Looking At You Looking Right Back escrita por antônia


Capítulo 1
i want you bless my soul.


Notas iniciais do capítulo

Essa história foi originalmente publicada no Wattpad, como um presente para a Beatriz no amigo oculto de Natal do radjily!

A história, apesar de ter sido escrita há uns meses, não foi revisada, portanto, peço desculpas por qualquer erro de digitação, concordância e formatação!



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LOOKING AT YOU LOOKING

RIGHT BACK.

 

 

Aquilo seria aceitável se ela tivesse 17 ou 18 anos, mas aos 27, era totalmente patético, ridículo e imaturo. Deuses, qual é o problema de ir sozinha em um casamento?

Não importava mais. Tudo que suas amigas haviam lhe dito, as mensagens no seu horóscopo e o arrependimento seis minutos de ter mandado o e-mail eram em vão: ela teria que achar alguém para acompanhá-la no casamento de Petúnia.

E quando o telefone tocou, dois minutos após Lily Evans ter apertado o botão enviar, ela já sabia quem era e o que estava por vir. Pensou em não atender, estava prestes a tomar o seu banho e, provavelmente, se tivesse tomado essa decisão teria conseguido contornar a situação. Ela atendeu.

"Lily Evans, como assim você virá acompanhada para o casamento da sua irmã? Falta uma semana e você vem me avisar agora? Se estava namorando esse tempo todo deveria ter me dito, teremos que arrumar tudo na pressa."

"Boa noite para você também, mãe."

"Desculpe, querida. É o casamento, você sabe... E não ache que eu não estou feliz por você está namorando, ouviu? Mas se você tivesse me dito antes eu não teria que ter me humilhado para a família dos Bones porque a minha filha de vinte sete anos ainda está solteira." - Lily revirou os olhos, talvez tenha sido melhor mentir do que aceitar a companhia de Edgar-mãos-livres-Bones. - "Como ele é?"

"Como quem é?"

"Como assim 'como quem é?', o seu namorado é lógico. Não me diga que você deu trela para aquele seu vizinho estranho, espero que você não esteja tão desesperada assim."

"Eu não estou nem um pouco desesperada, mãe." - disse, começando a andar pela sala. - "É do meu trabalho."

"E eu conheço?"

"Mãe, você veio me visitar quatro vezes nos últimos sete anos. Você não conhece quase nenhum dos meus amigos, o que dirá dos meus colegas de trabalho."

"Certo, me conte mais sobre ele." - Eleanor falou e foi nesse exato momento que Lily Evans pensou que deveria ter escutado as suas amigas afinal de contas.

Como ela poderia descrever alguém que nem existe?

Alguém do escritório? Era aquilo que ela havia dito? Bem, poderia ser Stuart Dick, baixinho, preguiçoso, mas engraçado. Slughorn, que tinha 76 anos e tinha acabado de se divorciar, Amos Diggory, que era o cara mais superficial que ela havia conhecido ou então Samuel Lee, que tinha 22 anos e sempre confundia a correspondência de Lily EVANS com James POTTER – de um escritório de arquitetura no 45º andar.

"Lily? Scott, eu acho que esse telefone estragou de novo, eu não consigo escutar nada. Lily? Lily? Alô? Que merda de tecnologia, as coisas eram muito mais fáceis antigamente." — E muito mais fáceis nos filmes, Lily pensou, antes de responder.

"Desculpa, mãe. Estou um pouco ocupada aqui. Você se importa se eu te ligar amanhã?"

"Mas o casamento é daqui uma semana, preciso saber do que o seu namorado gosta de comer e se ele vai conseguir socializar com a família do Vernon ou com a nossa família. O que dizer, o que não dizer, esse tipo de coisa."

"Desculpa mesmo, eu estou tento uma baita dor de cabeça. E eu juro que vou responder todas as suas perguntas amanhã, só que eu realmente preciso terminar esses arquivos."

"Não se esforce muito, querida. Eu vi na TV que trabalhar muito causa stress. Mas, ok, faça como preferir, há quanto tempo isso tem rolando?"

"O que?"

"Céus, Lily, vocês estão namorando por quanto tempo?"

"Ahm... é... cinco meses."

"Cinco meses?! E você não pensou em dizer isso para a sua mãe? Para a pessoa que te deu a vida?!"

"Eu estive muito ocupada nesses últimos meses. E eu realmente tenho que desligar. Te amo, mãe. Nós nos falamos amanhã." - falou e desligou em seguida, sem nem dar chance para Eleanor dizer alguma outra coisa.

No que ela havia se metido?

.

5 dias para o casamento.

"Você quer que eu faça o que?" - o sussurro de James Potter saiu mais alto do que o esperado, trazendo a atenção de alguns funcionários para ele e Lily. Ele não conseguia acreditar que aquilo estava acontecendo.

"Finja ser o meu namorado. E fale baixo, pelo amor de Deus." - ela repetiu, ainda mais baixo do que da primeira vez. - "Eu posso te pagar se esse for o problema."

"Não acho que eu esteja muito preocupado com o capital, Lily." - James respondeu, tampando o copo de café. - "Mas não sei de onde que você tirou isso, não faz mal ir sozinha a um casamento."

"Eu sei disso agora. Só que eu não sabia disso quando enviei o e-mail. No filme Muito Bem Acompanhada as coisas são bem mais tranquilas e Debora Messing não precisa ir atrás do colega de trabalho, um homem perfeito cai nas mãos dela... tipo literalmente: o anúncio dele estava nos jornais."

"Me alegra em saber que você preferiria sair com um estranho que se ofereceu em um jornal do que comigo." - ele comentou, se virando para ela. - "Podemos subir agora ou você vai querer que encenamos Uma Linda Mulher?"

"Não seja assim, James, eu realmente preciso da sua ajuda." - Lily disse, seguindo atrás dele pelo lobby do prédio. - "Tipo, mesmo. A minha mãe vai me ligar hoje e eu vou ter que passar as próximas três horas descrevendo alguém e você é basicamente o único cara hétero que eu consigo passar o resto da minha vida detalhando." - continuou. - "Isso pareceu extremamente obsessivo, mas é só porque nós já nos conhecemos há seis anos, e eu sou vizinha do irmão mais novo do seu irmão, isso nos faz uma família."

"E se somos uma família, você seria a minha irmã mais nova."

"Não, claro que não. Eu não sou uma irmã mais nova, eu sou mais velha que você."

"Isso muda alguma coisa?" - perguntou, apertando o botão do elevador.

"Claro que sim, porque eu não sou como sua irmã mais velha, mas sim como a irmã mais velha do Regulus, e basta ligar a televisão para saber que as irmãs mais velhas dos amigos são muito mais atraentes do que as irmãs mais novas dos amigos."

"E se eu for do time irmã mais nova?"

"Então eu serei a irmã mais nova." - Lily disse, revirando os olhos. - "Vamos lá, James, você só precisa fingir por um final de semana, são só alguns beijos e provavelmente vamos dividir a mesma cama, mas nada demais."

Ele respirou fundo. Não era como se ele tivesse algum problema em fingir ter sentimentos, a questão toda era que ele não fingiria, já que aqueles sentimentos por ela de fato existiam e aumentavam cada dia mais. James Potter era apaixonado por Lily Evans e vê-la fazendo aquele pedido, parecia como se ele estivesse desistindo e aceitando o posto de melhor amigo para sempre.

Mas como dizer não?

"Por favor, por favor, por favor. Eu realmente preciso de você, James, porque se não for você vai ser o Sirius e você conhece o Sirius, é capaz da minha mãe deixar toda a herança da família no nome do Sirius... você já imaginou como ela vai ficar quando eu disser quer nós terminamos?"

"Você não está me convencendo assim, Lily." - disse, trincando os dentes. - "Você acha que a sua mãe vai ficar feliz quando receber a notícia de que a gente..." - ele fez um sinal com os dedos - "... terminou?"

"Não. Mas ela vai esperar por isso." - faltavam doze andares para ela descer. - "Você é muito atraente, James, sem contar que vai ficar evidente que eu estou muito mais interessada em você do que em você por mim, então é natural que eu termine com você por me sentir indesejada e por ciúmes."

"O que te faz pensar que você está muito mais interessada em mim?"

"Só eu ter gastado os últimos doze minutos discutindo com você provam isso." - falou - "Eu já consigo ver a cena, nós dois tomando café e você pensando que poderia estar em casa trabalhando ou com o Levi em vez de estar comigo."

"Você sabe que eu não faria isso."

"Faria sim."

"Não faria."

"Prove." - ela falou, com as portas abrindo. Vendo James sorrir, ela continuou. - "Te mando mensagem mais tarde para a gente combinar se vamos no meu carro ou no seu."

.

4 dias para o casamento

Algo lhe dizia que aquilo errado. Que não deveria ir e inventar alguma desculpa, como alguma doença ou algum compromisso que ele havia esquecido. A voz era abafada pela risada de Lily.

