Como é difícil esse trabalho.

    Quando aceitei a proposta não imaginei que seria assim.

    Querido diário tenho que falar com alguém sobre isso ou vou ficar mais louca do que já sou.

   Há dois anos atrás ele chegou e me ofereceu uma oferta. Lembro-me daquele dia como se fosse hoje. Estávamos em um restaurante, o jantar havia sido delicioso e a sobremesa que era bolo de chocolate, meu preferido, me fez sorrir de alegria. Ele planejou tudo isso porque logo depois do jantar maravilhoso ele veio com o golpe e eu tola aceitei.

—Selina, casa comigo? –Ele abriu uma caixinha vermelha e nela havia um anel de ouro com um belo diamante em cima.

—Sim!

   Depois disso veio toda a loucura, a prova de vestido, a escolha dos padrinhos, ensaios... Toda aquela loucura do noivado.

   Logo depois que nos casarmos eu fui morar na casa, ou melhor, mansão da família. Fiz minhas malas peguei minha gata e parti para minha vida de casada, claro que eu já conhecia a casa e todos os seus habitantes, claro que já havia passado a noite alí, mas agora era diferente eu realmente iria morar na mansão.

   No começo do trabalho eu estava animada, como eu disse já conhecia todos os moradores do lugar. O que acontece é que eu não passava 24 horas com eles antes, então eu não sabia como eram loucos.

   Vamos começar pelo o morador “mais velho”, não querido diário não estou falando do Alfred ele é um anjo e se todos fossem assim eu estaria no céu.

   Eu estou falando de Richard Grayson ou Dick.

    Semana passada ele quase me deixa louca, não me leve a mal ele é comportado, mas as vezes me dá vontade de bater nele com uma colher de pau.

   Estávamos os dois na cozinha ele estava sentado no balcão estava com a cabeça abaixada eu estava de costas fazendo um chá.

—Haaaaaaaaa.

—Algum problema Dick? –Deus porque eu perguntei?

—Huunffnfffnnfff.

—O que?! –Me virei rápido achei que ele estava tendo um ataque. –Você está bem? Quer que eu chame alguém?

—Nãoooooooo.

   Eu respirei fundo, não vou perder a calma, não vou perder a calma.

—Querido levanta a cabeça e me diz o que aconteceu.

   Quando ele ergueu a cabeça levei um susto, a água que estava fervendo dentro do bule foi derramada pelo fogão eu a derrubei com o susto que o garoto me deu. O rosto do Dick estava todo inchado, seus olhos estavam vermelhos e com olheiras.

—Mas o que aconteceu com você?

—Briguei com a Kory.

—O que aconteceu? –De novo, porque eu perguntei?

—Ela fica me enchendo o saco só porque eu esqueço de ajuntar a toalha do chão do banheiro, outro dia ela gritou comigo dizendo que eu não amava mais ela ai pra provar que gostava dela eu comprei um buque lindo pra ela e sabe o que ela fez?

—Não.

—Começou a chorar disse que ela não me merecia que eu era muito bom pra ela e blábláblá.... Qual é o problema? Ai ontem ela me disse que eu não a amava pois nunca fazia nada com ela, eu disse Kory, amor, eu te amo e sempre quero fazer coisas com você –Ele gesticulava com os braços –Nós começamos a discutir... Você acredita que ela falou que eu ainda gostava da Barbara e que era pra eu voltar com ela? Fiquei com tanta raiva que disse: tá bom então eu vou, terminamos aqui. E fui embora. –Ele abaixou a cabeça- O que eu fiz?

—Besteira Richard, besteira. –Sentei do lado dele e comecei a esfregar suas costas – Você disse algo pra ela, não foi? Kory não falaria aquilo sem motivo.

—Eu disse que se ela não tava feliz comigo pra ela voltar pro planeta dela. –Dick ergueu a cabeça e olhou pra mim –Ela deve ter ido embora. Selina o que eu faço?

