Gray andava de um lado para o outro, quase cavando um buraco no meio da guilda. Em suas mãos se encontrava um envelope branco.

— Mas que droga! Ela não vai chegar nunca?! – reclamou, olhando para a porta da guilda pela milésima vez. – Eu não aguento mais esperar.

— Oe, oe, cueca gelada, tudo isso é saudades da Juvia? – Gajeel provocou com um sorriso de canto, enquanto apoiava seu braço direito sobre o ombro de Levy. – Apaixonou mesmo.

— Cala a boca, Gajeel. É uma coisa importante. – rebateu, adotando uma carranca. – Eu só preciso que ela chegue logo.

— Coisa importante? O que é? – a palavra despertou a curiosidade de Natsu que em um segundo já estava ao lado do mago, cutucando-o. – Me conta!

— Sai daqui, palito de fosforo! Não é da sua conta! – Gray deu um soco em Natsu, o que fez com que os dois começassem a brigar. Nada de novo se tratando deles.

— Ela já deve estar chegando, Gray. A missão que ela aceitou junto com Lucy e Lisanna não era tão difícil e longe. – Mirajane sorriu, tentando acalmar o mago de gelo, que a essa hora já estava caído no chão com um galo na cabeça. Resultado da intervenção de Erza em sua briga com o dragon slayer de fogo.

— Eu sei. Eu confio nas habilidades dela. – sorriu, sabendo que a namorada era forte. Muito forte. – Bom, nada me adianta ficar nervoso, certo? Vou sentar e esperar...

— MIRA! – o garoto mal conseguiu terminar sua fala e a porta da guilda foi aberta com afobação por Lisanna e Lucy... carregando Juvia desacordada.

Seu coração falhou uma batida. Seus olhos se arregalaram. Suas pernas perderam a força e tudo o que conseguiu fazer foi acompanhar com os olhos várias pessoas correrem em direção às três magas. Escutou Mirajane pedir ajuda de alguém para levar Juvia para a enfermaria. Escutou alguém dizer que Juvia estava fria. Escutou alguém dizer que Juvia parecia morta.

— Morta... – repetiu em choque. Não, não poderia ser. Não ela, não de novo. Ele não poderia perder outra pessoa importante para ele. – JUVIA!

Gritou, forçando suas pernas a se mexerem, e deixando o envelope sobre a mesa mais perto. Seus olhos marejados só conseguiam focar na jovem sendo deitada em uma das macas da enfermaria da guilda. Os demais magos deram passagem para que ele conseguisse chegar em sua namorada. Suas mãos procuraram as mãos frias da maga com desespero.

— Juvia, por favor, não me deixe! Você não pode me deixar! – sussurrou, encarando as pálpebras fechadas. O corpo cheio de feridas, a respiração fraca. – O QUE ACONTECEU COM ELA?

Lisanna e Lucy prenderam as respirações, tentando reprimir as lágrimas para que conseguissem explicar como a maga da água ficou daquele jeito.

— Um monstro nos atacou quando estávamos voltando. Ele nos pegou desprevenidas. Juvia viu primeiro e se colocou na nossa frente, recebendo todo o ataque sozinha... – Lisanna olhou para baixo. – Eu sinto muito, Gray...

— O que... por que... você é uma idiota, Juvia. Por que você sempre precisa se sacrificar para salvar os outros? – Gray sussurrou, fitando a namorada com um tom de repreensão, embora ele também sempre agisse da mesma forma que a garota.

— Não se preocupe, ela vai ficar bem. – virou-se ao escutar a conhecida voz de Porlyusica, a curandeira da Fairy Tail. – E o que tem dentro dela também.

Gray acompanhou com o olhar a mulher se aproximar de Juvia e pousar suas mãos sobre seu ventre. Ela o encarou com um sorriso amável e ele soube que tudo ia ficar bem.

— Ela só precisa descansar um pouco. Logo você poderá contar a novidade. – afirmou, enquanto já começava a preparar uma poção medicinal. – Agora, vão. Saiam daqui e nos deixem em paz.

Pouco a pouco os membros da guilda foram saindo da enfermaria, no meio de exclamações de que não tinham entendido nada, Mirajane mantinha um sorriso cumplice. Naquele momento ela entendeu todo o nervosismo do moreno.

—- x –

Levy tentava convencer Lucy de que não era culpa de ninguém o que aconteceu com Juvia. Gajeel e Natsu ainda reclamavam que não entenderam nada da conversa de Polyusica e Gray. Elfmann gritava que era coisa de homem para uma Lisanna chorando. Freed e Bickslow zombavam de Gray, dizendo que o mago finalmente tinha sido amarrado pela maga da chuva. Erza e Wendy conversava sobre como nunca tinham visto o garoto tão desesperado e que ele realmente amava Juvia.

