Noiva em Fuga escrita por Nyna Mota


Capítulo 2
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Olá gente!

Tenham uma boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/790742/chapter/2

Se perguntassem se eu queria me casar, a resposta seria não. Se perguntassem por que, a resposta seria pelo exemplo que tive em minha própria casa, mas não era algo que eu pudesse escolher. Não havia escolha sendo o primogênito de uma tradicional família inglesa. O dever sempre vinha em primeiro lugar.

A minha revolta era que esse tradicionalismo parecia se efetivar apenas a mim, meu pai não seguia as mesmas regras. Engoli a amargura e fixei o olhar em meu pai, submisso.

— Iremos hoje marcar o casamento Edward, quero que seja até o final da primavera.

Levando em consideração que estávamos no meio de março, o casamento teria de ser até o fim do mês de junho.

Como um bom soldado e um bom filho acatei as decisões de meus pais. Eu me casaria, em breve. Muito em breve.

— Qual das Swans será a noiva? — Enfim criei coragem de perguntar.

— Não importa. — Meu pai resmungou de volta. — A única coisa importante é que o casamento será vantajoso para nós. As terras que estão inseridas no dote são um ponto estratégico que ajudará bastante nossa influência sobre o rei.

Sempre o rei, sempre estratégias, e meu casamento seria mais um dentre tantos outros, arranjado e infeliz.

Suspirei pesadamente. Meu pai ignorou completamente, bebendo mais um pouco do conhaque que preparara mais cedo.

Filho de Esme Cullen, criado no meio de seus romances e sua literatura clássica me tornei um romântico, um idealista que almejava um casamento completamente diferente dos meus pais, um casamento por amor!

Emmett que também se encontrava na sala não se manifestou. Ele odiava aquilo tanto quanto eu, sempre lembrado que era o segundo filho, que era um substituto caso eu morresse.

Quando eu herdasse a propriedade, as terras e o título, ele não seria mais tratado assim, para mim meu irmão era meu igual, sangue do meu sangue.

Esme entrou na sala sem bater, sempre tão elegante, tão delicada. Seu olhar frio dirigido ao meu pai era completamente diferente daquele dirigido aos seus filhos, com quem era sempre afetuosa e compreensiva.

— Está na hora de irmos, chegar atrasados é falta de educação.

Ela se aproximou primeiro de Emmett, endireitando sua gravata e analisando se não estava nada fora do lugar, depois se dirigiu a mim, me endireitando e olhando exasperada pros cabelos rebeldes.

— Vinte e cinco anos se passaram, mas não consigo coloca-los no lugar. — Ela resmungou tentando organizar os fios de cobre.

Peguei suas mãos delicadas dando um beijo suave.

— Eles são indomáveis assim como meu coração mãe. — Ela riu divertida.

Seria um dia no mínimo exaustivo, tendo em vista a distância de Stroud, minha casa, até Cotswolds, casa da minha futura noiva.

Um frio na barriga me tomou novamente enquanto pensava nisso.

Meu pai se levantou bruscamente, interrompendo o momento afetuoso de Esme com seus filhos.

Anos de um casamento desgastado, fracassado e cheio de traições fazia com que eles mal ficassem no mesmo ambiente.

Saímos em direção a carruagem, fui obrigado a ir lá dentro, me sentindo sufocar tanto pela gravata quanto pela tensão de ambos os meus pais em estarem tão próximos.

Antes de entrar vi a troca de olhares entre Esme e Carlisle, capitão das tropas do Conde Cullen. Um soldado leal numa batalha, mas que nutria um amor antigo por minha mãe.

Nunca perguntei a nenhum dos dois sobre a real relação deles, mas era impossível não ver a troca de olhares, eles ao menos eram discretos, já Edward Sênior, era impossível não ver o motivo da troca de empregadas constantes, ou suas idas as prostíbulos mais luxuosos, e os menos luxuosos em busca de prazer desenfreado.

Fazendo careta pras imagens em minha mente, sentei ao lado de meu pai, mas com vontade de montar meu cavalo e ir cavalgando, observando as planícies e as estradas. As intempéries ao ar livre não me incomodava, na verdade me era agradável, acostumado todo o tempo a cavalgar com as tropas em missões em nome do rei.

