Papel de pai escrita por WinnieCooper, Anny Andrade


Capítulo 1
Único




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/791507/chapter/1

Parecia apenas mais uma sexta-feira em que Rose adiantava as tarefas para ter o fim de semana livre e poder visitar os primos e os avós paternos. Rony gostava de ajudá-la porque se sentia útil já que a maioria das dúvidas quem tirava era Hermione que entendia muito mais de escolas trouxas que ele.

— Não mãe, estou indo aí. Não pode ficar sozinha com o pai... – Hermione conversava ao telefone enquanto tentava fazer Hugo comer sua fruta da tarde. – Hugo está melhor da febre. Talvez o leve comigo.

Rony estava ao lado de Rose, lhe ajudando com a lição de casa da escola trouxa que a filha frequentava, fez não com a cabeça para Hermione.

— Fico com ele... – sussurrou com a boca articulada para que ela entende-se.

— Em menos de dez minutos estou aí. – ponderou Hermione ao telefone, desligando o aparelho a seguir.

— Papai está bonito meu desenho? – perguntou Rose de quatro anos ao pai. Ela tinha que desenhar sua casa e representar os membros que viviam nela. – Fiz o Pichi II e até nosso peixe Linguado.

— Está lindo minha flor. Agora irei te dizer as letras e você escreve quem é quem para sua professora.

Ela concordou com a cabeça feliz e pegou seu lápis de escrever esperando o pai lhe ajudar com o traçado e grafia das palavras.

— Meu pai é um teimoso... – disse Hermione ao marido enquanto ele ditava as letras de “mamãe” – quebrou a perna e não quer deixar minha mãe lhe dar um banho na cadeira de rodas. Se ao menos eles me deixassem consertar com magia. Mas sabe como meus pais são receosos com feitiços.

— Hermione está tudo bem. Pode ir ajudar sua mãe. Fico com eles. É uma noite de sexta-feira. O que pode dar errado?

— Tem certeza? Posso levar Hugo.

— Sabe que ele não dorme direito na casa dos avós. E já está quase escurecendo. – continuou a conversar com a mulher e a ajudar Rose, desta vez ditava a palavra “Hugo”.

— Tudo bem. – ela suspirou. – Hugo não tem febre já faz seis horas. Mas pode voltar. Fique de olho. Daqui duas horas eles precisam jantar. Tem sopa na geladeira é só esquentar. Coloque-os para dormir às sete e meia, e não se esqueça de...

— Moro nessa casa se esqueceu? Além disso, sempre escreve os horários em post-its grudados naquele quadro de aviso. Até Rose sabe seus horários de cor.

— Seis e meia jantar, sete horas um bom banho tomar, sete e meia para a cama descansar... – recitou Rose seu versinho decorado.

— Vamos ficar bem. – disse Ron.

— Está bem. – se inclinou para ele lhe dando um breve beijo nos lábios. Beijou Rose e Hugo na testa. – Qualquer coisa me ligue sabe o telefone de meus pais não sabe?

— Está nos post-its. – ele apontou o quadro novamente.

Hermione suspirou uma última vez com os olhos apertados em deixar Rony sozinho com duas crianças pequenas. Virou de costas e aparatou para a casa de seus pais.

— Então hoje seremos apenas nós três... – Rony disse com um suspiro mais para si do que para as crianças.  Os olhos de Rose brilhavam de empolgação, mas Hugo, que escondia as cascas da fruta que comia no vazo de planta ao seu lado, começou a fazer um bico que significava apenas uma situação.

Choro.

Os gritos invadiram a sala enquanto ele chamava desesperado por uma mamãe que tinha desaparecido muito rápido. Se ela não fosse bruxa com certeza estaria voltando da calçada pronta para resgatar o menino. Mas nessa altura do campeonato Hermione já estava na casa dos pais, possivelmente dando broncas e espalhando post-its pelo lugar.

— Hugo, meu filhinho... – Rony o pegou no colo rapidamente enquanto Rose se dedicava a deixar o desenho mais bonito e fazia uma careta para o barulho do irmão. – tudo bem, papai está aqui.

