A casa na colina escrita por Dricamay


Capítulo 9
Liberdade


Notas iniciais do capítulo

Queria agradecer a todos que estão lendo esta história ❤
Boa leitura!



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A manhã estava ensolarada em Monte Silene, as poucas nuvens no céu indicavam que o dia seria caloroso. Eleonora balançava as pernas suspensas tentando embebedar-se das palavras que lia; a moça escolhera uma parte mais afastada do jardim e subira em uma das árvores, sabia que escalar não era necessariamente um dos atributos mais requisitados para uma dama, contudo, gostava de aventurar-se a liberdade clandestina das pequenas travessuras.
Sua concentração na leitura era testada inúmeras vezes por pensamentos e lembranças da semana anterior: um corpo encontrado dentro de sua casa, o comportamento suspeito do senhor Castillo... a dança com o Conde Hendeston. Já passara três dias que não via o Conde; após o trágico baile ele visitara a casa dos Vogel apenas duas vezes para levar alguns documentos para o Marquês. O pai não fora mais para o Porto depois do baile, Eleonora suspeitava que ele estava receoso em deixar ela e sua mãe, sempre fora muito protetor.
A moça não sabia ao certo o motivo de sua inquietação, mas das poucas vezes que vira o Conde depois dos acontecimentos daquela noite, trocara apenas alguns cumprimentos que não a fizeram contentar-se. Por algum motivo, sentia-se bem ao conversar com o senhor Hendeston. A loira suspirou profundamente tentando voltar sua atenção para o livro.
— Acredito que a conexão com a natureza sem dúvida ajude nas leituras, porém confesso que este é um lugar inusitado para ler. – a voz tranquila fez um arrepio percorrer o corpo de Eleonora.
A jovem encarou o sorriso gentil e os brilhantes olhos negros que a fitavam.
— Sinto em informa-lhe mas se nunca procurou o galho de uma árvore por algum motivo, a sua infância não foi completa. – retrucou a moça da maneira mais descontraída que conseguiu.
— Felizmente, algumas cicatrizes que possuo devido as quedas fazem sua teoria confirmar-se. – disse o Conde aproximando-se da galho baixo onde Eleonora fazia menção de descer. – Deixe-me ajudar, senhorita.
O senhor Hendeston estendeu uma das mãos para Eleonora que segurou em busca de apoio para descer, ela esticou uma das pernas em direção ao chão mas desiquilibrou-se por um instante, o conde adiantou-se para ela segurando a moça pela cintura, Eleonora sentiu o corpo reagir ao toque com um novo arrepio.
— Perdoe-me! – murmurou o homem.
— O senhor apenas evitou que eu ganhasse um belo tombo, não há o que perdoar. – Eleonora tentou acalmar as batidas aceleradas em seu peito.
O conde abaixou-se capturando o livro que caira das mãos da mulher.
— Lord Byron. Uma escolha interessante. – exclamou analisando a capa negra com letras douradas, ele estendeu o livro para a dona.
— Um dos meus autores favoritos. – respondeu a loira passando as pontas dos dedos com delicadeza pela capa do livro.
— A senhorita parece ter um carinho especial pela leitura. – observou o Conde.
— Faz-me bem. A única maneira que tenho de ser livre... – as palavras escaparam de seus lábios sem que pensasse a respeito. Ela balançou a cabeça e começou a andar pelo jardim admirando as flores multicoloridas.
— Liberdade... acho que entendo o que quer dizer. – disse o Conde acompanhando seus passos.
Eleonora olhou para o Conde com curiosidade, o homem esboçou um sorriso de canto e pela primeira vez a moça viu algo como tristeza ou amargura em seu olhar.
— Desde que meus pais morreram fiquei responsável pelos negócios da família... Digamos que não é exatamente o que planejava para mim. Acredito que as vezes as circunstâncias nos levam para caminhos que não são escolhidos por nós, uma espécie de prisão. – exclamou o senhor Hendeston sem encarar a loira.
Eleonora não sabia ao certo o que responder, mas sabia como ele devia sentir-se a respeito da prisão a que se referia. Apesar de ser amada, todas as decisões sobre seu futuro foram escolhidas por seus pais, podia ter conseguido uma pequena vitória ao ganhar tempo, contudo ainda eram refém de um prazo, podia ler os livros que queria mas era proibida de sair de sua pequena cidade. Seus sonhos de visitar outros lugares, expandir seus horizontes, escrever o seu próprio livro, pareciam ser impossíveis.
— Quando era pequena, meus pais costumavam viajar bastante. Conhecemos alguns lugares nos arredores de Monte Silene enquanto papai buscava parceiros e matérias para a construção do Porto. Fiquei encantada com o que vi, papai falou-me que assim que resolvesse os assuntos mais importantes do trabalho iriamos viajar para fora do país. Acho que pode imaginar minha alegria, mas em uma das visitas para os lugares próximos onde íamos de barco, fiquei fascinada com o mar e na minha curiosidade tola de criança quis tocar nas águas. Cai no mar e se não fosse um dos marinheiros que nos acompanhava teria afogado-me. – Eleonora fez uma pausa. – Desde esse dia, nunca mais sai de Monte Silene.
