Eu não vou mesmo – de jeito nenhum!

Disse para si mesma enquanto colocava em cima da estante o convite do baile de formandos, foi há tanto tempo atrás, mas ainda mexia com ela de um jeito estranho, seu estomago se retorcia somente de lembrar o toque quente em suas costas desnudas.

Mesmo não tendo visto ele há anos... Somente a lembrança já era suficiente para ela ficar corada e nervosa.

Não, tudo tinha ficado para trás. Já haviam se passado mais de 13 anos.

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Eu finalmente criei coragem para chamá-la para dançar na última música em baixo daquela lua que mais se parecia uma bola de discoteca. Ela estava sentada encarando seus sapatos pretos e mordendo o lábio, tão linda, tão perto e tão longe. Seu vestido tinha uma abertura nas costas e era da cor chumbo.  Então engoli a saliva e caminhei até ela com passos firmes.

— Hinata? Você gostaria de dançar comigo? – perguntei tentando parecer mais corajoso do que eu realmente estava.

Ela levantou seus olhos perolados surpresa, mas assentiu pegando minha mão estendida.  Pousei minha mão em suas costas, meu coração batia acelerado – o porquê eu não sabia.  Conforme a música ia tocando sua cabeça pousou no meu ombro e eu senti seu perfume como baunilha e flores de jardim misturado. Nossos corpos estavam colados, eu conseguia sentir a sua respiração no meu pescoço e  quase engasguei quando ela olhou para mim com aqueles olhos grandes e perolados. Seus cabelos estavam caindo em seus olhos e então o afastei delicadamente para poder vê-la melhor, Deuses ela era tão linda.

—

Seu toque em minha pele parecia pegar fogo, sua respiração leve no topo da minha cabeça de repente era tudo o que eu queria. Eu gostaria de ter ficado naquele momento para sempre, pedi tanto para que aquela música durasse mais tempo e  nossos corpos se mexendo em perfeita sincronia.

Então eu olhei para ele, tentando memorizar cada detalhe do seu rosto, seus riscos incomuns em suas bochechas, o seu cabelo um pouco longo demais e rebeldes e seus olhos, aquele olhos de oceano azul me deixando cada vez mais presa neste mar.  nos tínhamos apenas dezoito anos e eu já podia sentir que você estava dançando com meu coração, você me conduzia como se estivesse lendo minha mente.

Logo afastando meus cabelos, ele repousou sua mão em minha nunca e se inclinou para um beijo doce e faminto. Parecia que eu não tinha o suficiente de você mesmo naquele momento, sua língua movia-se com a minha fazendo a mesma dança.

E então a música acabou.

O momento também.

Nós nos despedimos trocando número de telefone. Mas eu fico me perguntando se você mesmo que por um momento sente minha falta?

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O que eu senti me deixou tão assustado que acabei deixando-a ir. Quando ela foi embora naquele verão para a faculdade do outro lado do país eu não entendi. O que estava acontecendo? Nós tivemos um momento naquele baile, ou não tivemos? Mesmo assim ela se foi, no começo nos trocávamos mensagens o tempo todo e eu não entendia o porquê de sentir um enorme vazio no meu peito, toda vez eu me sentia perdido, mas os anos se passaram e as conversas cessaram. Mas eu nunca deixei de sentir sua falta – nem mesmo por um dia sequer. Eu me perguntava olhando para nossa cidade naquele entardecer: Será que ela também sente minha falta? Neste mesmo dia recebi o convite do baile dos formandos – o reencontro da turma. Será que ela viria? Mesmo estando tanto tempo longe. Peguei o meu celular para manda-la uma mensagem, mas o seu número já não aparecia com sua foto – eu havia evitado ficar olhando porque causava grande ansiedade em mim.

Ela deve ter mudado de número o que é totalmente compreensivo.

Eu não a via anos. Será que ela ainda tinha aqueles longos cabelos azulados e os mesmos olhos gentis? Eu não me importava porque para mim ela sempre tão linda e  teria dezoito anos e dançando com meu coração.

Relembrando como era estar com ela – eu sorri.

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— Não tem jeito. Eu já disse que não vou. -  digo a minha irmã mais nova no telefone.

— Hinata, em algum momento você vai ter que voltar. – ela disse calmamente. – Além disso, eu e papai sentimos sua falta.

— Eu também sinto. – murmuro tristemente.

— Então mais um motivo para vir, agora! Estou te mandando à passagem. Tchaaaaau!

— O que? – perguntei, mas ela já havia desligado.

E assim recebi um e-mail “VEM LOGO PRA CASA” com uma passagem em anexo. Mas eu tremia só de pensar, para que prolongar este sentimento? Você já deveria ter seguido em frente e eu seria a única –ainda-  solteira naquela festa.