O garotinho ruivo não pareceu satisfeito com a resposta e continuou chorando, a fruta ainda presa nas mãos.

Rony respirou fundo. Pensando como poderia acalma-lo não ligaria para Hermione com menos de cinco minutos.

— Que tal uma música?

Hugo chorava mais e mais.

— Uma historinha?

Apenas lágrimas

— Que tal pizza?

Aparentemente pizza era uma boa ideia, porque apesar de pequeno Hugo pareceu satisfeito com a palavra, limpou as lágrimas com a mãozinha que não estava ocupada com a fruta.

— Papai, não sei se é uma boa ideia. – Rose disse analisando a cena.

— Será um segredo nosso querida. Tudo bem? – Ele mostrou o dedinho para filha. – Promessa?

A menina riu alto, mas grudou o dedo no do pai. Selavam a promessa.

Apesar da idade Rose era muito esperta e encontrou o telefone da pizzaria muito mais rápido do que Rony, assim como fez o pedido muito melhor que o pai.

— Nosso jantar vai atrasar um pouco, então que tal pularmos para o banho?

Rony tinha certeza que daria conta, mas já estava exausto e tinham se passado apenas meia hora. Sua mente questionava como Hermione aguentava aquilo todos os dias, ele preferia muito mais fazer a comida protegido por panelas e longe de filhos com febre e garganta tão potente quanto mandrágoras.

— Rose, guarde seus materiais e ajude Hugo a guardar os brinquedos enquanto arrumo o banheiro para o banho e separo o pijama de vocês.

— Tudo bem papai. – Rose disse já com a mochila nas costas correndo para o quarto.

Infelizmente nem mesmo a inteligência de Rose poderia poupar Rony do que uma noite a sós com os filhos pode causar a alguém tão atrapalhado quanto ele.

— Mas papai! – gritou Rose voltando de seu quarto. – Devemos jantar antes de tomar banho.

— Filha, só por hoje vamos esquecer as regras da mamãe, lembra? Nosso acordo?

Ela sorriu ajudando Hugo com os brinquedos. Na verdade o irmão mais novo tinha o talento de desarrumar e não guardar.

— Hugo! – gritou brava com ele quando o viu jogar o balde de pecinhas todo no chão novamente.

— Tata chata! – disse Hugo e num momento de raiva mordeu o braço da irmã.

— Ah papai! – ela chorou indo de encontro ao pai que até então estava em tentando organizar os livros infantis na prateleira da sala.

— Hugo! – repreendeu o filho acariciando o braço de Rose agora marcado de dentes. – E onde tirou a palavra chata? Seu vocabulário está cada vez mais... – ia dizer rico. Mas não achou adequado. Hermione odiaria saber que tinha de certa forma orgulho do filho aprendendo a falar cada vez mais palavras inapropriadas.

— Vamos tomar banho.

Seria uma tarefa fácil na teoria. Colocar duas crianças numa banheira quente. Mas Hugo não parava de gritar e espernear e saia correndo pela casa tentando fugir da água e Rose... Bom Rose amava o momento do banho para brincar com suas bonecas.

— Veja só Rapunzel hoje o príncipe está atrasado para o jantar. Pediremos pizza e não deixaremos nenhum pedaço para ele. – encenava uma cena com suas bonecas de plástico das princesas.

— Finalmente. – disse Ron arfando cansado após tirar a fralda descartável do pequeno e colocando-o na água com a irmã.

— Hoje não é dia de lavar o cabelo papai! – avisou Rose quando viu Hugo bater as mãos na água espirrando para todos os lados.

— E como faz para não molhar o cabelo? – Perguntou a Filha tentando desviar dos respingos provocados por Hugo que até então odiava banho, mas agora parecia amar.

— A touca papai. – ela apontou para cima e Ron viu o objeto de plástico.

Pegou, mas simplesmente não sabia o que fazer com aquilo.

— Cobrir meus cabelos papai. – explicou Rose sem que ele fizesse a pergunta.