   Como os homens podem ser tão tolos? Eu peguei o telefone e disquei o número.

—Kory querida tudo bem? É a Selina... –Dick arregalou os olhos -Sim ele está aqui... Ele me contou... Sim... Entendo...Eu acho que você devia conversar com ele... Com certeza que ele foi um idiota... Essa mania da toalha é de família, é... Certo vou passar pra ele –Dei o telefone para Dick –Não a nenhum mal entendido que não seja resolvido com um bom diálogo.

   Sai da cozinha, não queria ouvir a conversa dele. A tarde daquele dia Kory veio nos visitar, vi que os dois estavam de mãos dadas.

—Você tinha razão Selina um bom dialogo resolve tudo.

—Que bom.

—E para agradecer você por ter nos ajudado eu vou fazer um jantar com um prato típico do meu planeta você vai adorar querida sogra.

   E lá fui eu jantar a “comida” da Kory, Deus passei mal a noite toda. O que não fazemos por esse emprego.

   No outro dia foi o segundo morador que me incomodou. Estava assistindo TV quando Jason entrou, ele bateu a porta com força.

—Ei! A porta não tem culpa da sua raiva.

—Não me incomoda Selina. –Jason berrava e eu odeio quando ele berra, assim como odeio vê-lo dessa forma.

—Senta aqui Jason. –Eu bati com a mão no acento do meu lado.

—EU NÃO QUERO!

—S-E-N-T-A A-Q-U-I.

   Ele sentou. Eu esperei ele falar sabia que logo isso aconteceria porque Jason Todd não gosta do silencio e muito menos da Usurpadora.

—Você sabe que tem coisas melhores passando agora né?

—Eu gosto dessa novela.

—Já sabem que a Paulina tá fingindo ser a Paola.

—Ainda não.

—Haaaaaa que coisa mais chata. Esse ator me dá nos nervos.

   Foi a gota d’agua.

—Não fala mal do Fernando Colunga!

—Tá,tá,tá. –Jason cruzou os braços. –Nós brigamos de novo.

—Mesmo?

—Ele não me entendi.

—E você o entendi?

—Hum.

—Querido é normal brigarem quando as pessoas se amam elas brigam e sabe o porquê?

   Jason negou com a cabeça.

—Porque sempre achamos que elas estarão alí conosco.

   Jason olhou para mim.

—Acha que eu tenho que pedir desculpa pra ele?

—Acho que os dois devem desculpa.

—Acho que vou falar com ele. –Ele se levantou.

—Querido tente ter paciência tudo se ajeita com o tempo.

   Jason concordou com a cabeça e saiu da sala. Finalmente podia assistir a minha novela em paz, mas quando olho para a TV já tinha acabado. Droga de trabalho!

   O terceiro morador é mais sensível do que imaginei, Tim Drake era um rapaz muito calmo e isso é bom ele não me incomoda muito, mas quando começa é difícil fazer parar.

—Selina! Selina! Selina!

   Tim veio correndo pelo jardim eu estava abaixada plantando uma flor quando eu o vi.

—O que foi?!

—Aconteceu uma tragédia!

  Eu levantei assustada.

—Meu Deus o que?! Entraram na casa?

—Pior!

—Botaram fogo na cozinha?

—Muito pior!

—Alfred descobriu que foi eu que quebrei o aparelho de chá dele?

—Pi... Espera o que?

—Nada! Me diz o que aconteceu.

—Eu peguei um livro emprestado da biblioteca de Gotham e não sei aonde ele está, eu preciso encontra-lo.

   Gente esse escanda-lo todo por causa de um livro?

—Certo –Eu esfreguei minha mão na testa-Deve estar no seu quarto.

—Me ajuda a procurar?

—Mas eu...

—Por favor.

   Eu suspirei e fui com ele não tive escolha afinal ele me arrastou, quando chegamos no quarto começamos a procurar por todo o lado, debaixo da cama, em cima do guarda roupa, no banheiro e ele não apareceu.

