Impossível escrita por kjuzera


Capítulo 4
"Um morango irritado"


Notas iniciais do capítulo

Depois de um total de 0 pessoas lamentarem a morte do Mineta, bora pra um cap mais legal =)



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Era uma noite clara de lua cheia e muitas estrelas. Tudo estava tranquilo para Uraraka na medida do possível daquele mundo estranho. Até o bárbaro abrir a boca.

— Você vai mesmo comer carne? - Bakugou parecia genuinamente incrédulo enquanto colocava mais lenha na fogueira. 

Kirishima tinha trazido uma perna de alce para o platô no alto de uma montanha que eles tinham escolhido para passar a noite. Só a perna porque ele certamente tinha comido o resto em uma mordida. 

— Você espera que eu coma o que, grama? 

Depois de todos os acontecimentos horríveis ela não tinha vontade alguma de comer qualquer coisa, quanto mais carne. Mas quando o bárbaro colocou no fogo e ela começou a sentir o cheiro bom do assado, a jovem percebeu o quão faminta estava. 

— Pode ser. - ele disse dando de ombros. - Só não come muito se não não vou conseguir te vender. 

Uraraka literalmente espumou. Era só o que faltava esse escroto chamando ela de gorda, DE NOVO!

— Escuta aqui, Bakugou, você não tem o menor direito de ficar dizendo que eu vou ficar gorda! Qual o seu problema?? Se eu quiser comer essa perna inteira eu vou comer mesmo!! 

Katsuki ficou levemente surpreso com a reação da garota. 

— Gorda? - ele disse puxando um pedaço da pele do alce que já se desprendia e enfiando na boca, e se queimando no processo. - Isso aqui é um alce, garota, não é um porco. 

Ochako ficou vendo ele mastigar de boca aberta tentando entender a resposta. 

— Alce não engorda? - ela perguntou, sabendo que era uma pergunta idiota, mas precisava verificar sua teoria.

— Você já viu um alce, mulher? Eles são uns veados enormes e cheios de músculos, uma patada deles e você já era. 

— Então se eu comer muito alce….?

— Vai ficar musculosa e eu não vou conseguir te vender. - ele completou como se fosse óbvio. 

    Demorou um pouco mas a ficha caiu na cabeça da garota. O bárbaro acreditava que as pessoas pegavam as características daquilo que comiam. Se lembrou das frutinhas e das flores que tinha recebido pela manhã, e sentiu a face ficar corada. 

    - Por isso… por isso que você me deu aquelas frutinhas esquisitas? 

    - Você é pequeninha e redonda, achei que comia coisas assim. E pelo cheiro achei que comesse flores também. - ele confirmou sem dar importância - Você quer comer carne? Come então, mas se você ficar parecendo um gorila eu vou ter problemas.  

    Uraraka não sabia se ficava com raiva, se gargalhava ou se ficava envergonhada. Era tão absurdo que chegava a ser fofo. 

    - Não é assim que comida funciona. - ela optou por dizer pacientemente - Mesmo que eu coma um monte de carne não vou ficar musculosa. 

    Bakugou olhou para ela, em silêncio, como se avaliasse o que ela tinha acabado de dizer. Por fim, respondeu: 

    - Impossível. - ele disse simplesmente, queimando os dedos no fogo mais uma vez para pegar mais um pedaço. 

    Uraraka preferiu não insistir no assunto. Kirishima se mexeu ao fundo, mudando de uma posição embolada nas asas para uma de barriga para cima, relaxado e dormindo. Um tempo depois ela voltou a falar.  

    - Você vai realmente tentar me vender de novo? - ela perguntou esperançosa. 

    - O que raios eu faria com você senão isso? Agora nem de lanche pro Kirishima você serve, idiota já se apegou. 

    - Você poderia me ajudar a voltar pro meu mundo. - ela sugeriu. 

    - Pff… - ele debochou - E como diabos eu faria isso?

    - Não sei, a gente ia precisar descobrir, pesquisar, investigar…. 

    - Impossível. 

