Irreversível escrita por Arcchan


Capítulo 1
Capítulo 1 — Porque você se foi


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem! ❤



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Irreversível 

Por: Archie-sama

Capítulo Único — Porque você se foi

 

Se eu pudesse desfazer
Tudo de errado entre nós
E apagar cada lembrança sua
Que ainda existe em mim
Eu sei que nada que eu diga vai trazer
O longe pra mais perto de mim dessa vez
Porque gostar de alguém vai ser sempre assim
Irreversível

Irreversível — CPM22

 

❝Na sua vida sempre existiram prioridades, Haru, e eu não era uma delas. 

Eu deveria ter desconfiado.

Naquele dia, depois das nossas aulas, você me disse que mataria o treino para passarmos um tempo juntos — eu deveria ter adivinhado que, embora fôssemos para longe da piscina da Universidade, você ainda assim me levaria para nadar. Não seria você se não o fizesse, Haru. E, confesso, eu recusaria seu convite — sei que me obrigaria a ir mesmo assim — se não estivesse tão carente da sua atenção. 

Estava com tantas saudades do seu toque, da sua pele contra a minha, dos seus olhares tão quentes apesar de ser a pessoa aparentemente mais fria que eu conhecia — e ninguém nunca iria saber que por dentro você era, na verdade, um rapaz tão caloroso, porque seus beijos eram apenas meus, e eu estava satisfeito com isso. Ninguém mais te teria como eu tinha.

Então, decidi que era certo ignorar as nossas responsabilidades apenas por um momento. Um mísero momento. Se eu pudesse adivinhar o quanto me sentiria solitário sem você aqui, teria passado um dia inteiro ao seu lado mesmo sabendo que ainda não seria o suficiente. Dias, semanas, meses, anos. Nada disso é o bastante para aplacar a necessidade que tenho de você, Haru.

Mas eu deveria ter desconfiado. Desde quando Nanase Haruka faltava a um treino do esporte que mais amava? Não, você não faria isso. Você não havia faltado uma vez sequer desde que tinha entrado na Toudai, e eu não precisaria me perguntar o porquê disso quando estava claro como água que a natação sempre seria a sua paixão mais forte. O seu objetivo mais alto. O seu eterno alvo. 

E não seria por ninguém, nem mesmo por mim, que você abriria mão disso. Não depois de finalmente ter encontrado seu sonho, não depois de decidir que queria ser um nadador profissional. Eu sei mais do que ninguém o quanto você se esforçou; depois de tantas dúvidas e de todo o suor, você finalmente encontrou a si mesmo. Eu fui o único a me perder ainda mais — me perder no que sentia por você e não podia refrear.

Eu compreendo você, apesar de tudo. Nós nos conhecemos há muito tempo, sei exatamente o que existe de mais importante na sua vida. Mas, sabe, você acharia tolice se eu dissesse que as coisas são diferentes para mim? Eu te amei e te amo; nenhuma piscina no mundo poderia me fazer desviar os olhos de você. Porque, apesar de também amar natação, amar ser um treinador e amar os meus alunos, você sempre vai ser aquele que tem o melhor de mim. Porque foi você quem me ensinou sobre sentimentos; você foi, por anos, a minha razão de levantar todos os dias — eu queria te ver, estar com você… Queria ser importante na sua vida. Não como algo passageiro, mas como uma daquelas pessoas que consegue marcar alguém para sempre como vemos nos filmes por aí.

Mas aconteceu justamente o contrário: mesmo sendo um aficionado por água, você marcou meu coração com ferro em brasa. E, sinto dizer, é uma ferida que nunca sara.

Diga, Haru, você se lembra de como nos divertimos naquela noite? De como nadamos sem parar e, quando ficamos cansados, finalmente abrimos espaço para conversar e, muito desajeitadamente, nos tocar à luz da lua? Nossa intimidade se tornava um pouco mais embaraçosa a cada vez que passávamos algum tempo longe um do outro, é verdade, mas eu nunca pude reclamar disso porque no fundo eu gostava de como, quando você me tocava, sempre parecia a primeira vez. Nosso amor era antigo e novo ao mesmo tempo e eu nunca desejei que fosse diferente.

Se realmente te conheço tão bem, deveria ter percebido o quanto a sua pergunta era estranha. Acho que eu estava enganado.

“Se… um dia eu não estivesse aqui, você amaria outra pessoa, Makoto?”