Tinham combinado de se encontrar no apartamento dela, logo após o trabalho, para trabalharem no plano – mesmo ele dizendo que não havia a necessidade de um –, porque Lily Evans não gostaria de viver a cena ridícula de A Proposta, em que Sandra Bullock e Ryan Reynolds inventam um pedido de casamento grotesco, ah não, Lily preferia presenciar tal cena, não encená-la.

Por isso estavam ali, escutando o disco arranhado de Frank Sinatra enquanto Lily ria dos pedaços desproporcionais que James cortava da cenoura.

"Definitivamente não vamos poder dizer que sou apaixonada pela sua cozinha." - ela disse mexendo na panela. - "Achava que garotos ricos aprendiam nas aulas de etiqueta ou coisas assim."

"Minha mãe preferiu me colocar na esgrima."

"Certo, porque saber lutar com espadinhas é mais virtuoso do que saber cozinhar."

"Talvez fosse, no século XIX." - ele falou, fazendo-a rir mais quando pegou um pedaço totalmente torto da cenoura e mostrou para ela. - "Mas, convenhamos, aposto que eu impressiono a sua mãe se eu falar que luto esgrima e quase fui chamado para a seleção nacional."

"Você quase foi chamado para a seleção? Meu Deus, James, você é tão rico. Você tem um escritório de arquitetura famoso, aprendeu esgrima e sabe falar finlandês? Caramba, nem os finlandeses devem saber falar finlandês."

"Impressionada, estamos?"

"Eu diria que estou com inveja. E se fosse você ficaria onde você está, eu tenho uma colher e não tenho medo de usá-la." - ela disse, se virando para ele, quando o viu se aproximando.

James não parou e continuou o seu caminho até o lado dela, levando um pote de cenouras defeituosas. - "Sabe, para alguém que se gaba por saber cozinhar, isso não parece muito apetitoso." - disse, apontando para a mistura escura na panela.

Eles pediram comida chinesa no final.

"Vamos sair amanhã a noite?" - ele perguntou, pegando um biscoito da sorte na mesa.

"Sim, temos que aproveitar. As aulas terminam amanhã e se sairmos sábado, vamos ficar presos nas rodovias porque todo mundo quer ir para o norte no Natal." - Lily respondeu, pegando os potinhos e os levando para cozinha. - "Não acredito que perdi no par ou ímpar, eu odeio dirigir."

"Eu sei o que você está tentando fazer, mas não. Eu não vou dirigir." - disse, guardando a mensagem que estava no biscoito na carteira. - "Porque a sua irmã quer se casar no Natal? A maioria das pessoas escolhe alguma estação mais quente."

"Eles se conheceram no Natal. É patético, ela estava assistindo filmes de Natal e Vernon estava bêbado e confundiu o apartamento e quase arrombou a porta dela. Ela o deixou entrar e ofereceu chá para ele... agora ela está grávida, mas, quando chegarmos lá, não diga isso pra ela, ela não quer que ninguém saiba."

"É uma ótima história para contar para os filhos." - ele a provocou, mudando o canal da TV. - "A nossa vai ser qual, por sinal? Você estava puta porque estavam trocando nossas correspondências e então foi reclamar comigo, jogou café na minha roupa para horas mais tarde descobrir que eu sou amigo do seu vizinho?"

"É muito melhor que a história da Petúnia." - Lily disse, sentando ao lado dele. - "E você conta mentiras, eu não joguei café propositalmente."

"Foi o que ela disse." - ela revirou os olhos.

"Podemos dizer que nos encontramos no apartamento do Regulus e descobrimos que trabalhamos no mesmo prédio. E aí eu posso dizer que você mudou o seu horário de lanche e de pausa apenas para ficar comigo na cafeteria."

"Foi você que mudou o seu horário, só porque eu sou muito mais bonito que Amos Diggory e porque você está apaixonada."

"Claro que estou." - revirou os olhos de novo. Ele adorava/odiava quando ela fazia aquilo, horas querendo rir, horas querendo pressioná-la na parede e... interrompeu os pensamentos, tendo certeza que eles não seriam úteis naquele momento. - "Você vai dormir aqui?"

"O quê?"

"Você falou isso no mesmo tom de voz que ontem." - ela riu - "Eu perguntei se você vai dormir aqui... eu não me sentiria em paz se te colocasse nas ruas, não por você, é claro, mas pelas outras pessoas."

"Eu dirijo muito bem."

"Claro que sim, aposto que você fez kart quando era pequeno. Mas você bebeu, tem uma lei contra isso." - Lily estava de pé, olhando para James, sentado no chão e com uma mão no cabelo e a outra segurando a taça de vinho. Deuses, como ele ficava atraente quando fazia isso.

"Tentando me levar para a cama, não é, Evans? Achei que você fosse, pelo menos, ser discreta."

"Discrição não é o meu forte." - ela ergueu o braço para ele. - "E então? Acho que vai até ser produtivo, eu ficaria decepcionada se descobrisse que o meu namorado de cinco meses ronca na nossa primeira noite juntos."

"Eu não ronco."

"Aprendeu isso na aula de etiqueta?" - ela não conseguia não provocá-lo, porque ele era James Potter e tudo nele era perfeito. Se ela o provocasse, ele abriria um sorriso e dependendo do assunto da provocação, as reações dele seriam diferentes. Se Lily comentasse sobre a riqueza dele, como tinha feito agora, ele ficaria envergonhado, pois não gostava de se gabar a respeito da sua fortuna e olharia para ela, diretamente para ela e era aquele momento pelo qual ela ansiava.

Ela não conseguia não ficar admirada toda vez que ele fazia aquilo, como se ela fosse a única mulher do mundo, como se ela fosse a única pessoa que valesse a pena olhar para. E o jeito como ele levaria a mão ao cabelo, logo depois, e abaixaria a cabeça, pensando no que dizer ou planejando uma forma de mudar de assunto.

E Lily riria, e ele olharia para ela, mais uma vez, e o sorriso dele apareceria e tudo estaria certo e em seu devido lugar.

"Venha." - ela falou, o ajudando a levantar e o guiando até o quarto.

.

3 dias para o casamento

Aquela tinha sido a pior noite da vida de James, e não era uma brincadeira.

No seu pensamento, seria perfeito. Ele estaria ao lado da mulher por quem ele está apaixonado, na cama dela, no apartamento dela e, se os deuses gostassem dele, na manhã seguinte ela teria rolado até o lado dele da cama e acordariam como naqueles estúpidos filmes de romance onde tudo é perfeito.

Mas não tinha sido nem perto.

Primeiro, ele não tinha conseguido dormir propriamente, o corpo dele tinha ficado rígido a noite toda porque ele não conseguia achar uma posição confortável. Se ele ficasse deitado com o ventre pra cima, ele se sentiria frágil – ainda mais usando nada além de sua cueca –, se virasse para o lado, com as costas em direção a ela, não conseguiria tocá-la – caso alguma coisa acontecesse – e, se ele virasse para o lado dela, não conseguia fechar os olhos porque ela era tão bonita.

Como não conseguia se decidir, ficou virando para um lado e para o outro, e tentava deixar a musculatura do abdômen firme, porque vai que a mão de Lily passasse por lá?

E, quando a cidade começou a clarear, ele se levantou, decidido a lavar os pratos da noite anterior e preparar o café – ele aproveitaria pelo menos um pouco daquela oportunidade única.

"Não te vi levantando." - Lily disse, atrás dele, alguns muitos minutos depois, enquanto ele fritava alguns ovos e cozinhava algumas linguiças. - "Não precisava lavar a louça, eu daria um jeito."

"Deixaria na máquina de lavar por três dias como naquela vez?"

"Por favor, não me lembre daquela vez. Eu tive que limpar a máquina com água sanitária para me livrar daquele cheiro horrível." - disse, dando um gole na xícara ao lado de James, que estava bebendo o líquido. - "Você sabe fazer chá."

"E não queimo os ovos, isso já me faz um melhor cozinheiro que você." - ele sorriu, passando uma mão nos fios ruivos bagunçados. - "Você pode dormir mais um pouco se quiser, temos um longo caminho pela frente."

"Você me acorda daqui a trinta minutos, então?"

"Uhum. Acho que vou dar uma passada no Regulus e perguntar se ele quer café da manhã."

"Não." - Lily disse, desenhando algumas figuras no braço nu de James. - "Ele vai achar que nós estamos transando, e vai contar para o Sirius, que vai contar para a sua mãe, que vai ficar decepcionada quando souber que não é verdade, porque eu seria nora perfeita."

"Você realmente precisa voltar a dormir, Evans. Você está delirando."

.

Além de ser a pior noite de James, aquele dia também estava sendo o mais longo. Era difícil se controlar em terminar os esboços dos prédios ou de coordenar toda a equpe quando que, em algumas horas, ele estaria indo com Lily para a sua cidade natal, para fingir ser o seu namorado na frente de quase todos os familiares dela.

