Tr3s escrita por Temy


Capítulo 3
Os Três Porquês


Notas iniciais do capítulo

Último capítulo



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Os Três Porquês

***SAUDADE***

Os cabelos rosados estavam espalhados sobre o travesseiro de fronha branca, uma de suas pernas estava caída ao lado da cama balançando preguiçosamente enquanto a maior parte de seu corpo estava desleixadamente jogada sobre a cama. Os olhos verdes vidrados na tela do celular.

Foi então que a porta do seu quarto abriu e ela rapidamente se colocou sentada e bloqueou o celular jogando na cama.

Ino encarou a amiga sentada na cama com o olhar desconfiado e então fechou a porta.

— O que você estava fazendo? – Perguntou se aproximando da amiga e sentando-se na sua cama que ficava de frente para a da moça.

Sakura deu de ombros.

— Nada, só descansando um pouco antes da prova.

— Nada? – Ino observou a amiga assentir. – Então se eu debloquear seu celular agora eu não vou ver a foto que você tem encarado frequentemente há mais de mês.

Sakura não se deu ao trabalho de responder, apenas voltou a pegar o celular e se jogar na cama novamente. Já Ino levou a mão ao rosto para massagear a testa.

— Sakura... Eu sei que isso é difícil, mas você tem que parar com isso amiga, é sério. Você está se torturando.

— Eu sei, mas eu não consigo evitar.

— Eu sei como você pode evitar. – Sakura encarou os olhos azuis da loira. – Exclui essa foto.

— Isso não é uma opção. Você sabe disso. Essa é a única foto que eu tenho dele.

— Amiga, ele disse com todas as letras que não quer nada com você.

— Mesmo assim, ele foi uma pessoa importante para mim, foi meu amigo. Não vou excluir a única foto que tenho com ele.

Ino suspirou alto e foi até Sakura fazendo um gesto para que ela se afastasse e a deixasse deitar ao seu lado. Se acomodando de forma a confortar a amiga, a loira também se colocou a observar a foto.

— Afinal, o que tem de tão especial nessa foto? Tá até desfocada.

Realmente não havia nada muito especial na foto do ponto de vista de Ino que tinha feito até ensaio fotográfico com o namorado. Sasuke estava de perfil, enquanto Sakura tinha um braço em volta do pescoço dele em uma tentativa de mantê-lo parado e próximo dela para que ela pudesse registrar o momento, enquanto ele claramente não queria estar na foto, os dois estavam em movimento e por isso a qualidade da foto tinha ficado ruim, além de ser uma selfie tirada do celular da Haruno e ela nunca foi muito boa em tirar fotos.

A foto em si não era muito especial, mas levava Sakura para uma memória bastante especial de aproximadamente dois meses e meio atrás...

*

Como em muitos dias anteriores, a Haruno esperou pelo Uchiha depois do estágio para que eles fossem a biblioteca estudar. Quando chegaram a biblioteca, escolheram uma entre as mesas longas e normalmente Sakura sentava-se de frente para Sasuke, mas hoje havia decidido se sentar ao lado dele.

Era engraçado como ela se sentia nervosa de fazer a mais simples das escolhas desde que envolvesse Sasuke de alguma forma. Sakura não havia demorado a notar o quanto o Uchiha era observador, além de ter uma memória de dar inveja a qualquer um, por isso ela o observou o mais atenta que pôde pelo canto do olho enquanto abria seus livros logo após sentar-se. Ele a olhou brevemente, mas logo começou seus estudos.

Sakura sentiu-se decepcionada e ao mesmo tempo aliviada. Talvez ela quisesse que ele comentasse algo, mas ao mesmo tempo não se sentia confortável para justificar o porquê de sua escolha de lugar.

Abriu seu livro de medicina emergencial e começou a ler a matéria que precisava estudar, mas sua concentração estava longe de ser nos estudos, a todo momento ela parava a leitura para observar Sasuke pelo canto dos olhos.

Ele lia em uma velocidade absurda para completar o quadro do aluno perfeito que ele tinha. Naruto havia lhe informado que ele estava entre os melhores alunos da turma, além de estagiar com o melhor advogado do estado da Pensilvânia e o pouco que ele deixava a desejar em notas, ele compensava com prática. Era apenas natural que ele estudasse tanto, mas mesmo assim, Sasuke vivia uma rotina absurda, ele praticamente não tinha lazer algum enquanto estava tendo aulas, sua vida girava entre a universidade e o trabalho e isso incomodava Sakura.

Enquanto pensava sobre a vida do amigo, começou a bater a caneta sobre o livro levemente encarando o nada a sua frente. Ela não havia percebido que esse gesto atraiu a atenção de moreno que agora a observava levemente deliciado com o delicado bico que ela tinha nos lábios, ele reconheceu o gesto como algo comum quando Sakura estava aérea e os olhos verdes distantes apenas confirmavam isso.

Sasuke aproximou-se silenciosamente e falou próximo a orelha dela.

— Tá tudo bem?

Sakura pulou de susto na cadeira e sentiu seu rosto queimar quando percebeu que tinha arrepiado do pescoço até seu antebraço. Ela sabia muito bem que isso não havia passado despercebido por Sasuke.

— Sim. – Respondeu em mesmo tom que ele passando a mão em seu próprio pescoço para acalmar seus pelos.

A tolerância para conversas na biblioteca da universidade era zero e por isso eles tinham que praticamente sussurrar para se comunicarem lá dentro.

— Você parece distraída. – Sasuke comentou se distanciando um pouco. – Talvez seja melhor você ir para casa descansar, melhor do que ficar aqui e não render nada, apenas gerar cansaço.

— Não, não, estou bem.

Sasuke a encarou por poucos segundos antes de desistir de contra argumentar e voltar a seus estudos.

Sakura queria ir embora, ela sabia muito bem que seus estudos ali não seriam muito produtivos, mas ao mesmo tempo ela sabia que Sasuke não sairia dali pelo menos pelas próximas duas horas e se ela quisesse ir embora teria que ir sozinha. Além disso, aquele era um dos poucos momentos que ela tinha para passar com ele e Sakura considerava esses momentos muito importantes.

Não era a primeira vez que ela se apaixonava e por isso ela sabia muito bem como estavam seus sentimentos em relação a ele, talvez tivesse levado algum tempo para que ela resolvesse admitir a si mesma a condição, mas seu sonho da noite passada que a fez acordar suada e com o corpo quente não a deixou negar mais. Sakura sabia que estava apaixonada por Sasuke tão bem quanto sabia indicar os cinco sinais cardeais da inflamação.

Afinal ela não conseguia parar de pensar nele e ansiava por cada momento que passariam juntos, isso para não falar nas borboletas que resolviam se bater umas contra as outras em sua barriga em cada uma das vezes que ele dava um de seus raros sorrisos de verdade.

Sakura olhou para o rapaz ao seu lado, mais uma vez concentrado nos estudos. Observou os cabelos negros caírem sobre o rosto que ela tanto adorava e contrastarem com sua pele tão clara.