Uraraka tentou insistir com o bárbaro mas desistiu quando ele declarou que a comida estava pronta. Bakugou serviu um bom pedaço para ela numa espécie de pano de couro. Ela comeu com gosto, e seu apetite não diminuiu mesmo com ele a olhando, a julgando sem nem disfarçar.

*~*~*~*~*~*~*

O dia amanheceu e Bakugou parecia com um humor pior que o normal. Segundo ele era porque não tinha conseguido pensar em uma alternativa a não ser ir para o sul. 

— E o que tem no sul? Se você acha que vai me vender pra outro mercador de escravos você pode ter certeza que eu te arremesso de cima do dragão, e - 

— Que que é, caralho, quer ficar amarrada de novo, porra?! 

A gritaria pela manhã foi o suficiente para tirar Kirishima de seu sono de princeso. Ele acompanhou a discussão de perto, com os olhos cheios de carinho que os demais não perceberam pois estavam ocupados trocando juras de morte. 

— Quando você estiver dormindo vou enfiar essa sua espada na sua barriga!!! - ela gritava a plenos pulmões.

— Eu vou te pendurar pelos pés no rabo do Kirishima!! 

Kirishima pareceu um pouco assustado com a última ameaça fazendo um muxoxo, mas se tranquilizou enquanto os dois subiram normalmente na cela. Recobraram o silêncio característico dos vôos, trazendo uma sensação de alegria e normalidade pro dragão. 

Voaram rumo ao sul e Ochako pode perceber as colinas e montanhas características daquela região ficando para trás. Sempre evitavam passar próximo de qualquer cidade muito grande, para não despertar a fúria de ninguém que tenha algum tipo de canhão.   

— Pra onde você está me levando afinal? - ela disse enquanto observava a copa das árvores de uma floresta densa abaixo deles.

Bakugou suspirou alto, deixando claro pra ela que ele não queria falar. Mas mesmo assim ele deu dois tapinhas num dos chifres de Kirishima e se virou pra ela. 

— Escuta só, lua cheia. - ele iniciou, excepcionalmente calmo pros padrões dele. - Você viu que me arrependi de ter ido negociar com aquele anão de bosta. E se tem uma coisa que eu não faço, é cometer o mesmo erro de novo.

Ochako refletiu sobre o quanto aquelas palavras pareciam equivocadas, mas apenas aceitou, deixando ele seguir com o pequeno discurso.

— Eu vou vender você pra um cara que é eu acho menos bosta que ele. Se você for esperta, fizer amizade com as pessoas certas, vai ter uma vida boa. 

— Então você acha que passar o resto da minha vida sendo propriedade de alguém é uma boa vida? - ela respondeu sarcástica, fazendo a veia do ódio de Bakugou, que até então estava domada, pulsar em sua testa.

— E o que mais você espera??? Que eu te consiga um dragão para você sair voando por aí???? 

— Não!! Só quero que você me ajude a voltar pra MINHA casa!!! 

— Ah, vai à merda. Devia ter me livrado de você há muito tempo já. 

— Devia mesmo! Você fica aí bancando o machão, mas se não se importasse mesmo tinha me largado em qualquer lugar!

— Se é isso que você quer, eu te arremesso daqui de cima agora mesmo!! 

— Eu quero que você seja honesto, esqueça dessa merda de moedas de ouro que você claramente não precisa e me ajude de verdade. 

— Vai sonhando, ô redonda! Você não decide nada por aqui. Até eu te vender pro cara lá, você é minha propriedade e eu que decido o que faço com você. - ele disse se virando de costas voltando pro lugar em que ficava sempre. - Agora cala a boca se não quiser que eu te amarre de volta. 

Era inútil discutir com aquele estúpido. Era melhor gastar seu cérebro pensando em como poderia voltar para o seu mundo. Talvez esse sujeito do sul fosse uma pessoa melhor mesmo, ou quem sabe ela fizesse de fato amizades melhores que a ajudassem. 

Pelo que Bakugou tinha dito, magia era algo que existia naquele universo, então talvez ela precisasse achar alguém que fizesse uma mágica para ela voltar. Uma bruxa, um feiticeiro? Será que precisaria pagar alguma coisa? Precisaria conseguir algumas moedas?