E, ao contrário das idealizações que tinha feito no dia anterior – quando ele pensava em forjar a própria morte para não ter que acompanhá-la -, James Potter se encontrava ansioso. Ela tinha lhe prometido beijos e interações e toques e sorrisos e ele a teria para si por, pelo menos, três dias.

Talvez fosse uma espécie de sonho virando realidade, mas ele não gostava – pelo menos não totalmente – da ilusão que ele viveria nos próximos dias. Seria extremamente difícil e complicado traçar uma linha entre o que ele queria fazer e o que ele deveria fazer, até onde era apenas um personagem, até onde ele deveria ir.

Pensando nisso e olhando para uma folha de papel em branco, James escutava a conversa de Remus, Sirius e mais dois empregados no corredor, ele tentava recordar do dia em que a conheceu.

Tinha tudo sido culpa de Samuel Lee – que apareceu no início da história- , na época ele tinha 17 anos e, tentando ganhar algum dinheiro enquanto estava na faculdade, pegou a vaga de garoto correio, conseguindo, de alguma forma, confundir o nome EVANS com POTTER.

E a culpa seria inteiramente dele se James não tivesse ajudado.

Ele ainda lembrava de quando o primeiro erro aconteceu e antes que pudesse verificar o nome, já tinha aberto a carta – que não era nada além de vários bilhetes de Lily e Dorcas Meadowes, que trabalhava no 19º andar -, e havia ficado fascinado. Não só pelo fato de elas ainda trocarem bilhetes quando usar e-mails ou celulares seria muito mais eficaz, mas nos longos trechos que ela escreviam, sobre almoços, personagens de filmes, atores de Hollywood.

"Ei, senhor. Me desculpe, mas eu te entreguei a correspondência errada, você poderia devolver?" - Lee bateu na porta, e James, que tinha parado no meio da frase eu não suporto mais a minha chefe, todo dia ela...

"É, eu percebi." - James disse, colocando os bilhetes dentro do envelope. - "Mas deixa que eu devolvo... Samuel... quero pedir desculpas por ter aberto a carta." - E ele o fez, pelo puro impulso de querer conhecê-la, el, quando a viu, estava fascinado pelos cabelos ruivos longos, pela forma na qual ela estava sentada, digitando furiosamente no computador.

Desde então ela passou a ser o romance bobo do escritório, a mulher que ele esperava encontrar no elevador para fazer comentários sobre o tempo, perguntar como havia sido o seu dia.

E em alguns momentos – vários – James subornava Samuel para trocar as correspondências, apenas para poder vê-la e trocar algumas palavras com ela, nem que fosse para ser atingido por um copo de café frio, como havia sido quando Samuel cometeu o mesmo erro pela décima quarta ou décima quinta vez.

Foi uma coincidência e tanto saber que ela era a vizinha de Regulus – irmão mais novo de Sirius – e a mesma mulher que geralmente dividia parte da comida com o caçula, certificava que as plantas ficassem vivas quando Reg tinha que viajar e a mesma pessoa que influenciava em quase todos os filmes que Os Marotos— a forma como Sirius; Peter; James; Remus e Regulus gostavam de se chamar - assistiam.

"Yo, Prongs" - Sirius falou, entrando na sala com uma maça e olhando o amigo. - "Não é hoje que você vai para Kendal com a ruiva?" - perguntou e antes que o amigo assentisse, continuou. - "Se quiser pode ir para a casa agora, você tem que arrumar a sua mala para parecer um genro em potencial, a primeira impressão é a que conta."

"Você diz como se o fim para isso fosse ser igual aquelas comédias românticas."

"Respeite as comédias românticas, elas são sempre baseadas em histórias verdadeiras."

"Tirando o fato de que não são. Os filmes geralmente são feitos por caras como eu que gostam de idealizar o final perfeito em vez de aceitar a realidade."

"Mesmo sendo falso." - Sirius falou, colocando as mãos nos bolsos. - "Você ainda precisa agir como um cavalheiro e usar roupas decentes e comprar um presente para o seu sogro e a sua sogra. Sabe como é, precisa fazer eles se apaixonarem por você."

"É por pensar em coisas assim que a Lily diz que você seria um melhor namorado do que eu?" - James perguntou, girando a cadeira de rodinhas... ele não tinha pensado em um presente.

"Eu seria eleito o homem da nação britânica se não passasse todo o meu tempo me escondendo em uma mesa desenhando prédios. Mas quando sairmos na GQ UK, eu vou finalmente conseguir mudar de profissão."

"Ele diz como se não amasse tudo isso." - Remus falou, entrando na sala, carregando com si duas xícaras de chá. - "Eu concordo com ele, no entanto. Acho melhor você ir para casa, são umas 6 horas de viagem."

"Lily que vai dirigindo."

"Você só pode estar de brincadeira." - Sirius falou, se erguendo do pequeno sofá do escritório. - "Você vai mesmo fazer a garota dirigir de Londres até Kendal? Sua mãe te colocou nas aulas de etiqueta quando você tinha nove meses, para esse ser o resultado?"

"Ela perdeu a aposta."

"Não interessa, você tem que ir para casa, descansar, depois vir para cá com o seu carro e dizer eu sei que você está cansada, então pode deixar que eu dirijo. Meu Deus, Prongs, a razão pela qual vocês não se beijaram até agora é porque você é um panaca."

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No fim das contas, James fez o que Sirius e Remus tinham proposto: foi para casa, dormiu por duas horas, tomou banhou, terminou de arrumar as suas coisas e as 18h30 em ponto estava com o carro no estacionamento do prédio, esperando ela ser liberada.

O itinerário estava formado na cabeça dele: primeiro iriam até o apartamento dela, para que ela pudesse se arrumar e então pegariam a estrada. O seu corpo ficaria tão cansado com a viagem que ele não faria outra coisa além de dormir como pedra naquela noite, então ele não tinha que se preocupar com nada se os dois fossem dormir no mesmo quarto – e, para melhorar, dessa vez ele teria roupas e estaria protegido de qualquer ser espiritual que tentasse assassiná-lo, ou, pelo menos, pensava que sim -.

A respeito do casamento, ele decidiu não se preocupar com aquilo, ela provavelmente ficaria ocupada nos próximos dias e a única coisa que ele teria que fazer é dar suporte para ela, como ele sempre fazia.

"Olha só se não é o príncipe encantado." - ele escutou a voz de Marlene McKinnon, uma das colegas de trabalho de Lily, enquanto mexia no telefone. - "Eu gosto dessa versão onde ele não tem um cavalo-branco mas sim um carro limpo e confortável."

"Você deveria ter me mandado uma mensagem." - Lily disse, arrumando a bolsa no ombro. O estado dela estava diferente de quando eles haviam se separado no estacionamento naquela manhã, o cabelo mais bagunçado, alguns botões da camisa social abertos e a aparência muito mais cansada do que a ativa Lily que ele conhecia. James se agradeceu por ter escutado Sirius. - "O que você teria feito se eu tivesse pegado um ônibus?"

"Você e Marlene vivem no mesmo quarteirão, e ela não te deixaria ficar quarenta e cinco minutos em ônibus cheio de adolescentes."

"É verdade, eu sou sempre o príncipe encantado." - Marlene comentou, tirando a chave do carro do bolso e indo em direção ao carro. Olhando para eles, ela viu James se aproximando de Lily, tirando a bolsa dos ombros dela e, com a mão disponível, tirando uma mecha do rosto dela e acariciando seu rosto. - "Vocês sabem que nem precisam fingir, certo? Todo mundo já acha que vocês são um casal." - ela falou, abrindo e fechando a porta do carro, enquanto James se virava para o veículo e sorria.

Ele gostava daquele tipo de comentário.

.

"Então você vai dirigindo? O que te fez mudar de ideia?" - Lily perguntou, ainda colocando roupas na mala. James estava deitado no sofá, assistindo a um jogo de futebol.

"Toda a sua conversa ontem me inspirou." - se limitou a dizer, sabendo que se mudasse um pouco o ângulo em que sua cabeça estava, conseguiria ver Lily de calcinha e sutiã, colocando mais roupas que o necessário na mala. Ele mantinha o olho na bola. - "Você vai querer comer algo antes de ir? Posso fazer alguns sanduíches."

"Isso seria perfeito. Eu já acabei, só falta tomar um banho." - disse e ele escutou a porta do banheiro se fechar enquanto ia para a cozinha.

James sempre tinha coisas que esperava em Lily. Esperava que ela fosse o tipo de pessoa que comesse apresuntado em vez de presunto, que gostasse de tomar suco de laranja, que tivesse ovos estragados na geladeira e oito tipos de geleia diferentes. Esperava que o apartamento dela fosse cheio de poemas visuais e plantas e que tivesse uma pilha de livros em algum canto do quarto.

E não é como se ela fosse o sentido ruim de previsível, mas sim porque ela era tão viciante que ele não era capaz de não tentar memorizá-la: seus hábitos, suas manias, seus vícios, ele queria saber de tudo e cada vez mais.

"Merda." - murmurou para si mesmo. Ele precisava parar de pensar nela.