As borboletas idiotas nem eram um problema tão grande quando comparadas a sua imaginação fértil que por vezes se descontrolava e seguia para caminhos perigosos ainda que ele estivesse bem ali na sua frente. E agora mesmo isso estava acontecendo, enquanto ele estudava como ela também deveria fazer, Sakura só conseguia pensar em empurrar todos aqueles livros e se jogar sobre ele, beijando-o até que ele não conseguisse mais sequer lembrar que eles estavam em uma biblioteca e então eles se livrariam de todas aquelas roupas e...

— Sakura.

Sakura acordou de seu transe e sentiu seu rosto ainda mais vermelho ao notar que ela estava com o rosto apoiado em sua mão esquerda enquanto observava o Uchiha sem o menor pudor imaginando eles dois transando em cima daquela mesa. Os olhos negros estavam completamente vidrados nela.

— Oi.

— Eu perguntei se você tem certeza que está bem.

— Estou. – Disse sorrindo para disfarçar. – Pensamentos demais, só isso.

E então ela tratou de se concentrar nos livros que tinha a sua frente, mas desistiu da leitura e puxou uma folha de atividades para direcionar suas energias de forma mais eficiente.

Começou a ler as questões e respondeu uma pergunta antes de notar que seu braço sobre a mesa estava muito próximo do dele. Foi o que bastou para a sua concentração no exercício ir para o espaço. Embora ambos usassem blusas de manga, Sakura aproximou timidamente seu braço até que os dois tivessem se encostando. Ao contrário do que normalmente acontecia quando ela encostava nele daquela forma, Sasuke não afastou, deixou que o toque continuasse.

Sakura sempre tentava achar desculpas para encostar em Sasuke, sempre o abraçando, mexendo em seu cabelo e sentando desnecessariamente perto para que sua perna encostasse na dele. Ela havia percebido rapidamente que ele evitava ao máximo contato físico com qualquer pessoa que fosse incluindo ela, mas ele a tolerava e ela sabia que ele tinha bastante consciência dessas iniciativas, mas sua cabeça lhe proibia de pensar sobre as opiniões dele sobre essa situação. Também não tinha muito porquê ficar a pensar sobre isso, se ele realmente destetasse já teria feito algo sobre, mas ao invés disso, permitia que ela encostasse nele vez ou outra, como agora.

E assim, Sakura finalmente conseguiu se concentrar no exercício e respondeu mais duas questões antes de notar que já estava tarde e ela estava cansada de raciocinar. Sasuke parecia compartilhar do sentimento, pois logo a chamou para ir embora.

Os dois saíram da biblioteca em silêncio, normalmente Sakura se daria ao trabalho de puxar um assunto, mas no momento ela sentia-se envergonhada demais para isso, afinal eles nunca tinham passado tanto tempo encostando um no outro. Quando percebeu que ele ia para o carro e que era ali que eles se separariam, a Haruno também percebeu que não queria dar tchau a ele ainda.

E ela já estava a tanto tempo esperando que algo a mais acontecesse entre eles, mas Sasuke não demonstrava a menor intenção de criar esse algo a mais. Foi então que lhe ocorreu, por que ela deveria esperar por ele? Ela não precisava disso, ela podia muito bem fazer algo sobre, só precisava de mais um pouco de incentivo e ela acharia esse incentivo.

— Sasuke! – Chamou sorrindo. – Eu sei que já está tarde e que você provavelmente está cansado... – começou incerta – mas o que acha de comermos uma pizza?

O moreno olhou no relógio confuso.

— Faz duas horas desde que jantamos.

Talvez para alguém que não conhecesse Sasuke, isso soasse como uma recusa, mas Sakura sabia que não era, pois esse era o tom que o Uchiha utilizava para dar uma informação ou apontar um fato.

— Eu sei, mas deu uma vontade de comer pizza.

Sasuke olhou para a menina sorrindo e suspirou.

— Tudo bem.

Sakura sorriu. Ele nunca dizia não para nada que ela pedisse.

— Yay. – Saltitou até o rapaz e agarrou o braço dele. – Muito obrigada.

Sasuke arregalou os olhos com o gesto da menina que o encarou com os olhos verdes brilhando.

— Vou só colocar as coisas no carro.

— Ok.

Sakura ficou na calçada, enquanto Sasuke foi até o carro e guardou a mochila. Quando o Uchiha retornou, ela estendeu a mão para ele e Sasuke encarou a mão estendido como uma criança assustada simplesmente sem saber o que fazer. Quando notou que estava demorando demais para tomar uma decisão e deixando a situação ainda mais estranha segurou a mão. Para o desespero do moreno, ela não tinha estendido a mão para puxá-lo e sim para segurar sua mão. Sasuke sequer prestou atenção no caminho que faziam, só conseguia pensar na mão quente que segurava a sua.

Enquanto ele nem conseguia pensar direito, Sakura tinha a cabeça leve como se tivesse descansado o dia inteiro. Sasuke sempre causava isso nela nos poucos momentos em que se tocavam e isso era bem problemático, pois ele jamais iniciou um contato com ela. Ele nunca sequer fez a menção de se aproximar dela. Não desde seu aniversário.

Mas ela segurar a mão dele a caminho da pizzaria não foi uma reação automática como seria se ela estivesse com Ino ou Naruto, havia sido uma decisão pensada, ela queria testar a reação dele, queria ver se ele aceitaria e se soltaria dela no caminho, o que para a felicidade de Sakura, ele não fez. Isso era definitivamente um incentivo.

Sakura o guiou para uma pizzaria italiana, onde eles pediram uma pizza de marguerita e esperaram por ela nas pequenas mesas redondas com tolhas xadrez branco com vermelho. Enquanto Sasuke observava o ambiente, Sakura observava ele.

Ela estava claramente apaixonada por ele, será que ele não via isso? Como ele poderia não ver? Estava bem óbvio, não? Quer dizer, ela não tinha dito abertamente, mas também não tinha tentado esconder. Sasuke reparava cada detalhe nas pessoas, deduzia coisas impossíveis apenas de observá-las rapidamente, como poderia não notar que a mulher com quem ele tomava café da manhã todos os dias estava caidinha por ele? Isso era impossível, ele sabia muito bem como ela se sentia, Sakura estava convencida disso.

Então por que ele não fazia nada? Na noite em que eles se conheceram, se Naruto não tivesse interrompido, ele a beijaria, então o problema definitivamente não era timidez. Será que ele não se sentia da mesma forma? Sasuke era uma pessoa bastante responsável afetivamente, por isso ele jamais ficaria com ela se ele não gostasse dela da mesma forma. Será que era por isso que ele não fazia nada?

Quando a pizza chegou, Sakura desistiu de pensar sobre isso e resolveu apenas aproveitar o momento e como sempre acontecia quando eles saiam juntos, Sakura puxou assunto enquanto Sasuke escutava atentamente ao que ela dizia, sem dizer muitas palavras, mas sempre respondendo a qualquer eventual pergunta que ela fizesse.

