No Horizonte de Um Copo escrita por godEos


Capítulo 3
Três


Notas iniciais do capítulo

Olá!

Feliz Aniversário, Karol!! Eu te amo demais e espero que eu tenha conseguido te agradar ao menos um pouco com essa história. Queria retribuir todo o carinho e cuidado que você teve comigo nos meus dias frios. Obrigado, eu te amo!!

Sem mais demoras para os demais, boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/789968/chapter/3

No Horizonte de Um Copo

Capítulo Três

O corpo másculo e robusto resistia ao esforço vigoroso desprendido contra si, tentando evitar que seus pés chegassem ainda mais próximos da beira da piscina. Facilmente, Iwaizumi libertaria-se daquela posição incômoda caso desejasse, no entanto, naquele instante, era divertido, para ele, digladiar uma luta contra Oikawa que insistia em jogá-lo dentro d’água. 

— Não seja chato, Iwa-chan — pedia birrento. — Qual é graça de se reunir na piscina com os amigos e não tomar banho?

Tooru encontrava-se levemente indignado pela forma como os seus pedidos carinhosos para que Hajime o acompanhasse em um mergulho rápido foram rejeitados. Tentara de tudo, falara baixo ao pé do ouvido, alisara o peitoral definido e depositara um selinho demorado na face alheia, mas suas investidas gentis não despertavam efeito. Por esse motivo, atingira o seu limite e apelara para a birra. 

Há alguns minutos, estava empurrando, em direção à piscina, o corpo forte de Iwaizumi, que evitava qualquer proximidade com a água com gosto de cloro. Seu rosto estava esbraseado por causa do empenho gasto em vão, o sol quente de verão também não o ajudava a melhorar o aspecto exausto do semblante.

Inúmeras vezes, Hajime não suportou a maneira como o afinco constante de Oikawa revelava-se ineficaz, deixando escapar um riso baixo e debochado. O barulho rouco de sua alegria era abafado por xingamentos altos e criativos ditos pelo barman, que a cada instante repensava se não era hora de aceitar sua derrota. 

— Desisto! — Rendeu-se, suspirando pesadamente ao se afastar de Iwaizumi. — Não quero mais tomar banho com você. 

— Agora é tarde — avisou. 

Os braços malhados envolveram a cintura fina de Tooru, puxando o corpo dele contra si. Satisfeito, Hajime sorriu ao notar a surpresa estampada no olhar alheio em virtude da proximidade súbdita — e quase inexistente — entre seus rostos. 

Em razão da exígua diferença de altura, a cabeça de Iwaizumi estava inclinada para cima, atento aos ínfimos detalhes das feições de Oikawa. Adorava contar as sardas claras que maculava a região próxima ao nariz fino; elas contrastavam, com perfeição, com a tonalidade nevada da pele dele e se tornavam mais evidentes quando ele estava corado — como naquele momento. 

Suspirou apaixonado, sobrepujado pela beleza daquele homem, e lhe roubou um beijo rápido. Forçou os braços que circuncidavam o corpo de Oikawa para levantá-lo do chão, ao passo que aproximou-se às pressas da piscina. Antes de jogar-se para dentro dela, ouviu uma risada esganiçada daquele que estava preso contra si e, em seguida, o barulho abafado da água. 

Submerso, Hajime abriu os olhos e encontrou que estava à mercê do escrutínio de Tooru, que sustentava um aspecto irritadiço. Olhou-o e sorriu, desculpando-se, por mais que palavras não fossem verbalizadas. Após meses juntos, descobriram que uma sintonia harmoniosa e fascinante existia entre eles. Não precisavam de muito para se comunicar, apenas que as joias de esmeraldas em seu olhar  se deparassem  com as jóias de âmbar no olhar dele. 

Oikawa fora liberado do abraço apertado e as suas mãos, que repousavam contra o peitoral de Iwaizumi, alcançaram o rosto dele, acariciando-o e, só então, puxando-o em encontro ao seu para beijá-lo. O beijo tinha o gosto cloro e, certamente, não fazia jus à mágica dos filmes, mas, em qualquer situação, estar com os lábios de Hajime colados aos seus despertava-lhe sensações gostosas. 

