Impossível escrita por kjuzera


Capítulo 15
"BUM! Liberdade."




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O sol nasceu e com ele as tradicionais batidas na porta. Mas, dessa vez, Uraraka já estava pronta. Não voltaria para o quarto ou ficaria sem escolta até a noite, então tratou de amarrar bem a granada mágica e o anel em um pano. As túnicas que ela vestia ali não permitiam muito como esconder nada, então ela precisou dar um jeito de acomodar os objetos entre os seios. Queria um espelho para ter certeza que não dava para perceber os objetos, mas infelizmente a tecnologia ainda não tinha sido inventada naquele universo.

Abriu a porta e cumprimentou o guarda que esperava para escoltá-la até a sala do feiticeiro. Precisava manter a calma, e fazer o que ela fazia todos os dias. Tudo igual como sempre. Hawks não perceberia nada e à tarde ela escolheria o melhor momento. Tudo daria certo. O plano era simples, poderia explodir tudo quando ele fosse tentar o feitiço pela milionésima vez, seria fácil. Ele estaria distraído o suficiente. E BUM! Liberdade. 

O soldado abriu a porta pra ela ao chegarem na sala, fechando logo em seguida depois que ela entrou. Hawks já estava na mesa dele, seus olhos de rapina prontamente se ergueram por trás dos óculos estranhos quando ela entrou na sala e assumiu o lugar dela na mesa de estudos silenciosamente. 

Baixou a cabeça abrindo um livro qualquer, mas sentia que o olhar do feiticeiro não saía dela. Quando ele se levantou e começou a vir na direção dela, sua tensão triplicou. O que ele queria? Porque tinha se levantado? 

Hawks, sem pressa, se aproximou da mesa dela. Ela ergueu a cabeça o olhando, instintivamente cobrindo os objetos escondidos em seu peito com o braço. 

— O que foi? - ela conseguiu dizer incomodada pelo silêncio e proximidade.

Reparou nos ângulos acentuados dos olhos dele por trás da lente que cobria quase que a metade do seu rosto. O sorriso sarcástico não se desfez. 

— Você não consegue se comportar mesmo. 

Antes que Uraraka pudesse reagir, ela sentiu a mão forte do feiticeiro a segurar pelos cabelos. Ela gritou pela dor aguda no seu escalpo, enquanto tentava inutilmente livrar as madeixas. Sem hesitar, ele enfiou a outra mão entre seus seios e pegou o embrulho de tecido.

— Não….! - ela gritava indefesa. 

— Ora, ora, onde a senhorita conseguiu artefatos tão especiais?

Hawks olhava os objetos com curiosidade, sem soltar os cabelos de Uraraka. O plano deles falhou antes de sequer ter começado. Sua única esperança estava sendo tirada dela com uma facilidade ridícula. 

Sentiu sua raiva crescer, a dor a impedindo de pensar direito. Não podia deixar todo o esforço deles ser em vão por ser tão fraca! Não podia. Simplesmente não deixaria Hawks arruinar seus planos, de novo não! 

Numa atitude desesperada e impensada, mesmo que seus cabelos ainda estivessem presos no punho imperdoável do feiticeiro, Uraraka esticou a mão na direção dele e se concentrou na projeção da mão espectral que tinha treinado tantas vezes.

Hawks não esperava por uma reação da parte dela. Apertou com mais firmeza a mão que segurava a granada e com a outra puxou Uraraka pelos cabelos e a jogou na direção da parede. Ela caiu no chão mas não perdeu a concentração na magia que fazia. Aquela era a única chance que a garota do ensino médio do Japão teria contra o feiticeiro real e ela não iria desperdiçá-la.

Ergueu a cabeça para encarar o homem a apenas alguns passos dela, e já estava feito.

Hawks ouviu o clique da granada em sua mão, para em seguida acompanhar o dissolvimento da mão espectral que a tinha ativado. Ela conseguiu apenas ver a expressão do feiticeiro se contorcer de ódio, antes de tudo ir pelos ares. 



