jeans, uma blusa e um casaco que pegou no modo aleatório dentro do armário, nem ao menos se importando em se certificar que era uma combinação minimamente decente. Passou no closet de Rose e pegou dois lenços florais que às vezes ela usava como acessório, o dobrando com cuidado e guardando-o no bolso. Apalpou sobre o bolso e sentiu o coração dar uma batida errada, reconfortando-se com a lembrança gostosa que ele trazia. Iria entrega-lo a ela assim que ela acordasse e eles deixassem, assim ela pareceria um pouco mais ela naquele ambiente tão branco e verde.

Agachou-se no piso do banheiro, procurando pelos bolsos das roupas usadas que havia deixado jogadas ali após o banho pela caixinha de veludo. Quem diria que um item poderia ter mudado tanto de significado em um único dia. A guardou no bolso do casaco que agora usava, simplesmente porque a ideia de se separar da promessa que aquilo simbolizava era dolorosa demais. Porque eles iriam se casar, e ele iria pedir, ainda que não hoje.  

Desceu as escadas ainda passando a mão pelos cabelos para acabar de secá-los, encontrando Albus sentado no sofá, com o celular na mão.

— Lily está indo para o hospital – ele disse, percebendo que já tinha companhia – Ela é uma teimosa irreparável mesmo. E já se auto proclamou madrinha, se quer mesmo saber. Pelo menos Dominique e Molly estão com vovó, tentando acalmar os ânimos n’A Toca.

Se levantou de onde estava sentado, parando na frente de Scorpius e já o chamando para irem pegar as comidas. Ele não era a melhor pessoa do mundo para conversar agora, ele precisava admitir se fosse ser completamente sincero, e talvez esse tenha sido um dos motivos pelo qual as tentativas de Albus de preencher o silêncio e iniciar uma conversa tenham sido na maioria falhos, com poucas falas antes de cair novamente no mesmo silêncio sepulcral do carro. Talvez também tenha sido por isso que alguns minutos depois, enquanto esperavam no drive-thru, ele tenha desistido e decidido que ligar o som fosse a melhor alternativa.

Voltaram direto para o hospital, enquanto Scorpius comia já durante o caminho, e Albus distribuindo os lanches para Hermione e Rony, que ainda esperavam ali, assim que chegaram.

— Deram alguma notícia da Rose?

— Não, ainda não – foi Hermione quem respondeu, considerando que Rony já estava com a boca cheia com um dos sanduíches.

— E da bebê?

— A gente foi lá visitar ela. Não deixaram a gente entrar na UTI, mas vimos ela pelo vidro.

— Ela é linda – Rony disse com a boca cheia.

— Ela é – Hermione concordou, não antes de cutucar o marido para reclamar de estar falando com a boca ainda cheia.

— Acho que vou ir lá ver ela, até ter alguma notícia de Rose.

Acenaram em concordância enquanto ele ia até o balcão conversar com a enfermeira para liberar a entrada. Ainda teria de esperar um pouco para o horário de visita da UTI, mesmo assim deixaram que ele ficasse ali no corredor, e ficou a encarando pelos vidros: o vidro da janela da UTI, o vidro (ou plástico, mas que parecia um vidro dali de fora) do berço que a sustentava.

E, ainda, ali estava ela, mexendo o nariz. Estaria ela sonhando? Bebês sonhavam? Ele esperava que sim.

Ele não tinha muita noção de quanto tempo alguém normalmente fica na tal sala de recuperação anestésica. Durante a época que sua mãe havia adoecido, e precisado de algumas cirurgias, ele ainda era novo, e nem ela nem seu pai o deixavam faltas às aulas ou ficar muito tempo ali no hospital. Quando ele chegava para visita-la, ela sempre já estava no seu quarto, deitada com vários curativos sobre os pontos. E sempre com um sorriso no rosto para ele. Nunca com um tubo pela boca, como havia visto Rose.

Rose, tão falante e floral, calada e toda em azul. Não era uma imagem que ele gostaria de se apegar ou de continuar a se lembrar.

Balançou a cabeça. Não poderia começar a descer por esse redemoinho de pensamentos agora. Talvez fosse hora de começar a pensar em nomes para a bebê. Rose tinha dito uma vez que gostava de Natalie. Será que você se chama Natalie?, ele perguntou mentalmente para a filha, esperando que ela lhe respondesse. Ela mexeu a mãozinha – que agora estava envolta por uma espécie de luva – e ele tomou esse como um sinal negativo.

