Luar Puro escrita por Zena Faith


Capítulo 12
Marcada


Notas iniciais do capítulo

Olá você que esteve frustrado com o meu desaparecimento, esperando que essa fic fosse atualizada... desculpa gente, sem piada agora.
Aqui estou eu, dando vida a está minha história fictícia que eu adoro deixar de lado (não por opção, culpem o bloqueio criativo e a pandemia, sorry), mas nunca desisto é claro.
Tava com saudade de vocês, e da emoção de postar algo novo.
Espero que me perdoem por ficar longe por tanto tempo.
Beijos L.
P.S. Lembrando que está fic é postada originalmente no Spirit, onde onde capítulos novos estão sendo postados, então caso queiram, corram pra lá e leiam "Despertada", o mais novo cap.
link: https://www.spiritfanfiction.com/historia/luar-puro-5662255/capitulo19



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Deixo os elementos se conectarem  à minha nova forma, ignorando o silêncio dos Cullen e de Sam que insiste em me pressionar, não é intencional, eu sei que eles estão esperando por algo, só não sei o que é, a dificuldade estava presente já que não existia maneira de fingir que isso não se tratava de um interrogatório, manter as perguntas simples era necessária, e Edward era minha única forma de comunicação no momento.

— Você não consegue se conectar a ela.

Observo a interação entre meu tradutor e o lobo negro.

— É difícil de explicar, mas isso já aconteceu com Jacob, seus pensamentos foram muito claros, ela se curvou a ele, não fará o mesmo com você, não pode reconhecer como alfa.

O lobo negro rosna, ele se sente traído de certa forma, sua reflexão ronda ao nosso redor por quase uma eternidade, os olhos sondando minha forma, e quando ele começa a se aproximar sinto meus pelos se levantarem em alerta, Edward faz um aceno, garantindo que está tudo bem.

Sou analisada como uma escultura, o lobo circula ao redor do meu corpo lupino, observando a anatomia em cada detalhe, posso sentir ele tentando entender como isso é possível para alguém como eu, pela primeira vez desde que assumi esta forma posso sentir algo emanando ele, algo que não fosse aquela imposição pesada que exigia submissão a cada olhar.

— A transição de seus poderes não possui equilíbrio, é sempre algo acionado pelo instinto, ela está em constante alerta, isso faz com que seus poderes sejam canalizados apenas na metade vampírica, isso trava seu organismo para qualquer tipo de transformação. Agora você pode sentir o cheiro de lobo, ver sua forma e aparência, no entanto, assim que se sentir ameaçada ela pode voltar à forma original e projetar sua metade vampira.

O lobo gigante observa Edward de soslaio, sua atenção continua concentrada em mim.

Um silêncio agonizante recai sobre o círculo ao meu redor, posso ver que meu tradutor tem sua atenção voltada ao que o lobo de Sam pensa, como se estivessem em uma conversa particular e séria. 

Meu corpo treme sob os pelos, a mão gelada de Alice acaricia minha coluna, é estranho sentir como nossas temperaturas se tornam opostos quando estou numa forma diferente.

E também tem o cheiro, que eu ignorava por cortesia aos Cullen, não tinha como dizer a eles que cheiravam de forma estranha, não quando eles tinham me acolhido em sua bondade, cuidando e protegendo a minha integridade física e mental desde que eu surgirá em sua porta. O odor era apenas  mais um dos fatores que tornavam inegáveis as diferenças entre nós, e me pegava pensando com cada vez mais frequência, quão bom seria ter ambas as minhas metades em harmonia.

Eu cheiraria diferente se tudo estivesse em seu lugar?

Eu não tinha como saber, a verdade é que eu tinha que admitir que estar em harmonia parecia algo impossível de ser alcançado no momento, controle soava tão difícil quanto aceitação.

— Você pode voltar a sua forma, não há perigo.