Mesmo assim três dias depois eu estava em um avião para Konoha, o clima estava quente e úmido. Mesmo negando quantas vezes fosse eu coloquei o convite do baile na minha  mala. Olhando para o por do sol da janela  do avião eu me perguntava: Como será que ele está? Ainda estaria namorando com aquela loira sem graça? Ai não Hinata, me repreendi batendo a mão na testa. Você não deve pensar assim, a vida segue e para ele seguiu mesmo além do mais era muito baixo de você criticar uma mulher – mesmo que ela esteja com ele. Suspirando peguei o livro a minha frente e comecei a ler para não pensar naqueles cabelos loiros, seus olhos azuis e seu calor que me acolhia.

Chegando a Konoha meu pai e minha irmã me esperava no aeroporto, peguei minha mala e com um sentimento bom de estar em casa! A cidade não mudou nada nestes 13 anos, eu mudei. Meus cabelos que eram tão longos agora estavam na altura dos ombros, meus olhos já tinham marcas de expressão e meu sorriso já não saia tão fácil.

Naquela tarde enquanto passávamos pela cidade eu o procurei com os olhos mas não achei, não tinha certeza se gostaria de achar também, eu mudei, ele deve ter mudado também.

Logo eu estava na casa de meu pai e estávamos assistindo filme, ele se recolhendo me deu um beijo no rosto e foi deitar. Eu me espreguicei e insinuei fazer o mesmo, aquele filme era demais para mim tudo nele me lembrava de você. E eu não via você anos. Eu sentia falta das nossas mensagens e relembrava o beijo, mais vezes do que eu gostaria.

Quando eu mudei de celular perdi todos os contatos, porém eu ainda sabia seu nome então quando eu te procurei no instagram, não havia muitas fotos suas então clicando na aba “marcados com você” e vi várias fotos suas com uma menina loira, rindo e se divertindo. Eu acho que você sempre seria o meu maior “e se” -  e se eu tivesse ficado? E se eu não tivesse ido para tão longe? E se você tivesse me procurado antes naquele baile?

Nervosa sai da página e com o tempo não entrei mais nas redes sociais. Era doloroso demais ver você seguindo em frente e eu presa neste loop – que parecia nunca ir embora. Agora no sofá com a minha irmã acariciando seus cabelos, ela virou seus olhos perolados para mim e disse:

— Amanhã é o baile, né?

— Sim. – Respondi simplesmente.

— Mudou de ideia? – Ela insistiu.

Havia eu mudado de ideia? Eu queria vê-lo, deuses como eu queria. Mas e se fosse tão doloroso quanto as minhas previsões? Suspirei baixo sem saber o que responder.

— Hina você não tem nada a perder se não for. – ela disse. – Se por um acaso for tão ruim quanto você esta imaginando eu te tiro de lá assim. – disse estralando os dedos.

Eu sorri emocionada e disse:

— Desde quando você é que cuida de mim?

— Desde que você não vê que esta é a melhor opção para você. – resmungou ela. – Aliás, eu já comprei seu vestido.

— O que? – perguntei e me ignorando ela disse:

— Agora vamos dormir para você estar deslumbrante amanhã.

—----

 Os boatos eram de que ela estava na cidade. Meu coração acelerou só de pensar em vê-la novamente. Eu a havia procurado em todas as redes sociais que eu conhecia e nada. Tive um relacionamento de três messes com Shion na esperança de esquecer Hinata. Mas isso não adiantou, percebendo meu erro eu e Shion nos separamos em comum acordo.  O tempo passava e eu não a via anos, mas meu coração ainda era dela. Como pude demorar tão tempo para perceber que esta falta que eu sentia tanto dela era: amor. Eu nunca imaginaria. Você me mostrou algo que eu não consigo viver sem, Hinata.

Eu saí do meu apartamento naquele dia e fui procurar um terno, ela deveria ir ao baile, não é? E se não fosse eu não teria nada a perder.

O dia passou, eu estava com um terno cinza chumbo – da mesma cor do seu vestido a tanto tempo atrás. Me olhei no espelho e encontrei meus olhos, será que ela ainda pensava em mim? Será que ela vai querer me ver, afinal eu mudei. O meu cabelo agora não era tão desgrenhado agora eu sabia o que fazer para lhe dar com ele, eu estava mais musculoso, porém ainda conseguia ver marcas no meu rosto pelo tempo. Droga – estúpida insegurança.

Eu não vou voltar atrás agora. – disse para mim mesmo pegando as chaves do apartamento e do carro. Dirigi até o baile e entrei segurando a respiração. Havia um mural com as fotos da turma e senti uma nostalgia crescer no meu peito, caminhei até Sakura e Sasuke meus amigos. Sakura havia organizado o baile com Ino e tudo estava completamente igual há 13 anos.

— Esta procurando por ela, dobe? – perguntou o Sasuke, com seus olhos ônix analisando minha face, ele sabia dos meus sentimentos pela perolada- bem antes que eu mesmo descobrisse.