Algumas pessoas colocavam os nomes de suas avós ou pessoas que eles amavam. Será que você se chama Astoria?, ele perguntou mais uma vez. Mas não esperou nem a resposta, porque ele sabia que não poderia aguentar isso, seria demais par sua própria sanidade.

— Sr. Malfoy? – era a pediatra que havia atendido sua filha, o tocando no ombro – Acho que o senhor devia ir para a sala de espera agora um pouco.

— Aconteceu algo?

— O médico da Srta. Weasley está esperando o senhor lá.

Ele acenou, afobado, e voltou a grandes passos para a sala. Hermione e Rony já aguardavam aflitos ao redor do médico, Albus e Lily sentados um pouco mais afastados. Scorpius se aproximou, encarando e esperando uma resposta dele.

— Ela acordou?

— Sr. Malfoy, quando ela estava se recuperando na sala de observação, percebemos que ela desenvolveu uma condição chamada coagulação intravascular disseminada, que às vezes pode ser decorrente da eclâmpsia. Tratamos com a transfusão assim que conseguimos, e fizemos tudo que podíamos. Mas essa condição pode formar pequenos trombos, pequenas bolinhas de sangue, que foi o que aconteceu com a Rose. Essa bolinha foi para o cérebro dela. Infelizmente, nós não conseguimos salvá-la. Nós sentimos muito pela perda de vocês – ele apoiou a mão no ombro de Scorpius.

Ele já havia parado de falar já tinha um bom minuto completo, Hermione havia escondido seu rosto e o corpo em prantos no peito do marido, que também tinha o rosto vermelho e molhado, mas Scorpius ainda permanecia ali, em pé da mesma forma, encarando o rosto do médico.

Sentiu batidinhas no ombro, e achou que escutou um murmúrio de “eu sinto muito” vindo dele.

— Eu posso ver ela? – conseguiu dizer, depois de decorrido mais tempo.

Seguiu pelos corredores, mais uma vez. O médico abriu a porta e a fechou atrás dele, assim que ele passou por ela. E ali estava Rose: não estava mais com um tubo pela boca ou com fitas nos olhos, mas ainda permanecia tão calada e tão rígida que pouco se assemelhava à imagem mental de Rose que qualquer um que a conhecesse teria.

Foi nesse momento que Scorpius fraquejou. Foi nesse momento que ele sentiu os joelhos amolecerem, sustentando seu peso somente até jogar-se sentado na poltrona ao lado da maca, agarrando a mão dela no processo. Abaixou a cabeça até junto da mão de Rose, molhando-a e também ao lençol por baixo.

Ele não estava pensando no momento, estava apenas engolido em uma grande bolha de tristeza sem fim. Não podia estar passando por isso de novo. Sua mãe estava doente, mas Rose não. Rose era saudável, Rose tinha acabado de ter um bebê. Eles tinham acabado de ter um bebê.

Eles iam se casar.

O que ele iria fazer agora? Como ele poderia continuar sem Rose? Por que Rose havia ido embora? Por que tinham a levado para longe dele? Como alguém podia esperar que algum dia ele se levantasse daquela cadeira e largasse a mão dela? Como alguém podia esperar que ele fosse ser pai? Como alguém podia esperar que ele fosse fazer alguma coisa certa?

Não era pra ter acontecido isso. Nada disso.

Mas aconteceu.

E, agora, a bebê não tinha uma mãe. Mas ela não era órfã. Porque ela o tinha. Ela tinha um pai. Um pai que teria, de alguma forma, compensar e honrar a mãe que ela teria. A mãe que Rose seria.

A pele de Rose já estava um pouco fria quando ele se levantou e beijou-a a testa, as bochechas, e a boca. Uma última vez. Ajeitou os cabelos ruivos e colocou amarrou o lenço florido que havia trazido no pulso dela. Agora, pelo menos, estava um pouco mais Rose.

Procurou pelos bolsos do casaco até achar a pequena caixa de veludo que havia guardado ali. A abriu, pegou o anel que havia escolhido com tanto zelo apenas alguns dias antes e colocou no anelar direito de Rose. Uma promessa que nunca aconteceria. Mas ele não poderia suportar a ideia de manter aquele anel para si, ou de guardar aquela lembrança tão dolorosa. Beijou-lhe a mão, sobre a joia que havia acabado de por ali.