Após saírem da pizzaria, a Haruno notou já passar da meia noite e sentiu-se mal por ter atrapalhado horas do sono do Uchiha. Ela queria segurar a mão dele de novo, mas estava tão frio que ela tentava esconder suas mãos nos bolsos de suas calças, já que hoje ela usava um suéter sem bolsos. Mesmo assim, o frio era tanto que ela ainda tremia.

— Sakura. – Ela parou no mesmo lugar e olhou para o homem ao seu lado que a observava atentamente. – Você está sendo bem descuidada para uma futura médica. – Disse com um sorriso de canto se aproximando e fazendo o coração dela acelerar brutamente.

Então ele tirou o casaco que usava e colocou nela enquanto Sakura apenas observava o gesto encantada. Não era a primeira vez que ele fazia isso, mas dessa vez ele foi muito mais cuidadoso, observando se a peça de roupa havia caído corretamente sobre o corpo menor da mulher, além disso, ele mesmo fechou todos os botões e ao terminar sorriu colocando as mãos dentro dos bolsos do moletom que usava.

Ele voltou a andar e ela o seguiu, pouco depois alguns flocos de neve começaram a cair. Sem que trocassem nenhuma palavra, Sasuke fez o caminho para o prédio do dormitório de Sakura.

— Obrigada por me acompanhar até aqui. Quer seu casaco de volta?

— Eventualmente, agora não.

Ela ia lhe dizer boa noite quando viu a mão dele se aproximar e sacudir o cabelo dela retirando os flocos de neve assim como ela fez alguns dias atrás e para completar, ele finalizou o contato colocando uma mecha do cabelo rosado atrás da orelha dela.

— Boa noite, Sakura.

Sakura engoliu em seco para conseguir respondê-lo mesmo sobre a mira da escuridão intensa nos olhos de Sasuke.

— Boa noite, Sasuke.

Ao subir o primeiro degrau da escadaria que levaria a entrada do prédio, Sakura percebeu que queria uma memória física daquele dia, da primeira vez que ele iniciou, por nada além de sua própria vontade, um contato físico com ela e por isso ela correu na direção do rapaz que não estava muito longe puxando-o pelo braço.

— O que foi? – Ele perguntou assustado quando ela se grudou a ele com os olhos grande e brilhantes.

Sakura não respondeu, apenas puxou o celular fazendo um gesto rápido para abrir a câmera. Sasuke, ao perceber do que se tratava, logo tentou fugir da armadilha, mas não foi rápido o suficiente.

— Para que esse escândalo? Nem doeu... – Disse Sakura observando a foto borrada.

— Você não perguntou se podia. – Respondeu ajeitando o moletom amassado onde Sakura havia segurado.

A rosada observou o amigo que estava com uma expressão emburrada no mínimo icônica, nunca esperou que ele fosse agir daquela forma, mas não conseguia deixar de pensar que ele era uma graça e por isso caiu na risada.

— Do que você está rindo? – Perguntou Sasuke ainda irritado com as bochechas avermelhada de irritação.

*

Sakura suspirou e bloqueou o celular se aconchegando nos braços da amiga.

— Eu não achei que ia acabar dessa forma. É tão frustrante.

— Eu sei. – Disse a loira beijando os cabelos da amiga.

— Na última vez que nos falamos, ele se declarou para mim e se recusou a ficar comigo. Tem algum sentido nisso?

Ino suspirou.

— Bom, eu te conheço a quatro anos e ainda é difícil para mim acreditar que você não era apaixonada pelo Naruto, imagina ele que te conheceu no começo desse período. Para ser sincera, acho que ele agiu certo.

— Certo? Eu disse que estava apaixonada por ele, eu beijei ele e ele disse que não queria ficar comigo mesmo se sentido da mesma forma, como isso é estar certo?

— Ele estava se protegendo, você não pode culpá-lo por isso.

— Mas não tinha do que se proteger. Olha aí, Naruto está a dois meses namorando Hinata e sinceramente, eu não poderia me importar menos.

— Eu sei, mas não é o que ele acreditava e também não podemos culpá-lo por isso. – Sakura fez menção de protestar, mas Ino rapidamente a cortou. – Não podemos e ponto. Além disso, pelo que você disse, ele tinha muito com o que se preocupar.

— Não acredito que você está do lado dele. – Disse emburrada, mas apertou o abraço.

— Eu não estou do lado dele, mas você precisa saber que não teve ninguém errado nessa história. Às vezes as coisas simplesmente não dão certo e não é por culpa de alguém.

Sakura ficou em silêncio absorvendo as palavras e o consolo da amiga.

— Sakura? Sou eu, Naruto. – Disse o rapaz após bater na porta.

— Só um segundo. – Disse a menina se levantando e ajeitando a roupa amassada.

Alguns segundos depois, Sakura abriu a porta e o amigo a abraçou e entrou no quarto.

— O que faz aqui?

— Queria trocar umas palavras com você.

Sakura sabia muito bem do que se tratava e não estava muito afim de falar sobre isso logo depois de ter falado com Ino, mas ela não iria recusar uma conversa com Naruto, nunca o fez, ao menos que fosse muito necessário.

— Pode ficar à vontade, Naruto. Já tava de saída mesmo. – Disse Ino beijando a bochecha do loiro já com sua bolsa sobre o ombro e saindo do quarto em seguida.

Os dois sentaram-se lado a lado na cama da Haruno e Naruto logo pegou as mãos da amiga começando a massageá-las.

— Como você está?

— Bem. Melhor agora com a sua sagrada massagem.

Naruto sorriu.

— A pergunta é séria, Sakura.

Sakura soltou o ar pela boca parecendo cansada.

— Já estive melhor, mas não é o fim do mundo.

— Você realmente gostava tanto assim dele? – Perguntou aparentando preocupação e tristeza.

Os olhos verdes de Sakura se encontraram com os olhos azuis de Naruto e aquela comunicação foi mais esclarecedora do que qualquer palavra que ela pudesse dizer.

— O que você acha?

— Nunca imaginei que você gostasse tanto dele. – Disse Naruto. – Você nunca foi de gostar de meninos populares.

— Sasuke é popular?

— Claro. Você achou que só porque ele não gosta de pessoas por perto, ele ia deixar de ser alvo de comentários indecentes entre as mulheres... e homens? – Comentou com seu costumeiro sorriso.

— Nunca pensei sobre isso. Quão popular ele é?

— Bom, ele não é um Gaara da vida...

— Gaara é praticamente uma celebridade, Naruto.

— Mas ele é muito mais popular que eu.

— Sério?

— Com certeza. Mas eu não entendo. Se você gosta tanto assim dele, por que não tentou mais? Ele disse que gosta de você, não?

— Sim.

— Então...?

— Eu não sei. Acho que não quis ser um incomodo. Mesmo ele dizendo que gosta de mim, ele também disse que eu incomodo e ele está passando por algumas coisas bem complicadas...

— E não é nesse momento que ele mais vai precisar de você?

Sakura deu de ombros.

— Ele disse que tem a família dele, que não precisa de mim e que eu sou vou atrapalhar...