Edward quebrou o contato com o olhar de Sam e indicou que ele fosse em direção às árvores, o lobo bufou contrariado e com um último olhar de advertência trotou para as árvores, quando ele sumiu por entre a mata finalmente inspirei e respirei normalmente, ele não demorou muito é claro.

Mal pude escutar ou sentir sua transformação de tão rápida que ela foi.

Será que vou ser tão rápida assim um dia?

— Você vai, com treinamento e paciência,  será tão rápida quanto qualquer um deles.

Era a primeira vez que ele sorria para mim.

Edward franziu suas sobrancelhas numa expressão de reconhecimento, se eu estivesse na forma humana provavelmente teria corado profusamente, na forma do lobo só senti um comichão. É desconcertante ter alguém em seus pensamentos, acho que nunca deixaria de ser.

— Ela só vai ser boa se alguém a treinar.

Sam saiu pulando de onde seu lobo entrara antes, ele usava apenas uma bermuda jeans gasta, seus pés descalços tocavam o solo úmido como se andasse sobre algo plano e limpo, não sobre terra, galhos e pedras. O peito nu era largo e vermelho, o peito de um homem formado.

O comichão tomou conta do meu corpo novamente.

Dessa vez quando se aproximou ele não foi evasivo, sua expressão austera fez um aceno como se pedisse permissão, fiquei tão surpresa pela ação que continuei imóvel por um momento.

Então imitei o aceno e senti meu corpo se firmar sobre as patas, corrigindo minha postura e paciente eu esperei ser analisada mais uma vez, a sensação de incômodo beliscando no meu estômago enquanto ele me tem sob seu olhar perscrutador, e espero por sua aprovação, seja qual for o significado disso. 

 - É impressionante, não é?

Carlisle se junta a ele, seu rosto estampado de deslumbramento.

— De que lado da sua família?

A pergunta é dirigida a mim. 

Dado meu estado de não falante, encaro ele com insegurança e então desviei meus olhos para Edward, solicitando sua ajuda.

— O pai dela é o que os Volturi chamam de filho da lua, não são o mesmo que vocês, como Carlisle disse, nós provavelmente acabamos de descobrir a forma como isso foi passado para vocês, o que nos coloca em um impasse na história dos vampiros e lobisomens.

Um arrepio longo e estranho atravessa minha coluna, eu não sabia nomear o sentimento, mas as palavras surtiram efeito, como se eu tivesse acabado de mergulhar em uma bolha, onde as palavras “descobrir” e  “impasse” rondavam ao redor da minha mente.

— Nossas espécies não vieram da mesma árvore.

A negação de Sam chiou no ar como se fogo fosse ateado a gelo, mas isso não desanima Carlisle, ele continua curioso e perspicaz.

— É difícil saber, nenhum de nós pode alegar nada, Ayira está aqui, ela nos mostrou algo que devia ser impossível, mas aconteceu, isso significa muito Sam, para ambas as raças, para Jacob e Renesmee.

Procriação, cruzamento e reprodução: vida.

Eram palavras que me faziam sentir quieta e envergonhada, porque tudo que eu tinha aprendido sobre vinha de apenas uma fonte, e o que me ensinaram era que ao unir duas espécies tão distintas, o resultado seria algo como eu, desconhecida e letal, com um propósito exato: uma arma.

Então, não entendi quando eles se referiram a Renesmee e Jacob, apenas continuei a escutar a análise de Sam.

— É grande, como nós.

Quando sua mão tocou de repente meu flanco, tive apenas um  reflexo. 

Baixar a cabeça e rosnar em advertência.

Instinto

Ele não curvou a cabeça diante da aproximação das minhas presas, apenas empinou mais o queixo e se levantou, como se soubesse que eu não seguiria em frente com meu ataque.

— Ela não estava assim quando veio até nós, à alimentação regular e os exercícios provavelmente são responsáveis por seu desenvolvimento.

Fiquei surpresa ao ouvir a voz de Emmett, logo ele, quem possuía uma animosidade visível em relação a mim.