*~*~*~*~*



Shouto e Izuku estavam nos aposentos do príncipe arrumando uma pequena bagagem com os itens que o escudeiro precisaria de tarde, para a fuga com Ochako. Os dois estavam apreensivos mas confiantes de que tudo daria certo. 

A confiança, entretanto, ficou bem abalada quando ouviram uma grande explosão. 

— É cedo ainda!! - Izuku disse surpreso.

— Vá pegá-la, eu vou para a biblioteca.

Midoriya concordou, fechando a bagagem com o que já estava dentro. Os dois saíram correndo dos aposentos, os soldados reais confusos com a explosão mas invariavelmente seguindo atrás do príncipe.

Deku correu o mais rápido que pôde. Quando chegou no andar onde ficava a sala de Hawks, encontrou um imenso caos. Tinha muito pó e fumaça no ar, gente correndo para todos os lados e nem sinal de Uraraka. 

Seguiu pelo corredor principal até onde já conseguia ver a sala de Hawks. Tanto a porta como a parede da sala estavam destruídas e ele podia ver fogo lá dentro apesar da cortina de poeira. Ochako deveria estar por ali para fugirem, mas ele só conseguia ver fogo, fumaça, entulho e poeira.

Talvez ela não tivesse conseguido sair da sala. Talvez Hawks a tivesse impedido. Olhou para a sala destruída de novo a tempo de perceber novas pequenas explosões e estampidos. O horrível cheiro de queimado e um lampejo de fogo azul alertaram Deku sobre o que se passava na sala. 

Hawks mantinha ali diversos ingredientes e elementos para feitiços e poções. Tudo aquilo estava pegando fogo e reagindo de maneira aleatória e perigosa. Poderia, a qualquer momento, explodir de novo ou até mesmo liberar algum tipo de veneno no ar. 

Uraraka só podia estar lá dentro. Algo tinha dado errado e ela não tinha conseguido sair. Mais um lampejo azul e o barulho de entulho caindo eram uma clara advertência para Izuku ficar longe. Ninguém em sã consciência entraria naquela sala. 

Por mais que soubesse claramente o risco que corria, algo moveu as pernas do escudeiro. Ele precisava salvá-la, não podia deixá-la pra trás. Ele era a única esperança dela. 

Tapou o nariz com a camisa e correu, desviando de entulhos e destroços pegando fogo. Dentro da sala, como ele imaginava, o caos estava instaurado. A parede externa da sala também tinha sido danificada, abrindo um buraco para a rua. O vento parecia colaborar para o fogo queimar forte os móveis já estilhaçados e a grande quantidade de papéis e livros espalhados. 

Olhou para sua direita e, em meio a vários destroços, viu Ochako caída no chão, desacordada. Prontamente retirou uma tábua de cima dela, bem como outros objetos e tentou levantá-la. 

Alguns passos mais pra frente, alguém saía lentamente debaixo de outra grande tábua, que parecia ter sido uma mesa algum dia. 

Conforme Hawks se levantava em meio aos destroços, Izuku pôde ver que os óculos extravagantes tinham quebrado no rosto do feiticeiro, que parte dos cabelos longos tinha sido queimada e que agora as vestes elegantes eram apenas farrapos.

Ele estava curvado e olhando para baixo, como se segurasse alguma coisa entre as mãos. Izuku precisava sair dali. Segurou Uraraka da melhor maneira que conseguiu e a levantou do chão. 

Parou e olhou para trás quando Hawks gritou muito alto. Não era um grito de raiva e sim de dor. Viu que o feiticeiro não segurava nada nas mãos, e sim o próprio braço esquerdo terrivelmente ferido. Abaixo do cotovelo o membro contava apenas com pedaços irregulares de carne e pele laceradas pela explosão da bomba. 

O sofrimento que estava claramente estampado no rosto do feiticeiro logo foi se transfigurando em raiva. Ainda em choque, Izuku viu o mago fazer um movimento rápido com a mão direita, e todo o ar da sala pareceu rapidamente sumir pela palma da mão dele, o fogo rapidamente se extinguindo. 

