A casa na colina escrita por Dricamay


Capítulo 5
O que você quer ?


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura! ❤



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O dia amanhecia preguiçosamente em Monte Silene, mas Gregório Castillo já havia acordado há muito tempo, caminhava de um lado para o outro no quarto, seu rosto contraído de raiva. O Visconde fora no dia anterior na casa do Marquês decidido a pedir a mão da senhorita Vogel em casamento, contudo, o que recebeu em resposta foi uma desculpa esfarrapada de que Eleonora só poderia casar-se quando completasse vinte um anos. O motivo ? Uma promessa a um santo qualquer que concedeu vida a menina quando o casal não parecia poder ter filhos, a moça deveria esperar até o vigésimo primeiro aniversário para casar pois até lá deveria dedicar-se a devoção do santo. Patético!
Não nutria sentimentos pela moça, mas sua família era a mais rica da região e as economias do mais novo dos Castillos estavam acabando. Desde que os pais descobriram que Gregório desviava parte do rendimento da empresa da família para o uso considerado “imoral” do filho, suspenderam a pensão que regularmente era concedida. Besteira! Qual jovem não gasta com jogos e companhias ?
A empresa já não ia muito bem há algum tempo, a venda de vinhos locais caíra com a chegada de marcas estrangeiras, além da temporada fraca para uvas. A pequena fortuna que a família fizera nos últimos anos parecia cada vez menor e Gregório era o mais novo de três irmãos, a herança não seria grande coisa. Pensar nisso tudo só aumentava a raiva que queimava-lhe o peito, casar com a filha do Marquês parecia sua saída mais agradável, ela era a única herdeira além de possuir uma aparência desejável.
Gregório parou de andar, uma ideia iluminou a face do homem. Ele saiu do quarto com pressa, ia fazer uma visita a um amigo.
X-----X
Eleonora desceu as escadas lentamente, o sol refletia nas vidraças laterais da casa em estilo vitoriano do Marquês de Vogel. A moça caminhou até a sala com intuito de juntar-se aos pais para o desjejum, contudo um ruído de vozes masculinas chamou sua atenção; parecia vir do escritório que ficava próximo a sala de visitas. Eleonora parou por um instante, reconhecendo a voz do pai e a do Conde Hendeston, ficou tentada a ficar e ouvir o que falavam, mas os homens conversavam em voz baixa e sua educação não permitia tal atitude.
O desjejum foi feito rapidamente e sem uma palavra da moça, em parte devido a mãe. A Marquesa falava dos preparativos para o baile com vivo entusiasmo, os olhos verdes brilhantes enquanto gesticulava demonstrando os locais onde os enfeites ficariam. Eleonora concordava com pequenos acenos e sorrisos. A mãe era uma mulher alegre e vivaz, o Marquês costumava dizer que bastava um sorriso da esposa para iluminar o ambiente com leveza, Eleonora concordava plenamente; lembrava de quando era criança e ficava doente, a marquesa contava histórias sobre princesas e bruxas, mundos mágicos e bailes encantadores, os movimentos usados e a mudança no tom de voz para as cenas que descrevia, tudo isso encantava a filha.
— Temos que providenciar o seu vestido também. – afirmou a Marquesa encarando a filha.
— Sim, já pensei em algumas coisas. Podemos ir amanhã ao centro com Cecília?
— Claro! Mandei uma carta para a senhora Bentley pedindo para que Cecília viesse hoje a tarde. Preciso da opinião dela a respeito da decoração, a menina é tão boa com isso. – exclamou a Marquesa lançando um olhar pensativo pela sala. – Não ofenda-se, querida.
Os olhos voltaram-se para a filha carinhosamente.
— Não fico ofendida. Cecília é incrível com tais planejamentos. Muito melhor que eu. – disse Eleonora com sinceridade dando um sorriso para a mãe.
— Nesse caso, assim que ela chegar daremos início aos preparativos.
A porta do cômodo foi aberta interrompendo a conversa.
— Desculpe- me, minha querida. A conversa estendeu-se mais do que intencionávamos. - exclamou o Marquês.
— Já esperava por isso, quando homens falam de seus negócios o tempo é esquecido facilmente. – respondeu a Marquesa com um sorriso.
O Marquês caminhou até a esposa depositando-lhe na testa um beijo. Não era comum um casal demonstrar afeto em público, mesmo que fosse a própria filha e um amigo, mas esta era uma das poucas convenções que o Marquês não compartilhava.