Então ele finalmente entendeu para o que servia e tentou cobrir o cabelo todo da filha com a touca. Alguns fios ainda ficaram para fora, mas ele achou que o trabalho estava aceitável.

Os ensaboou e os enxaguou e deixou que brincassem mais um pouco. Foi quando ouviu a campainha.

— Deve ser a pizza! - anunciou deixando-os sozinhos no banheiro. 

O cheiro daquela iguaria trouxa era incrível. Rony desconhecia muitas coisas do mundo trouxa, mas aprendeu facilmente apreciar as comidas rápidas. E o quanto é gostoso recebê-las na porta de casa, chegou até a sugerir para George que implantasse o método, comodidade estava sendo muito apreciada pelas pessoas.

— Hum... – Suspirou enquanto pensava se roubava um pedaço para experimentar.

Porém o barulho do andar de cima fez com que o pedaço fosse esquecido assim como a felicidade que a caixa de papelão tinha lhe proporcionado.

Subiu as escadas de dois em dois até se lembrar que era um bruxo e poderia aparatar rapidinho no banheiro, quando se deu conta já era tarde e correr se tornou o mais óbvio.

Rose segurava uma boneca sem cabeça e o pedaço plástico que lhe cobria os cabelos não estava mais no lugar certo, revelando uma menina de cabelos ruivos ensopados, que fazia um bico com os lábios que cortaria o coração de qualquer um. Cortou o de Rony.

— Rose, o que aconteceu? – ele se aproximou secando o cabelo da menina o máximo que conseguia com a toalha.

— Hugo quebrou Rapunzel. – ela não chorou, mas apontou magoada para o irmão que agora estava com uma meia enfiada na boca.

Rony questionou como não tinha percebido a meia logo de cara. Claro que sua filha não perdoaria a cabeça de Rapunzel e claro que seu filho seria ótimo em arrancar cabeças de bonecos. Conseguia escutar a voz de Hermione dizendo que tinham puxado ao pai.

— Rose, não pode enfiar meia na boca das pessoas. – Arrancou a meia da boca de Hugo antes que o menino sufocasse. – ele poderia sufocar.

— Ele não pensou na dor da Rapunzel. – Rose ainda fazia o bico.

— O banho acabou! – Rony determinou embrulhando um irritado Hugo em uma toalha e dando uma das mãos para Rose que carregava a boneca sem cabeça no outro braço.

No quarto a situação não estava melhor. Depois de colocar a fralda com ajuda da filha, mesmo que ela ficasse resmungando “pobre Rapunzel" durante todo o processo.

— Querida... – Rony não tinha forças queria apenas comer vários pedaços de pizza. – Eu arrumo a boneca.

— Sério papai? – Rose vibrou de alegria. Colocou o pijama enquanto cantarolava uma canção que o pai não reconhecia.

Rony pegou a varinha e com alguns gestos devolveu a boneca intacta para a garota. Que guardou o mais longe possível do irmão.

O problema era que Hugo não queria usar o pijama escolhido por Rony, queria usar a fantasia daquele terrível herói trouxa que chamam de homem-aranha. Só de imaginar o nome sentia arrepios nas costas. Rony era corajoso, tinha provado isso, mas não conseguia entender o que tinha de legal em um homem que atirava teias nos outros.

— Hugo, olha esse pijama estampado do Chudley Cannons. – o ruivo tentava animar o garoto que estava começando a soltar ruídos que indicavam um choro em breve.

— Papai? – Rose disse observando a cena.

— Hugo, Chudley Cannons é muito melhor que esse aranha humano.

— Homem-aranha. – Rose o corrigiu. – E ele esta se preparando para chorar.

— Ananha!!! – Hugo desatou a abrir a boca a chorar.

Relutando e com os ouvidos zunindo Rony pegou o pijama preferido do filho na gaveta e finalmente o vestiu.

— Vamos jantar. – anunciou aos filhos.