— E o que ele sabe? Ele só é um ano mais velho que a gente e mesmo os mais velhos erram.

Sakura piscou os olhos algumas vezes. Naruto estava certo, ela desistiu muito rápido quando ela não deveria ter desistido, Sasuke precisava dela, mais do que nunca, ele só não sabia disso porque ele era péssimo em interações sociais íntimas, como saberia?

— Não sei como não vi isso antes. – Disse puxando suas mãos do colo do amigo e passando em seus cabelos. – Eu preciso encontrar com ele, mas ele não vai me responder. Quando é sua próxima aula com ele?

— Eu só estava fazendo uma matéria com ele. Já encerrou.

Sakura sentiu sua esperança murchar. Ele nunca respondeu nenhuma das mensagens que ela mandou depois da última vez que se viram, também não atendeu nenhuma de suas ligações, ele nem sequer aparecia mais na cafeteria e ao perguntar por Itachi Uchiha no hospital soube que ele não estava mais se tratando lá e consequentemente Sasuke nunca mais foi lá.

— Eu nunca soube onde ele mora. Nunca vou conseguir falar com ele.

— Eu não tenho mais aulas com ele, mas eu sei que a formatura da próxima turma será daqui duas semanas e ele já está na lista. – Disse o Uzumaki sorrindo.

*

*

*

Sasuke olhou para seu reflexo no espelho. Seu cabelo estava grande e ele não se deu ao trabalho de cortar, mas não parecia muito ruim, embora frequentemente caísse sobre seu olho. Conferiu a manga do terno azul escuro que estava com o caimento perfeito, um presente de seus pais para esse dia especial que seria muito útil em sua vida profissional.

— Sasuke? – Perguntou sua mãe a porta. – Está pronto?

— Quase.

— Não demore ou vamos perder o horário.

— Tudo bem, só vou colocar a gravata.

— Ok, estamos esperando aqui em baixo.

Sasuke pegou a gravata em cima da cômoda e colocou ao redor do pescoço observando-se no espelho. Fez uma pequena careta ao notar que não gostou da combinação. Decidiu então pegar uma de suas gravatas no armário.

Abriu as portas do móvel e viu sobre a bancada o cachecol azul perfeitamente dobrado e guardado. Mesmo sabendo que sua família aguardava ansiosamente sua companhia, ele parou ali observando aquela pequena peça de vestuário e seguida a pegou aproximando de seu rosto. Fechou os olhos sentindo aquele perfume que ele tanto gostava que para sua felicidade e desespero ainda estava ali.

*

Naquele dia ele tinha acordado antes mesmo do despertador tocar e tinha usado o tempo extra para cuidar melhor de sua aparência. Escolheu cuidadosamente cada uma das peças de roupa que usava e conferiu duas vezes sua aparência no espelho antes de sair de casa.

Sasuke não tinha muitos motivos para estar contente, estava atolado de afazeres e a semana que vem com certeza seria o inferno considerando que teria prova de três matérias, mas ele estava tentando não pensar muito sobre isso, pois ainda tinha que lidar com a prova dessa semana. Mesmo assim, ele estava contente, quase saltitante, mas Sasuke não saltita. Sorriu para uma senhora de idade que entrava no prédio quando ele saia e Sasuke não sorria para estranhos.

Após estacionar o carro do outro lado da rua, Sasuke encarou a cafeteria com satisfação. Seu café estava próximo. O inverno estava cada vez mais próximo e os dias cada vez mais cinzas, mas mesmo assim, aquela manhã parecia iluminada. Ainda assim, Sasuke julgou ter subestimado o frio daquela manhã ao escolher suas roupas.

Atravessou a rua junto com os outros pedestres que aguardaram pelo sinal e se adiantou para fazer o pedido, já que tinha chegado vinte minutos mais cedo que o normal, imaginou que dessa vez teria chegado antes de Sakura. Antes mesmo de chegar ao caixa, notou que estava equivocado, pois a menina estava sentada próxima ao balcão com a cabeça apoiada nas duas mãos conversando com um dos baristas. O café estava ainda praticamente vazio e Sasuke notou com desgosto que o rapaz estava totalmente sem serviço e apenas conversava com a rosada com um sorriso tímido no rosto.

Era comum as conversas de Sakura com o homem em questão e a muito ele já tinha notado que ele tinha uma verdadeira queda pela rosada, embora ela não parecesse ter consciência, porém Sasuke também sabia que ele nunca criaria coragem de se declarar. O rapaz tinha um verdadeiro problema de autoestima e provavelmente pensava que ela estava bem longe da “liga” dele.

Mas saber disso não impediu seu coração de se apertar ao observar o sorriso agradável que ela dirigia a ele.

Sasuke ficou incerto quanto a se aproximar, pois uma parte dele dizia que aquele momento era o ponto alto do dia do jovem e que ele não deveria atrapalhar, mas outro lado seu queria apenas viver sua rotina e atualmente ele precisava de Sakura longe daquele rapaz para que pudesse ter sua manhã comum, precisava da atenção dela voltada exclusivamente para ele.

Antes que ele pudesse escolher, o barista notou sua presença e o encarou com o rosto assustado, chamando a atenção da moça de cabelos rosas que logo se virou na direção a qual seu amigo olhava.

— Sasuke!

Um sorriso aberto se formou no rosto da rosada enquanto ela se levantava e ia na direção dele, Sasuke nunca pensou que se sentiria tão satisfeito apenas por ter uma mulher vindo em sua direção, mas era simplesmente como ele se sentia. Sua satisfação era tão grande que ele automaticamente retribuiu o abraço da mulher, colocando seus braços ao redor dela e inalando propositalmente a fragrância agradável do cabelo dela.

— Você chegou cedo hoje.

Ele apenas deu de ombros.

Naquela manhã, Sasuke observou de perto Sakura fazer o pedido e ficou ao lado dela enquanto eles esperavam pela preparação. Normalmente ele faria outra coisa enquanto ela cuidava de tudo sozinha, mas hoje algo o impediu de sair de perto dela e ele admitiu a si mesmo que a razão dele ter saído mais cedo da cama foi justamente sua motivação de olhos verdes.

— Você sempre chega tão cedo assim? – Perguntou quando eles se sentaram em frente a vitrine da loja como de costume.

— Sim. Eu costumo acordar muito cedo, preciso de poucas horas de sono, então eu me arrumo e venho conversar com a Camille e o John.

— Hn. Você os conhece a muito tempo?

— Um ou dois anos. Conheço o John a mais tempo. – Disse com naturalidade colocando as uvas no prato dele. – Por quê?

— Nenhum motivo. – Disse comendo as uvas.

Sakura o encarou com um leve sorriso.

— O que foi? – Perguntou desconfortável.

— Você raramente me faz perguntas.

— Isso não é verdade.

— É sim.

— Bom, se eu não faço perguntas é porque não preciso, você fala as coisas sem que ninguém pergunte. – Ele respondeu irritado com o questionamento.

Mas a expressão dele apenas a fez rir.

— Você está diferente hoje. – Ela comentou após terminar de comer as frutas.