O ar em seus pulmões faltou, não lhes dando outra opção além de voltar a superfície. Emergiram isentos do incômodo calorento provocado pelo sol forte, mas o rubor ainda persistia nas faces alegres. Haviam gritos proferidos por Matsukawa, pedindo que parassem com a melação e fossem ajudar a preparar o churrasco.

 — Eu não tenho culpa se você não namora com um cara incrível como Iwa-chan, Matsun — Oikawa queixou-se ao escalar a escada para fora da piscina; Iwaizumi bem atrás de si.

Aproximaram-se da churrasqueira e Matsukawa ofereceu-lhes um pegador para facilitar o manuseio da carne que estava grelhando e se afastou, deixando-os sozinhos. Tooru dividiu o olhar entre Hajime e o equipamento de metal cheio de carvão, um pouco incerto, implorando para que fosse liberado daquela posição. 

— Não quero que meus cabelos fiquem fedendo a fumaça — explicou-se quando Iwaizumi acenou para que saísse dali. — Você é o melhor, Iwa-chan. 

Deixou um sorriso nascer em seus lábios, contente pelo elogios recebido. De fato, não negaria que Oikawa era um homem bastante atencioso no que diz respeito à sua aparência. Ele tinha rotina bem delimitadas para cuidar do corpo esculpido e da pele macia. Seu senso de moda, por outro lado, em algumas ocasiões, despertava calafrios, principalmente, nas noites em que ele usava pijamas com estampa de aliens. 

Um horror!

Aquele dia não era um dia especial ou peculiar, era somente um domingo comum. No entanto, Issei havia convidado os dois para aproveitarem o sol do verão e curtir um banho refrescante de piscina. Iwaizumi normalmente rejeitaria convites para esse tipo de programação, já que preferia a quietude do seu jardim e um bom livro, mas, desde que começara a namorar o Oikawa, estava comparecendo com maior assiduidade em eventos daquela espécie.

Haviam sido os primeiros a chegar e estavam esperando pelos demais convidados. Kuroo deveria vir acompanhado de seu namorado, um instagrammer famoso chamado Kenma, e Hanamaki chegaria atrasado devido a um imprevisto no hospital. Hajime não saberia explicar como se deu o processo de formação daquele grupo, de alguma forma, todos foram conhecendo-se e se tornando íntimos. 

Sua amizade com Tetsurou, que estava um pouco fria devido às vidas diferentes que tomavam (apesar de Iwaizumi ser um cliente fiel do restaurante dele), retornou ao calor costumeiro dos dias de faculdade depois que engatou uma relação com Tooru. Kuroo acreditava fielmente que tinha sido o cupido do casal e nenhum dos dois decidiu contrariá-lo. 

Takahiro e Issei eram os escudeiros leais de Hajime e eles não pararam de perturbá-lo até que fossem apresentados a Oikawa. Os três tornaram-se bons amigos e, embora não admitisse nem sob ameaça de morte, o ortopedista tinha crises leves de ciúmes às vezes. Não entendia porque os amigos preferiam seu namorado a ele, ele tinha chegado antes, mas, bem no fundo, reconhecia que seria injusto culpá-los, Tooru era um homem incrível. 

Para Iwaizumi, em retrospecto, era surreal a maneira como o destino encaminhou-se para uni-los. Eram estranhos flertando em um bar e, em poucos dias, eram dois apaixonados fervorosos e, meses depois, eram namorados entusiasmados e eufóricos para compartilhar o restante de suas vidas juntos. 

Por muito tempo, Hajime não condimentou expectativas sobre o amor. Em sua adolescência, diferente dos muitos amigos que tinha, sequer queixou-se ou lamentou-se sobre a mera possibilidade de estar fadado a viver seus dias sozinhos. 

Os anos esmaeceram, céleres, e todos ao seu entorno estavam encontrando almas gêmeas ou aventurando-se no amor. Entretanto, Iwaizumi não, ele sempre esteve aquém desse mundo, vivendo calmamente na sua solidão. Estaria mentindo se relatasse que sofreu por estar sozinho, nunca importou-se demais com isso; seus dias não era menos doces ou mais amargos. 

A Terra estava destinada a rotacionar em torno do seu próprio eixo e a transladar em volta do sol até o seu último dia, mas ele não era um astro para estar atado a outro. Então, Oikawa surgiu, subitâneo, e Iwaizumi fora incapaz de se defender. 