Quase não falamos durante todas as horas de viagem, meu pai de tempos em tempos tomava um gole do conhaque. Queria eu ficar bêbado para suportar toda aquela situação, mas deveria manter a sobriedade.

A propriedade dos Swan era bela, verde, exuberante, a casa no estilo mais moderno, refinada. Para um homem que estava perdendo tudo no jogo, manter uma da propriedade e os dotes das filhas foi a única coisa que ele conseguiu fazer para não chegar a pobreza completa. Era de conhecimento comum que grande parte daquela enorme propriedade já havia sido perdida no jogo, faltava pouco para que a família Swan não perdesse tudo, inclusive a dignidade.

O vinte e um nunca me atraiu da mesma forma que atraia os demais homens, Charlie Swan era enfeitiçado pelo jogo, um jogador inveterado, que não tinha escrúpulos na hora de jogar.

Recebidos pelos criados, aguardamos os anfitriões nos receberem.

Charlie Swan era exatamente como eu imaginava, baixinho, barriga avantajada, bigodes estranhos e olhar desesperado. Sua esposa era magra, alta, semblante fechado. Engoli em seco imaginando o que aquela junção teria dado.

Entramos no escritório, Charlie sentou-se atrás da enorme mesa de mogno.

— Gostariam de algo para beber? Conhaque? Whisky talvez? Um chá para dama?

Mamãe agradeceu.

Fomos servidos, eu peguei o copo de conhaque e tomei um pequeno gole por educação, achava cedo demais para beber, ainda mais em meio a tão importante negociação, mesmo que quisesse estar embriagado durante tal negociação.

— Então, vocês vieram para efetivar o noivado? — Charlie perguntou sem rodeios ao meu pai.

— Sim. Edward quer se casar o quanto antes.

Eu? Mantive minha indignação pra mim mesmo. Olhei pra Emmett que tinha um olhar zombeteiro no rosto, algo que dizia, antes você que eu irmão. Patife!

— Quanto tempo seria o quanto antes?

— Antes do fim da primavera, acho que no mais tardar, final de abril.

Charlie assentiu.

Eu estava estupefato, era uma negociação tão fria, tão sem emoção. Como se não fossem as vidas de seus filhos ali em jogo.

— E a dívida? – Charlie questionou parecendo meio encabulado.

— Perdoada no momento que eles fizerem os votos. E o dote?

— Passarei a escritura pro meu futuro genro no dia do casamento.

Ambos apertaram as mãos, as negociações estavam finalizadas.

— Acho que agora devemos comemorar! — Meu pai falou animado pela primeira vez aquele dia.

Fazendo um brinde aos futuros noivos eles beberam um pouco mais de conhaque.

— Que tal os noivos se conhecerem agora? — Era a primeira vez que a senhora Swan falava. Sua voz era tão sem emoção quanto seu semblante.

— Não! — Meu pai respondeu de forma rude. — O combinado é que eles se conheçam apenas na data do casamento Swan. — As palavras foram direcionadas ao meu futuro sogro ignorando completamente a senhora que parecia estupefata pela grosseria.

— Sim, sim, claro. Apenas na hora do casamento.

O desconforto do homem era notável, deveria estar pensando no que havia enfiado sua filha.

O brinde havia perdido a emoção, rapidamente nos despedimos, ansiosos por sair dali o mais rápido possível.

— O clima aqui está adorável. — Esme falou observando ao redor e analisando a paisagem, sentindo a brisa suave da primavera, logo chegaria o inverno, e seria gélido.

— Vamos logo, estou exausto, quero chegar logo em casa.

Ignoramos a fala de Edward Sênior, mas obedecemos. Entrei na carruagem logo atrás dele, deixando Emmett ajudar Esme, queria perguntar algo ao loiro.

Esperei por algum tempo, reunindo coragem para perguntar a maior das estranhezas em relação aquele enlace.

— Por que só posso ver a minha noiva apenas no dia do casamento? — Dei ênfase no minha noiva, eu não compreendia o motivo de ter que esperar.

Eu estava curioso para saber como seria minha esposa, um pouco receoso até.