No meio do caos natural da guilda, Mirajane pegou o envelope antes segurado com tanto afinco por Gray e o guardou, longe dos olhares curiosos de seus amigos. Ela devolveria ao dono mais tarde, quando não corresse mais risco. Aquele momento era apenas dos dois e ela iria respeitar isso com muito prazer.

—- x –

Já era de noite, quase meia noite. Todos já haviam ido embora. Na guilda restavam apenas Mirajane, Gray, Juvia e Polyusica. A mais velha já se preparava para partir também.

— Você não vai voltar para casa? – a curandeira questionou, fitando o mago que permaneceu ao lado da namorada o dia todo. Não comeu, não bebeu, não foi ao banheiro, não dormiu. Apenas ficou olhando para o rosto da garota enquanto segurava suas mãos.

— Só depois que ela acordar e eu ter certeza que ela está bem. – respondeu, sem desviar o olhar. – Ela precisa acordar logo...

— Eu sempre soube que um dia você iria admitir seus sentimentos por ela. – sorriu, atraindo a atenção de Gray. – Você tem pensado mais seriamente nela há bem mais tempo do que prometeu, né?

Gray engoliu em seco. Tinha sido pego. Ele já sentia algo diferente por Juvia desde Tenroujima, mesmo que sempre a afastasse. Afastá-la era mais seguro e mais fácil que aceitar seus sentimentos e se dar uma chance de amar alguém.

Mas com o tempo ele acabou percebendo que não conseguiria mais reprimir isso. Anos e anos de declaração por parte dela, de demonstrações incontáveis de amor, muitas delas quando ele não merecia. Juvia sempre esteve ao seu lado, até quando ninguém estava. Sorriu ao lembrar do dia que finalmente chutou o balde e resolveu ver “no que dava”. O sorriso e o olhar de felicidade da maga da água foi, sem dúvidas, uma das melhores cenas que viu na vida.

— Gray-sama! – a voz tão conhecida ecoou pela guilda, fazendo-o virar-se em direção à maga, que aproximava-se dele a passos rápidos. – Juvia ganhou dois ingressos no novo parque de diversões de Magnólia!

Fitou os papéis nas delicadas mãos da azulada e manteve sua expressão neutra. Ele já esperava o que viria em seguida.

— Juvia pensou se Gray-sama não quer ir com Juvia... – sorriu, sentindo suas bochechas corarem. Seu coração já acelerava apenas de pensar em passar um tempo com o amado. Apenas os dois, como num encontro.

Gray abriu a boca para responder seu costumeiro não, mas fechou ao lembrar de como todos da guilda estavam curiosos sobre o local e ansiando uma oportunidade para conhecer. E como ele havia sido a primeira opção da mulher.

— Tudo bem. – foi apenas isso, mas foi o suficiente para que dois corações se formassem nos olhos de Juvia. Ela até se beliscou para ter certeza que não estava sonhando.

— Juvia está tão feliz! – exclamou, dando pulinhos de alegria. – Gray-sama e Juvia vão ficar juntos para sempre e vão ter 30 filhos!

— O-Oe! – o mago reclamou, assustado, com a imaginação fértil da garota. Juvia, no entanto, não escutava mais nada e já estava em seu próprio mundinho. Gray sorriu de canto pensando no que havia se metido.

— E não é que ela estava certa? Talvez a gente realmente tenha 30 filhos... – riu baixo, maneando a cabeça negativamente.

— Gray? – olhou para trás e viu Mirajane com um envelope em mãos. – Polyusica-san já foi embora.

Estava tão entretido em suas lembranças que nem viu a mais velha se retirar. Suspirou, sentindo culpa por Mirajane ficar até aquele horário por causa dos dois.

— Mira, me desculpe... Se quiser ir embora, eu cuido da guilda, não se preocupe. – levantou-se, saindo do lado de Juvia pela primeira vez no dia, e foi em direção a maga take over.

— Eu já estou indo mesmo, mas antes precisava te entregar isso. – ofereceu o envelope branco que segurava. – Imagino que ele deva ser importante para vocês dois.

— Mira... – sussurrou, pegando o envelope com o nome de Juvia. – Eu... eu nem tinha percebido...

— Não se preocupe, eu não vi o conteúdo e o guardei antes que alguém o visse. – Mirajane sorriu. – Daqui cinco minutos é meia noite e também uma data muito importante, não acha?