Izuku precisava sair dali. 

Quando os olhos de rapina do feiticeiro encontraram os dele, ele soube que nunca mais poderia pisar naquele castelo. Pensou em Shouto, em como talvez estivesse a um passo de não ser mais seu escudeiro e toda a distância que aquilo implicaria entre eles. Mas ele precisava impedir uma guerra, salvar vidas, e isso era muito maior do que a felicidade deles dois. Segurou Ochako com toda força que tinha e se colocou a correr. 

 

 

*~*~*~*~*



Shouto chegou na biblioteca correndo na direção contrária de todo mundo. Soldados estavam orientando um grupo de civis para fora e o tentaram impedir de entrar, mas ele os ignorou e seguiu. 

Como ele temia, o estrago na biblioteca era mínimo. A sala de Hawks ficava em cima da biblioteca, quase como um mezanino fechado. Apesar da parede externa dela ter ruído, as paredes internas não tinham sido afetadas. 

O único real estrago que se percebia era na porta que fazia a ligação discreta entre a sala do feiticeiro e a biblioteca. Os estilhaços de madeira tinham voado junto com alguns entulhos para baixo da escada e perto das estantes. 

Pelo entrada, Shouto conseguia ver que a situação na sala do feiticeiro não era tão boa quanto ali. Estava claramente em chamas e com eventuais lampejos azuis. Ele precisava agir muito rápido. 

Era realmente uma pena destruir todo aquele conhecimento, mas era melhor apagá-lo que deixar nas mãos erradas. Fez uma chama nascer de sua mão esquerda e tocou alguns livros na estante bem próxima do pequeno estrago. 

Correu tocando os livros dali até a sessão de magias mais avançadas, causando um rastro de fogo que rapidamente se alastrava pelos papéis antigos. Depois correu de volta para a entrada onde uma comitiva de soldados já vinha atrás dele.

— Está pegando fogo!! Vão buscar água!! - Ele ordenou fazendo os soldados voltarem correndo. 

Um dos soldados da sua comitiva pessoal ficou, dizendo que precisava escoltá-lo para um local seguro. Ele concordou mas antes fez questão de se certificar de usarem todos os soldados disponíveis para conter as chamas. Proteger a biblioteca era prioridade. 

Em pouco tempo havia quase um exército de homens correndo tentando conter o fogo que se alastrava rápido. Shouto e seu guarda foram se afastando para a ala privativa do castelo. 

Com aquela distração, Izuku conseguiria sair do castelo com a garota sem ser visto ou perseguido. Apesar do improviso, o plano iria dar certo. 

 

*~*~*~*~*



Izuku correu, talvez como nunca tivesse corrido antes. Ochako não era pesada mas depois do segundo lance de escadas já era difícil. Precisava continuar, precisava sair do castelo. A vida da garota estava, literalmente, nas mãos dele.

Passou pelo andar do acesso principal a biblioteca e, como esperava, estava uma confusão. Todos os soldados estavam empenhados em conter o incêndio e nem deram importância para ele descendo as escadas. 

Chegando nos andares de baixo foi direto para a área de trabalho onde vários serviçais já falavam sobre incêndio e explosão sem entender o que se passava. Ele se esgueirou por uma saída lateral que levava diretamente aos estábulos do castelo. Sem saber qual era a gravidade dos ferimentos de Uraraka, ele cuidadosamente a depositou em um grande monte de feno.

Tentando recuperar o fôlego, Izuku percebeu a adrenalina finalmente baixando. Estavam escondidos ali, e ele conseguia ver a fumaça saindo escura de uma das janelas da biblioteca. Certamente Shouto tinha conseguido fazer a distração e destruído livros importantes no processo.

Conferiu que ninguém os tinha seguido, nem mesmo Hawks, o que era um ótimo sinal. Por outro lado, ele tinha certeza que o feiticeiro o tinha visto fugir com Uraraka, o que significava que ele certamente seria incluído na vasta lista de inimigos do reino condenados à guilhotina. 