Desceram até a cozinha. Rony colocou Rose sentada na cadeira e um pedaço de pizza num prato de plástico para ela. Colocou Hugo no caldeirão e um prato de plástico com alguns pedaços de pizza cortados.

Pegou um para si para comer com as mãos quando percebeu o olhar de Rose triste para si.

— Por que está chorando desta vez?

— Papai não consigo comer a pizza. – disse chorosa.

Deu um tapa em sua própria testa e percebeu que não havia picado para ela. Cortou em pedaços e a menina pareceu satisfeita comendo sua pizza com um garfo.

Quando olhou para Hugo viu que uma criança de dois anos era capaz de coisas absurdas. Como provocar sujeira em segundos. Hugo estava com pedaços de pizza por todos os lados. Seu prato estava no chão. Molho de tomate escorria por seu cabelo. Seu pijama pavoroso do Homem-Aranha estava cheio de queijo.

— Por Merlim Hugo! – exclamou sem se conter.

Levantou o rosto transtornado sem saber o que fazer e olhou os post its de Hermione. Banho impreterivelmente DEPOIS do jantar.

— Sua mãe realmente é inteligente. – disse a Hugo, mas querendo dizer a si mesmo.

— Mamãe!!! – Hugo começou a chorar novamente.

— Ele está com fome papai. – disse Rose compenetrada em sua pizza. Era tão delicada comendo que não sujava nem seus dedos.

Rony reparou nos cabelos dela despenteados e cheios de água. Em Hugo berrando pela mãe com fome. Em sua pizza na mão parcialmente mordida. E começou a rir de desespero. Riu tanto enquanto Hugo berrava cada vez mais, sentiu algumas lágrimas descerem de seus olhos, sabia que eram lágrimas de desespero. Será que era permitido ligar para Hermione e dizer que ele era um completo inútil cuidando dos filhos? Não sabia o que fazer primeiro. Respirou fundo e parou de rir, decidiu esquentar a sopa para Hugo.

Finalmente ele havia parado de chorar, estava comendo a sopa e de fato era fome. Mesmo que tivesse cheio de molho de tomate e queijo, por hora seus ouvidos não estavam zunindo. Foi então que o telefone tocou.

— Alô. – disse Rony com o aparelho no ouvido ao mesmo tempo que dava colheradas atrás de colheradas para Hugo da sopa.

— Rony, como estão as coisas? – perguntou Hermione do outro lado da linha preocupada.

— Tudo sobre controle...

— Vou atrasar um pouco...

— Sem problem... – Hugo havia batido as mãos no prato a sua frente sujando de sopa todo seu rosto e partes da roupa de Rony.

— Aconteceu alguma coisa? Nesse horário as crianças já devem estar dormindo. Deu febre no Hugo?

— Febre? – Perguntou a si mesmo arregalando os olhos e relando as mãos no filho automaticamente. – Não, estão dormindo já. Fique tranquila. Vou assistir Tv tá bem meu amor? Eu te amo. Não tenha pressas.

E ele desligou o aparelho sem deixar que ela respondesse.

Tinha constatado que talvez Hugo estivesse com febre sim. Apontou sua varinha para a testa do filho e pronunciou o feitiço.

Temperatura revelium. – números apareceram no ar. – 38 graus Celsius!

A febre de Hugo era sempre exagerada e aparecia de repente.

— Precisa de outro banho urgente. Rose termine de comer estou no banheiro com seu irmão.

Avisou a filha e saiu correndo escada acima com o filho nos braços agora já com as bochechas muito vermelhas e com os olhos baixos.

Rony estava sujo e agora com um filho que apesar de apresentar febre não parecia disposto a tomar outro banho. No ato de desespero ele abriu o chuveiro em uma temperatura que muito se aproximava do frio, mas não realmente para não acabar dando um choque térmico em Hugo e entrou embaixo da água junto com o menino nos braços.

Aos poucos retirou as roupas do filho e a fralda que tinha demorado tanto tempo para colocar. Não se importou com as dele depois era só secar, tinha que garantir que o menino ficasse bem, que não se assustasse.