—O que eu vou fazer se esse livro não aparecer? –Tim começou a iperventilar.

—Querido calma –Eu coloquei as mãos no ombro dele – Fique calmo respire comigo.

   Consegui acalma-lo, sentamos na cama.

—Não pode ficar assim por causa de um livro.

—Mas se eu não entregar pra biblioteca eu –Tim começou a ficar nervoso de novo.

—Querido está tudo bem se você não conseguir achar esse livro compramos outro e damos para a biblioteca. –Eu fiz ele me olhar nos olhos – Não pode deixar esse monstro interior te dominar Tim, você é mais forte que ele.

   Tim sorriu.

—Você tem razão eu vou comprar outro livro agora mesmo.

   Ele saiu e eu voltei para o jardim finalmente podia plantar minha flor em paz, mas quando cheguei lá a encontrei toda esmagada na hora que Tim me puxou eu devo ter pisado nela. Esse emprego não tá me dando lucro.

   O último morador é muito difícil. Damian Wayne é uma peste com pernas e aprova disso foi a três dias.

—Isis aonde você está? –Fazia meia hora que eu estava procurando minha gata e ela não apareceu –Aonde ela está?

   De repente eu ouvi uma risada vindo da biblioteca. Damian estava com a MINHA gata no colo.

—Damian faz ideia de como procurei a Isis hoje?

   Ele me olhou com aquele ar arrogante.

—Ela tava comigo.

—Eu percebi –Estendi os braços –Me entregue ela.

—Não!

—Como é?

—Ela quer ficar comigo.

   E o pior é que era verdade, Isis estava muito à vontade no colo do Damian isso era incomum além de mim ela não ia com mais ninguém.

—Nós estamos brincando. –Vi vários brinquedos espalhados pelo chão –E foi ela que veio até mim, não a obriguei a nada.

   Damian estava com os olhos cheios de agua foi quando eu me lembrei.

—Quanto tempo faz que o Patinhas morreu? –Perguntei com a voz doce.

—Três dias.

—Querido...

   Os brinquedos era do Patinhas o gato de estimação do Damian, ele estava muito velho e o veterinário não conseguiu salva-lo, quando Damian o adotou ele já era muito idoso. Patinhas só ficou conosco por cinco meses. Me sentei do lado dele no chão.

—Estavam brincando de que.

—Tudo um pouco.

—Eu sei como é difícil perder um bichinho. –Damian não disse nada –Querido você fez a coisa mais linda que eu já vi, deu um lar para um gato que você sabia que não ia viver muito. Deu para ele amor e carinho e isso é lindo Damian.

   Ele me olhou.

—Sinto falta dele.

—Eu sei, mas não se preocupe em quanto você tiver a Isis vai ficar bem.

—Posso brincar com ela então?

—Sim querido.

   Eu me levantei e deixei os dois na sala quando estava na porta vi o quanto eles brincavam juntos. Depois daquele dia Isis só dormi com Damian e o segue pela casa inteira, parece que perdi a minha gata. O emprego ingrato.

   Essa é a minha rotina, todo santo dia. Isso quando o Bruce também não resolve bancar a criança, mas fazer o que né.

   Hoje para mim era um domingo normal, mas algo aconteceu.

—Amor.

—O que?

   Estava no quarto quando Bruce veio me buscar.

—Vem –Ele pegou a minha mão.

—Pra onde?

   Ele me arrastou para a sala de jantar a mesa estava posta, minha visão foi tampada por quatro rapazes.

—FELIZ DIA DAS MÃES! –Dick, Jason, Tim e Damian falaram juntos.

   Eles me abraçaram todos ao mesmo tempo e eu bem, eu comecei a chorar afinal de contas meus filhos me amam e eu morreria por todos eles.

   Querido diário eu nunca pedirei demissão desse emprego.