A falta de informações sobre como as coisas funcionavam naquele mundo a frustrava muito. Se Bakugou ainda fosse uma pessoa agradável poderia lhe explicar mais sobre o lugar que estavam indo, mas o bárbaro só servia para gritar e xingar. Não entendia como um dragão tão bonzinho obedecia um cara tão escroto. 

Voaram sem parar até o anoitecer. Chegaram até o litoral, onde o mar se estendia até o horizonte com ondas calmas chegando às areias, cobertas de grandes rochas. A mata fechada fazia divisa com a orla. 

O vento frio na beira mar era de rachar, por tanto Kirishima se deitou perto deles fazendo uma barreira e bloqueando o vento gélido. Fizeram uma fogueira e comeram as sobras do alce da noite anterior, em silêncio. 

Uraraka não tentou puxar nenhum assunto, e Bakugou apenas a observou comendo a carne, certamente a julgando por suas escolhas gastronômicas como sempre. Kirishima fez uns grunhidos incompreensíveis e o loiro apenas o mandou calar a boca. 

Na manhã seguinte Ochako acordou com o sol batendo no rosto. Mesmo de dia ainda estava friozinho e ela agradecia por Bakugou não ter pedido a capa de volta. Suspirou derrotada pensando que seria mais um dia exaustivo, cheio de brigas e total desrespeito pela sua própria existência. 

Mesmo desanimada, o sol da manhã possibilitou que ela visse com clareza como era bonito o local em que estavam. Apesar das muitas pedras, as ondas eram muito calmas e a praia tinha bastante espaço.

Se estivesse no seu universo, certamente aquele seria um local muito turístico. As pessoas estariam tomando sol e se divertindo. A saudade de sua família e amigos apertou no peito, mas logo os gritos do bárbaro a tiraram dos pensamentos reflexivos. 

— PORRA Kirishima! Você está assustando os peixes, caralho!!! 

Bakugou estava sem suas botas, com as calças puxadas pra cima, água até os joelhos tentando pegar alguma coisa com uma lança curta. O dragão estava mais para dentro da água, e toda vez que se mexia causava ondas e molhava mais o loiro. Por fim ele arremessou a lança na cara do dragão, que mais parecia um palito de dente pra ele. 

O objeto bateu nas escamas duras e caiu na água do mar. O dragão começou a chacoalhar fazendo ondas propositalmente pro humano não conseguir pegar o objeto de volta.

A cena era no mínimo engraçada e acabou distraindo a jovem dos pensamentos tristes. Observou como os dois interagiram entre brincadeiras e xingamentos e entendeu o porquê do dragão muito maior e mais forte obedecer o loiro. Eles eram amigos. Bakugou não o tratava como propriedade dele, ou como alguma coisa que trocaria por meia dúzia de moedas.

Depois de muita gritaria e ficar completamente molhado, Bakugou voltou para perto dela com Kirishima logo atrás. Os dois pareciam croquetes cobertos de areia. Não era como se tivessem roupas limpas pra trocar ou um chuveiro para se limpar. 

— Parabéns, agora os dois vão ficar cheios de areia até o fim dos tempos. - ela comentou debochando. 

Bakugou não respondeu nada, apenas olhou para o dragão. Uraraka não gostou nenhum pouco do brilho e expressão que ela conseguiu ler nos olhos do réptil, e gostou menos ainda quando viu o mesmo brilho maníaco nos olhos do bárbaro. 

Num rápido clique ela entendeu e se pôs a correr desesperadamente. Kirishima rugiu alto e Bakugou a alcançou em não mais que cinco passadas. Ele a pegou e levantou pra cima como um troféu enquanto ela gritava desesperada.

— Não faça isso, Bakugou!! Eu juro que vou acabar com você e-

Ploft!

Ela sentiu a água morna do mar molhar até seus ossos instantaneamente. Se levantou com a água na cintura pra ver o loiro e o dragão rindo dela. 

— Não tem nada de engraçado seus trouxas!!!!! 

— Ela parece um morango irritado. Redondo e vermelho hahahahaha! 

— Redondo você vai ficar depois que eu acabar com você!!!