"Ta-dã" - Lily disse, aparecendo atrás dele, da mesma forma que tinha feito durante a manhã. O cabelo preso em um coque, calças jeans e suéter. - "Sabia que se você tiver sorte, você vai ganhar um suéter da minha avó?" - ela comentou - "Ela consegue tricotar um em dois dias e hoje é dia 22, ela vai se apaixonar por você no café e nós vamos embora no dia 26, é mais do que tempo."

"Por que você acha ela vai se apaixonar por mim?"

"Eu já te disse mil vezes que você é extremamente atraente, James. Confia em mim, um sorriso para ela e Mercedes Evans estará de joelhos. Eu vou até ficar de olho nela." - Lily disse a última parte se inclinando pra perto dele, ele segurou o impulso de beijá-la.

Quando ela se afastou, ele quis estar logo em Kendal – onde beijá-la seria natural – para ter uma desculpa para fazê-lo.

.

Ela não conseguia não cantar todas as músicas que tocavam na rádio. Não era algo exclusivo da personalidade dela, Sirius vivia fazendo a mesma coisa, mas toda vez que ela começava a dançar ou a imitar o cantor, James sorria.

Lily Evans era linda.

Mesmo na estrada escura, mesmo tirando da rádio que passava o jogo, mesmo cantando todas as letras erradas.

"Você vai adorar Kendal."

"Você já disse isso doze vezes nas últimas quatro horas."

"Ok, mas você vai adorar. Eu sei disso porque eu te conheço como a palma da minha mão." - ela falou, cruzando as pernas e prendendo o cabelo em um rabo de cavalo.

E ela realmente conhecia.

Conhecia o hábito de arrumar os óculos antes de acender um cigarro, conhecia a mania dele de estalar o pescoço em intervalos pontuais enquanto desenhava arranha-céus e conhecia a ridícula ruga que aparecia entre os olhos toda vez que o seu time perdia a bola.

"Olhos na estrada, James." - disse depois de perceber que o olhar dele estava focado nela. - "Por sinal, estamos quase chegando e me veio a cabeça que nós nunca nos beijamos, e eu acho que deveríamos fazê-lo antes de eu te apresentar pra toda a minha família."

"Hm?" - ela não viu as sobrancelhas dele arqueando.

"É só que, imagina se o nosso primeiro beijo for na frente da minha mãe? Primeiros beijos são sempre horríveis e então vai parecer que nós nunca fizemos isso antes."

"O meu primeiro beijo foi incrível."

"Claro que foi, você é James Potter, provavelmente aprendeu na aula de etiqueta como beijar uma garota corretamente, mas para mim, rele mortal, tem milhões de fatores que interferem um beijo. A textura dos lábios, por exemplo, os seus lábios são lisos e beijáveis, então eu deveria mordê-los ou..."

"Você deve pensar muito em me beijar para analisar todas essas coisas." - disse, não se importando em soar um pouco esperançoso. É claro que ele já tinha tido suas próprias imaginações, gostaria de sentir os lábios dela se entreabrindo, permitindo um maior contato, gostaria de escutar o pequeno suspiro depois de um beijo duradouro. Saber que talvez ela já tenha pensado na mesma coisa fazia com que ele sorrisse. - "Já entendi, você está usando um casamento como desculpa para me beijar."

"É claro que sim. Uma pena que você só tenha aceitado depois de eu mencionar o Sirius. Quase partiu o meu coração."

"Você fala como se eu fosse capaz de dizer não para você."

"Você disse não para mim hoje."

"São coisas diferentes, não vou colocar você como o plano de fundo do meu celular."

"E porque não? Somos namorados, mesmo que falsos namorados, é normal." - ela respondeu, cruzando os braços. - "Assuma que você ama o seu time de futebol mais do que a sua namorada."

"Você está dizendo bobagens." - falou, olhando para ela. Olhando diretamente para ela. - "Lily Evans, você sabe que eu te amo mais do que tudo."

E alguns segundos se passaram, segundos em que tudo que Lily conseguia pensar era na cor dos olhos de James, nele e em todo universo que o circundava. Merda, ela odiava quando aquilo acontecia e o seu coração batia rápido por James Fleamont Potter.

"Quase me convenceu, James." - disse, desviando o olhar e sentindo as suas bochechas esquentarem. Ela se sentia como uma garota de dezessete anos, com os seus sentimentos a mostra, histórias de amor em sua cabeça e músicas de partir o coração na ponta da língua. Aquilo não era real e tinha que se lembrar disso, tudo era consequência de seis anos de amizade.

"É nessa ou na próxima rua?" - perguntou, também olhando para frente e observando as casas enfeitadas com papais-noéis e pequenas luzinhas.

"Virando a esquina. A grande casa com uma rena inflável no telhado."

"Rena? Aquilo não é um veado?"

"Shhh. Não diga isso perto da minha mãe, é ela quem comprou todas as peças de decoração. Perto dela, essa é a rena mais rena que você já viu na sua vida."

"Anotado, capitã." - disse, estacionando o carro em seguida. - "É um veado bonito, sempre fui fã deles quando era pequeno. Temos uma casa de campo perto de Inverness e tinham cervos muitos bonitos lá que eu pedi para os meus pais adotarem um."

"Isso é fofo. Eu imagino um pequeno James brincando com um pequeno cervo igual ao Kristoff em Frozen."

"Posso te assegurar que não foi bem assim." - ele falou, tomando das mãos de Lily a pequena mala que ela segurava. - "Pode deixar que eu levo para você."

"O que seria de mim sem o meu cavalheiro?" - disse, revirando os olhos pela sétima vez na noite. - "Ok, eu preciso que você fique exatamente onde está, James Fleamont Potter, porque eu vou te beijar."

"Venha, então." - ele falou, sorrindo de nervosismo. Lily sorria também, não acreditando que as palavras tinham realmente saído de sua boca e que ela finalmente descobriria o fim de suas imaginações pontuais.

E quando os lábios se tocaram pela primeira vez em milhões de pensamentos, quando as malas caíram no chão para os braços de James abraçarem a cintura dela, quando os pelos da nuca dele se eriçaram quando as mãos frias de Lily passaram por eles para trazê-lo para mais perto, eles simplesmente souberam.

Não era falso, não podia ser. Eles se entregavam a aquele momento, obcecados pelos lábios, pelos toques, pelos corpos, pelo contato, pelo tempo, por aquele único momento. Era aquilo. O beijo que ela tanto ansiara por, o beijo dele.

Tudo que James conseguia pensar era no seu desejo, puro e genuíno, de pertencerem, de fato, um ao outro. Lily, por sua vez, repetia para si mesma o seu pequeno discurso: consequências... quem nunca flertou com o melhor amigo?

.

2 dias para casamento

"Bom dia." - James disse assim que colocou os óculos e descobriu a presença de Lily Evans na poltrona perto da janela.

"Bom dia, sleepyhead. Você tem que levantar logo para tomarmos café, temos um longo dia pela frente." - falou, se levantando da poltrona e caminhando até a cama de casal. - "Começamos com um ensaio de casamento, logo depois do café, então teremos algumas horas para visitar a cidade, mas a noite temos um belíssimo jantar de noivado."

"Sua animação chega a ser contagiante." - James respondeu, sorrindo. Levantou o tronco e a observou, Lily usava um suéter verde-escuro e meias ¾. Ela era tão bonita e tão atraente que tudo que ele queria fazer naquele momento era puxá-la para os seus braços. - "Você tem que concordar comigo que é muito melhor do que ficar em casa assistindo comédias românticas natalinas."

"Bom ponto." - ela falou, se permitindo traçar um caminho pela camisa cinza de James com o indicador. - "Mas acho que eu preferiria ficar aqui."

Ele não conseguiu conter um sorriso, ele sempre estava sorrindo quando Lily Evans estava envolvida. Com a respiração leve, o moreno levava a proposta dela em consideração: ficar na mesma cama com uma Lily Evans de pernas expostas, conversando sobre suas lembranças e criando planos inviáveis para o futuro era como um sonho.

"... mas minha mãe fez waffles e ela disse para eu levar o seu traseiro bonito lá para baixo porque, de acordo com ela, você é muito lindo para não ser admirado."

"Oh, não, eu planejava roubar o coração da caçula, mas acho que errei o alvo." - falou, olhando para ela. Aquele era mais um momento em que Lily não conseguia pensar corretamente.

Estar com ele era tão fácil e tão tranquilo, como ler o seu romance favorito ou assistir Quatro Casamentos e Um Funeral pela décima sexta vez. Os olhos de James a faziam sentir como se ela fosse única e ela não deveria, não poderia se sentir daquela forma, mesmo que, com o passar das horas, ela descobria que era inevitável.

Talvez fizesse parte do seu destino se apaixonar por James Fleamont Potter. Talvez ela só devesse aceitar de uma vez e se declarar em algum discurso melodramático de como eles eram perfeitos um para o outro e como eles nunca achariam alguém que soasse tão coerente e certo.

