Ele fora moldado pelos sons. Pela música, pelas vozes, pelo barulho. Desde que era uma criança, James Carstairs se deixava envolver pela sonoridade ao seu redor. Deixava que os ruídos o tocassem, o guiassem, se infiltrassem em seu ser. Se deixava abraçar pelos ecos. Dançava nas cacofonias.

Jem Carstairs era feito de música. Do violino de seu pai e do qin de sua mãe. Da voz dela lhe cantando doces melodias em mandarim; da voz dele trovejando histórias sobre um mundo inglês. Do tilintar cheio de vida e infância que era Xangai. E de gritos. Os gritos de um demônio. Os gritos de seus pais. Os seus próprios gritos. Era feito dos sons do oceano. De um navio pequeno desbravando ondas furiosas.

Jem Carstairs era feito dos barulhos insuportáveis de Londres. Das palavras afáveis de Charlotte. Das explosões de Henry. Dos agudos de Jessamine. Das gentilezas proclamadas por Sophie. Das risadas de Will. Das cantorias absurdas de Will. E das promessas de Will. Do tilintar de espadas gêmeas. De um juramente compartilhado.

“O anjo o fez para mim, mas também,

nada senão a morte partirá a mim e a ti.”

Jem Carstairs era feito de sotaque americano, toques sussurrados em uma noite de perdição, curiosidade esbravejada e poesia. De Tessa Gray e cada pequeno som com o qual ela abençoava o mundo. Era feito de “eu te amos” e “zhe shi jie shang, wo shi zui ai ne de”

Jem Carstairs era a música gentil e melancólica de um violino moribundo. A canção imortal de uma feiticeira. A serenata angustiada de um nephilim amaldiçoado. Era a estranha e maravilhosa canção que os três formavam. A canção que ninguém mais no mundo seria capaz de ouvir ou compreender.

Mas agora Jem Carstairs estava morto – em suas cinzas, nascia uma criatura de luto e ossos: Zachariah— e tudo o que lhe restara fora o silêncio.