Percy Jackson afastou os fios negros que insistiam em cair sobre os olhos cor de mar e rabiscou algumas ideias soltas na folha que segurava.

— Tá, mas e se – Inclinou o corpo – Você fizesse um dispositivo que permitisse detonar à distância?

Charles Beckendorf, um garoto alto com a pele escura, olhos amáveis e filho de Hefesto, abriu um sorriso e bateu com a mão na cabeça.

— Como eu não pensei nisso antes?

— Não esquenta, estamos com muita coisa na cabeça, claro que vamos ficar mais devagar para as coisas óbvias – Tranquilizou o amigo. Os dois estavam no chalé de Poseidon, pois apenas Percy morava lá, e discutiam o plano que destruiria Luke e seu exército de monstros. Sabia que ele estaria em um navio, só precisavam de um meio de acabar com aquilo tudo lá. Por sorte, Beckendorf tivera a ideia de uma bomba, assim afundariam o navio e Percy poderia tirar os dois de lá pelo mar, com os poderes que seu pai tinha lhe dado. Era um ótimo plano, mas por minutos a fio os dois não conseguiram encontrar a solução para o tempo: como destruiriam o navio do lado da bomba?

A resposta parece muito boba, mas a dupla já estava há dias matutando sobre as ideias e os mínimos detalhes, suas cabeças já estavam em ponto de ebulição naquele momento.

— Isso é fácil de conseguir – O filho de Hefesto garantiu acenando positivamente.

— Ah, certo. Às vezes esqueço que estou falando com o chefe de chalé – Brincou.

— Grande coisa – Deu de ombros – Você também é chefe de chalé.

— Porque só tem eu aqui – Explicou.

— Bom, isso prova que é um cargo bobo que não quer dizer nada sobre o semideus escolhido pra isso.

— Não mesmo. Ou sim. Não sei, tanto faz. O que eu quis dizer é que você é muito bom no que faz e com as ferramentas, parece que o próprio deus te fez.

— Obrigado, eu acho – Sorriu timidamente, não estava acostumado com elogios, ainda mais tão sinceros e vindos de Percy, que já tinha provado mais de uma vez ser um semideus extremamente poderoso.

— É só a verdade, ou aceita ou... sei lá. Não sou bom com palavras – Comentou fazendo o outro rir.

— Então, acabamos essa etapa?

— Acho que sim, agora só precisamos que você providencie a bomba e o detonador o mais rápido possível e partimos em dois dias.

— Está bem.

Percy suspirou, saindo da escrivaninha coberta de anotações que dividia com o rapaz e se jogou na cama.

— Pensar cansa pra caramba, Beckendorf – Massageou a testa com a ponta dos dedos.

— Te garanto que não mais do que bater o martelo dia e noite – Levantou também e sentou ao lado do semideus, deixando as pernas estendidas sobre a cama – E pode me chamar de Charles.

— Charles? – Abriu os olhos, encarando o rosto calmo do outro – Achei que não gostasse do seu nome.

— Eu só... Prefiro que nem todos digam – Deitou na cama tocando as costas fortes no lençol macio – Mas eu gosto de lembrar dele e gosto que meus amigos me chamem assim.

— Você não tem muitos amigos, se seguirmos essa lógica – Comentou delicadamente, virando seu rosto para que olhasse nos olhos de Charles.

— Isso é verdade por si só – Sorriu – Mas me expressei mal. Só os amigos mais próximos. Aqueles que você sabe que não vão causar a sua ruína.

— Bem profundo. Como alguém confiaria em uma pessoa assim?

— Você confiou – Lembrou ele – Em Luke. Você o considerou um amigo e ele o acusou de roubar o raio de Zeus e agora nós estamos planejando matá-lo.

— Me pegou nessa – Percy assentiu.

— E ai, vamos fazer o que agora? Eu não tenho como ir trabalhar agora – Rolou, ficando com a barriga para baixo e apoiado nos braços.

— Sem vontade de ir para uma sauna fazer força? Pf, fraquinho – Revirou os olhos, recebendo um empurrão no ombro.

— Vou levar você lá pra baixo uma hora dessas, Percy. Quero só ver o neném do deus do mar fazendo escudos com as próprias mãos.

Os dois riram imaginando a cena, realmente seria uma coisa e tanto de se ver, dado que a maior força que Percy fazia em seu dia era levantar da cama.

— Seria o escudo mais bonito que você veria – Concluiu limpando as lágrimas dos olhos.

— Oh, eu só imagino.

— Pois imagine, Charles – Falou a palavra saboreando as letras. Era a primeira vez que fazia aquilo, que chamava o amigo pelo primeiro nome. E gostou do som. Sentiu vontade de sussurrar “Charles, Charles, Charles”, mas se conteve.

— Fica melhor na sua boca.

— O que? – Franziu as sobrancelhas confuso.

— Meu nome.

— Ah. Entendi, Charles – Repetiu propositalmente, observando qual seria a reação do garoto.

— Bom de ouvir – Sorriu – Senti falta disso.

— Mas não vai precisar mais – Percy assegurou com um aperto no peito – Eu vou te chamar só de Charles agora. Nem vou mais te xingar. Ou vou te xingar, mas vou completar com “Charles”. Algo assim, ainda tenho que pensar nisso.

— Definitivamente é algo com que você deva desperdiçar seu tempo – Beckendorf riu.

Seus rostos estavam perto, ao acaso, mas fez com que a risada cessasse e os olhos se fixassem um no outro. O verde mar e o marrom se olhavam com intensidade. A boca de Percy tremeu levemente enquanto ele pensava algo para falar, mas seu cérebro parecia desligado. Ou em pânico, não saberia dizer.

Charles piscou algumas vezes antes de murmurar com a voz rouca e baixa.

— Acho que eu devia voltar para o meu dormitório. Tenho que ver se nenhum maluco desocupado pôs fogo de novo nos beliches.

— É um problema – Sussurrou, ainda sem desviar o olhar. Sua garganta estava seca e seu corpo formigava, mas não entendia seus motivos. Apenas sabia que os lábios do outro estavam perigosamente convidativos.

— Percy – Falou sem se mover.

— Charles.

Lentamente, o filho de Hefesto baixou o rosto, na direção do amigo, e tocou seus lábios, deslizando sua mão cheia de calos pelo rosto branco e segurando seu pescoço com delicadeza.

— Isso não estava nos planos – Percy disse quando Beckendorf afastou sua boca da dele.

— Fazemos novos – Sugeriu quando o garoto deitou seu corpo mais uma vez, tomando seu beijo com desejo.