Céus em Queda escrita por Youseph Seraph


Capítulo 1
Naquele campanário


Notas iniciais do capítulo

Este é o primeiro capítulo de uma história original. Agradeço a todos que estão lendo e peço para que tenham paciência. Agradeço a todos que estão me ajudando no processo, em especial, à minha amiga Evelin e a meu amigo Jackson.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/791127/chapter/1

Gabriel viveu a vida toda em uma contínua viagem, de lugar para lugar. Seu tio, Natanael, vivia no que parecia ser uma eterna peregrinação espiritual, da qual Gabriel nunca fez parte. Ele ainda se perguntava até que ponto aquilo era um estilo de vida ou uma vida de fugitivo. Mas um fugitivo não seria tão rico ou inteligente, mesmo que sem desfrutar dessa riqueza.

Natanael nunca deixou faltar comida e estudo para o jovem Gabriel, que mesmo se encontrando na arte da pintura de telas, cresceu se tornando extremamente inteligente. Mas parecia que mesmo assim, faltava algo em sua vida. Um vazio, que não sabia explicar.

No seu aniversário de 18 anos, o jovem acordou em seu quarto. Ele e seu tio estavam em uma pousada humilde. A manhã estava fria, forçando-o a vestir um agasalho. Ele foi até o espelho do banheiro e olhou fundo em sua própria imagem.

—Feliz aniversário, hehe! —Disse ele, após um longo suspiro.

Seus cabelos eram cacheados e castanhos-escuro, que combinavam com seus olhos castanhos e pele cor de bronze. Seus cabelos, cheios em cima, mas cortados em degradê dos lados, estavam desarrumados pelo tempo que passou dormindo.

Gabriel se lavou, então foi até à cozinha, onde seu tio preparava alguma coisa. Seu tio, Natanael, era bastante parecido com Gabriel, a diferença era a barba curta, que estava impecável, e as tranças no cabelo. Ele usava um avental engraçado que Gabriel havia lhe dado no dia dos pais, afinal, era o único pai que conhecia.

—Bom dia, tio!

Natanael, ao ouvir o sobrinho, se desespera um pouco, fazendo Gabriel rir.

—Ô moleque, era pra ser surpresa!

Gabriel, contendo o riso, se senta em uma das cadeiras em torno da mesa.

—Não precisa de tudo isso, tio. Eu já posso fazer meu café.

Natanael logo interrompe o sobrinho.

—Não é um café comum. É panqueca americana!

—Nossa! —Espanta-se Gabriel. —Faz tanto tempo que não como panquecas!

Natanael, então, tira a panqueca da frigideira com a espátula e põe no prato de Gabriel, que em poucos minutos a devora.

—Gabs... —Diz o tio, depois que o sobrinho termina sua refeição, em um tom sério.

Gabriel fica preocupado. Provavelmente viria algum sermão sobre ser adulto e blá blá blá. Mas seu tio não era desse tipo, o que foi estranho. Ele não disse uma palavra, apenas fitou os olhos do tio.

—Você quer vir à igreja comigo?

Gabriel não entendeu, mas concordou com a cabeça. Era na igreja que Gabriel se sentia confortável. No crepúsculo, os vitrais formavam um caleidoscópio de cores e formas diferentes. Parecia que o pôr do sol estava lhe dando um espetáculo. Geralmente, Gabriel ia nessas igrejas para pintar suas telas. Era como um ateliê secreto.

Não levou muito tempo para que chegassem na igreja. Ela era grande e rústica. Provavelmente construída em época da colonização do Brasil. Gabriel achou que seu tio fosse até o altar ou algo do tipo, mas ele subiu até o campanário.

O local cheirava a tinta acrílica. Gabriel havia estado ali um dia antes. Seu tio não deveria saber disso, então Gabriel teria deixado o seu cavalete de qualquer jeito para a tinta secar.

—Gabriel. —Começou Natanael. —Eu sei que é difícil falar sobre esse tipo de coisa. Pode ser... pode ser até loucura, mas...

—Isso é algum tipo de coisa religiosa, tio? —Indagou Gabriel. Sua pergunta fez seu tio perder a tensão e rir um pouco.

—Quase isso, mas é sério. Sabe de onde vêm os nossos nomes?

Gabriel sabia. Nomes bíblicos. A terminação "El" indicava que eram nomes de anjos.

—Meu pai era religioso? Ou minha...