— Faz quanto tempo que se transformou pela primeira vez?

Assim como antes, todas as suas perguntas eram direcionadas a mim. 

Não me irritei, era agradável ver seus olhos me questionando, como se ao ouvir a resposta de Edward, fosse a minha reação que ele continuava a esperar.

— Ela se transformou na primeira lua, quando seu sangue desceu pela primeira vez, ela se transformou como uma criança e quando voltou já estava completa.

Carlisle era quem mais se sentia intrigado com esse fato, depois de ele me explicar sua reação eu pude me sentir da mesma forma, pois era muito raro que crianças com menos de dez anos menstruassem, não impossível, apenas raro, e como eu sendo um caso à parte, isso ter acontecido tão precocemente era um acontecimento histórico biológico.

— Quantas vezes você se transformou?

— Seis vezes, com está, ela é influenciada por grandes momentos de estresse, quando está em perigo ou por qualquer outra forte emoção.

Olhei uma vez para Jasper, meus olhos muito arregalados e compreensivos, ele não fez qualquer movimento, apenas manteve meu olhar.

— Isto explica a dificuldade na transição.

Dando uma última volta ele parou a minha frente e permaneceu encarando meus olhos por muito tempo.

— Agora você vê Sam, vocês são semelhantes, é por isso que ela veio até nós, ela precisa da nossa ajuda, precisa da sua ajuda.

Foi assustador ver como a sombra em seus olhos se dissipou, como seu cenho se franziu em uma agonia quase fantasma de tão rápida, seus lábios numa linha de tão tensos... foi difícil ver essa mudança em todo seu semblante, porque como sempre, eu esperava pelo pior, então ver o que aquele novo olhar significava, me deixou desossada, e quase me fez curvar à sua frente, por muito pouco.

— Isso ainda não é um convite em aberto, vou mostrar como conduzir seu lobo, vou te treinar e ensinar sobre nossas origens... a sua, mas isso é um contrato de mão dupla, você terá que me dizer tudo que sabe até agora sobre sua origem.

Talvez eu estivesse sonhando, e tudo isso fosse falso, apenas meu cérebro me enganando mais uma vez, usando minhas fantasias contra mim.

— Sam, acho melhor se afastar.

Eu não podia escutar nada, meus ouvidos estavam cheios de algodão, surdos para qualquer coisa ao meu redor, havia apenas essa sensação avassaladora e terrivelmente boa, que faz meu corpo convulsionar para frente com violência no momento em que calmamente Sam dá dois passos para trás, se afastando da reação caótica do meu corpo.

Meus ossos pareciam uma confusão entre encolher, estalar e se realocar, é doloroso como sempre, mas dessa vez só havia isso, tomando conta de tudo que eu era, a fumaça prateada enevoando meus olhos enquanto eu voltava a mim mesma.

Aceitação

Não era um sonho, era real, estava acontecendo, mesmo que fosse incerto, quando levantei meu rosto humano em direção a Sam só consegui sussurrar uma palavra entre os espasmos do meu corpo recém adquirido.

— Obrigada.

Um cobertor quente e confortável é colocado sobre meu corpo nu, olho para o lado e vejo Alice sorrindo, sorrindo da forma como eu sorriria se soubesse como lidar com aquele momento tão importante.

— Não me agradeça ainda, guarde para mais tarde, você tem muito pelo que passar. Enquanto isso, existe alguma dúvida?

Meus olhos tímidos procuram pelos dele, sua expressão é cautelosa, e sei que ele está preocupado com quanto quer revelar a uma estranha, mesmo que não saiba o que eu quero saber.

— Como você evita a nudez?

Eu não sabia que soará engraçado até um som selvagem sair do peito de Emmett e se espalhar ao nosso redor, até fazer Alice, Bella e o restante sorrir.