A correria foi generalizada, pela água e areia. Quando menos esperavam Kirishima ainda derrubava ou arremessava um deles pra cima com seu rabo. Em pouco tempo estavam os dois humanos cansados de correr e de tentar se afogar, cheios de areia por todos os lados. Uraraka sentia os cabelos duros, as meias ensopadas e até a calcinha cheia de areia. O que ela não daria por um banho quente e roupas limpas. 

— E agora, qual a próxima idéia brilhante? - ela perguntou.

— Você vai ver. - Bakugou disse se levantando e indo recolher as coisas do mini acampamento. 

Ochako suspirou derrotada. Já tinha areia por toda sua roupa íntima, o que poderia ficar pior? 

Ela voltou para o acampamento e sentiu logo o estranho silêncio entre o loiro e o dragão que aguardava Bakugou prender as coisas na cela pacientemente. Não era aquele silêncio que ela estava acostumada de quando brigavam, ou voavam. Era um silêncio suspeito. 

Katsuki guardou tudo em uma espécie de mochila grande que tinha na cela, inclusive a capa e as botas. Aquilo definitivamente não era normal. Ele a ergueu para subir na sela como sempre, mas ao invés de passar a ignorar a existência dela, ele a colocou de pé no lugar dele, onde ele “pilotava” o dragão. 

— Segure aqui e não solte por nada. - ele disse indicando os chifres do dragão.

Ela segurou como ele explicou já se sentindo nervosa por não saber o que diabos iria acontecer. Bakugou ficou atrás dela também de pé, segurando nos mesmos chifres, por cima da mão dela. 

Ela não conseguiu evitar de se sentir minúscula. Encapsulada entre o corpo e os braços dele, ela sentiu o rosto ficar vermelho, e dessa vez não era de raiva. Mesmo molhada ela sentia a temperatura começar a subir. 

Logo Kirishima se movimentou e alçou vôo. Ochako sentiu as pernas fracas para mantê-la de pé, mas ficou firmemente apoiada pelo loiro. Diferente do que ela esperava, o dragão tomou direção do mar aberto.

Ele fez uma volta e começou a descer, perigosamente na direção da água.

— Não, não, não, NÃAAAAO Vocês estão malucos?!?!?!!!!

— HAHAHAHA Segura firme, e fecha a boca!!!

Foi questão de instantes para o dragão mergulhar de cabeça na água. O impacto foi assustador. Antes que pudesse processar a adrenalina que corria desesperadamente pelo seu corpo, o dragão já tinha emergido e alçado vôo de novo. 

— UHUUUUUUUUUUUUUU! 

Bakugou ria e gritava como se fosse o rei do mundo. O dragão batia as asas forte expulsando a água das escamas e aumentando a velocidade. Quando finalmente conseguiu processar exatamente o que aconteceu, ela sentiu que não tinha mais areia em lugar nenhum, e toda a água já estava praticamente seca pelo vento. 

— Isso foi incrível, Kirishima!!!! - Bakugou gritava feliz - Fazia tempo que a gente não vinha pro mar, né!! Ta viva, cara redonda? Quer dar mais um mergulho? 

— NÃO. - ela disse desesperada - Quer dizer, sim estou viva, mas não, não quero. Você podia ter me avisado!!! 

— Que graça teria daí? 

Bakugou ajudou ela a voltar pro cantinho dela da cela e alcançou a capa pra ela que, assim como o resto da bagagem, nem tinha se molhado. Ela se aconchegou no tecido vermelho já sentindo o frio tomar conta do corpo, mesmo que seu coração nem tivesse voltado a bater no ritmo normal.    

Observou Katsuki gritar e comemorar o mergulho com o dragão em pleno vôo sem nem usar sapatos, sem dever nada a ninguém. Livre. Ela sorriu um pouquinho olhando pra ele. Será que um dia ela conseguiria gritar assim também, a todo pulmão, como se fosse dona da própria vida?


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Notas finais do capítulo

Espero que não tenham desenvolvido cáries com a doçura desse cap!! Como sempre, vou adorar saber o que acharam nos comentários ;) Beijos e obrigada por acompanharem!!!

Próximo capítulo: "Eu mesmo me anuncio"



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