— Está tudo bem Hugo. – dizia abraçando o filho contra o peito. – Papai queria tomar um banho mesmo.

Hugo o olhava com os enormes olhos azuis, ambos os filhos tinham herdado muito de suas características físicas. Por sorte a inteligência tinham herdado de Hermione o que facilitaria a vida deles em Hogwarts e em geral na vida toda.

— Tudo bem. – Repetiu mais para si do que para o filho, mas aparentemente falar calmamente e transmitir segurança também ajudavam Hugo a se acalmar.

O menino deitou a cabeça no peito de Rony e ficou quietinho enquanto sentia a água caindo em suas costas. Rony sentia o quente do corpo do filho indo embora com a água. Mas sabia que o banho não seria suficiente, mas ajudaria.

Logo que desligou o chuveiro embrulhou o menino em outra toalha e o trocou o mais rápido que podia, o distraiu com um boneco do tal herói e dessa vez colocou o pijama de seu time de quadribol. Era o que tinha mais próximo. Trocou-se sem tirar os olhos de Hugo e quando finalmente desceu encontrou a cozinha intacta. Apenas com uma caixa de pizza em cima da mesa.

— Mas?

Rose sorria satisfeita.

— É uma das tarefas que mamãe me dá. – Ela apontou para os post its. – Sou boa em cumprir tarefas.

Rony sabia que a menina realmente era ótima.

— Parabéns. Ajudou muito o papai. – Rony sorriu. Não saberia o que seria dele sem aquela garotinha incrível o ajudando.

— Obrigada. – Ela ficou balançando sobre os pés satisfeita.

— Pode olhar Hugo enquanto faço algo para ele beber?

— Claro. Mas se ele tentar machucar qualquer boneca coloco outra meia em sua boca. – Rose saiu levando o irmão para sala.

Rony ponderou se seria tão grave uma meia, mas resolveu fazer a poção contra febre que sua mãe havia o ensinado uns dois anos atrás. Molly Weasley não podia perder tempo com febre, ela tinha sete filhos.

Foi extremamente difícil fazer Hugo tomar o líquido de cor esverdeada, mas Rony conseguiu enquanto Rose brincava jogando seu cabelo para o menino pegar e se afastando sempre que ele estava próximo de conseguir. Depois de finalmente conferir a febre e perceber que estava tudo bem Rony percebeu que não poderia deixar a filha com os cabelos daquela maneira.

— Vamos pentear o cabelo?

— Nem pensar! – Rose disse saindo correndo.

Eis o motivo para não ter lavado o cabelo. Estava no post-it verde. Rose odiava pentear os cabelos, e se não penteasse antes de secar a tarefa se tornaria quase impossível.  Rony teve certeza que deveria ter lido as informações antes.

Correu atrás de Rose com Hugo nos braços por quase toda a casa.

— Querida precisa pentear os cabelos para que fiquem como o da Punzel. – Gritava.

— Rapunzel papai. – Rose gritava de volta.

— Isso vamos deixar o cabelo igual da Rapu. – Enquanto corria Hugo dava gargalhadas.

— Vai me fazer uma linda trança papai? – Rose questionou escondida. – Igual da Rapunzel?

— Claro querida. - Ele não sabia o que era uma trança,  será que existia algum feitiço para aquilo? Era a pergunta que rondava sua cabeça.

— Eba! – Rose disse finalmente indo para perto do pai.

Soltou um Hugo que agora estava muito mais calmo e foi até todas as anotações de Hermione. Não achou nada sobre tranças.

— Rose, como é uma trança?

Rose olhou desconfiada. Mas pegou o celular do pai e mostrou a ele, Rony pesquisou por tranças e achou um texto instrutivo em uma das páginas naquele mundo da internet. Achou que não era tão difícil quanto parecia. Colocou a menina no colo e começou a pentear seus cabelos ouvindo vários resmungos. Quando estava quase acabando Hugo apareceu arrastando um cobertor. Claramente já havia passado da hora de dormir.