Depois que Emmett finalmente se recupera de seu ataque de riso descontrolado, Sam diz que vai me ensinar a não entrar em situações embaraçosas depois de uma transformação repentina, e então ele vai embora com a promessa de voltar no dia seguinte. O sentimento repentino de empatia que sinto por ele é tão embaraçoso, que me forço a permanecer calada quando ele parte em uma corrida rápida pela floresta.

Todos seguem para dentro de casa e eu vou junto, tomo um banho quente e perfumado de banheira, preparado com carinho por Alice, é ela que escolhe o que eu vou vestir, e eu não me importo com seu zelo em excesso, estou tão aliviada com tudo que aconteceu durante a tarde que ignoro qualquer tipo de protesto que vem a minha consciência quando ela escolhe o vestido azul claro e enfeitado.

Ela me leva para a sala de jantar em uma corrida divertida cheia de pulos impressionantes. Ela é tão ágil que me deixa desconcertada com meu desleixo usual.

Todos estavam ao redor da mesa, quando me sentei, Esme coloca um prato de aparência deliciosa na minha frente, fico encantada com a variedade de tons vermelho e laranja.

— O que é isso?

— Pasta con bolognese.

(Macarrão a bolonhesa)

O acento de Esme é tão bonito e puro, não me fez lembrar de nada ruim, apenas de quão atenciosa ela é, e de como eu queria ser assim quando toda a dor fosse embora. 

Meus olhos queimam e com a voz embargada eu respondo.

— Grazie.

(Obrigada)

— Você é tão bela e preciosa querida.

As costas de sua mão faz carinho no meu rosto enquanto pesca uma lágrima que desliza pela bochecha, ela pisca um olho como se fosse nosso segredo.

Dissipando a cena Alice e Bella começam uma conversa rápida e contagiante sobre o passo seguinte, o que não me soa tão difícil, quer dizer, até elas dizerem que eu preciso me introduzir na sociedade, entre os humanos, em um ambiente verdadeiramente humano e cheio.

Escola.

Edward, Carlisle e Esme parecem contraditórios a sugestão, ao contrário do resto que demonstra com muitos argumentos quanto a interação seria boa para meu autocontrole e comportamento social.

Enquanto engolia porções grandes e deliciosas de bolinhas de carne e macarrão, tentei acalmar as batidas agitadas do meu coração, e também a confusão que minha cabeça parecia com todas aquelas informações novas.

Depois que terminei Rosalie estendeu um guardanapo, constrangida limpo meu rosto e volto a prestar atenção à conversação, eles estão todos tão agitados, como se a tensão que estivera sobre nossas cabeças nas últimas semanas nunca tivesse sido real.

Quando Jasper coloca o envelope na minha frente na mesa todo o alarde se silencia, existe apenas expectativa no ar.

Meus olhos procuram seu rosto em confusão.

— Abra, é um presente.

Alice foi para os seus braços e sorriu sem se conter, meus dedos formigam, não tão ansiosos em fazer a próxima ação, mas não podia me recusar, era um presente.

Eu abri o envelope com força demais e acabei rasgando-o, a cor laranja se partindo, como se um raio tivesse atravessado seu caminho, o conteúdo se derrama sem cerimônia sobre a mesa, meus olhos indo direto para o meu nome, inscrito em letras negras em um papel grande e elaborado.

Quando o peguei nas mãos não tive certeza do que se tratava, então acompanhei a linha preenchida com um dedo enquanto lia mentalmente.

Ayira Angeline Hale

Minha garganta parecia fechada demais, e meu coração pesava, como se meu sangue tivesse se tornado mais denso e o fluxo caótico, eu estava quente dos pés à cabeça.

— Angeline?

O sorriso de Alice era a coisa mais maravilhosa, tão brilhante quanto uma estrela, como se ela não pudesse conter sua felicidade.

— Quando a vi em sua forma pela primeira vez, quando veio até nós, tudo que pude pensar foi em anjos... você é um anjo, que veio até nós.

