A Colina das Fadas: escrita por Maia Mesquita


Capítulo 1
Capítulo 1




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Me lembro a primeira vez que o vi. Eu estava brincando com meus primos na grama próxima ao lago do parque da cidade, devia ter quatro anos, mas me lembro perfeitamente bem de como algo me chamava para mais perto da água.

— Olha, mamãe! – chamei.

Era uma tarde de sábado, um belo dia ensolarado no meio do verão, perfeito para levar as crianças para brincar no parque. Minha mãe e a cunhada, Bridget, aproveitaram a viagem do meu pai e do meu tio Sean à filial do seu banco em Ennis e trouxeram eu e meus primos, Henry e Sophia, para curtirmos o dia juntos. Mas, como sempre acontecia quando eu estava por perto, o dia terminou em merda. Sério, se eu estivesse no lugar da minha mãe, teria desistido na primeira tentativa, que não foi precisamente esta, mas foi a primeira vez que ele apareceu para mim.

Estávamos brincando de pega-pega e, de repente, me vi sozinha, meus primos sumiram, minha mãe e minha tia também, mas eu não percebi isso porque resolvi andar até a beira do maldito lago e aqueles olhos azuis terríveis se destacavam em sua face negra e reluzente, ele nada dizia, mas eu ouvia seu chamado e sabia que era dele.

A partir daquele momento ele esteve comigo de diversas maneiras pelo decorrer dos anos, mas eu nunca percebi os sinais até encontrá-lo, muito tempo depois.

— Oh meu Deus, Lana! – mamãe gritou e pulou na água antes que fosse tarde demais.

Eu havia caído no lago. Caído não, eu entrei no lago, queria tocar nele e, quem sabe levá-lo para casa para brincar comigo. Coisa de criança, nada demais. Tirando o fato de que aquela havia sido a primeira vez que ele havia tentado me matar.

Mamãe me tirou desmaiada do lago, e gritou por ajuda, os salva-vidas logo chegaram, mas tive que ser encaminhada para um hospital porque não acordava. Desde então, ele aparece para mim frequentemente em meus sonhos, ou nas sombras, coisas estranhas começaram a acontecer comigo ou ao meu redor, também.

Eu amava os animais e conversava com eles, coisa normal, toda criança faz isso, estranho mesmo era eles me responderem.

Lembro que, cerca de um mês depois que caí no lago, uma borboleta pousou no meu ombro, ela era linda com suas asas coloridas em vermelho, amarelo e preto. Fiquei encantada com aquela pequena criatura até que notei que um zumbido saía dela, notei também que entendia perfeitamente o que ela estava me dizendo.

— Que bom que está de volta, minha rainha. – Era uma linguagem muito estranha, mas eu compreendia.

Uma criança de quatro anos não perceberia a dimensão daquelas palavras, muito menos porque uma borboleta falaria com ela, mas algo dentro de mim se revolveu, uma força que era muito maior que eu, era como se houvesse alguém querendo sair à superfície. Corri para dentro da casa, estávamos tendo uma daquelas reuniões de família e as mulheres estavam na cozinha enquanto os homens haviam ido pescar. As crianças estavam na sala assistindo desenho animado, mas eu havia ido olhar o jardim de vovó Aryana. Assim que cheguei na cozinha, avistei a minha avó e a chamei.

— Vovó! Uma boboleta falou com Lana! – gritei.

Não reparem quando eu me referir a mim mesma na terceira pessoa, é uma coisa de criança que eu até hoje faço e não entendo por que, mas eu nunca fui normal, então...

— Como disse, florzinha? – perguntou vovó.

— Uma boboleta! Chamou Lana de rainha.

Hoje eu percebo que, por um milésimo de segundo, minha avó se assustou e murmurou algo para si própria. No mesmo instante, recuperou a compostura e sorriu para mim, mais para disfarçar sua tensão da minha mãe e da minha tia.

— Mas é claro que você é uma rainha, minha flor, todas nós mulheres somos. – disse sorrindo. E minha mãe concordou.

— Essa menina inventa cada coisa. – disse minha tia sacudindo a cabeça e sorrindo.

— É vedade! – reclamei.

— É claro que é, minha flor. – concordou vovó.

— Mãe, não dê asas à Lana, ela tem uma imaginação fértil demais. – repreendeu minha mãe.

Fiquei indignada, devo dizer, ninguém acreditou em mim, apenas por ser uma criança de quatro anos. Era revoltante que minha própria família não me desse crédito, nem mesmo minha mãe. Vovó notou que fiquei emburrada e me deu um beijo na testa.

— Não fique zangada, adultos são complicados e não conseguem conversar com os animais. – sussurrou ela – Eu acredito em você, agora volte para a sala e vá assistir desenho com seus primos, ok? Lá fora pode ser perigoso para uma rainha.

Eu assenti e fui para a sala. Cerca de vinte minutos depois percebi, pela minha visão periférica, que minha avó saía pela porta lateral da sala, fui atrás dela e a vi conversando com a mesma borboleta no jardim.

— É muito cedo ainda Shey, não devia ter se aproximado, levamos séculos na escuridão, agora devemos ir com calma, ela ainda é uma criança.

Não ouvi o que a borboleta respondeu, mas alguma coisa me impediu de correr até lá e ficar feliz por ver que minha avó também conversava com a borboleta.

 


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Notas finais do capítulo

Oiê! Este livro foi retirado e em breve será lançado na Amazon. São 82 capítulos mais prólogo e epílogo de muita aventura, mistério, reviravoltas em uma história de autodescoberta, perdão, paixão e muito mais. Vale a pena conferir!



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