— Sim. – disse com um suspiro. – Será que ela vem? Ou já chegou?

Sakura segurando a lista de convidados suspirou dizendo: – Ela não confirmou  e também ainda não chegou, Naruto. Mas ainda temos tempo, não é? A festa só esta começando.

— Sim. – digo ao ir procurar algo para beber.

—-------

Eu estava com um vestido lilás de alças e um decote um pouco maior do que eu normalmente usaria. Segurando a respiração desci do carro e caminhei até a entrada do colégio. Nossa não havia mudado nada, as paredes estavam pintadas de branco e o salão de festa estava da mesma forma. Eu sorri olhando para o mural de fotos e meu coração doeu enquanto encontrei ali aquele sorriso, que eu tanto gostava.  Isso tinha sido uma péssima ideia. Disse a mim mesma, mas entrei soltando todo o ar que eu tinha prendido. Algumas pessoas me olhavam e me reconheciam cumprimentando-me. Eu respondia alguma coisa parecida e andei para pegar uma bebida, no meio da pista de dança eu parei, pois ali nas bebidas estava ele. Treze anos depois, com um terno de cor chumbo parecendo menos animado do que deveria estar. Droga, isso definitivamente foi uma péssima ideia. Girei meus calcanhares e iria caminhar até a saída quando eu ouvi sua voz rouca chamando meu nome com incerteza:

— Hinata? É você? – disse atrás de mim.

— H-hai. – digo sem me virar eu tinha tanto medo de me virar e encontrar você acompanhado. – eu só dei uma passada, mas já estou indo. 

Comecei a caminhar, mas sua mão alcançou meu braço direito e me fazendo parar.

— Olhe para mim. – ele pediu.

— E-eu... – comecei.

— Depois de todo esse tempo ao menos me deixe vê-la. – Pediu ele com suplicia. Então segurando a respiração eu me virei para ele e percebi que ele fazia o mesmo.

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Ela virou-se para mim e naquele momento eu não estava nem aí se todos estivessem olhando para nós. Eu só queria dizer a ela tudo o que eu não disse quando tínhamos dezoito anos. Ela corou e eu sorri. Ela ainda era a mesma tímida, seus olhos varreram a pista de dança e então encontraram o meu quase como um pedido de socorro. Então eu peguei sua mão e a puxei para os fundos do ginásio em uma sala ao lado que estava vazia.

— Naruto, e-eu. – disse começando.

— Não. – digo colocando a mão em seus lábios. – Dessa vez eu vou falar mesmo que me arrependa, mesmo que você esteja com alguém. Mesmo que já tenha se passado tanto tempo, mas eu preciso dizer.

Ela me encarou surpresa pela interrupção e perguntou: – Dizer o que?

— E- eu – comecei nervoso e em seguida respirei fundo. – Eu sinto sua falta, sinto falta do seu cheiro do que poderíamos ter sido se você não tivesse ido – se eu não fosse tão burro e tiver te deixado ir. Eu deveria ter percebido antes, mas talvez eu não pudesse ou não conhecesse isto, este sentimento. – disse com a mão repousando no peito. – Mas eu amo você, Hinata.

Ela me fitou e ficou em silencio por alguns segundos então sorriu colocando a mão no meu rosto e disse:

— Eu sempre amei você. Esperei tanto tempo para ouvir você dizendo isto que parece mentira ou talvez eu esteja alucinando.

— Não. – digo colando minha testa na dela e fechando os olhos. – Eu estou aqui e nunca vou deixar você ir de novo. Você dançou com o meu coração naquela noite e ele foi embora com você.

Ela suspirou e eu senti meu corpo tremer ao seu toque em minha nuca enquanto eu a puxada para um beijo, nos separamos e ela disse sem descolar sua testa da minha.

— Eu mudei você mudou. Como poderia dar certo?

— Para mim você sempre terá dezoito anos.

— Mas e sua vida? E aquela menina das fotos? – ela perguntou olhando para mim agora.

— Eu tinha que tentar esquecer você, Hinata. Mas não consegui- nem por um segundo sequer. Por favor, fica comigo. – pedi em suplicias.

— Eu estou aqui e não vou a lugar algum. – respondeu ela me beijando novamente, aquele beijo era profundo e cheio de significados, era uma promessa, um recomeço e eu reprimi um rosnado quando ela se afastou de mim ainda rápido demais.

Eu peguei a sua mão e perguntei: – Você gostaria de dançar comigo hoje?

Ela riu jogando a cabeça para trás e respondeu:

— Hoje e sempre. Eu te amo.

—  Eu te amo. – digo puxando para a pista de dança e sentindo sua cabeça em meu ombro como há 13 anos.  E como há anos atrás meu coração agora encontrou seu lugar, de onde ele nunca sairia.