Uma brisa suave anuncia a aproximação de Rosalie, lendo o pedaço de papel por cima do meu ombro, sua voz não esconde o tom irônico.

— Eu agradeceria se você tivesse me avisado antes que iria me tornar tia.

Antes de me sentir insultada eu percebo que sua ironia não se dirige a mim. Seus olhos pousam em Jasper, que permanece calado e quieto, seus olhos observando tudo.

Eu tive apenas um milésimo de segundo para processar o que aquilo significava.

Hale

O sobrenome dos gêmeos, Jasper e Rosalie, como a sociedade os conhecia.

— Você... você está me dando o seu nome?

Eu queria me partir, queria chorar para sempre, queria me desmontar em pequenos pedaços de emoção, queria transbordar.

— Achei que seria importante, quando nós a tomamos sob a nossa proteção significava que faria parte da nossa família, além do mais, isso vai ajudar a desvincular sua imagem do nome Cullen, ao menos por um tempo. Os habitantes de Forks ainda reconhecem nossa existência.

Depois das últimas semanas convivendo com eles, eu já sabia de todas as vezes em que os Cullen estiveram viveram e partiram de Forks, principalmente de quando eles voltaram e conheceram Bella, tendo que lutar contra a iminência de sua imortalidade e aparência sempre jovem que sempre causava rumores entre os humanos. 

Saber que como um casal Alice e Jasper estavam me adotando, era algo importante... significava mais do que eu podia explicar em palavras.

Quando passei os dedos pela certidão novamente meus olhos buscaram por Jasper. Ele nunca seria alguém que se expressava facilmente, seus gestos eram mais claros e transmitiam seus sentimentos de forma simples e cálida.

Talvez por isso me sentia tão ligada a ele, ainda era difícil sorrir, ou mostrar algo além de dor e sofrimento.

Não consegui dizer mais nada, pois não conseguia me expressar, então Alice continuou explicando como escolheu minha data de nascimento como o dia em que vim até eles. Eu não me importei,  não sabia qual era a data exata do meu nascimento. Junto a certidão também havia outros documentos, passaporte, identidade e carteira de motorista, esse último ainda era algo a ser desenvolvido e Edward explicou que me daria aulas de direção quando não estivesse treinando com Sam ou lutando com Jasper.

Era tudo muito grande, e quase me recusei a aceitar o presente de Bella e Edward, os dois insistiram que me dariam um carro, para me deixar mais tranquila eles prometeram que me levariam para escolher, mas isso não me deixou menos constrangida.

Já era tarde quando o momento passou, todos se recolheram e Alice me acompanhou até o quarto, e dessa vez quando fechei os olhos, fiquei com a consciência de que era meu dever e responsabilidade estar à espera de Sam durante a manhã no dia seguinte, então não foi uma noite tão ruim.

Eu não estava surpresa como tudo ocorreu, já estava preparada para não esperar por um  banho de rosas, e apenas suspirei quando Sam chegou em sua forma de lobo e me atacou assim que teve oportunidade. Mesmo que eu tivesse me esquivado várias vezes como Jasper tinha ensinado, foi difícil evitar arranhões, e ele me forçou e forçou incansavelmente, até que eu não podia mais controlar minha frustração, e simples como respirar, eu me transformei.

Isso não facilitou as outras vezes, não era sempre que eu caia em sua técnica, ainda tinha vários treinos com Jasper, e estes estavam se tornando maçantes, assim como o nervosismo de dirigir, Edward insistia que essa era a parte mais fácil do meu dia, e quando bati seu carro contra uma árvore ele apenas sorriu diante da minha frustração.

Quando comentaram com Sam sobre minha breve e inevitável ida à escola ele pareceu não concordar, mas de qualquer forma eu não poderia frequentar a escola da reserva enquanto ele não conversasse com os anciões, então com seu aval relutante as coisas se tornaram mais fáceis.