Você nunca havia me perguntado algo do tipo, sempre foi reservado demais para manifestar certos pensamentos — que só eu compreendia, ou me enganava pensando compreender. E não desconfiei de nada. Eu me odeio por isso, Haru, mas no fundo sei que a culpa é toda sua. Está vendo o que fez comigo? Eu estava tão ocupado perdido nas sensações que era ter você comigo — dentro de mim —, que não pude pensar em mais nada. Só me concentrava em você, no seu cheiro e no seu gemido rouco quando eu puxava seu cabelo — estava ocupado demais te amando para imaginar que um dia estaria aqui, sozinho.

E não há nada que eu goste mais do que de estar com você. Mas você não está aqui, e me contento em passar os meus dias monotonamente, porque nada mais parece ter o mesmo sentido de anos atrás.  E — eu juro que tentei —, por mais que aquele cara que encontrei na cafeteria no outro dia seja bonito, interessante e tenha lindos olhos negros, não há cores bonitas o suficiente para quebrar esses muros que construí em torno de mim — azul é tudo em que consigo pensar. O azul dos seus olhos.

Talvez você não entenda o que quero dizer… Mas é simples: eu não sou nada sem você. E sinto muito por isso. Mesmo quando acompanho meus alunos nas competições, quando vejo a enorme piscina e a água límpida e aquela grande arquibancada cheia de torcedores, você é tudo no que eu consigo pensar, Haru. Porque tudo ao redor me lembra você.

Não sei o que se passou na sua cabeça para ter ido embora sem se despedir de mim. Você se foi e me deixou somente um bilhete escrito com sua caligrafia fina e desajeitada — uma carta seria demais para alguém como você, que é um homem de poucas palavras. Por conta disso, eu me ressenti de você por muito tempo, é o que me envergonho em admitir. 

Eu não ligaria se você simplesmente dissesse que não me amava o bastante para ficar, para desistir da sua viagem para o exterior. Eu não ligaria de, depois de uma despedida em que eu fingiria não sentir nada e te abraçaria com um gosto amargo na boca, chorar a noite toda enquanto você estivesse naquele avião; eu não ligaria de ver nossos amigos — dos quais você se despediu — falando sobre você abertamente e fingir que isso não me atingia; eu também não ligaria de passar o resto dos meus dias desejando que você me fizesse uma simples ligação mesmo sabendo que isso nunca iria acontecer. Tudo que eu queria era um adeus. Um final apropriado para nós dois. Você parece não saber, mas é o “adeus” que torna as despedidas mais toleráveis. É ele que marca o fim da linha e nos obriga a seguir em frente.

E você tirou isso de mim. Você ignorou meus sentimentos, Haru. Você é simplesmente egoísta demais para reconhecer que eu não era apenas um amigo que te apoiaria em qualquer situação — era o seu companheiro, seu amante. E eu jamais apoiaria sua decisão de partir sem me deixar ver seu rosto ao menos uma última vez. É porque não tivemos o nosso final que eu ainda sou atormentado pelo seu sorriso.  

“Eu sinto muito. Eu não pude me despedir de você, Makoto. Porque, se eu te visse, sei que iria desejar ficar. Ficar com você. Mas eu não posso desistir do meu único sonho. Espero que um dia você possa me perdoar... A única coisa que eu te peço é que, quando você tiver a oportunidade de amar alguém novamente, agarre com todas as forças. Não sinta minha falta. Eu estarei ocupado demais para sentir a sua. 

Do seu melhor amigo, N. Haruka.”

Sei que você não tinha a intenção de me ferir, não se preocupe. Posso não te conhecer como imagino, mas ainda assim eu sei. Você apenas não queria prolongar meu sofrimento e minhas lágrimas. Mas sabe, Haru… Tudo ainda é muito vivo na minha memória.

“Não, Haru. Eu não poderia amar ninguém além de você.” Foi a minha resposta no momento em que você me segurou com força e se derramou dentro de mim; foi quando percebi que nos seu braços era o lugar em que eu estaria mais seguro. 

Ledo engano. 

Reconheço que me apoiei no lugar errado. Era um lugar alto demais para alcançar, e, quando ele foi bruscamente tirado de mim, a queda foi maior do que eu jamais poderia imaginar.

Desculpa estar dizendo isso só agora, Haru, mas eu não posso mais amar. Não da maneira que você espera. Porque você se foi e deixou em mim apenas um enorme vazio. E, eu sei, irei apenas continuar caindo e caindo.

Você queria apenas o meu bem, não é? De alguma forma, eu entendo. Mas estou arruinado, Haru, e é tudo culpa sua. Você se foi sem minha permissão, mas eu nunca pude te deixar ir. E estou escrevendo essa carta de resposta tantos anos depois porque queria dizer apenas isso:

Eu nunca vou me recuperar.


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