"Você ainda tem tempo para roubar o meu coração." - ela comentou, pois não sabia o que dizer. James acenou com a cabeça, mas, na visão dele, não era necessário muito esforço.

Ele tinha tido parte da noite para pensar nisso, durante umas horas de insônia. Os sentimentos dele provavelmente não eram tão não-correspondidos como ele pensava que fosse. Porque se Lily Evans sentisse a máxima repulsa por ele, provavelmente não pediria para ele passar a noite, confessaria que já havia pensando em beijá-lo ou dormiria com a cabeça em seu peito com tanta paz.

Não fazia sentido, não na cabeça dele. Para James, todas aquelas pequenas interações eram sinais de que talvez ela gostasse dele também, não na mesma medida, é claro, mas correspondia em alguma proporção.

"Precisamos descer... ou a minha mãe vai pensar que estamos fazendo coisas impróprias aqui."

"O que seria algo impróprio para você?" - perguntou, vendo que ela não respondia, James decidiu provocá-la, se posicionando em cima dela. - "Algo assim?" - disse, enquanto uma mão ia subindo pelo corpo de Lily, partindo das meias pretas e adentrando o suéter. - "Ou algo assim?" - falou, quando se inclinou mais um pouco e os lábios dele ficaram centímetros do pescoço dela.

"Eu... você... você sabe muito bem." - Lily gagueou e sentiu o sorriso de James abrir, enquanto que a mão dele repousava na sua cintura, provavelmente sentindo a pele dela pegar fogo.

"Sua reação é impressionante. Nem parece que você anda seminua pela sua casa quando eu estou por lá." - ele se afastou, se levantando e ela o acompanhou em suas ações. Lily queria dizer algo, importuná-lo, contradizê-lo, mas parte do seu cérebro continuava simulando o que teria acontecido se ele não tivesse parado.

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"Ok, você pode explicar onde estava escondendo o seu namorado bonitão que está estupidamente apaixonado por você?" - Alice Longbotton (née-Prewett) disse assim que surgiu na cozinha do Evans, seguindo Lily com a desculpa de ajudá-la a servir mais torta.

"Nós trabalhamos no mesmo prédio e temos alguns amigos em comum."

"Isso explica onde tenho que ir caso Frank peça divórcio por eu estar obcecada com sapatos de bebê, mas não o porque de você não ter me contado nada. Cinco meses são muita coisa, Lils, eu conheci Frank, me apaixonei e casei com ele em menos tempo." - O que era uma verdade, Lily se lembrava dos e-mails semanais de Alice reportando os avanços com Frank Longbotton, ela era muito boa em conseguir o que queria.

"Sei lá, acho que não imaginava que fôssemos tão sérios... nós nos conhecemos por acaso e as coisas foram indo até que... bem até que..."

"Até que a faísca aconteceu?"

"A faísca?"

"Você sabe... o momento em que vocês olham um para o outro e tudo faz sentido." - Alice falou, abrindo a geladeira para tirar a jarra de suco. Ela falava casualmente, mas Lily prestava atenção nas palavras, esperando que elas revelassem algo. - "Eu senti com o Frank no momento em que o vi. É que uma força de atração, acontece e pronto. Você quer estar com ele a maior parte do tempo, fazer ele sorrir... o momento em que você procura por ele e ele está lá, olhando para você."

"Essa provavelmente foi a maior besteira que eu já ouvi." - Lily disse, após um tempo.

"Então como você explicaria?"

"Eu não sei... é como se... te amo sem saber como, nem quando, nem onde, te amo diretamente, sem problemas nem orgulho: assim te amo porque não sei amar de outra maneira. É algo inevitável, mas é construído e natural, não um choque... cupido ou algo assim."

"Mas mesmo assim tem que ter um momento divisor de águas. Uma hora em que as coisas nunca vão voltar a ser o que eram antes, que você vai beijá-lo e vai ter um sabor diferente."

"Acho que não cheguei nesse ponto ainda." - Lily falou, entregando a dúzia de pratos para que Alice os levasse para a sala.

No entanto, antes de segui-la com a torta de maça – que colocaria um fim no almoço realizado pós-ensaio de casamento – a ruiva gastou mais alguns minutos analisando a conversa.

Até aquele momento, ela e James tinham se beijado seis vezes e todos eles eram beijos que a deixavam sem fôlego, fazendo com que ela calculasse quando seria o próximo e pensasse que, afinal de contas, talvez fosse possível um corpo derreter nos braços de outro.

Lily Evans não conseguia não se sentir como uma garota de dezessete anos, incapaz de pensar em qualquer coisa que não fosse desvendar os seus sentimentos, ter plena consciência de como agir, de ter o mistério solucionado.

Sem encontrar respostas, ela permitiu que o perfume de James a invadisse, que suas mãos entrelaçassem e que ele a fizesse rir, comentando alguma piada que apenas ela escutaria. Ao mesmo tempo, Lily se perguntou como se sentiria quando tudo aquilo acabasse.

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Com seis anos de convivência, James Potter se sentia preparado para qualquer decisão que Lily Evans tomasse.

Se ela decidisse cortar o cabelo, gastar seis libras em leite de amêndoas, vestir saias e botas durante uma tempestade – porque era algo que uma moderna Audrey Hepburn faria – ele estaria pronto para ajudá-la, para fazer algum comentário que a deixaria feliz, para controlar as suas emoções.

E ele se sentia mentalmente capaz de lidar com o vestido preto que ela usaria no jantar de noivado, ate vê-la usando-o e simplesmente não estar mais.

"Você... hã... você está linda." - disse, em finlandês. Ele a viu arquear uma sobrancelha, mas ainda era impossível achar palavras na sua língua materna quando Lily Evans estava na sua frente e corada.

"Sua reação é impressionante, nem parece que me vê seminua pela minha casa quando você está por lá." - provocou-o, mas os olhos dele não mudaram de direção: focados nas sardas que espalhavam de forma uniforme pelos ombros dela. - "Sério, James, é isso que eu preciso para te impressionar? Deveria ter usado esse vestido antes então... ou o da minha formatura, ele deixava as minhas costas expostas."

"Por favor, me chame para todos os eventos daqui para a frente. Não me importo de dirigir por três horas se esse for o prêmio."

"Ele fala!" - exclamou, ignorando-o. - "Podemos ir agora ou você vai mudar para a sua versão finlandesa de novo?"

"Estamos bem, por hora. No entanto, se você fizer aquele lance com o cabelo, posso ficar mudo pelo resto do ano."

"Como você vai ser capaz de esquecer cinco línguas?" - ela comentou, sorrindo e vestindo o longo casaco verde. - "E que lance com o cabelo? Eu não tenho nenhum lance com o cabelo." - Mas ela tinha. Lily sempre movia o cabelo para que o seu pescoço ficasse a mostra e, como esperado, James sempre gastava alguns segundos pensando como seria passar os lábios por ali, como quase havia feito naquela manhã.

"Não vou falar, você usará contra mim mais tarde."

Contudo, ela não precisou de muito para descobrir e, assim que se sentaram lado a lado na grande mesa de jantar, ela moveu o cabelo para o lado e olhou para ele. Deuses, como ela era capaz de olhar para ele daquela forma e ainda pensar que eles eram "apenas amigos"?

"Você sabe que eu também posso arranjar uma forma de te deixar sem palavras, certo?" - James disse, assim que se inclinou em direção a ela. Os olhos de Lily se focaram nos lábios dele, nem um pouco preocupada em parecer discreta. Eles estavam fingindo ser um casal e era aquilo que casais faziam.

Ele se afastou quando escutou o talher tocar a taça de cristal, iniciando o jantar e, assim que Lily sentiu a mão de James na parte média de sua coxa, ela soube que ele havia ganho.

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Por mais que tentasse, Lily não conseguia se concentrar em qualquer coisa que não fosse o movimento da mão de James em sua perna. A forma que a região onde o toque ocorria ficava quente e então fria e então quente novamente era suficiente para desviar qualquer foco de atenção da ruiva.

A fricção enviava impulsos para todo o corpo de Lily e ela estava prestes a se mover, para que o toque de James ultrapassasse os limites do vestido dela.

Lily Evans duvidava que tivessem ensinado aquele comportamento nas aulas de etiqueta.

"Você quer ficar até o final ou quer ir para casa?" - ele perguntou, removendo a mão por completo. - "Foi um dia cheio e metade das pessoas já foram. Acho que sua irmã não vai se importar." - e Lily sabia que não: Petúnia só tinham olhos para Vernon naquela noite.

"Acho que ir para casa... amanhã é véspera de natal e minha avó vai me acordar as sete para fazermos quinze pratos diferentes."

"Me avise quais deles você vai preparar para eu passar bem longe." - James disse, sorrindo. Naquele momento, tudo que ela conseguia sentir era a tranquilidade expressa na forma que eles sussurravam um para o outro e nos toques delicados. - "Venha, vamos te levar para casa e te por para dormir."