Quando o grande dia chegou, fiquei surpresa pela sensação fria e agitada que acontecia no meu estômago, minhas mãos estavam tão suadas e trêmulas… Eu não sabia se me sentia nervosa por eles terem decidido fazer isso ou por estar entrando num território desconhecido.

No primeiro dia de escola foi Jasper quem me levou, ele disse que estaria ao redor caso algo acontecesse, e que me pegaria no fim do período.

— Pegue.

Sua mão se estendeu em minha direção com um aparelho eletrônico que parecia estar na mão de todos que eu já tinha conhecido desde a fuga, um celular, a tecnologia era algo que me deixava intrigada.

— O quê...

— Isso é um smartphone, um Iphone para ser mais específico, as crianças deste século idolatram esse aparelho, vai te ajudar a parecer mais comum ao redor deles.

Peguei ele em minhas mãos e virei seus lados analisando… o branco se destacando em contraste com a tela grande e negra, a parte de trás onde tinha uma maçã no meio possuía esse brilho prata, imitando um espelho.

— Me lembra você, a cor, a cor do seu pêlo quando se transforma. Na verdade, foi Alice quem escolheu.

— Muito obrigada, não sei como agradecer tudo que fizeram por mim até agora.

— Não o faça, você é da família agora.

— Jasper... e se eu machucar alguém..?

— Você não vai, e se algo acontecer, se estiver confusa ou alguém tentar te machucar, apenas ligue, nossos contatos estão na lista telefônica. Apenas ligue.

Ele me deu uma breve aula dos aplicativos principais e as funções das quais eu mais precisava, eu aprendi rápido, apenas por ser uma necessidade.

Quando desci do carro fiquei momentaneamente paralisada com o fluxo de crianças se dirigindo ao complexo logo a frente, o som de risos, carros, conversas, música e gritos fez meus ouvidos zumbirem. Eu tinha vontade de tapar eles com as mãos e deitar no chão até tudo parar.

Me assustei quando o celular começou a vibrar na minha mão, quase o joguei no chão, mas o nome familiar na tela impediu isso.

Deslizei o botão verde de forma frenética e fiquei sem saber o que fazer em seguida.

— Coloque-o no ouvido.

Com minha super audição pude seguir as instruções de Jasper, sua voz saindo mais pasteurizada do aparelho, fiz o que ele mandou.

— Acalme-se, são apenas sons, você logo vai se habituar.

— Tudo bem.

— Agora, comece a andar em direção a entrada principal, apenas acompanhe o fluxo, continue falando comigo se isso te deixa mais calma, apenas relaxe sua expressão e finja estar distraída com o que estou falando.

— Eu estou preocupada.

Mentirosa.

— Você está apavorada, não olhe para todos os lados, apenas para frente, como um olhar perdido, e não aperte tanto o celular contra a orelha, seja suave.

— O que eu faço com minha outra mão.

— Coloque no bolso do seu casaco, Alice fez bem em escolhê-lo.

Olhei momentaneamente para o casaco preto de camurça estofado, gostei da sensação do tecido instantaneamente, Alice quase explodiu de felicidade quando o escolhi, os jeans eram cortesia de Bella, ela teve uma pequena discussão com Alice sobre o padrão comum de vestimentas numa escola pública.

— Na verdade fui eu.

— Ela deve estar muito feliz então.

— Sim, é bom poder agradar ela.

Suspirei aliviada.

— Está vendo? Estamos tendo uma conversa informal, sua expressão está mais relaxada, apenas continue dizendo coisas para mim.

Bella tinha razão, a forma como as crianças se vestiam se assemelhava ao que eu usava, alguns pareciam até mais extravagantes, grupos deles se amontoavam aos montes ao redor do estacionamento, as conversas eram animadas, frenéticas e até escandalosas. 

Não era tão assustador, não até o momento em que quase trombei com um deles.