—Sente- se, senhor Hendeston. Faça a refeição conosco. – disse o Marquês.
— Infelizmente não poderei fazê-lo, senhor. Tenho que ir ao Porto, gostaria de começar hoje mesmo.
— Ora, sendo assim faça como parecer- lhe melhor. Vejo o senhor em breve. – respondeu o Marquês chamando um criado para acompanhar o Conde até a saída.
O Conde despediu-se das senhoras e Eleonora percebeu que ele deteve, alguns segundos a mais, seus olhos negros nos dela e saiu em seguida.
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O Porto estava calmo quando Edgar chegou na porta do escritório, o cheiro salgado e a visão azul esverdeada faziam o coração do Conde vacilar entre a beleza da paisagem e a melancolia que ela trazia ao lembrar do que o mar havia tirado-lhe.
Ele entrou no pequeno escritório, um homem de cerca de cinquenta anos, de olhos pequenos e cabelos grisalhos levantou a cabeça com a entrada do rapaz, ele estava sentado em uma mesa de madeira talhada elegantemente.
— Imagino que o senhor seja o Conde Hendeston, o novo sócio. - disse o homem brevemente, a voz denunciava algum desagrado.
— Exatamente, senhor. - respondeu Edgar.
— Pelo que sei o senhor já veio ao Porto anteriormente para assinar as papeladas da sociedade. Na ocasião não estava presente, permita que apresente-me: sou Augustus Clark, cuido da parte administrativa.
O homem estendeu a mão em um cumprimento. Os olhos castanhos analisaram Edgar.
— O Marquês pediu que cedesse uma sala para o senhor. Espero que seja de seu agrado. Venha comigo por favor.
— disse o senhor Clark.
O homem levou Edgar para um cômodo adjacente com as mesmas proporções do anterior, com uma mesa de madeira talhada, uma cadeira do mesmo material e algumas estantes com livros sobre comércio, barcos e outros títulos que Edgar não pode identificar. Sua atenção se voltou para a janela que ficava diante do mar.
— A lista de carregamento será entregue ao senhor no final do dia. Qualquer dúvida ou pedido, estarei na sala ao lado a sua disposição. - disse o homem tentando parecer simpático; mas Edgar sentiu a contrariedade em sua voz.
— Certo. Muito obrigado, senhor Clark. – exclamou o Conde.
O dia transcorreu tranquilamente, entre análise dos documentos de carregamentos e saídas de embarcações. O som do mar e a brisa suave que adentrava pela janela fez com o Conde Hendeston vez ou outra fosse tomado por lembranças de anos passados quando sua vida era diferente. O rapaz voltou sua atenção para os documentos e obrigou- se a focar neles até o fim do dia.
Ao anoitecer chegou na casa de dois andares próxima ao centro de Monte Silene, Afonso conversava com uma das vizinhas na porta da propriedade. O Conde de Harrington oferecera a sua casa para o amigo hospedar-se até a sua estar pronta.
— Boa noite! - disse aos dois assim que passou pela entrada.
— Tenho que ir, minha querida! Vejo a senhorita amanhã? - disse Afonso dando um beijo na mão da moça.
Ela acenou a cabeça positivamente mal contendo uma risadinha.
Afonso lançou -lhe um sorriso cortês e entrou na casa.
— Como foi o primeiro dia de trabalho?
— Bem... tudo ocorreu como o esperado. - disse Edgar sem muito ânimo.
— Por que ainda prende - se nisso ? É evidente que este tipo de trabalho não é do seu agrado. - exclamou Afonso sentando-se em uma das poltronas próxima a lareira.
— É minha obrigação gerenciar os negócios da família, tudo o que meu pai construiu está em minhas mãos agora. - retrucou Edgar cansado.
— Estamos falando de sua vida, meu caro. O que você quer ? Conheço-o desde pequeno e bem sei que trabalhar em um escritório com a burocracia do comércio não é o que quer. - disse Afonso encarando o amigo.
— Espera que eu faça o que? - O tom de voz do Conde Hendeston tinha uma leve amargura.
— Onde está aquele homem que via tantas possibilidades a sua frente ? Que foi o responsável pela criação das mais belas propriedades de Middlefalls, que foi reconhecido pela grande nobreza da cidade por suas belas pinturas ? Este homem que espero ver. - disse Afonso vivamente.
Edgar fitou o amigo que ainda o encarava com aquele olhar entusiasmado.
— Ele morreu, junto com os pais. - afirmou Edgar friamente e saiu do cômodo sem dizer mais nada.

 


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado. Qualquer dúvida ou sugestão é só falar. Até o próximo! ❤



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