Abandonando o ceticismo que sempre carregou consigo, os meses recentes compartilhados com Oikawa fê-lo questionar a incredulidade por ele usada para enxergar a vida. Muitas noites antes de dormir, Hajime indagou-se quais palavras ele usaria, se almas gêmeas e destinos eram verdades incertas, para descrever a urgência e a perfeição com que Tooru havia moldado-se a sua existência.

Esporadicamente, Oikawa visitava-o na churrasqueira — muitas vezes, para roubar-lhe beijos, e poucas vezes, para ajudá-lo a acertar o ponto da carne. Em algum momento, Kuroo e Kenma chegaram, sentando-se na mesa espaçosa que estava disposta no quintal. 

Pelo canto do olho, enquanto exercia, com diligência, o ofício de churrasqueiro, Hajime viu Oikawa perturbar Kozume para tirarem juntos algumas fotografias. Feliz, ele gesticulava ao falar, reproduzindo poses para questionar qual delas era a melhor para valorizá-lo. Ouviu o barulho da câmera e, depois, alguns comentários animados sobre como Kenma deveria marcá-lo na foto postadas para que conseguisse seguidores.

— Tenho certeza que seus seguidores amam me ver no seu feed ou nos seus stories — gabava-se animado. — Eu sou lindo, não sou, Iwa-chan?

Iwaizumi costumava sempre ostentar um leve repuxar de lábios — um sorriso discreto — quando seus olhos tinham Oikawa como foco, era natural. No breve segundo que a pergunta fora feita e o olhar alheio direcionou-se a si, a expressão fechou-se e ele gaguejou algumas palavras ininteligíveis em confirmação.

Kuroo aproximou-se com uma cerveja em mão, oferecendo-a a Iwaizumi, que aceitou prontamente. Estava calor por causa do clima quente e ficar à beira do fogo para cuidar da carne não melhorava a situação. A bebida amarga e gelada serpenteou pela sua garganta, amenizando a temperatura e refrescando seu corpo. 

Conversaram sobre assuntos triviais, como a partida de vôlei que acontecera no dia anterior. Todavia, a maior parte do tempo fora designada para contemplar os namorados de ambos que continuavam entretidos com as fotografias. Oikawa era bastante exigente, então Kenma continuava incumbido de fotografá-lo até o momento em que ele acreditasse que a foto estava perfeita. 

De longe, Iwaizumi agradeceu por Kozume possuir uma personalidade tranquila a ponto de não se exaltar com as imposições de Tooru. Mentalmente, pensou que se o fotógrafo dele fosse, no lugar de Kenma, Hinata — o rapaz de cabelos alaranjados que trabalhava com ele —, aquela sessão de fotos teria acabado há muito tempo. 

Iwaizumi passou a atribuição de churrasqueiro para Hanamaki no instante em que ele pisou no gramado de Issei. Um ínterim que ele não saberia mensurar havia se passado e as garrafas de cerveja vazias amontoadas um pouco distante de seus pés era a única referência que existia para atestar a passagem de tempo. Procurou por Oikawa e seus olhos não registraram a presença dele pelo quintal. 

Kuroo avisou que ele e Kenma estavam dentro da cozinha fazendo drinks e gravando para divulgar nos stories. Hajime questionou como os seguidores de Kozume lidavam com aquele lado insólito dele, uma vez que o conteúdo que o tornara famoso estava relacionado games e derivados.

Instantes depois, seu namorado apareceu com um copo repleto por um líquido avermelhado e, mesmo ao longe, Iwaizumi poderia afirmar que o álcool já havia domado-o, era óbvio. No primeiro encontro que tiveram, Oikawa avisara-lhe que era um bêbado quieto e, embora tivesse duvidado, atestara depois. 

Quando estava alcoolizado, Tooru diminuía o ritmo com o qual se expressava e gesticulava. Ele permanecia quase o tempo inteiro sentado, as mão descansando sobre as pernas, e, para surpresa de muitos, calado. Sua boca mantinha-se fechada, ouvindo aqueles que estavam ao seu entorno e raramente interrompendo-os. Ele abriu um sorriso gigante quando notou que Iwaizumi ocupava um lugar à mesa e se apressou para sentar ao lado dele. 

— O quanto você bebeu? — Perguntou baixo, apenas para que Oikawa pudesse ouvi-lo. Sabia que o namorado tinha uma tolerância elevada para o álcool, ele não era derrubado com facilidade, mas, mesmo assim, ali estava ele: bêbado. 