Meus reflexos estavam mais rápidos, então quando o corpo colidiu com o lado do meu, me virei sobre meus pés em equilíbrio e observei em câmera lenta quando a garota começou a cair. Eu não pensei, apenas agi, minha mão se enrolando ao redor do seu pulso com firmeza, usando meu peso, dei um impulso para trás que equilibrou o corpo da garota, trazendo ela para perto.

Não adiantou nada, diferente do meu equilíbrio, o dela era um total caos.

Seu corpo caiu sobre o meu, seus braços segurando meu casaco, a aproximação deixou meu corpo tenso, porque com sua presença tão próxima, também veio seu cheiro, e eu não pude deixar de inspirar com prazer, mesmo que tivesse comido duas vezes durante o café da manhã.

Seu sangue cheirava a mel e canela, tão rico e quente...

— Ai caramba, me desculpe, eu sou tão desastrada!

Sua voz quebrou minha distração momentânea e me fez olhar para seu rosto, a primeira coisa que notei foram seus olhos, tão estranhos e magníficos, num tom azul fraco e coberto por lilás. Sob seus cílios transparente os vi se arregalar e ficar presos aos meus em surpresa e algo mais.

— Ayira? Está tudo bem?

A voz saindo do smartphone quebrou o momento estranho e me afastei bruscamente da garota, que desorientada se estabilizou sobre seus próprios pés e afastou a bagunça de cabelo branco do seu rosto.

— Eu sinto muito mesmo, sou a pessoa mais desastrada do universo, não sei o que teria acontecido se você não tivesse me pegado.

Eu só conseguia pensar, o que eu faço?

— Diga algo a ela.

Meus lábios se mexeram em silêncio enquanto a estranha sorria desconcertada, pisquei meus olhos mais algumas vezes e então segurei o telefone perto do peito.

— Você teria caído e se machucado de forma terrível.

Pelo cenho franzido da garota não era a coisa mais normal para se dizer, a voz abafada de Jasper contra meu peito só confirmou isso.

— Pergunte se ela está bem.

— Você está bem?

Sua risada abrupta me fez dar um passo para trás.

— Se eu estou bem?! Acho que eu quem deveria estar perguntando isso, visto que se arriscou para não me deixar passar o maior mico do ano.

— Eu estou bem.

Ela sorriu tímida, suas bochechas se tornando vermelho profundo, meu coração se acelerou quando vi o fluxo de sangue subir e se concentrar em seu rosto, talvez eu devesse ter caçado antes de vir.

— Você é nova?

Sua curiosidade estava estampada no rosto no momento em que me olhou, então era apenas questão de minutos que essa questão surgisse. Como Bella tinha me avisado, eu deveria apenas confirmar e parecer ansiosa em relação às perguntas seguintes, assim os deixaria constrangidos em ser tão evasivos com perguntas mais íntimas.

— Acho... acho que sim.

Ela bateu sua mão clara demais em sua tez e soltou uma risada sem graça. 

O gesto era de autoflagelo, mas ela parecia mais preocupada em se sentir envergonhada.

— Eu sou tão boba, é claro que você é.

Um silêncio muito quieto se instalou entre nós duas, percebi que ela não parava de se remexer no lugar enquanto eu a encarava à espera do próximo passo da conversação.

— Não se preocupe, você está indo bem, tenha um bom primeiro dia de aula Ayira.

Eu queria ter protestado no instante em que sua voz sumiu, mas não sabia como lidar com a garota e o smartphone ao mesmo tempo, o nervosismo voltou mais rápido e forte dessa vez, olhei para o celular em agonia e me esqueci completamente da garota a minha frente, pelo menos até o momento em que ela estendeu a mão e falou.

— Bem, eu sou Erin, a albina esquisita, obrigada por me salvar.


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Notas finais do capítulo

Espero que todos estejam bem, apesar de mais um ano de pandemia, não podemos deixar que nossa esperança se desvaneça por estarmos presos dentro de casa novamente... você pode viajar por mundos quando lê.



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