No caminho de volta, Lily pensavam no dom deles de transformar flertes em brincadeiras e brincadeiras em segurança. No fato de, em questões de segundos, ele quase colocar o corpo dela em combustão para depois a deixar se sentindo protegida com meia dúzia de palavras.

Fora a vez dela de ter suas horas de insônia – depois de seis minutos de soneca no carro – vagando nas possíveis variáveis existentes caso ela tentasse desenvolver as palavras presas em seu céu da boca.

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36 horas para o casamento

Quando Lily acordou e sentiu o espaço ao lado dela vazio, abriu os olhos rapidamente. Como havia presumido, estava sozinha no quarto, com o pijama de James bagunçado na sua poltrona. Ele deveria ter esperado por ela.

Ao descer as escadas, minutos depois, descobriu que o homem não estava nem na cozinha nem na sala de estar, assistindo televisão ou desenhando alguma coisa.

"Onde James foi?"

"Seu pai o arrastou para 'um dia de garotos', acordou o pobre coitado às seis da manhã." - ao ouvir um 'ugh' vindo de Lily, Eleanor prosseguiu. - "Você sabe que ele faria isso uma hora ou outra."

"Não esperava que fosse na véspera de Natal." - disse, servindo-se café. - "O que ele tem para falar com James de qualquer forma?"

"Você sabe... as intenções dele."

"As intenções dele? Deus, mamãe, nós temos 27 anos, não dezesseis..."

"Você sempre será a garotinha dele." - tentou justificar. - "Sem contar que ele está emocional nesses dias, e olha que o casamento de Petúnia não pegou ninguém de surpresa."

"Por falar em casamento... como que Petúnia conseguiu convencer o padre a realizar a cerimônia no Natal? Não é pecado ou algo do tipo?"

"Bem, você conhece a sua irmã... ela deu um jeito. Algo como 'o quão grato Jesus ficaria sabendo que compartilhou o seu dia com a celebração do amor verdadeiro'".

"Isso é algo que Petúnia diria."

"Sempre a vi casando na igreja, você por outro lado é uma garota que vai se casar no jardim. Acho que James vai ser igual ao Hugh Grant em Quatro Casamentos & Um Funeral" - disse e Lily revirou os olhos... ela estava certa que a caçula gostaria de se casar em um lugar aberto, mas ninguém nunca tinha dito nada sobre James.

"Pare com isso, eu e o James não vamos nos casar."

"Não deixe ele ouvir isso, Lily, vai quebrar o coração do pobre garoto... ele está completamente apaixonado por você." - e era isso que todos diziam: Alice, sua mãe, seus familiares, mas ela não conseguia ver. Era apenas o jeito deles. - "Agora eu preciso que você se arrume, temos um longo dia."

"Mãe? É véspera de Natal... não devemos ficar em casa e preparar a ceia?"

"Temos um casamento amanhã, a comida que espere."

Confusa, Lily terminou de tomar o seu café com um sorriso. Petúnia tinha sido capaz de colocar o nascimento de Jesus sob os seus pés.

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Ele estava tenso.

Os músculos ficavam rígidos toda vez que Scott Evans dava pequenos tapas no ombro dele ou fazia alguma pergunta. Não deveria ser tão difícil assim, pelo menos não para James que nem namorava Lily de verdade.

De qualquer forma, o homem de óculos fingia torcer para o Leicester City – e se tal informação chegasse nos ouvidos de Sirius Black, James nunca mais teria paz em sua vida.

"Surpreendente o retorno deles." - Scott disse pela sexta vez. - "Estou confiante que vamos ganhar o campeonato esse ano também."

James assentiu, mesmo não acreditando muito na possibilidade.

"Você quase me deu um susto, rapaz. Ontem te vi usando o celular e parecia uma foto do Liverpool, mas hoje vi que é uma foto da Lily." - sim, ele finalmente tinha cedido e mudado a proteção de tela para uma foto da ruiva e seu maravilhoso vestido preto.

Provavelmente não faria nenhuma alteração mesmo quando o falso relacionamento estivesse acabado.

"Sim, tirei a foto ontem quando voltamos para casa e ela estava babando no carro. Lily não viu ainda, estou com medo que ela jogue meu telefone fora."

"Gosto de saber que ela está em boas mãos." - disse, após gastar alguns segundos observando James sorrir para o celular aceso. - "Ela nunca teve muita sorte com garotos, sabe? Lily foi sempre muita focada em coisas que não envolviam romance, e, se envolvesse, não passava de ficção."

Escutando aquelas palavras, James tentava aprende mais sobre ela pois conhecia só a contemporânea Lily Evans, os seus gostos e as suas peculiaridades. Sabia que Scott não estava totalmente certo, que Lily não era tão sonhadora como o pai caracterizava-a, porém, mesmo assim, queria descobrir a história não contada e a juventude da mulher por quem estava completo e irreversivelmente apaixonado por.

E toda tensão desapareceu. James pode sorrir de verdade e sentiu como se um peso tivesse sido eliminado de seus ombros. Sem mentiras brancas, sem lisonjeiros. Mesmo que aquilo chegasse ao fim, mesmo que James nunca mais visse Scott, ele se sentiu se aproximar dele, enquanto percebia que não importava em qual momento ele tivesse conhecido Lily, ela teria o conquistado em um olhar.

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24 horas para o casamento

"Foi um dia interessante." - James disse assim que abriu a porta e encontrou Lily deitada na cama, lendo um livro.

"Para você, provavelmente. Fiquei a manhã toda conversando sobre vestidos, flores e se Vernon deve ou não ir na ceia na casa da minha tia."

"Achei que você fosse encarregada de preparar o jantar." - ele falou, tirando a blusa e procurando a confortável blusa do time de futebol. Depois de tantas horas falando bem sobre o "inimigo" do seu time de infância, ele buscava redenção.

"A família da noiva não precisa cozinhar, pelo visto." - Lily se ergueu da cama e ele achou a peça que tão procurava. - "Você não deveria ter ido sem mim, você era a minha desculpa para ficar longe de esmaltes e nomes de bebê."

"Era o seu pai."

"E ele está acima de mim?"

"Sim." - ele não conseguia tirar o sorriso do rosto.

"Vê? Eu disse que estava mais apaixonada que você." - ela falou, vendo James se aproximar e tocar o rosto dela. - "Acabei de dizer que queria ter passado a tarde com você e é assim que você me retribui."

"Desculpe, ainda estou meio impressionado com a sua escolha de pijama." - ele brincava com a barra da blusa, os dedos ainda frios por conta do dia ao ar livre com Scott roçando na pele de Lily. - "Sabe que se o seu pai te ver com essa blusa ele me mata, certo?"

A pergunta, retórica ou não, nunca recebeu resposta porquê a voz baixa de James era tão atraente e ele estava tão perto. As múltiplas cores nos olhos dele, os óculos com gotículas de água... Lily Evans não conseguiu conter o impulso de puxá-lo e beijá-lo de surpresa.

Que fosse o fim dos pensamentos, das imaginações.

Naquele momento, ela estava mandando os dilemas para o além: tinha algo muito mais importante para fazer.

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"Não deveríamos nos arrumar?" - James disse, acariciando os fios ruivos - "Não que eu me importe, esse é o melhor presente de Natal que eu já recebi, mas não quero que o seu pai saiba o que estamos fazendo aqui."

"Não estávamos fazendo nada demais... apenas jogando cartas."

"Ah, claro, jogando... sim ele, com certeza, vai acreditar nisso." - disse, após soltar uma gargalhada. - "Sei que sou irresistível, Evans, mas eu gosto muito da minha vida."

"É só um jantar, podemos chegar atrasados, duvido que o papai noel vai reclamar." - James começou a fazer círculos nas costas dela. - "Ok, eu já entendi." - falou, quando os círculos se tornaram pequenos beliscões na cintura da garota. - "A minha família é mais importante."

"Foi você mesmo que disse que sua mãe era capaz de deixar toda sua herança para Sirius. Apenas estou determinado a mostrar o quão errada você estava."

"E o seu plano envolve me levar para a cama?" - perguntou, se levantando e buscando a roupa pelo quarto.

"Foi você que me beijou primeiro." - E talvez não fosse o beijo mais apaixonado deles (esse título pertencia ao que deram após um ensaio de casamento cheio de trocas de olhares e comentários baixos), mas ainda assim era um beijo selado sem a intenção de convencer alguém que aquilo, que eles eram de verdade.

Não que James acreditasse veemente na ideia de que todas as vezes que Lily puxou sua camisa, abraçou sua cintura e deixou um gosto doce em seus lábios tinham sido apenas para convencimento, longe disso, ele esperava – e de certa forma sabia – que ela queria os beijos tanto quanto ele. E tal desejo mútuo ficou evidente quando ela usou as pernas para puxá-lo para si, apenas para sussurrar pedidos enquanto o provocava com os lábios.

E ele não queria e não deveria se sentir assim, mas era inevitável. James Potter se encontrava em um estado de máxima felicidade em saber que ela, Lily Evans, compartilhava os mesmos desejos que ele.