Coincidência ou não, ele estava indo levar Uraraka justamente para o grupo que se dedicava a ajudar pessoas naquela situação, provavelmente já ficaria por lá também. Com seu novo status de foragido, encontrar Shouto de novo seria muito difícil. Talvez, inclusive, hoje tenha sido o último dia em que puderam conversar propriamente. Eles nem tiveram a chance de se despedir! Izuku não tinha se preparado para aquilo.  

Ao seu lado, Uraraka gemeu levando a mão à cabeça, finalmente acordando e puxando-o de volta para a realidade. Agora não era a hora, ainda não estavam a salvo, precisavam sair do castelo o quanto antes. 

A cabeça de Ochako estava latejando, seus ouvidos zuniam muito alto. Ela estava desorientada e dolorida. Reconheceu Izuku que prontamente a ajudou a se sentar.

— Como você está se sentindo? - ele perguntou preocupado.

Ainda confusa, ela disse que tudo doía um pouco, principalmente a cabeça. Ela tinha alguns cortes nos braços e pernas, mas pelo que verificaram nenhum era muito profundo. Midoriya abriu a pequena bolsa de viagem e tirou um frasco de poção para ela tomar.

— Você consegue lembrar o que aconteceu? Porque não esperou o horário que combinamos? 

— No momento que eu entrei na sala, ele soube de tudo, Midoriya. - ela respondeu pegando o frasco e tomando, sem questionar. - Ele pegou a bomba e o anel que eu tinha escondido… Não sei como, mas ele soube na mesma hora. Eu achei que tudo estava perdido. 

— Mas você conseguiu e agora nós já estamos fora. - Izuku disse puxando da bolsa duas capas marrons com capuz. - Vista isso pra gente sair da cidade. Precisamos aproveitar enquanto todos estão distraídos com o incêndio. 

Uraraka sentiu o zunido nos ouvidos diminuir bastante depois de tomar a poção, permitindo que ela se sentisse bem o suficiente para ficar de pé e vestir a capa. 

Um rapaz mais ou menos da idade deles surgiu conduzindo um cavalo já pronto para montaria. Apesar de grande, o rapaz mantinha os ombros retraídos, curvado. 

— Obrigado, Koda. - Izuku agradeceu tomando as rédeas do cavalo e prendendo sua bolsa na sela - Se perguntarem, você pode dizer que eu te ameacei e roubamos o cavalo, não vai fazer diferença.

Koda apenas concordou com a cabeça, se voltando para o cavalo e acariciando sua crina. Izuku montou no cavalo e Koda prontamente auxiliou Uraraka a subir atrás dele. 

— Se cuida, Koda. - Izuku disse em tom de despedida, fazendo o outro rapaz sorrir um tanto triste. - Cuide do Príncipe Shouto pra mim, sim? 

Koda concordou totalmente inseguro daquela missão e ficou acenando quando Midoriya atiçou o cavalo para que andasse. 

— Você viu o que aconteceu com ele? Com Hawks? - Uraraka perguntou sem ter certeza se queria saber a resposta. 

— Eu não fiquei pra ver exatamente, mas você fez um bom estrago nele. - ele disse tentando parecer contente. - Certeza que não o paramos, mas acho que teremos o tempo necessário para nos reorganizar. 

Uraraka ainda não sabia o que pensar, não tinha certeza se a missão tinha sido um sucesso ou não, e o semblante de Izuku não estava nem um pouco feliz. Ele rapidamente guiou o cavalo para as ruas da cidade, se afastando do castelo.

— E o Príncipe Shouto? - Uraraka perguntou depois de perceber que o escudeiro estava estranhamente calado e sério para os seus padrões.

— Ele é o Príncipe herdeiro. Ele vai ficar bem.


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Notas finais do capítulo

Próximo capítulo: "Não importa o cavalo, Bakugou."
Sábado, 11 de Julho ;)



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