O conde Hendeston ficou em silêncio por alguns minutos.
— O Marquês mencionou o modo como meus pais morreram? – questionou encarando a jovem com uma expressão estranha.
— Não... lembro que ele ficou bastante abalado. Mas soube pouco a respeito. – disse Eleonora um pouco confusa.
— Um naufrágio... eu devia ter ido com eles, mas fui convidado para pintar um quadro para uma Duquesa. Meu pai odiava minha ambição para artista, o nome da família seria manchado por minha causa, segundo ele. – disse o homem, o olhar perdido.
— Sinto muito, senhor Hendeston. – murmurou Eleonora segurando uma das mãos do Conde.
— Entendo o medo de seus pais, eu mesmo perdi pessoas muito amadas em situação similar. Contudo, sei o quanto é doloroso sentir-se preso. – disse o de olhos negros.
A jovem sentiu uma leve caricia em sua mão. Seu olhar encontrou o do homem a sua frente e seu coração sentiu-se leve.
— Senhora? – a voz de Marie fez Eleonora voltar-se apressada para ela.
— Não vi você chegar, Marie. – balbuciou a loira recompondo-se.
— Perdoe-me, mas a marquesa pediu que viesse para ver se a senhora precisa de algo. - disse Marie envergonhada.
— Imagino. Não preciso de nada, já estou indo. – respondeu com um sorriso.
Marie não moveu-se, parecia ainda mais envergonhada.
— Mamãe pediu para que você ficasse comigo?
Marie afirmou com a cabeça.
— Creio que não seja muito apropriado para uma dama ficar sozinha com um homem. – afirmou o senhor Hendeston, um sorriso suave brincando em seus lábios.
— Acho que não. – respondeu Eleonora.
— Só gostaria de fazer uma pergunta antes da senhorita voltar. – o semblante do Conde tornou-se sério.
— Prossiga.
— A senhorita acha que o Visconde foi responsável pelo que aconteceu no baile?
Eleonora não ficou surpresa com a pergunta. Depois do que dissera achou que seria o mais provável para alguém pensar.
— Não sei se posso confirmar. Mas ele agiu de uma forma estranha naquela noite, parecia inquieto e não o vi no salão enquanto cantava. Além disso... não confio no caráter dele. – admitiu Eleonora.
— O homem morto foi identificado como um dos bandidos das redondezas. Pelo que soube já era conhecido pela polícia. – disse o Conde tirando da casaca um papel com o desenho de perfil de um homem. Eleonora reconheceu o dono do corpo que foi achado na sua casa. A imagem ficou marcada em sua mente.
Marie guinchou atrás de Eleonora fazendo os dois olharem para ela
— S-Senhora... vi este homem com o Visconde no baile. – exclamou com a voz trêmula.
— A senhorita tem certeza? – perguntou o senhor Hendeston aproximando-se da criada.
Ela afirmou com a cabeça.
— Aproveitei a oportunidade para ir tomar um refresco na cozinha, estava muito cansada, quando passei pela sala vi este senhor com o Visconde, eles estavam a conversar. - disse Marie – Não cheguei a ver o corpo, por isso não falei nada antes.
— Marie, eles viram você? – Eleonora segurou as mãos da jovem tentando demonstrar apoio.
— Não, senhora.
— A senhorita tem certeza? – questionou Edgar muito sério.
— Sim, senhor. Não queria ser vista fora do posto de trabalho. – respondeu a moça ainda trêmula.
— Os oficiais liberaram hoje a imagem. Para eles é pouco provável que o homem tenha agido sozinho, o que nos leva a pensar em alguém que conheça a sua família. – exclamou Edgar, os lábios contraídos em uma linha rígida.
— O melhor seria que o Visconde não aproxime- se de sua casa por algum tempo. Até termos certeza de sua participação nessa história. – afirmou o Conde
Eleonora pensava o mesmo, mas teriam de revelar ao Marquês as suas suposições. O pai acreditaria? Tinha o Visconde em estima por causa de sua família, conhecia-o desde pequeno, uma relação assim não é tão facilmente abalável.
— Falarei com o Marquês. – disse o Senhor Hendeston para Marie depois de alguns segundos. – Irei precisar de sua presença para relatar o que nos disse.
Marie assentiu.
Eleonora sentiu o estômago contrair-se. Desde muito pequena as suas percepções com relação ao Visconde foram negativas, contudo imaginar que ele seria capaz de tentar roubar seu pai e talvez matar um homem nunca passara em sua mente, sentiu ainda mais nojo ao pensar que seu pai queria que ela casasse com o Senhor Castillo.
— Não deixarei que ninguém a machuque. – afirmou o Conde segurando suas mãos nas dele.
A loira sorriu sentido o coração encher-se novamente.
— Irei com vocês. – afirmou arrumando a postura.
Eleonora acompanhou Marie e o Conde Hendeston a sua casa, falaria com o pai na esperança de que ele visse a real face de Gregório, não sabia ao certo se ele realmente era o culpado mas sentia que sim, em todo caso, não casaria com aquele senhor.


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Notas finais do capítulo

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