Era certo, era evidente que ainda existiriam muitos desafios (porque histórias nunca terminam no ponto final), porém ele nem pensava na possibilidade de que, depois de tudo, eles não ficariam juntos.

"Então você manda eu ir me arrumar e fica aí?"

"Bem, eu gosto de ficar admirando." - disse, sorrindo de lado.

Estar com ele era tão divertido, tão simples e tão natural que Lily não se sentiu incomodada quando eles se sentaram lado a lado, usando suéteres e bebendo e espumante doce que a tia dela, Mary, tinha comprado.

Era extremamente difícil separar a realidade da ficção e ainda mais difícil esconder todas as suas vontades quando ele estava tão perto e sendo tão encantador. Céus, aquelas certamente não era a primeira vez que ela percebia isso, tampouco a primeira vez que reconhecia todo o charme do rapaz, mas tais realizações sempre fazia com que Lily sorrisse involuntariamente.

[Os olhos verdes nunca mudariam ao observá-lo, mas se tornavam mais brilhantes sempre que ela o fazia.]

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"Não podemos jogar esse jogo, James vai ganhar. Ele estudou em um internato."

"É um jogo de palavras, Lily, não de quem fez mais cursos na adolescência." - Petúnia disse, abrindo o tabuleiro. - "E eu sou uma advogada, vou ganhar com repristinação."

"E ele é a pessoa mias competitiva que eu conheço, uma vez fomos jogar boliche e..."

"Assuma que você não quer perder, Lils, porque você é a pessoa mais competitiva da sala." - Scott disse, sentando-se ao lado de Eleanor. - "E esse é o seu jogo favorito."

"Podemos fazer duplas." - James sugeriu, segurando um pequeno copo de vinho do porto.

Naquele ponto, todos os pequenos primos de Lily dormiam espalhados na sala de TV e os adultos se reuniram na sala de jantar para jogar Scrabble. James não sabia que estavam ali para aquele propósito: para ele, iam continuar falando de política e futebol.

"Que ideia excelente!" - a ruiva exclamou, sorrindo e acariciando a perna de James. Ele adorava vê-la naquele estado.

"Sempre me usando, Evans." - disse após estalar a língua. - "Primeiro como falso namorado e agora para manter o título de vitória." - continuou, ainda falando próximo ao ouvido de Lily para que só ela escutasse.

"Ideia excelente é se nós expulsarmos o casal apaixonado do jogo." - Eleanor disse, apontando para James e Lily. Scott sorriu, a esposa também tentava ganhar a partida. - "Dê um descanso para sua tia Mary e lave as louças para ela."

Antes que a caçula pudesse reclamar, James puxou a mão fazendo com que a ruiva se levantasse do sofá. Poderia ser o jogo favorito dela, mas ele nunca perderia uma chance de ficar sozinho com ela.

"Você não vai dizer nada?" - perguntou, impressionado com o silêncio dela.

"Bem, você me tirou do meu jogo favorito, mas, pelo menos, eu estou sozinha com você. É o meu plano desde que você colocou essa blusa." - disse, o entregando um pano de prato.

"Eu não deveria ser mais atraente sem ela?"

"Você é, mas ainda não é moralmente aceito você desfilar por aí sem nada." - ela se virou para encarar a louça suja e fez um rabo de cavalo. - "Hm, que tal você lava e eu seco?"

"O que desejar." - James falou, devolvendo o pano de prato e retirando o relógio. Eles conversavam um pouco, enquanto escutavam, principalmente, a voz de Eleanor dizendo que disdiadocinesia não era justo.

Foi aí que Lily ligou o pequeno aparelho de rádio na bancada da cozinha e, em instantes depois, começou a dançar fora do ritmo da música.

"Eu adoro essa cantora."

"Taylor Swift?"

"Sim, as músicas dela são tão... sei lá... eu sinto como se fôssemos amigas íntimas." - falou, aumentando o volume. - "You got that boyish look that i like in a man." - James Potter tinha certeza que ela estava trocando todos os pronomes de terceira pessoa pelo de segunda pessoa, contudo, quem era ele para corrigi-la? - "I want you bless my soul."— disse, movendo o quadril enquanto secava um prato de sobremesa.

E mesmo escutando pouco da música (ele não conseguia prestar atenção na letra com ela cantando os trechos errados e o cutucando com o cotovelo para chamar a sua atenção), James se perguntava se Lily percebia o que estava fazendo.

Aquilo era uma confissão e, por mais que o homem tivesse consciência de que ela não estava fazendo por querer, ele não conseguia impedir o sorriso de se formar. Deuses, ele estava apaixonado.

"You're so obsessed with me and boy..." - E ela cantava olhando para os lábios dele. Certo, ela o provocava o chamando com um pano de prato, certo, ela o provocava movendo o corpo, certo, ela o provocava olhando para ele.

Mas ele não se importava e como poderia se três frases depois a música pareceu desaparecer porque ele, porque James Potter ignorou a mão suja de detergente e a puxou para perto, para beijá-la.

E se Lily pudesse pensar em outra coisa que não fosse beijá-lo de volta, talvez ela se importaria com ele sujando o seu vestido ou talvez percebesse que Taylor Swift estava certa, a ruiva não precisava dizer nada porque James sabia que ela estava no mesmo estado que ele.

No entanto, ela não percebeu.

Se encontra no céu mais uma vez.

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o casamento

"Foi você quem sumiu essa manhã." - James disse assim que achou Lily na igreja onde os convidados já se sentavam. Ele se referia ao momento em que ele acordou e ela não estava no quarto. Primeiro havia achado que era uma espécie de vingança, mas então descobriu que todas as mulheres da casa tinham saído.

Nenhum bilhete de feliz natal, apenas uma mensagem de texto com nos vemos mais tarde.

"Tínhamos que nos arrumar e nos esconder antes que Vernon tentasse ver Petúnia." - ele sorriu, o noivo realmente tinha aparecido na casa uma três ou quatro vezes. - "Essa é a sua forma de falar que sentiu minha falta?" - perguntou, assim que os lábios dele se descolaram dos dela.

"Minha forma de falar que você está linda."

"Então você está mentindo, não disse nada em finlandês até agora."

"Aprendi a me comportar ao seu lado." - falou, colocando uma mão na sua cintura.

"Que pensa, eu gostava daquela versão." - ele sorriu em resposta, planejando dizer alguma frase no idioma mais tarde, enquanto eles dançavam.

James tinha imaginado aquele momento: ela sorriria e Petúnia dançaria. Então ele estenderia a mão dele e eles dançariam alguma música lenta e romântica, como nos filmes. No meio da cena, Lily repousaria a cabeça no peito dele e aquele seria o momento ideal para se declarar.

Afinal de contas, não tinha como não fazê-lo. O feriado tinha sido tudo que ele esperava e, consequentemente, os resultados também foram. Aquela era a chance dele, certo?

James tinha traçado as linhas do corpo dela com beijos, recebendo em troca sussurros e gemidos. Ele tinha escutado as preocupações dela e ouviu Lily dizer que não se sentia mais segura com alguém que não fosse ele.

Não tinha jeito, não havia forma, não existia possibilidade dela dizer "não".

E foi com esse pensamento que ele se aproximou dela, já na festa, buscando levá-la para dentro do salão e colocar o seu plano em ação.

"Você não vai tentar pegar o buquê?" - James perguntou, aparecendo atrás dela. Lily conseguia ver pequenas nuvens de fumaça saindo pela boca dele.

"Vou me sentir culpada se conseguir sendo que nossos dias estão contados."

"Ah" - ele parecia surpreso e Lily engoliu seco, era como ela havia imaginado e ele tinha passado a acreditar que eles tinham se tornado algo a mais. - "Eu achei que... bem, que ontem a noite tivesse significado alguma coisa." - e ele estava certo, mas ela não estava pronta para admitir.

"Olha, James..."

"O que te impede, Lily?" - ele perguntou, a interrompendo. - "Porque, acredite em mim, eu tenho plena consciência dos meus sentimentos e eu sei que estou apaixonado por você."

"Você não está. Tudo isso não passa de uma reação a todas essas estúpidas músicas natalinas, comédias românticas, milagres e amor ao próximo. Assim que chegarmos em casa e toda essa maluquice chegar ao fim, vamos ver que todos esses sentimentos não tem nenhuma base, que são ilusões."

"Mentira."

"Não é. Nós nos conhecemos há seis anos, James. Se nós tivéssemos nascido para estar um com o outro, já estaríamos juntos agora. É muito tempo para alguma coisa nascer do nada em um feriado de três dias."

"Lá vai, Lily: eu me apaixonei por você no momento em que te vi. E eu sei que sou correspondido porque eu conheço tudo sobre você e não importa o quando você procurar, você nunca vai ter o que nós temos com outra pessoa." - e ele não deveria amaldiçoá-la, mas não havia outra forma - "Seu pai disse que você não gosta de ter relacionamentos porque os homens te decepcionam, mas não use esse argumento para cima de mim. Não diga que nós, que eu e você somos algo 'do momento'." - ele fechou os olhos antes de prosseguir. - "Só diga a verdade e eu encontrarei uma forma de seguir em frente."