— Como assim?

— Você parece feliz.

Sasuke não respondeu, mas pensou sobre como ele estava refletindo seus sentimentos em sua maneira de agir. Ela estava certa, ele estava feliz, bastante feliz e embora ele tivesse tentado negar, acabou admitindo ter algo a ver com o passeio noturno da noite passada, aquele em que eles tinham feito segurando as mãos e seria bastante mentira dele dizer que ele não havia repassado aquele momento a noite inteira em sua mente. A sensação que ela passava e o nervosismo gostoso que havia tomado conta dele enquanto ele estava próximo dela.

Inconsciente, um sorriso se formou em seu rosto enquanto ele tomava o café, sua mente estava tão leve que ele sequer notou como a menina na frente parecia fascinada e encantada com o sorriso dele.

Os dois conversaram sobre diversos assuntos por todo o tempo que passaram juntos, que havia sido maior que o normal. Mas a parte mais tranquila do seu dia se foi muito mais rápido do que Sasuke gostaria e logo ele se encontrava na calçada em frente a cafeteria incerto sobre como se despedir da Haruno.

Deveria abraçá-la? Ou um simples aceno seria o suficiente?

Sakura esperou por alguma reação dele, mas logo notou que nada viria e que se ela demorasse um pouco mais iria acabar com uma despedida distante. Decepcionada com a falta de atitude dele, a Haruno se aproximou lentamente e o abraçou.

Ela tinha que ficar na ponta dos pés para conseguir apoiar o rosto no pescoço dele, mas mesmo assim ela segurou a posição por um minuto inteiro, tempo o suficiente para Sasuke retribuir o abraço e ficar confortavelmente desconfortável com a duração do afeto. Sua mente a mil por hora tentando processar toda as sensações que sentia em seu corpo e todos o sentimento confusos.

Mas então Sakura se afastou e Sasuke refletiu que deveria ter calado a sua mente para ter aproveitado mais o calor dela. Sakura o encarava decepcionada e Sasuke sabia que a culpa era dele.

Ela tirou o cachecol que usava e colocou ao redor do pescoço dele com a mesma expressão, mas quando terminou, ela voltou a sorrir como sempre. Sasuke não protestou, apenas aceitou envergonhado os cuidados da moça.

— Tchau, Sasuke. – Ela disse e se virou sem esperar por uma resposta.

*

Por fim, Sasuke guardou a peça de roupa que ele havia roubado – porque ele tinha bastante consciência das inúmeras possibilidades que teve de devolver e sabia bem que poderia simplesmente ter entregado a Naruto caso quisesse evitá-la – e escolheu uma de suas gravatas que julgou combinar mais com o terno.

Fez o nó com bastante cuidado e desceu as escadas sobre os olhares orgulhosos e ansiosos de seus familiares.

— Oh, meu menino. – Sua mãe deixou escapar algumas lágrimas e abraçou o filho.

— Vamos, mãe. Já passamos por isso algumas vezes. – Disse com consolando a mulher.

***RECIPROCIDADE***

Sasuke esperou pacientemente por seu nome ser chamado, se fosse por ele, nem teria ido aquela cerimônia desnecessária, mas sabia bem como era importante para a sua família e por isso ele estava ali. Seu plano era simplesmente pegar o diploma na cerimônia oficial e sair com a sua família para comemorar em algum restaurante, mas é claro que todo o processo seria filmado pelo seu pai e fotografado pela sua mãe.

Sasuke odiava isso, odiava como seu pai tinha que gravar todos os eventos desde simples reuniões de família a festas de aniversários, ele culpava principalmente seus pais por seu desgosto em relação a tirar fotos, mas compreendia quanto tempo, esforço e dinheiro eles haviam gastado para chegar a esse momento. Ele não seria capaz de negar nada a eles.

Quando seu nome foi chamado, assim como muitas vezes antes, a multidão explodiu em gritos e aplausos, talvez um pouco mais do que o normal por algum motivo desconhecido por Sasuke, já que ele não tinha amigos e as únicas pessoas que realmente deveriam estar animadas por ele eram seus pais. Tirou foto com o reitor, o coordenador do curso – para seu desgosto – e seguiu para o seu lugar aguardando o final da cerimônia que não demorou muito, pois ele era um dos últimos. Na multidão de pessoas animadas, Sasuke tentou se sair o máximo que pode em busca de sua família que havia ficado na faixa de convidados.

A música alta e quantidade de corpos se chocando contra o dele conforme ele passava pelas pessoas estava lhe deixando cada vez mais angustiado.

— Sasuke! – Chamou a voz feminina.

Ele olhou para a mulher sorridente e se forçou a retribuir o sorriso.

— Karin, como vai?

Ela se aproximou dele e deixou um beijo de cada lado de suas bochechas.

— Estou ótima, não poderia estar mais feliz. Finalmente me livrei dessa merda. – Respondeu animada e Sasuke sorriu. – Vai continuar trabalhando com o Diego?

— Provavelmente. Nós nos damos muito bem de alguma forma. Não tenho porque sair.

— Guerreiro. Admiro muito.

— E você? Vai desistir de trabalhar para Alice?

— Ah, eu não sei, tenho pensado muito sobre isso. Gosto muito dela, mas não gosto muito do clima aqui, é muito frio. Sinto falta das praias, então estou pensando em voltar para a Califórnia. Sempre foi esse o plano no final das contas. – Ela sorriu envergonhada.

— Que pena. – Disse chamando a atenção da mulher que nunca o tinha visto algo como aquilo. – Eu vou sentir falta de te ver todos os dias, já me acostumei aos nossos dois minutos de intervalo. – Disse arrancando um sorriso da ruiva. – Eu preciso ir falar com os meus pais. Até mais. – Disse já se afastando de costas.

— Até.

Se virou já começando a tirar a estúpida roupa de formando que apenas dificultava seu processo de caminhar.

— Sasuke.

Parou o processo de abrir o botão imediatamente, encarou o chão engolindo em seco, enquanto tentava dizer a si mesmo que aquilo havia sido uma ilusão de sua mente, aquela voz ali naquele lugar era nada além de coisa de sua cabeça que foi estimulada pelo tempo que ele havia passado olhando para o cachecol dela. Não era possível que ela estivesse ali. Mas ele precisava confirmar, precisava ter certeza que ela não estava ali. Levantou o olhar devagar, mas ele estava errado. Não havia sido uma mentira de sua cabeça. Ela estava realmente ali.

Usava um vestido preto básico e por cima um grande casaco vermelho e um fofo cachecol branco enrolado de qualquer jeito ao redor do pescoço e por cima dos ombros. O cabelo rosa claro no exato tom que ele se lembrava estava maior e caia delicadamente ao redor do rosto dela. A única coisa que realmente não combinava com a memória que ele tinha dela era a postura fechada e receosa. As mãos em frente ao corpo como se ela tentasse se proteger. Mas logo sua cabeça caiu de lado e um sorriso lindo se formou em seu rosto.