Gray assentiu, esboçando um sorriso agradecido. Viu Mirajane distanciar-se de si e voltou a fitar o envelope em mãos. Ela tinha razão, aquele dia que estava chegando era muito especial.

Voltou a sentar ao lado de Juvia, fitando-a. Sorriu ao pensar que não precisaria mais odiar o dia das mães por lembrá-lo que suas duas mães tinham ido embora. O dia das mães seria diferente para ele, para Juvia e para mais uma pessoa.

Sentiu os dedos de Juvia se mexerem debaixo dos seus e encarou o rosto da azulada, esperando pelo abrir dos olhos.

— Gray-sama... – murmurou, piscando os olhos várias vezes para se acostumar com a claridade. – Juvia voltou...

— Bem-vinda de volta, Juvia. – sorriu, fazendo um afago nos fios azulados. – Como se sente?

— Um pouco dolorida... – fez uma careta de dor. – E com fome.

— Farei algo para você comer assim que chegarmos em casa. – sentou-se na beirada da cama, inclinando-se para dar um beijo cálido nos lábios da mulher.

— Em casa? – Juvia estranhou a colocação. Eles não moravam juntos.

— Sim, você vai se mudar para a minha casa. Não faz sentido você continuar pagando aluguel e ficando longe de mim, quando pode muito bem morar comigo. – encolheu os ombros, sentindo suas bochechas corarem.

— G-Gray-sama quer que Juvia more com ele? – gaguejou em surpresa. Claro, ela esperava esse momento há tempos, inclusive ela já tinha arrumado as malas e deixado apenas as roupas essenciais para fora. Precisava estar pronta para quando a hora chegasse.

— Sim. – fitou-a sem expressão. – Você não quer?

— J-Juvia quer sim! Juvia quer muito! – os conhecidos corações nos olhos apareceram. – Juvia está tão feliz! Gray-sama e Juvia vão ficar junto para sempre! E vão ter 30 filhos!

Gray riu ao escutar o que a jovem dissera. Pegou o envelope e entregou à azulada que o fitou em confusão.

— Lembra que você fez o teste de sangue antes de sair para a missão porque não se sentia bem? – Juvia assentiu. – O resultado ficou pronto.

— Gray-sama já viu? – questionou, abrindo o envelope com as mãos trêmulas.

— Sim. – respondeu, encolhendo os ombros.

— E o que deu? Juvia está doente? Juvia não pode morrer agora que Gray-sama chamou Juvia pra morar com ele! – sua imaginação fértil começou a trabalhar novamente, o que fez o mago de gelo rir.

— Calma, você não vai morrer. Na verdade, é mais fácil eu morrer... – a ultima parte foi praticamente um sussurro para que a namorada não escutasse.

— O que disse, Gray-sama? Juvia não escutou. – pendeu a cabeça em curiosidade. Os olhos grandes o fitando.

— Nada, apenas veja o resultado.

Juvia assentiu, retirando o papel de dentro do envelope. Seus olhos rodaram pelo conteúdo do exame e arregalou ao ver o positivo para gravidez. Olhou para Gray, olhou para o exame, olhou para Gray, olhou para o exame.

— JUVIA ESTÁ GRÁVIDA! – gritou, quase desmaiando se o namorado não a tivesse segurado. – Gray-sama, Juvia está grávida de Gray-sama!

— Eu sei. – sorriu, abraçando-a. Fitou o relógio. Já se passava da meia noite. Já era dia das mães. – Obrigado por me dar uma nova família.

— Juvia vai te dar uma família enorme! – exclamou, retribuindo o abraço e em seguida beijando-o de forma carinhosa. – Gray-sama esperou o dia inteiro para contar isso pra Juvia?

— Sim. – assentiu. – E eu quase morri quando você chegou desacordada. Nunca mais faça isso.

— Desculpa... – abaixou a cabeça em tristeza.

Gray levantou a cabeça da namorada pelo queixo em um delicado movimento. Fitaram-se por longos segundos. Cada um com seus turbilhões de sentimentos e pensamentos.

— Juvia. – Gray chamou com um sorriso.

— Hm? – respondeu com o mesmo sorriso.

— Feliz dia das mães. – depositou uma mão no ventre da azulada e outra em seu rosto.

Juvia apenas aumentou seu sorriso, aproximando-se e acabando com a distância que existia entre seus lábios e os de seu amado. Seu coração estava aquecido.

O dia das mães jamais seria o mesmo. Para Juvia, para Gray e para o pequeno fruto de amor que crescia dentro da garota.