Subiu com o filho mais novo num braço e Rose no outro que se recusou a sair do colo do pai.

— Então boa noite. - colocou Rose em sua cama. E Hugo na dele. Dormiam no mesmo quarto.

As camas eram baixas. A de Rose com uma colcha de princesas. Várias delas de pelúcia no colchão. Vários livros ao lado na cabeceira. A de Hugo tinha aquele herói pavoroso. E ele tinha vários bonecos também de super-heróis por suas prateleiras.

— Papai, mamãe sempre nos conta uma história. – pediu Rose com um bico.

É claro que os dois não iriam dormir sozinhos. Em que mundo ele vivia?

— Que tipo de histórias? – perguntou a filha que já estava deitada, com as cobertas arrumadas. Hugo por outro lado pulava na pequena cama.

— Lobo mau! – disse Hugo ao pai.

— Ah não! – reclamou Rose assim que ouviu o pedido do irmão. – Todos os dias ele pede essa história.

— Que história? – perguntou a Rose sentando-se no chão em meio às duas camas.

— Os três porquinhos papai! O Hugo só gosta de histórias com lobo mau. – ela arregalou os olhos para o irmão querendo amedronta-lo.

— Tem medo! – Hugo disse a irmã e começou a chorar em seguida indo parar nos braços do pai.

— Lobos não são de todo mal. Conheci um muito bonzinho. Aliás o tio de vocês Bill... – então ele parou de falar olhando pra Rose. – Não é uma história para ser contada agora. Vamos pensar em outra. Pode ser Babbity a coelha e seu toco gargalhante.

— Que história é essa? – perguntou Rose curiosa. Hugo chupava o seu dedão e olhava compenetrado para o pai.

E Rony começou a contar a história, mas quando Rose viu que tinha uma bruxa que fazia feitiços desatou a reclamar e ter seus olhos marejados.

— Papai! Essa história só tem bruxas e nenhuma princesa! – disse com a voz embargada. – Não quero! Prefiro contos de fadas.

— Contos de fadas? – perguntou a filha sem entender.

— Mamãe sempre conta histórias daquele livro. – e ela apontou um livro específico em sua prateleira. Era grosso e na capa se lia contos de fadas dos irmãos Grimm.

Rony derrotado e querendo que os filhos finalmente dormissem para ele poder se deitar também, pegou o livro.

— Pode ser Cin-de-re-la? – leu pausadamente tentando entender o título. – O que é isso? Uma doença?

— Aí eu amo Cinderela, pode ser sim papai. – pediu com os olhos brilhantes.

— Era uma vez... – então Rony começou a ler. Conforme ia passando trechos da história, fazia caretas ao reparar que fadas madrinhas faziam feitiços e não bruxas. Que o príncipe era um interesseiro e só queria arranjar uma garota bonita para se casar. Que uma madrasta era considerada bruxa no modo pejorativo. Quando terminou estava indignado com toda história. Hugo dormia em seus braços e Rose permanecia de olhos abertos brilhantes sorrindo de orelha a orelha.

— Não é romântico papai?

— Romântico? – questionou preocupado enquanto colocava Hugo na sua cama. – Eu achei essa história a maior mentira inventada.

— Não papai, é tão romântico ter um príncipe que te ame, que te procure pelo reino inteiro. Queria achar um príncipe para mim.

— O que?! – perguntou alarmado pelas últimas palavras dela. Tinha gritado e só depois se deu conta que poderia acordar Hugo. Ainda bem que o pequeno tinha um sono pesado. Até nisso havia puxado a ele.

Voltou a sentar ao lado de Rose. Chegou perto de sua pequena filha e acariciou seus cabelos da testa.

— Papai não quer que você acabe com um príncipe.

— Por quê?

— Príncipes são mentirosos e acabam com o coração de encantáveis princesas como você.

— Não! São as bruxas que são más nas histórias.- ela negou quase rindo do pai.