Em algum momento, pequenos flocos de neve começaram a cair, mas Lily era incapaz de senti-los derretendo assim que entravam em contato com a pele exposta da garota.

"Diga que, em algum momento, você decidiu que não quer gostar de mim, que não quer estar apaixonada por mim, que não quer me amar. Diga e então deixe-me ir." - falou, se virando e a deixando ali, com pegadas na neve como companhia.

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e tudo depois.

Mesmo sendo a manhã seguinte a um casamento, ainda era a Inglaterra e ainda estava frio.

James não estava ao lado dela quando ela acordou, mas Lily não pensou, em nenhum instante, que a sensação térmica se dava pela ausência dele.

Quando desceu as escadas, já era o meio da manhã e ele estava tomando café, usando o grande suéter que Mercedes Evans havia tricotado pra ele. Ela pensou em fazer uma piada, um comentário, mas absteve-se. Talvez não fosse a ocasião.

E não era, baseando-se na discussão anterior.

Ela não se arrependia do que havia dito, por acreditava que aqueles sentimentos eram o que eram: frutos de uma ilusão e da vontade de ter alguém. Porque ela já tinha passado pela situação antes, já tinha criado uma personalidade inexistente em um cara e visto que ele não era nada daquilo.

Não que ela tivesse dúvidas sobre o caráter de James, mas ela não conseguia impedir as fantasias que surgiriam na cabeça dela e Lily tinha certeza que seria capaz de confundir seis anos de amizade com amor. Tinha decidido que não iria se sentir culpada por impedir que dois corações fossem quebrados.

Ainda assim, a frieza a machucava.

E a forma pela qual ele a tratou durante a volta fez com que ela se sentisse a vilã.

Mas também, quem poderia julgá-lo? É claro que ele seria iludido e é claro que eles tinham ultrapassado os limites do "namoro falso". Lily não poderia esperar que James agisse normalmente quando fora ela que o puxou para perto pela primeira vez.

Os dilemas, as dúvidas.

O silêncio no carro.

Foram as três horas mais difíceis na vida de Lily Evans.

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"Não consigo acreditar nisso, L." - Marlene disse, dando um gole na taça de vinho. - "Todos do prédio pensam que vocês namoram porque vocês agem como um casal de namorados."

"Eu não vou cair nessa conversa, Len. Você não vai ser aquela personagem de filme que diz que namorar é ser amigos com alguns beijos... Eu já assisti muitos filmes, sou imune agora."

"Então nada de correr atrás dele usando apenas roupa íntima? É a minha cena favorita de Bridget Jones."

"Não, nada disso. Eu vou ser adulta e agir normalmente." - disse, mas falar era mais fácil do que fazer.

Na noite passada, ela tinha passado horas em claro relembrando os beijos e os toques. Quando acordou, colocou a culpa nas músicas de Celine Dion que tinham tocado na rádio na noite passada e em Simplesmente Amor, que, toda vez que Lily assistia, fazia com que ela quisesse um namorado.

E ele não havia dito nada. Assim que estacionou na porta do apartamento de Lily, a ajudou com as malas e recusou o convite para subir. Depois disso, nenhuma ligação, nenhuma mensagem, nenhum lembrete que ela tinha ficado com uma blusa dele. Nada. Era a história não contada, os créditos subindo pela tela.

Inconscientemente, ela começou a procurá-lo nas sessões de cinema, no supermercado e até mesmo nas escadas do prédio. Ela sentia como se todos os lugares preferidos dela tivessem sido arruinados. Ele não estava lá e Lily não conseguia se divertir sabendo que antes eles caminhariam juntos pelos corredores e ririam sobre alguma coisa.

A comparação também era inevitável. Não que ela tivesse achado alguém naqueles quatro dias que haviam se passado, mas no metrô e na rua... toda vez que encontrava alguém só conseguia pensar no que James Potter faria naquela situação.

As vezes ela tinha ódio dele, por ter dito que ela nunca teria algo que eles tiveram. Quem era ele para dizer aquilo e com que provas? Mas, no fim, o medo ganhava e se ele tivesse dito aquilo para fazer com que ela pensasse nele, então tinha conseguido (Lily reproduzia os momentos de novo e de novo e de novo).

"Sei que já encerramos o assunto, mas por quê não?" - Marlene perguntou e ela não conseguia responder. O que a prendia? Ao lado de James, ela se sentia segura então por quê ela estava tão relutante?

"Acho que é o medo de perdê-lo." - disse - "Sei lá, é ridículo dizer isso, mas é como se nós tivéssemos algo único que eu não quero colocar em risco."

"Então você deveria ter pensado nisso antes de se envolver nessa maluquice. Você e James não são só amigos, é impossível algo não surgir entre vocês."

"E é impossível ficarmos juntos. Nós vamos nos machucar e tudo isso vai desaparecer e sim, talvez eu queira correr para ele, fingir que fomos dirigidos por algum diretor famoso, mas eu não vou conseguir começar algo com James e não planejar todo nosso futuro. Eu não vou conseguir viver um dia de cada vez."

"Ok, mas você já sente a falta dele."

E não era uma pergunta, era uma afirmação que permaneceu na cabeça de Lily quando o último dia do ano chegou. Sim, ela estava com saudades e sim, ela estava reconsiderando tudo. Aquilo seria aceitável se ela tivesse 17 ou 18 anos, mas aos 27, era totalmente patético e ridículo e imaturo. Deuses, qual é o problema de aceitar que estava apaixonada por ele?

Lily Evans não sentiu nenhuma faísca, mas uma onde de coragem percorreu todo o seu corpo. Marlene McKinnon riria do seu comportamento e Sirius Black nunca se esqueceria da vez que a ruiva encenou o tipo de cena que mais detestava em comédias românticas, mas, apesar disso, ela seguiu o instinto e, em um impulso, colocou o casaco para procurá-lo no meio da tempestade de neve.

"Ah, que timing perfeito." - ela escutou a voz de Regulus e ergueu os olhos do celular. Lá estavam eles: Regulus, Sirius, Remus, Peter e James. - "Prongs perguntou se você 'tava em casa." - o garoto continuou a dizer e Lily continuava a encarar os olhos castanho esverdeados.

"Eu comprei um presente de natal, mas esqueci de te entregar, então..." - claro, como ele entregaria algo no dia 25 sendo que eles estiveram lado a lado por apenas algumas horas?

"Vamos esperar vocês lá dentro." - Sirius disse, dando um tapinha no ombro do amigo.

"Sabe que esse é o final mais clichê possível, certo?" - Lily disse assim que Regulus fechou a porta. - "Você vai me dar um presente lindo e eu vou começar a chorar e me declarar com esse ridículo discurso e, se der tudo certo, Fly Me To The Moon vai começar a tocar magicamente e a câmera vai se afastar."

Ele colocou as mãos no bolso da calça. Não era o que ela imaginava o que fosse acontecer e ela estava tão nervosa que não viu James tentando esconder o sorriso.

"E eu não sei o que devo dizer para te convencer." - sussurrou - "Não sei o que quero falar, mas você precisa saber que tudo o que você disse está certo. Eu tentei bloquear sentimentos por você e tudo em vão porquê, como Virginia Woolf disse, nunca existirão duas pessoas que mais se amaram do que nós."

"Eu acredito que ela disse felizes e não se amaram."

"Modificações para enfatizar." - ela sorriu. - "Eu falo sério, James, eu sou terrível nesse tipo de discurso e minha mente produz essas frases melodramáticas e talvez eu passe mal se você continuar a me deixar falar e não me beijar logo."

"Mas eu estou interessado na continuação." - ele sorria como uma criança e segurava o rosto dela entre suas mãos.

"Eu te quero, James."

"Eu sei. E estou feliz que você caiu na real logo, essa coisa de te evitar estava me matando."

E talvez devesse ter sido diferente. Ela poderia ter escolhido uma melhor seleção de palavras ou ter, pelo menos, esperado ele entregar o presente e dizer mais uma vez que ele sabia tudo sobre ela.

Mas ela era Lily Evans e ele era James Potter e eles estavam juntos.

Era o que importava.  

 

 


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Notas finais do capítulo

Beatriz, se você aguentou todas essas palavras e esse drama desnecessário (e os erros de português porque eu esqueci de revisar), saiba que eu fiquei tão feliz quando descobri que te tirei e tentei escrever algo que você gostaria.

Como toda história tem algumas pontas soltas e ideias que eu não levei ao fim, mas eu gostei de como ficou e espero que você compartilhe esse sentimento comigo.

2019 foi um ano tão cheio e tão complicado em alguns momentos, mas conhecer você foi uma das melhores coisas que poderia ter me acontecido. Você me inspira com todo seu empenho e o seu carisma.

Um ótimo 2020 para você e conte comigo para tudo!
(#SpoilerAlert: 2020 não está sendo bom para ninguém)