Sasuke jurou que seu coração parou de bater naquele momento. Ela estava apenas a alguns passos dele e isso não fazia bem para ele, eram tantas emoções, sentimentos e sensações que ele apenas continuou o processo de tirar a roupa de formando e ajeitou o casaco cinza longo que usava por cima do terno.

Ela aguardou pacientemente observando todo o processo. Seu coração batia mais rápido que nunca, não tinha a menor ideia de como ele iria reagir e a cada segundo que passava o medo ocupava um lugar maior em seu coração.

Sasuke segurou a roupa com uma única mão e voltou a encará-la.

— Sakura. – Disse com a voz fria e mais grossa que o comum.

A rosada sentiu as penas tremerem quando escutou ele falar. Ela engoliu em seco antes de se aproximar dele e se esforçou muito para conseguir manter o sorriso.

— Como você está?

— Bem. E você?

— Estou bem. Parabéns pela sua formatura. Eu falei que você ia conseguir.

Aquele tom brincalhão e otimista ainda estava ali, mesmo que ela estivesse mais nervosa do que tinha imaginado.

— É verdade. Sakura, o que está fazendo aqui? Achei que eu tivesse deixado bem claro que não éramos mais amigos. – O tom frio já tinha ido embora e Sakura viu que ele estava tentando não ser muito grosso.

A Haruno encarou os olhos negros. Sabia que ele estava evitando os olhos dela, mas mesmo assim ela continuou a encará-lo.

— Eu sei que você disse, mas não é como eu me sinto.

— Eu entendo. Mas acredito ter deixado bem claro como eu me sentia sobre isso. Achei que você, como minha amiga, iria respeitar minha decisão.

Sakura engoliu em seco ao escutar as palavras dele. Ele não estava brigando com ela, na verdade, ele só parecia triste e chateado, como se ela tivesse machucado ele propositalmente e isso a incomodou.

— Eu tentei.

Sasuke fechou os olhos com força e levou uma das mãos fechadas a testa como se sentisse uma forte dor de cabeça. Sakura observou preocupada, mas nada disse.

— Sakura, não faz isso, por favor. Eu sei que eu pedi algo muito difícil para você, eu sei que seus amigos são muito importantes para você, eu realmente sei disso, mas eu não gosto de você dessa forma, eu não consigo gostar de você só dessa forma. Fazem meses desde a última vez que nos vimos e mesmo assim, eu não parei de pensar em você. Então, por favor...

— Sasuke, eu respeito a sua decisão, de verdade, eu entendo. Mas você não tomou essa decisão com a figura inteira na sua mente.

Sasuke cedeu a tentação de encarar os olhos verdes. Ela era tão pequena mesmo usando saltos e parecia tão vulnerável que era no mínimo irônico que ela conseguisse causar tanto dano a ele.

— Do que você está falando?

— Eu te amo.

Sasuke a encarou sem conseguir dizer nada, na verdade, ele sequer conseguia pensar em alguma coisa. Eles tinham passado meses sem se ver, sem conversar, sem saber nada um do outro, como ela ainda insistia naquilo?

E assim eles ficaram por longos minutos enquanto várias pessoas animadas trocavam abraços e tiravam fotos ao redor.

Sasuke não conseguia quebrar o contato visual e ele propositalmente queria alongar aquele momento, sabia que não iria durar muito. Sakura aguardava ansiosa por uma reposta, mas o medo que ela tinha de sofrer mais uma rejeição a permitia não odiar a demora que ele estava levando.

— Sasuke?

Sua mãe estava bem ali ao lado dele junto com toda a sua família. Ele piscou algumas vezes lembrando-se de que estava na cerimônia de formatura com sua família esperando por ele para que eles fossem comemorar em um restaurante caro qualquer.

— Olá, senhora Uchiha, correto? – Perguntou Sakura sorridente e animada como sempre. – Sou Sakura Haruno. – Disse estendendo a mão para ela.

— Muito prazer, querida. Meu nome é Mebuki, esse é meu marido Fugaku e aquele é meu filho mais velho, Itachi e a mulher dele, Izumi.

— Muito prazer. – Disse Sakura sorrindo para todos. – Sou uma amiga do Sasuke.

— É mesmo? – Perguntou a mulher fascinada, pois faziam muitos anos que não era apresentada a qualquer colega de Sasuke, quem dirá amigo.

— Sim. Eu só vim parabenizá-lo, mas fico muito feliz de ter tido a oportunidade de conhecê-los. Devo dizer que seu filho é um homem incrível, parabéns. A senhora deve estar muito orgulhosa.

— Sim, com certeza. Sua mãe também deve estar.

— Gosto de pensar que sim.

— Você é da turma de direito? Também está se formando?

— Não, sou da medicina, ainda vou demorar mais alguns anos para conseguir o meu diploma.

— Mas medicina é um curso mais longo.

Sakura assentiu.

— Bom, não quero tomar mais tempo desse dia tão especial. – Ela disse sorrindo, mas alguma coisa deu errado e ela engoliu um soluço. – Já vou indo. Tchau.

Sasuke observou a rosada se afastar correndo e ele sabia que ela estava chorando e isso o fazia sentir um crápula do pior tipo, mas ela tinha escolhido aquilo, não? Ela tinha vindo até ele sabendo qual seria a resposta dele.

— Sasuke, vamos?

— Vamos.

Eles saíram em direção ao estacionamento, mas a mente de Sasuke estava completamente voltada para a Haruno. Não conseguia tirar a imagem dela correndo para longe dele chorando.

— Merda. – Falou baixinho para si mesmo segurando os cabelos negros com a mão direita.

Como ele pôde simplesmente deixá-la sair correndo e chorando daquela forma depois dela dizer que o ama. Como ele era retardado, ele também a amava, por que ele não poderia pelo menos por algum tempo viver aquela felicidade? Por que ele deixou um momento tão incrível acabar de forma tão triste para ela?

— Eu preciso fazer uma coisa, podem ir na frente, eu encontro vocês lá. – Disse jogando as coisas que segurava em seu irmão.

— Sasuke, onde...?

— Já vou. Juro.

E então ele correu, correu procurando pela única pessoa de cabelo rosa pastel de todo o estacionamento e olhou para todos os lados, mas não a achava em lugar algum. Onde ela havia se metido? Quando deu a segunda volta no estacionamento e não encontrou desistiu de procura-la ali e correu até o dormitório dela. Correu todo o caminho e mesmo que o dia estivesse muito frio e ameaçando nevar, ao chegar no prédio, ele já estava quase suando sobre suas roupas pesadas. Quando entrou no prédio, foi obrigado a tirar o sobretudo.

Ele não fazia a menor ideia de onde era o quarto de Sakura, nunca foi até lá, mas ele sabia de uma coisa, ela dividia o quarto com Ino, que era conhecida por toda a cidade. Se aproximou da área comum para os que habitavam aquele prédio e viu alguns poucos alunos sentados em frente a uma lareira grande assistindo televisão.

— Licença, - duas meninas o observaram curiosas – vocês sabem me informar onde é o quarto da Ino Yamanaka?