— Isso é o que esses trouxas que escreveram essas histórias querem que você pense. Mas olhe meu ponto filha. Se esse príncipe fosse assim tão perfeito, por que ele teve dar uma festa para encontrar a garota que queria se casar? Sabendo que as mais pobres não conseguiriam ir para a festa. Ele foi interesseiro no fim.

— Interesseiro? O que é isso?

— Quando alguém só se aproxima de você por causa de alguma coisa. Querendo algo. – explicou. – e Outro ponto. Se ele se apaixonou tanto assim pela Cinderela por que não a reconheceu logo de cara? Tinha que ficar colocando aquele sapatinho de cristal em todas até encontrá-la? Isso só mostra que ele era insensível. Como diz sempre sua mãe a mim. – ponderou lembrando-se das palavras de Hermione há ele anos atrás.

— Papai você está certo! – ela disse se dando conta da história. – ele não passou de um interesseiro e insensível. – falou como se entendesse profundamente as palavras.

— Portanto filha. Lembre-se sempre de que bruxas não são más, mas sim príncipes.

— Ah, mas é com todos os príncipes? Todos são assim? – ela fez um bico e Rony sentiu que ela ia começar a chorar. – Mamãe me enganou esse tempo todo.

— Sua mãe não queria te decepcionar em relação às histórias.  – Rony ponderou. – Mas a verdade é que esses príncipes fazem com que as princesas abandonem suas melhores qualidades.

— Como assim papai? – Rose era muito curiosa precisava de detalhes.

— Vamos lá escolha outra história.

— A pequena sereia. - Rose apontou um livro na prateleira.

Rony leu rapidamente, Rose sabia a história porque já tinha escutado muitas vezes. Gostava mais de assistir o filme porque Linguado era um ótimo amigo.

— O que tem de errado? – questionou esperando pelo pai.

— Ela era uma sereia. Nadava muito bem, conversava com peixes, tinha muitas irmãs e o pai. Ela abandonou a família e a cauda para ficar com o príncipe. Você acha justo?

— Não. Ela era filha do rei.

— Já era uma princesa não precisava abandonar a vida. Por que o príncipe não virou sereio?

— Tritão papai.

— Isso ai.

Rony falou de todos os príncipes e todas as histórias. Em a Bela e a Fera mostrou que ele sequestrou o pai da menina e depois a ela, o que não era bonito nem romântico, na Bela adormecida o príncipe a beija sem consentimento o que é um absurdo. Rose ficou boquiaberta e assustada com todos aqueles príncipes horríveis e em como ao trouxas culpavam as bruxas. Ela era uma bruxa e não era má.

— Nenhum príncipe é bom? – Questionou chateada.

— Tem um. Só um. – Rony se lembrou de um livro que Hermione gostava de ler durante a gravidez.

— Qual papai? – Os olhos de Rose brilhavam e demonstravam expectativa.

Ele pegou na estante um livro um pouco empoeirado já que Rose só gostava das Princesas e Príncipes.  E Hugo dos três porquinhos.

— Sua mãe lia para vocês quando ainda estavam na barriga dela. – Rony sorriu relembrando. – O pequeno príncipe.

— Esse príncipe é bom papai? – Rose questiona.

— Ele vai te ensinar muitas coisas boas. Minha bruxinha. – Rony disse antes de começar a ler para a menina.

Rose prestava muita atenção.

Quando terminou o primeiro capítulo a menina tinha os olhos fechados. Ele pensou que tinha feito um bom trabalho garantindo que ela soubesse que príncipes encantados não eram tão bons assim. E pelo que tinha visto nas histórias eles eram egoístas. Ele não queria sua filhinha perto de nenhum tipo de príncipe ainda mais daqueles das histórias. Iria comprar literatura bruxa para menina, faltava histórias do tipo.

Desceu para comer pelo menos um pedaço inteiro da pizza, agora gelada. Mas mesmo assim achou saborosa, comeu três pedaços antes de ir para o quarto. Jogou-se na cama exausto. Já passava da meia-noite.

Quando estava pronto para relaxar sentiu as mãos de alguém o cutucando. Deu um grito assustado.

