Entre Fogo e Gelo escrita por Nc Earnshaw


Capítulo 21
Caminho de casa




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Capítulo 20

por N.C Earnshaw

 

SE ALGUMAS SEMANAS ATRÁS, dissessem a Paul que ele estaria se corroendo de preocupação por uma vampira, ele primeiro socaria a cara da pessoa e depois riria. O que antes para ele seria absurdo, logo se tornou a coisa mais sensata que ele tinha sentido em dias.

Assim que os Cullen explicaram a situação dos recém-criados, Paul sentiu uma imensa vontade de tirar Wendy dali e enfiá-la em um lugar seguro. A sua segunda reação, foi lançar um olhar enraivecido na direção da mesma por ter escondido toda aquela história dele. Afinal, quando se tornaram amigos, tinham combinado de ser sinceros um com o outro. 

Ele queria ouvir explicações da boca dela. Apesar de saber no seu íntimo que quaisquer que fossem seus argumentos, não mudaria o fato que ela omitiu uma informação importante e, ele admitia somente para si mesmo, que tinha deixado-o magoado; uma vez que o próprio Paul tinha aberto seu coração e seu passado para ela, enquanto Wendy escondia a desconfiança que um exército de sanguessugas iriam atacá-los. Porém, embora estivesse irritado com ela, não hesitou em oferecer ajuda. No fim das contas, era seu imprinting, e ele realmente a considerava uma boa amiga. 

— Vocês não podem — negou a Swan, aflita, logo que Jacob e o líder dos Cullen, Carlisle, decidiram sobre a aliança que fariam para aquela batalha. 

Paul revirou os olhos, cansado das reclamações da garota. Na verdade, ele estava exausto de sempre se meterem em problemas por causa dela, e mais irado que o normal, pois mais uma vez ela estava colocando a vida de Wendy em risco. Ele tinha consciência de que seu imprinting era forte, mas o quileute já tinha despedaçado vampiros antes, e sabia que eles não eram intocáveis. 

— Você vai deixar eles se arriscarem desse jeito? — indagou a humana, irritada, lançando um olhar fulminante na direção de Wendy.

Paul se empertigou em seu lugar. Não bastando que todos sacrificassem horas dos seus dias para proteger a humana, ainda tinham que se prestar a ouvir suas queixas. Por favor. 

Wendy, que até ali somente estava ouvindo tudo de braços cruzados, franziu as sobrancelhas e abriu a boca para respondê-la, entretanto, o Lahote foi mais rápido. 

— Olha aqui, Swan. Ela não tem que deixar ou não deixar nada. Vamos lutar e ponto! — Sua voz saiu mais grave que o normal, e ele cerrou a boca com tanta força, que pôde ouvir o barulho dos seus dentes rangendo. Estava furioso com Isabella Swan querendo decidir quem ia ou não, lutar por sua preciosa vida. 

— Eu não estou pedindo sua ajuda — rebateu ela, ultrajada. As mãos gesticulavam de uma maneira esquisita, e a estátua ao seu lado; a quem Bella considerava seu namorado, contorceu o semblante em aviso. 

O lobo estava tão furioso que não deu a mínima. Na verdade, não ligaria mesmo que estivesse completamente calmo. Aquele topetudo era uma piada. 

— Paul… — Wendy chamou seu nome em tom de pedido, balançando a cabeça ao perceber que ele estava se alterando. 

— Assim como eu não estou pedindo sua opinião! — grunhiu o lobo, ignorando o chamado de Wendy e o olhar ameaçador do leitor de mentes. — Nós não vamos entrar nessa luta por sua causa, garota. O mundo não gira em torno de você, tá legal!

— Os recém-criados estão vindo atrás de mim. — Bella afirmou como se ele fosse estúpido, e Paul se perguntou mentalmente se talvez ela não gostava de toda a atenção que conseguia quando era colocada em risco. 

A Swan foi a única que se enfiou naquele mundo sobrenatural por opção, ela teve diversas chances de esquecer tudo aquilo e seguir uma vida humana, pois nada a prendia. Inclusive, ele percebia um certo prazer que ela tinha em se meter entre seres mais fortes do que ela. Primeiro os vampiros, depois os lobos. Quais seriam os próximos? Duendes? Se alienígenas invadissem a terra, Paul apostava seu braço direito que ela ia dar um jeito de se envolver.

— É, tem razão! A culpa é toda sua! — retrucou ele em um tom de voz cortante. — E automaticamente você colocou alguém da matilha na linha. 

— Paul. — Jacob segurou o braço dele. — Deixa isso pra lá, temos coisas mais importantes a fazer. 