— Ino? Terceiro andar, quarta porta a esquerda. Mas se eu fosse você não iria lá, o namorado dela tá lá.

— Obrigado.

Enquanto subia para o local indicado, ele se perguntou quantos amigos de Sakura estariam lá e o quanto eles o odiavam por ele ter a machucado duas vezes. Era uma pena, ele realmente havia gostado de Gaara.

Em frente a porta, Sasuke se sentiu ainda mais inseguro, sabia que devia desculpas a ela, mas ao mesmo tempo, não sabia se desculpas adiantariam de alguma coisa se ele não pudesse se entregar a ela como ela fez. Será que ele realmente conseguia embarcar um relacionamento logo agora?

Ao mesmo tempo que sua insegurança lhe dizia coisas totalmente desagradáveis, ele sentia-se cansado de lidar com tudo sozinho, cansado de ignorar Sakura, cansado de ter que pedir seu próprio café de manhã e acima de tudo ele sentia saudades de tudo que remotamente relacionado a presença de Sakura em sua vida e de tudo que fosse Sakura.

E isso o fez abrir a porta sem nem avisar sua chegada. Ao fazer isso, todos os olhares do quarto foram direcionados a ele, felizmente só haviam quatro pessoas ali. Gaara e Naruto sentados um do lado do outro em uma cama oposto aquela que Ino e Sakura estavam. Infelizmente, Sakura estava chorando. Ignorando a presença de todos que não fosse aquela responsável por ele estar ali, Sasuke direcionou-se apenas a ela.

— Sakura, posso falar com você?

Os amigos se entreolharam e Sasuke viu que Naruto ia dizer algo mais foi abruptamente interrompido por Gaara que o puxou da cama e saiu do quarto sem dizer nada. Ino esperou pela confirmação de Sakura e antes de sair lançou um olhar significativo a Sasuke. Quando todos saíram e fecharam a porta, se aproximou da Haruno que observava cada movimento dele com total atenção.

— Desculpa por te fazer chorar.

Sakura secou as lágrimas e encarou o rapaz que ficou em silêncio por tanto tempo que a fez pensar que ele já tinha dito tudo que pretendia dizer.

— Isso é tudo que você veio dizer? – Perguntou ela já ficando irritada pela audácia que ele teve de vir até ali lhe gerar esperança para depois arrancá-la.

— Não. – Ele apressou em dizer.

Definitivamente isso não era tudo que ele veio dizer, mas a enrolação tinha um motivo, ele não tinha a menor ideia do que dizer em seguida.

— Então...

Sasuke engoliu em seco.

— Sakura, você realmente... me ama?

— Você acha que eu iria até a sua formatura só para mentir para você?

— Não.

— Então pronto, você já sabe como eu me sinto. Agora é sua vez. – Ela se levantou e foi até ele. – Como você se sente?

Ele abriu e fechou a boca algumas vezes, queria dizer que também a amava, mas simplesmente não conseguia, por fim acabou desistindo.

— Eu sinto sua falta. – Disse finalmente encarando os próprios pés. – Sinto falta de como você se preocupa comigo, sinto falta dos nossos cafés, sinto falta do seu cheiro e do seu sorriso... sinto falta de você.

Sakura escutou encantada tudo que ele dizia. Seu coração se aquecendo cada vez que ele citava um dos itens da pequena carinhosa lista que havia feito. Assim que terminou, ela o abraçou. Não interessava o que ele dissesse, ela iria segui-lo por todos os lugares, ela gostava demais dele para deixá-lo ir embora. E ele também gostava dela, mesmo que não conseguisse dizer as mesmas palavras ainda, ela tinha certeza que ele gostava dela.

Pela primeira vez, o contato dela não despertou inúmeros incontroláveis pensamentos no Uchiha, ele apenas se sentiu confortável e aproveito o abraço. Quando ela o soltou, os olhos verdes estavam emanando felicidade e Sasuke pensou consigo mesmo que as coisas finalmente estavam certas novamente.

— Eu não vou te deixar ir dessa vez.

Sasuke apenas encarou a pequena menina descalça e agarrada a ele como uma criança a um bichinho de pelúcia.

— Tudo bem.

E ele a beijou. Um leve encostar de lábios logo se transformou em um beijo de língua capaz de tirar o fôlego dos dois. Se separaram por necessidade, mas não conseguiram ficar separados por muito tempo, logo estavam novamente com as bocas coladas e línguas batalhando enquanto as mãos da Haruno passeavam pelos cabelos negros e macios, Sasuke se ocupou em jogar seu casaco em um canto qualquer para que suas mãos pudessem apertar a cintura da rosada que logo enlaçou o dorso do rapaz com as pernas. Sasuke aproveitou a oportunidade para levá-la até a cama.

Enquanto ele se ocupava em sentir todos os contornos do adorável corpo dela, Sakura estava adiantada e já tirava o terno e a gravata dele. Ela nunca transou com um rapaz no primeiro dia do relacionamento, mas estava feliz em quebrar essa tradição com Sasuke. Ao contrário dela, ele não se preocupava tanto em tirar as roupas que ela usava já que era um vestido e ele podia se aproveitar bem das pernas delas. Mas Sakura, queria se livrar de todas aquelas peças dele o mais rápido possível e estava definitivamente conseguindo. Já estava nos últimos dois botões da camiseta dele, isso tudo sem deixar de beijá-lo.

Mas Sasuke acreditava que estava na hora de seus lábios se aproveitarem de outras partes do corpo dela e por isso ele foi espalhando os beijos pela bochecha dela, até chegar ao lóbulo da orelha que ele chupou com vontade e então começou a descer pelo pescoço alvo arrancando gemidos de satisfação da Haruno que apenas o deixava mais excitado, mas ele estava determinado a aproveitar cada etapa daquele momento.

As mãos de Sakura não perderam tempo e já abriam o cinto e seguida a calça que usava. Sasuke não se importava nem um pouco que ela se abusasse dele e ele gemeu entre um beijo e outro quando sentiu a mão dela tocar seu membro sobre a cueca.

Mas para o desagrado dos dois um irritante celular começou a tocar. Os dois viraram-se para a direção do som e Sasuke notou estar vindo de seu casaco jogado no chão. Só então ele lembrou-se do jantar com seus pais.

— Merda! – Disse se levantando e procurando pelo celular. – Alô.

— Sasuke, meu amor, já estamos aqui, você ainda vai demorar muito?

— Chego em vinte minutos. – Disse observando suas roupas jogadas no chão e em seguida a mulher com o vestido amassado em cima da cama.

A visão o fez querer dizer que iria se atrasar por uma hora, mas ele notou que não era justo com sua família e que gostaria de ter mais tempo para fazer o que ele queria com ela.

— Tudo bem. Já pegamos uma mesa.

— Ótimo, encontro vocês logo. Tchau.

— Tchau.

Sasuke desligou o celular encarou Sakura como se pedisse desculpas.

— Deixa eu adivinhar, você precisa ir.

— Não. – Disse o rapaz catando a blusa do chão vestido apressadamente. – Nós precisamos ir.

