— Então... O que foi isso? – Draco sorria de orelha a orelha. Um pouco por ter se livrado dos garotos que estavam o incomodando e um pouco por ter sido Hermione quem o tinha feito.

— O que?

— Isso – Riu – Você botou dois caras enormes do último ano pra correr.

— É um super poder – Sentou cautelosamente em sua cadeira – Colocar babacas para correr. Já fiz antes.

— É, eu lembro – Sentiu o rosto esquentando, pois lembrava que ele tinha sido o babaca na questão.

— Aquele soco foi muito bonito – Não entendia bem o porquê, mas estava mais à vontade agora com Malfoy.

— E dolorido – Comentou massageando o nariz e lembrando da dor.

— Considero isso mais uma vitória.

— E deveria – Piscou um olho para ela.

Hermione percebeu que nunca tinha notado como Draco era bonito. Apenas via um sonserino irritante e estupido e nunca os olhos azuis que brilhavam quando ele estava se divertindo, ou os cabelos loiros que caiam suavemente no rosto, ou mesmo o sorriso bonito que tinha quando não estava fazendo piadas de escárnio.

— Terra para Hermione – Chamou vendo que ela não estava mais prestando atenção – É isso que os trouxas falam, não é?

— Sim – Sorriu surpresa e se repreendeu pela distração – Da onde você tirou isso?

— Andei vendo seriados trouxas – Sussurrou como um segredo – Em casa. Estava entediado.

— Uau – Piscou algumas vezes, queria manter a conversa agradável, mas uma pergunta pulsava em sua mente e não conseguiu não fazê-la – Draco, é por causa deles que você me pediu desculpa?

— C-como assim?

— Os do último ano. Que estavam te incomodando. É por causa disso que você ficou pensando?

Draco Malfoy foi pego de surpresa e não conseguiu se expressar. Naquela manhã tinha resolvido ir até a biblioteca pensar um pouco sobre as coisas que fazia para os outros em silêncio e sozinho, quando encontrou Hermione e sentiu que era o destino. Resistiu à vontade de fugir daquela conversa e se desculpou pelas suas maldades e viu o quanto tinha machucado ela, pois nem mesmo um convite para ir até a enfermaria foi aceito sem desconfiança. Sentiu que, depois que ela o ouviu, uma amizade poderia surgir até que ela fugiu dele, mas agora estava com medo de como as coisas estavam avançando rápido. Nunca tinha tido um amigo assim, que fosse confidente.

Gaguejou um pouco antes de conseguir murmurar uma afirmação.

— E porque eles estão fazendo isso com você?

Draco deu de ombros, sentindo seus olhos se encherem de lágrimas, com as quais lutou para que não caíssem.

— Tem um motivo – Falou gentilmente – E você sabe. Eu sabia porque você implicava comigo. Você é... era... preconceituoso com trouxas. Porque eles te incomodam?

Draco sentiu o ar faltando e voltando. Olhou o rosto solícito de Hermione e correu para fora da biblioteca, como o covarde que era.

A garota suspirou desanimada. Queria poder ajudar o sonserino, afinal o garoto estava sofrendo. Mas, uma coisa de cada vez e resolveu ler os livros primeiro, para ajudar Harry.

***

— Hoje uma coisa muito estranha aconteceu – Hermione contou baixinho para Ron e Harry. Os três estavam na sala do dormitório da grifinória, sozinhos, pois os outros alunos ainda estavam circulando pela escola animados com o baile de inverno que se aproximava.

— O que exatamente seria estranho no nosso cotidiano? – Ron pontuou com um sorriso.

— Draco me pediu desculpa.

O queixo dos dois garotos despencou e ficaram sem palavras por alguns minutos, enquanto Hermione contava a situação toda.

— E no final dois sonserinos do último ano apareceram e começaram a implicar com ele. Eu não ouvi tudo o que diziam, mas foi ruim. Daí eu apareci e eles foram embora.

— Você tá dizendo que o Malfoy está sofrendo bullying? – Harry gaguejou ainda muito surpreso.

— É o que parece.

— E você quer ajudar ele? – Ron arregalou os olhos azuis.

— É muito bobo? – Hermione fez uma careta culpada.

— É muito nobre – Harry deu de ombros.

— Não sei se eu conseguiria – O ruivo concordou.

— E eu queria a ajuda de vocês – Falou rapidamente, pois sabia que a probabilidade deles negarem era extremamente alta – Eu faço os trabalhos de vocês por uma semana.

— Porque quer ajudar ele? Depois de tudo o que ele fez pra você – Harry arrumou os óculos no rosto, lembrando das vezes que ele mesmo tinha sofrido com as palavras cruéis do loiro.

— Eu quero mostrar pra ele que nem todas as pessoas são mesquinhas e egoístas como a família dele. Quero mostrar que ele pode ser uma pessoa legal e que pode ter amigos que se importam e pode ser uma pessoa normal – As palavras saiam correndo pelos lábios dela.

— Quer dar a outra face? – Ron arqueou uma sobrancelha.

— Ei, eu já li isso em algum lugar! – Harry apontou um dedo para o amigo animadamente.

— Foco! – Hermione exigiu – Me ajudem?

— Com uma condição – Ron ponderou após alguns segundos refletindo.

— Eu faço qualquer coisa.

— Não é pra você – Olhou para Harry, que captava o que ele queria dizer – Eu quero que Draco peça desculpas para mim e para o Harry. Por tudo. E, no futuro, ele pode se desculpar com a minha família também.

Hermione riu nervosamente.

— Isso não precisa ser tipo agora né?

Os garotos reviraram os olhos e Harry segurou a mão da amiga.

— O que nós não fazemos por você?

— EBA! – Gritou pulando e abraçando os dois.

— O que nós vamos ter que fazer? – Ron indagou ainda contrariado com a ideia.

— Só sejam meus amigos – Ela pediu – E vamos fazer o Draco ser nosso amigo. E se tornar uma pessoa mais legal e sei lá, mas ele pode melhorar e será uma pessoa horrível a menos no mundo.

— Você é maluca, Hermione – Ron acusou com o braço dela amassando seu pescoço – Completamente louca.

— E é por isso que vocês me amam – Riu.

— Eca – Harry falou rindo e os dois começaram a gritar e rir quando Hermione apertou eles ainda mais em um abraço de urso.