— Não muito — respondeu, a voz estava arrastada. — Matsun tem muitas bebidas diferentes, acabei misturando tudo — levou a mão ao rosto para cobrir a boca quando soluçou. 

— Eu também não estou mais tão sóbrio — avisou, rindo soprado. — Kuroo me deu muitas garrafas de cervejas enquanto eu estava na churrasqueira. 

— Tudo bem. 

Iwaizumi e Oikawa sempre ocupavam extremos de personalidades e, estando sob o efeito feliz do álcool, não seria diferente. Ao passo que Tooru tornava-se sossegado e manso, Hajime alterava-se para alguém alegre e livre. Ele gostava de abraçar e trocar carinhos simples, como um afago leve na mão ou roubar beijos rápidos. 

Mesmo tendo seu julgamento afetado pela bebida, Iwaizumi ainda recordava-se de todos os desejos viscerais que afloraram sua pele no dia em que conheceu Oikawa. Em segredo, ansiou por aquele barman, na vã esperança, que ele atendesse todos os seus pedidos e, de tal forma, lhe entregasse os beijos mais quentes e os abraços mais doces.

Naquele dia, Hajime desejou Tooru para si sem saber que, não muito tempo depois, seriam um do outro. 

A palma direita de Iwaizumi envolveu a palma esquerda de Oikawa em um aperto firme, antes de levá-la aos lábios para depositar um beijo casto e gentil. Ambos sorriram pelo gesto simples, ignorando os demais presentes na mesa. Esconderam as mãos debaixo da mesa, mas não as desenlaçaram. 

O dia seguiu, todos juntaram-se à mesa para beber e conversar. Oikawa insistiu para que Iwaizumi experimentasse um dos variados drinks que ele estava fazendo e tinha um em particular que agradou ao paladar dele.

O cocktail era feito com vodka, suco de limão e uma cerveja de gengibre. O sabor era bastante diferenciado, sobrelevando-se as notas adocicadas e ácidas. O drink era decorado com uma espuma de gengibre que deixava a bebida levemente picante no primeiro gole.

Iwaizumi levou, em certo instante, o drink que Oikawa tinha preparado para si aos lábios, vertendo o líquido. Os amigos riram da sua cara e ele não entendeu qual era a procedência das risadas. O olhar procurou por Tooru em busca de explicações e o viu desmanchar-se em uma gargalhada gostosa. 

Oikawa precisou de alguns breves instantes para conseguir explicar o motivo de tantas risadas. 

— Seu rosto está sujo com a espuma do drink.

Tinha algum tempo que Tooru havia diminuído o ritmo da bebida, a voz estava quase normal novamente. Ele levou a mão ao rosto de Hajime e limpou o lábio superior com o dedão e, em seguida, levou o seu dedo a boca, livrando-o da espuma acastanhada. 

— Pronto, está limpo. 

Atônito pelo gesto, Iwaizumi olhou para Oikawa e se perguntou se os amigos estavam achando eles dois estúpidos apaixonados — provavelmente sim. De vez em quando, esqueciam-se que haviam outras pessoas ao entorno, perdendo-se no mundo paralelo em que somente eles sabiam como chegar. 

A mão de Iwaizumi alcançou a curva do pescoço de Oikawa e a sua testa colou-se a testa dele. Embriagado mais pela paixão delirante que o movia do que pelo álcool, beijou os lábios alheios, podendo atestar que o gosto picante da espuma de gengibre ainda persistia. 

Hajime estava em um estado inegável de felicidade genuína. Não existia a necessidade tenra de colocar a culpa no álcool, porque o responsável pela plena satisfação e pela quentura que consumia seu peito era unicamente Tooru.

Daquela vez, Iwaizumi não se importaria com nada que existisse aquém ou além do horizonte daquele copo à sua frente. 

Daquela vez, Iwaizumi não se importaria com ninguém além daquela pessoa que estava ao seu lado — Oikawa.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E então, gostaram? Espero que sim!

Esse foi o último capítulo de No Horizonte de Um Copo, espero que cada palavra lida tenha valido a pena para vocês e, especialmente, para Karol!

Beijos e até a próxima história!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "No Horizonte de Um Copo" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.