— Eu não estou forçando o Jake a lutar — gritou ela, afrontada. A voz dela falhou nas últimas sílabas, tão aguda que fez os ouvidos de Paul doerem. 

Ele sentiu uma mão fria pousando no seu ombro delicadamente. O lobo não tinha reparado que seu corpo havia começado a tremer até que a mão fria de Wendy tocou seu braço, e o resultado do toque do seu imprinting teve o efeito esperado ao acalmá-lo. Assim que a vampira percebeu que os nervos do Lahote se abrandaram, ela o puxou para perto de si, soltando-o do agarre de Jacob. 

— Você só pode ser muito idiota, não é? — Ele deu um sorriso sarcástico. — Eu não estou falando do Jake, estou falando da Wendy!

— Paul, vem. Vamos conversar lá fora — chamou a vampira o puxando, mesmo que quisesse saber naquele instante o que ele estava querendo dizer com: “estou falando da Wendy”. 

Edward, que antes estava em uma posição ameaçadora, riu alto, chamando a atenção tanto da família quanto dos lobisomens. 

— Eu perdi alguma piada? — intrometeu-se Emmett ao ver a mudança súbita de sentimentos do irmão. 

O vampiro de cabelos acobreados balançou a cabeça e sorriu de canto. 

— Paul só está preocupado com a Wendy — contou ele, dando de ombros. Era notável que estava mais relaxado. — Parece que, ao ter tido um imprinting por ela, automaticamente a Wendy passou a fazer da matilha. Então, se ela está em risco…

— É, isso aí. A matilha vai lutar porque a Wendy vai — pronunciou-se Quil, entediado. Até ali tinha mantido sua boca fechada, mas já estava de saco cheio de todo aquele blá blá blá. — Podemos ir logo falar com o Sam? 

A Cullen mais nova fitou Paul, surpresa com a revelação. Sabia que ele sempre a defenderia por causa da magia, no entanto, não sabia que o resto deles tinham certa obrigação de protegê-la também. 

— Vocês podem ir na frente? — perguntou ela para os garotos. — Paul e eu precisamos conversar. 

Ela o puxou pela mão e fingiu não ouvir o uivo que seu irmão Emmett deu ao ver os dois se tocando. E Paul, que também já tinha a intenção de conversar com ela, não resistiu ao puxão e foi atrás em silêncio.

Eles passaram pela festa e atraíram olhares por todo o caminho até a porta. Paul e Wendy certamente chamavam atenção ao serem vistos juntos. O jovem quileute era enorme e bronzeado, com o corpo musculoso e uma expressão intimidadora no rosto — como se a qualquer momento fosse estourar e socar alguém até virar uma gosma. A Cullen era o completo oposto, era esguia e elegante, a pele era extremamente pálida em contraste com a dele, e ela sempre mantinha um semblante convidativo no rosto, sorrindo para todos. Suas covinhas profundas a davam um ar maroto, e as pessoas sempre se derretiam por ela. 

Ver Wendy arrastando Paul pela mão certamente foi uma visão e tanto para os adolescentes da festa. Seriam motivo de fofocas por meses. O pegador de La Push e a garota mais encantadora dos Cullen, assim como a única solteira e a última esperança de muitos para entrar para a família de modelos. Mas, aparentemente, ela já tinha sido fisgada, e ninguém que conhecia as histórias que circulavam a cidade sobre Paul, seria maluco o bastante para se meter entre eles. 

Ao subir as escadas de mãos dadas e caminhar em direção aos quartos, tinham dado um prato cheio para os fofoqueiros. 

Wendy abriu a porta do seu quarto sem soltar a mão dele, puxou-o até onde estava sua poltrona e o deu um leve empurrão para que ele se sentasse nela. Logo que o viu aconchegado, cruzou os braços e o encarou por alguns segundos. 

— Sei que está bravo — afirmou ela ao perceber que Paul não diria nada. 

— Jura? — indagou ele, debochado, arqueando uma sobrancelha. — E por que será, não é? 

— Paul, sinto muito. — A vampira suspirou. — Eu juro que eu ia te contar, mas com tudo que anda acontecendo só passou batido… Eu não queria te preocupar com algo que eu não tinha nem certeza. 

Paul torceu os lábios, zangado consigo mesmo. No instante que o pedido de desculpas saiu dos lábios dela, já havia perdoado, entretanto, não podia absolvê-la tão rápido. Além de ser contrário a sua personalidade, tinha que se certificar que não aconteceria de novo. 

— Você mentiu pra mim — acusou ele.