— Nós?

— Sim, nós. – Disse terminando de fechar a camisa. – Ou você mudou de ideia?

Sakura sorriu feliz e se ajoelhou na cama.

— Não mesmo. – Ela o puxou para mais um beijo muito bem retribuído pelo rapaz.

***TRÊS***

— Papai? – Chamou a pequena.

— Sim.

— Por que eu não conheci o tio Itachi?

Sasuke terminou o trabalho de empacotar todas as coisas que seus pais poderiam precisar e encarou a filha. A pequena de cabelos negros encarava a foto de Sakura e Itachi que ficava sobre a estante da sala.

Sasuke sentou-se ao lado da filha no sofá.

— Porque ele morreu antes de você nascer.

— Eu não gosto disso. Mamãe parece tão feliz na foto.

— Ela estava, ela gostava muito do seu tio. – Disse pegando a filha no colo, mas ela continuou a encarar a foto.

— Mas a mamãe disse que vocês começaram a namorar pouco antes dele morrer, como ela pode gostar tanto dele?

Sasuke olhou para a filha assustado, como uma criança de cinco anos fazia perguntas tão difíceis.

— Porque sua mãe fez questão de conhecê-lo o máximo que pôde no pouco tempo que teve. – Respondeu encarando a foto.

— Por quê? Ela não sabia que ele ia morrer?

Sasuke respirou fundo, já faziam dez anos desde a morte de Itachi, mas até hoje ele não conseguia lidar bem com o assunto. Sentia muita falta do irmão e saber que Sarada nunca o conheceria lhe machucava ainda mais.

— Porque sua mãe acredita que esse não é motivo para deixar de conhecer uma pessoa, para abandonar a possibilidade de uma amizade.

Sarada cerrou os olhos e em seguida bufou.

— Se fosse eu, não iria ser amiga de ninguém sabendo que depois ela ia me deixar para sempre.

E então ela cansou de encarar a foto e deitou a cabeça no ombro do pai. Sasuke sabia que não ia demorar muito para que ela dormisse, afinal, ela tinha acabado de almoçar.

Mas a conversa com a mais nova ainda estava em sua mente. Quando começou a namorar com Sakura, nunca imaginou que ela seria a companheira que foi. A verdade é que nada o preparou para quando o momento chegou e se não fosse por Sakura, não sabia como estaria sua vida hoje em dia. Ela foi a pessoa que o segurou, fez o máximo que pôde e o deixou livre de preocupações e mesmo antes da morte do Itachi, ela fez questão de acompanhá-lo de perto, de conhecê-lo e criar momentos para que eles tivessem muito a recordar. Foram apenas quatro meses que ela conviveu com ele, mas deixou o final da vida dele muito mais feliz e essas não eram palavras de Sasuke, mas sim de Itachi. Ela tirou um peso de Itachi ao deixá-lo partir sabendo que ela sempre cuidaria de Sasuke e ele jamais poderia expressar o quanto era grato por isso.

— Estão prontos? – Perguntou Sakura descendo as escadas rapidamente e pegando sua bolsa para saírem.

— Sim. Você traz a bolsa dela? – Perguntou já indo em direção a porta com Sarada levemente adormecida em seu colo.

— Claro.

Alguns minutos depois eles estavam estacionando em frente à residência do casal Uchiha. Não foi necessário que batessem a porta para que ela fosse aberta.

— Tio. Cadê a Sarada? – Perguntou Calli animada.

— Sakura está trazendo.

A sobrinha correu até o carro para ajudar enquanto ele ia para a sala deixar a bolsa de Sarada sobre o sofá.

— Ah, querido. Cadê minha netinha? – Perguntou sua mãe.

— Tá aqui. – Disse Calli entrando na sala com uma Sarada ainda adormecida no colo.

Calli adorava crianças e principalmente a prima que era um anjo nas palavras dela.

— Muito obrigada por isso, de verdade. – Sakura falou sorrindo.

— Besteira, que avó não quer uma tarde inteira com a neta? – Perguntou feliz encarando Sarada.

— Cadê papai?

— Dormindo, sabe como ele é após o almoço. – Respondeu.

— Então, se está tudo certo, já vamos, não é Sasuke?

— Sim. Qualquer coisa, basta ligar.

— Vão tranquilos. Vocês precisam descansar um pouco.

Se despediram e logo saíram para não chegarem atrasados.

*

*

*

— Ah, esse lugar me traz tantas lembranças. – Disse Sakura feliz abrindo a porta da cafeteria.

— Com certeza.

— Na verdade, foi aqui que nos vimos pela primeira vez, não foi? – Perguntou se virando para o marido.

— Sim. Lembro de ter pensado que você era muito linda. – Disse abraçando a rosada e beijando a testa dela.

— Lembro de me perguntar como alguém poderia estar tão estressado tão cedo.

O moreno sorriu do comentário.

— Sasuke! – Chamou Gaara no fundo da cafeteria.

Os dois se separaram do abraço e Sasuke logo acenou para o ruivo.

— Vai lá, vou pedir nossa comida. – Disse Sakura que acenou para os amigos e seguiu para o balcão.

— Ah não, cadê a Sarada? – Perguntou Ino fazendo bico de chateação.

— Tá na casa dos meus pais.

— Por que nunca posso ver minha afilhada?

— Você viu ela semana passada.

— Mas foi tão rápido. Vocês são horríveis, tem essas crianças tão lindas e não trazem para eu brincar com elas.

— Se gosta tanto, por que não faz uma? – Perguntou Tenten sorrindo.

— Porque eu não gosto de gritos quando estou dormindo, só gosto da parte de brincar e admirar a fofura.

— Pois então não tenha filho, Boruto está me deixando louca já, não para um segundo, não posso ir ao banheiro e deixá-lo sozinho que ele já corre para a escada. Se não fosse por Naruto aguentar o pique dele, não sei o que faria.

— Hina! – Sakura gritou colocando a bandeja de comida na mesa. – Você está grávida.

— Grávida? – Perguntou Sasuke confuso.

— Tem coisas que nem os olhos do Sasuke conseguem captar tão bem quantos os olhos de uma mulher... – Naruto comentou sorrindo.

— Sim. – Respondeu a Hyuuga sorrindo, mas com a aparência cansada.

— Você vai dar conta? Já está surtando com um. – Comentou com Tenten.

— Espero que esse seja mais tranquilo que o primeiro. De qualquer forma, eu sempre quis ter dois, então acho melhor que eles sejam mais próximos de idade, acho que já enrolamos demais até.

— E você, Sakura? Vai ter mais um?

— Hn. Não, acho que vamos ficar só com a Sarada mesmo, vamos ser uma família de três apenas. – Ela sorriu para Sasuke que retribuiu o sorriso e depositou um selinho nos lábios dela.


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Notas finais do capítulo

Bom, eu sei que essa fanfic é bem bobinha, então eu realmente agradeço a quem leu, favoritou e comentou, foi uma fanfic bem gostosinha de escrever e me ajudou bastante nesse momento. Obrigada a todos.



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