— Papai... – Rose olhou para ele. – Sou eu.

O coração de Rony quase parou de bater, mas antes que tivesse chance de se recuperar Hugo começou a chorar.

Alguns minutos depois estavam os três na cama. Rony no meio com cada um dos filhos de um lado do corpo. Ele voltou a contar a história de Babbity a coelha e seu toco gargalhante. E agora Rose não interrompeu, ficou prestando atenção. 

Quando terminou achou que viriam questionamentos ou choro. Mas na verdade sentiu apenas a respiração pesada deles contra seu corpo e assim se permitiu relaxar adormecendo junto com as crianças.

Hermione aparatou na cozinha de sua casa e encontrou a caixa de pizza na bancada. Deu um sorriso de lado e balançou a cabeça negativamente. Subiu as escadas afim de um banho morno em seu banheiro. Assim que entrou no quarto, se deparou com a cena mais apaixonante que poderia imaginar. Rony estava dormindo no meio dos dois filhos. Parecia exausto, mas dava para perceber que havia se esforçado em tudo. O livro de contos de Beedle o bardo estava caído ao lado. Rose tinha um sorriso estampado no rosto e Hugo dormia tão tranquilamente que achou quase um milagre.

Ficou parada no batente da porta admirando a beleza da cena e agradecendo a sorte que tinha de ter uma família feliz e saudável como aquela. Um marido cheio de defeitos e ao mesmo tempo cheio de proezas. Filhos maravilhosos e espertos que só lhe davam orgulho.

Permaneceu assim alguns minutos só observando-os quando Rony começou a se mexer.

— Oi meu amor, chegou agora? – perguntou sonolento reparando na mulher. – olhe não os fiz dormir aqui, juro. Mas quando vim me deitar eles simplesmente apareceram. Vou colocá-los na cama.

Fez menção de pegar Hugo, mas Hermione o parou e lhe deu um beijo carinhoso em seus lábios. Rony a puxou para perto de si para aprofundar o beijo e Hermione permitiu-se erguer seus pés como em seu primeiro beijo com ele.

— Sabe que olhando essa cena, até me deu vontade de ter outros filhos. – disse apaixonada ao marido assim que desgrudaram os lábios.

— Está brincando. – perguntou apavorado. Já imaginou outras cabeleiras ruivas e castanhas andando pela casa lhe deixando maluco e exausto. Não sabia como sua mãe e seu pai haviam sobrevivido a sete filhos.

Hermione começou a dar risadas do espanto de Rony.

— Brincadeirinha. – disse por fim o aliviando. – Obrigada por ser mais do que um ajudante. Mas sim um pai maravilhoso.

Rony sorriu sentindo as orelhas queimarem. Tantos anos juntos e os elogios de Hermione o fazia se sentir como o adolescente que deixou a garota dos sonhos ir ao baile com outro. Pelo menos tinha agora a tinha como parte de si. E os dois se encaixavam perfeitamente bem.

— Hermione, você é incrível. – Disse a beijando no pescoço.

Nada seria suficiente para agradecer o quanto ela mantinha tudo funcionando bem e o quanto fazia parecer fácil. E ele viu que não era fácil e agora não deixaria nunca de fazer sua parte. Juntos eram melhores do que separados. E uma única noite provou isso por definitivo.

E Rony se provou mais vez. Poderia continuar tendo a autoestima baixa, ser atrapalhado e completamente perdido com regras básicas, como banho após o jantar. Mas conseguia fazer as crianças rirem como ninguém e aparentemente também as fazia dormir muito bem.

— Nós somos querido.- Hermione o tocou no rosto. – Juntos fazemos um excelente trabalho.

Ela estava certa. Quando unidos tudo ficava muito melhor e Rony agradeceu mentalmente pela sorte dê ter a família que ele nunca imaginou que teria, mas que sempre desejou ter. Sua própria família Weasley.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Rony estava catequizando Rose a respeito de homens. Não me admiraria que ela se tornasse uma feminista no futuro. Comentários nos deixam tão felizes :*