— Tecnicamente, eu não menti. Eu omiti essa informação de você. — Ao ver o olhar que a lançou, Wendy optou por ir por outro caminho. — E já pedi desculpas. Eu sinto muito, muito mesmo!

— Achei que tínhamos prometido ser sinceros um com o outro — dramatizou o Lahote, apoiando os braços no encosto da poltrona. 

Wendy fez um biquinho triste, e sua face torceu em uma expressão culpada. Ela abriu a boca para se desculpar novamente, mas percebeu que Paul não se segurou e deixou escapar uma risadinha de canto.

— O que é isso? — inquiriu ela, colocando uma mão na cintura. 

— O que é o quê? — O lobo fingiu completa inocência. 

— Não se faça de bobo, Paul Lahote — rebateu Wendy semicerrando os olhos e erguendo o dedo em riste. — O que significa esse sorrisinho aí?

— Nada — afirmou ele, dando de ombros. O rosto limpo de qualquer expressão. — Não tem sorrisinho algum. 

Ela bufou alto e cruzou os braços, suspeitando da atitude dele quando estavam tendo uma conversa séria. 

Paul, impulsionado pela fofura da cena, puxou um dos braços dela para que ela caísse em seu colo. No entanto, mesmo colocando força, a garota não saiu do lugar. 

— Não vou sentar no seu colo — reclamou Wendy, ainda em pé. 

— Não seja tão chata. — O Lahote revirou os olhos. — Vem cá, vem. Vai negar depois de ter me magoado tanto?

Ela pensou em recusar o pedido diante da cara cínica que ele fez, porém, não resistiu a oportunidade de ficar mais perto dele. Tudo que tinha feito até ali, era pegar em sua mão. E não tinha percebido antes o quanto queria sentir Paul mais perto de si. 

Wendy balançou a cabeça fazendo charme, mas o lobo, impaciente, agarrou-a com ambos os braços e a aconchegou no seu colo. 

Ambos relaxaram ao sentirem o contato. A temperatura elevada de Paul tocando a pele fria de Wendy mandava choques gostosos pelos corpos deles. 

— Isso é bom — sussurrou Wendy, encostando a cabeça no ombro do lobo. 

Paul quis dizer que nunca tinha se sentido tão bem durante toda sua vida. Era como se por vinte anos tivesse vivido perdido por aí, e finalmente houvesse encontrado o caminho de casa. O coração dele se encheu de um sentimento de pertencimento. E descobriu o que era ter um lar. Ela era o seu lar. Entretanto, ele ainda não estava preparado para admitir isso para o seu imprinting. 

— É, é sim. — O Lahote apertou-a ainda mais em seus braços, enquanto tinha o nariz enfiado em seus cabelos. Queria absorver o máximo possível do seu cheiro.  

— Estou com medo — admitiu Wendy baixinho, aproveitando o calor de Paul. — Não quero perder ninguém. 

— E não vai. — Ele afagou as costas dela com a mão tentando assegurá-la do que dizia. — Esses sanguessugas não são páreos para nós. 

— Não quero te perder — confessou a Cullen, levantando a cabeça para olhá-lo nos olhos. Ela não pôde conter as palavras que a estavam torturando desde que Alice havia falado sobre a visão.

Ele sorriu para ela. 

— Não precisa se preocupar comigo — garantiu Paul, confiante. — Tudo vai terminar num piscar de olhos. 

— Tem razão — concordou Wendy, sorrindo de volta.

— Eu sempre tenho — gabou-se ele. 

— Não exagera. — A garota cutucou o peito dele, fingindo exasperação, mas, no fundo, divertia-se com a confiança do quileute. Ela suspirou. — Quem imaginaria, não é? 

— O quê? — indagou ele, desinteressado. Estava colocando toda sua concentração em um cacho enorme que ele enrolava no dedo indicador. 

— Nós dois assim, juntinhos. Pensar que há alguns dias você me odiava, e agora não consegue ficar longe — realizou a vampira, desenhando com a unha no peito dele. 

— Cala a boca. — Paul deixou escapar uma risada, e encostou a cabeça da vampira novamente em seu ombro.

— Calando…

— Shhh — pediu ele, começando a fazer cafuné nos cabelos dela. 

Wendy descobriu uma coisa naquela noite. Paul Lahote fazia o melhor cafuné. 

Ela passou horas do dia seguinte pedindo perdão à sua falecida avó; que havia perdido o posto de primeiro lugar. Mas contra fatos, não havia argumentos. Paul era um “cafunador” de mão-cheia.

 


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