— Eu vou cuidar dela aqui em baixo, você continua cuidando dela aí de cima. Eu amo você, Rose. Eu amo você.

Saiu do cômodo, sendo substituído por Rony e Hermione ao lado da maca de Rose, molhando o corpo inerte da mulher. Foi envolvido em um abraço molhado por Lily e então em um abraço firme de Albus.

Com um aceno de cabeça para o amigo, seguiu pelos corredores novamente para onde já havia decorado o caminho, para a UTI neonatal. Permitiram sua entrada, dessa vez, e quando chegou, deixaram até mesmo que ele segurasse a bebê, sentado em uma cadeira ao lado do berço que a ela pertencia.

— Estive pensando, bebê, acho que sei o seu nome agora. Sua mãe foi uma das mulheres mais incríveis que eu já conheci, e acho que você vai concordar comigo quando entender melhor. Ela se chamava Rose, e amava flores, embora as rosas não fossem sua favorita. Eram as violetas. Mas eu acho que, se ela tivesse oportunidade de te ver agora, você se tornaria a flor favorita dela. E por isso eu acho que o seu nome é Violet. O que você acha?

Encarando o rosto dela, percebeu um leve enrugar do nariz – aquele mesmo nariz tão parecido com o de Rose – e tomou isso como um sinal positivo. Colocou o outro lenço floral que havia trazido de casa amarrado junto ao cobertor que embrulhava a pequena bebê.

— Violet Weasley Malfoy. Eu amo você. Eu e sua mãe, nós amamos você. Ela ama você tanto.

Ele recomeçou a chorar, mesmo sem perceber, apenas as lágrimas descendo pelo rosto.

Não achou que pudesse amar tanto quanto já amava aquela garota. Sua garota. E ele honraria a memória de Rose, a marca que Rose havia deixado em sua vida, e que também deixaria na vida de Violet.

E aquele era apenas o primeiro dia dele com aquele serzinho, do que esperava ser incontáveis dias.

Dia 1


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Notas finais do capítulo

E então... É isso, o fim.

Agora senta que lá vem textão:

Eu já tinha a ideia dessa história há tanto tempo, guardada e esquecida em um documento aleatório no meu computador. E, com o convite da Miss A para participar desse mês Junho Scorose, um mês absolutamente incrível e sem defeitos, ela reacendeu na minha mente e não pude parar de pensar nela até que tivesse concluída.
Desde que a ideia me veio na mente, algum dia depois de re-assistir 500 Days of Summer pela sei lá qual vez, eu já tinha certeza que esse seria o final. Na verdade, era a única coisa que eu tinha certeza desde o início. Nunca tinha escrito algo cujo fim não fosse feliz, ou que no fim o casal não ficasse junto, ou algo assim. Então, pode imaginar o quão difícil foi pra mim escrever esse último capítulo. E eu sei que não é o que a maioria estava esperando, mas simplesmente não podia ser de outra forma pra mim.
E então, aceitei o convite para participar do Junho Scorose. Esse projeto foi incrível, e tentar manejar acabar de escrever a história, com ler os outros tantos projetos maravilhosos que foram postados foi um desafio - que eu falhei miseravelmente, devo dizer, já que vou ter fic para ler até sei lá quando. Entrar todo dia no Nyah e ver atualizações e notificações novas foi um sentimento de nostalgia tão bom, que eu não sabia que precisava até ter.
A sensação de concluir uma história é sempre controversa. Estou feliz por ter conseguido dar um final à essa que é uma história muito especial para mim, ao mesmo tempo que estou triste por ter de me despedir dela. Vou sentir falta de abrir o calendário para contar os dias da semana de cada um dos 500 dias que escrevi, vou sentir falta de abrir meu livro de obstetrícia só para pesquisar as condutas certas para pré-eclâmpsia. Vou sentir falta de interagir com vocês - ainda bem que ainda faltam um monte de comentários pra responder então, tudo estrategicamente pensado, claro.
Meu muito obrigada, de todo coração, à Miss A, pelo convite e pela organização; à todas as meninas do grupo, interagir com vocês e fazer novas amizades foi uma parte muito especial desse ano; à todos os leitores dessa história, que fizeram essa jornada junto comigo. E à você, que leu esse textão até aqui, especialmente, muito obrigada.

Espero ver você em outra oportunidade!

Obrigada por ter dado uma chance para (500) Days of Rose.

Beijinhos e até a próxima ♥