— Ora Edward, você acha que seu pai é um tolo? Acha que não sei como é romântico e influenciável. Aqueles livros idiotas que lê o tempo todo te deixaram cego, imaginando um tipo de relação que não existe, se visse a moça e não a apreciasse iria fazer de tudo para cancelar o compromisso e não podemos nos dar ao luxo de perder isso, não depois que o rei já conta com aquela região como ponto de apoio e passagem das tropas.

Eu estava indignado, sobrepujado com a loucura e obsessão do meu pai em agradar ao rei.

Abri a porta da carruagem ainda em movimento e saltei, sufocado com tudo que ouvira, enojado com as ambições desmedidas daquele homem frio, calculista, indiferente.

— Edward! — Mamãe gritou.

— Perdoem-me, mas preciso respirar.

Ignorei os chamados, meu pai não fez sequer questão de parar, o olhar desolado de Emmett dizia que ele queria fazer o mesmo e só não o fazia pois tinha que acompanhar nossa mãe.

— Te vejo mais tarde irmão. — Sussurrei mas sabia que ele compreenderia.

Acenando com a cabeça fechou a porta da carruagem e me deixaram seguir o restante do caminho a pé.

Para alguns a caminhada seria longa e exaustiva. Longa sim, exaustiva nem tanto. O condicionamento físico exigido de um soldado havia me preparado para caminhar distâncias ainda maiores que aquela, e andar ajudava a clareara mente, a acalmar a raiva que ardia em mim.

Era meu pai, eu o amava, o respeitava e malditamente obedeceria suas ordens, porque as coisas eram assim, mas não significava que gostava das decisões ou da forma como ele tratava as coisas.

Continuei caminhado até avistar um cavaleiro vindo em minha direção, reconheci o uniforme, os cavalos e o porte do homem.

— Você não devia ter descido da carruagem daquela forma. — Carlisle me repreendeu de forma tranquila.

Além de capitão das tropas Cullen, era meu mentor e um grande amigo. E o grande amor da vida de minha mãe.

— Eu apenas não suportei. — Montei o cavalo agradecendo a montaria. — Ela mandou você vir me buscar?

— Não. Mas quando soube o que houve sabia que ela não descansaria sem saber que estava bem, essas estradas sabem ser bem perigosas.

— Você me treinou bem, não havia com o que se preocupar. — Desdenhei o perigo.

Carlisle deu um sorriso arrogante.

— Acho que sim.

Eu queria, eu tentei segurar, mas não pude.

— Por que não se casou com ela?

— Sempre esperei que me perguntasse isso. Emmett perguntou há muitos anos atrás. — Ele deu uma pausa. — Não permitiram. Eu a pedi em casamento, mas seus avós acharam que um soldado não era o bastante para sua filha.

— Hoje você é um capitão, com grandes honrarias, reconhecido em toda Londres e mais longe ainda. — Retruquei.

— Mas ainda um soldado, sem títulos, sem terras.

— E ainda sim ela o ama.

— Ama.

— E depois de todos esses anos você ainda a ama, afinal não se casou, não teve filhos. — Não eram acusações, eu só precisava entender.

— Você está certo, mas ainda sim está errado. Tive você e Emmett e são os melhores filhos que jamais poderia ter, além de Alice claro.

Fiquei comovido com seu carinho, com sua situação.

— É uma honra para mim que me tenha em tão alta conta capitão. — Era a forma que tinha de dizer a ele que o admirava, o respeitava.

Não falamos mais, fiquei pensando naquela situação, nos anos em que ele teve que sujeitar a amar escondido, a não demonstrar, a treinar os filhos da mulher que amava.

— Eu vou me casar.

— Você vai.

— Eu não a conheço. Não a amo.

— E ainda sim vai se casar.

— É minha obrigação.

Minha obrigação como primeiro filho, como futuro conde, como um bom filho. Eu tinha sorte por não estar apaixonado por ninguém, que não seria obrigado a viver um amor encubado, eu apenas teria que suportar um casamento sem amor, com uma mulher que eu não conhecia.

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

O que estão achando?
O que acharam do motivo do Sênior?
E do amor proibido entre Esme e Carlisle?

Ansiosa pela opinião de vocês!
Obrigada por comentarem, vou começar a responder agora.

Beijinhos
Até breve!