Gabriel não pode terminar de falar. Seu tio havia visto com atenção o quadro que Gabriel estava pintando.

—Sua mãe!

Gabriel parou de falar. Ele olhava para a tela, sem entender.

—Minha mãe?

—Sim, é ela! É definitivamente ela. Como sabia como ela era?

Gabriel sempre se sentia amargurado quando ouvia falar de seus falecidos pais. Ele não entendia como havia pintado sua mãe em uma de suas telas, especialmente porque Natanael não tinha nenhuma foto deles.

—Eu só pintei algo que eu sonhei um dia desses e...

—Não! Isso aconteceu cedo demais!

—Cedo? Cedo o quê? O que você não está me contando?

Houve uma pausa pesada, que pareceu durar horas.

—Gabriel... seus pais foram assassinados... —Disse seu tio, finalmente.

—O quê? É por isso que vivemos fugindo?

—É, mas foi para o seu bem! —Indagou Natanael. Naquele momento, Gabriel e seu tio já estavam perdendo a paciência.

—Quem tá perseguindo a gente? —Gritou Gabriel.

—Você não—

—EU ENTENDERIA SIM! Eu sabia que a gente estava fugindo. Mas de quem?

Então, Natanael se jogou contra o sobrinho. Nesse momento, Gabriel foi jogado para trás, e enfim entendeu o que estava acontecendo. O sangue do seu tio respingou no chão. Estava quente. Suas mãos começaram a brilhar. Onde estivera a um momento atrás, um homem, vestindo um capuz escuro, enquanto exibia um par de asas cinzentas. Uma sensação estranha percorreu pelo seu estômago. Uma sensação de adrenalina, mas também de medo. Gabriel estava entrando em um estado que nunca havia entrado antes.

Seu tio, com quem havia tomado café e comido panquecas, no chão, sem vida, com um ferimento que jorrava sangue.

Não demorou muito para que Gabriel também percebesse que haviam asas, dessa vez, brancas, quase como neve, em suas próprias costas. Então ele entendeu tudo. E quando entendeu, correu.

Correu sem olhar para trás por um longo tempo, em direção a um terreno baldio que ficava atrás da igreja.

Mas não adiantou. O ser alado estava bem à sua frente. Então ele pode ver a face da criatura por um breve instante. Era um anjo. Assim como ele era.

Se correr não adiantaria, ele resolveu ficar e confrontar.

—Foi você quem matou meus pais? O que quer de mim? ME DIZ!

O anjo não esboçou nenhuma reação, mas retirou de dentro do manto uma gadanha de ferro.

—Matar meus pais não foi o suficiente? Agora mata meu tio e quer matar a mim?

E como em um impulso, Gabriel cerrou os punhos e se jogou contra o anjo tenebroso que enfrentava. Enquanto se aproximava, um feixe de luz tomou conta de seu corpo e concentrou-se no seu antebraço, passando para suas mãos e fazendo um clarão. O anjo deixou a gadanha cair e levou a mão até os olhos, recuando naquele instante. Gabriel não o acertou, mas o cegou a tempo o suficiente de sair correndo.

—Você pagará! —Disse o anjo com uma voz retorcida, e então voltou a perseguir Gabriel. Até que ele parou.

Gabriel parou também. O anjo parecia desnorteado. Parecia não vê-lo a um metro em sua frente. Então Gabriel sente uma mão segurando seu punho, apenas para ser puxado.

Uma sensação tomou conta de seu corpo, como se tivesse acordado de um afogamento em mar aberto. Os seus pulmões não pareciam estarem acostumados com a respiração. Sua garganta tinha gosto de sal.

—TIO! —Gritou Gabriel num impulso, apenas para ver que estava em outro lugar, completamente diferente. Era grande, branco e espaçoso. Suas roupas também estavam diferentes. Naquele momento, ele vestia algo como roupas de hospital. Fora isso, estava quente. Não estava no mesmo local de antes.

Então, um jovem de olhos puxados, cabelo curto e desarrumado, camiseta preta e jeans escuros aparece e põe sua mão nos ombros de Gabriel.

—Acalme-se. —Diz o jovem com a maior frieza. —Está seguro agora. Você passou pelo véu.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Olá, gente, esse foi meu primeiro capítulo. Espero que tenham gostado, apesar do início meio clichê. Em breve vocês vão conhecer um pouco mais do mundo. Muito obrigado.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Céus em Queda" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.