No Horizonte de Um Copo escrita por godEos


Capítulo 1
Um


Notas iniciais do capítulo

Olá!

Há meses que não posto uma história que até esqueci qual era sensação. Em verdade, tem mais de um ano que postei minha última IwaOi, então estou animado para trazer essa história a público. Espero que gostem da mesma forma que amei escrevê-la.

No Horizonte de Um copo será um shortifc de três capítulos e postarei o primeiro hoje, o segundo amanhã e o último domingo.

Além disso, essa fanfic é meu presente de aniversário (atrasado se você considerar que prometi desde 2019 ou adiantado se você considerar que o aniversário dessa pessoa ocorre no próximo domingo, 03/05) para Karol Karambola.

Amiga, demorei, mas cheguei e cheguei com estilo" Hahaha Estou torcendo para que goste de cada momento dessa história, eu fiz com muito carinho para conseguir demonstrar um terço da minha afeição e minha estima por você. Karol, você é incrível e eu te amo demais, viu? Espero que goste, beijinhos!



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No Horizonte de Um Copo

Capítulo Um

 

Após um dia estressante, Iwaizumi pensara que nada de pior poderia vir a acontecer para roubar-lhe a paz que restava naquele fim de noite. 

Bem, ele estava errado. 

— Ei, você é rico, né? — A voz curiosa e vibrante do barman o indagava.

Existiam muitas coisas com as quais Iwaizumi sabia lidar com uma perfeição invejável. Como diretor de um hospital de renome da cidade, ele seria capaz de cuidar de orçamentos e traçar planos de metas para se atingir os objetivos e lucros desejados. De fato, fora isso que realizara durante a maior parte do dia e, por esse motivo, estava tão tenso depois de uma reunião desgastante com o conselho. 

Além disso, sendo um ortopedista, teria a competência necessária para tratar a pior fratura que um paciente poderia apresentar. Apesar das horas gastas ouvindo gritos e opiniões enfadonhas dos proprietários do hospital acerca do rendimento mensal e do número excessivo de pró-bonos realizadas, Hajime ainda consultou um caso grave que surgiu na emergência do hospital de um senhor de idade, dando ao idoso toda e qualquer assistência necessária. 

No entanto, embora soubesse realizar cálculos, lidar com pessoas grosseiras e tratar pacientes enfermos, nenhuma dessas habilidades dava-lhe aptidão para suportar o comportamento bisbilhoteiro de um desconhecido. 

— Não te interessa saber — respondeu, seco, depois de alguns segundos mudo, mantendo o olhar voltado para o balcão, preso ao seu copo. 

Para Iwaizumi, era comum vir aquele restaurante para fazer refeições, quer fosse acompanhado de alguma figura importante para o hospital, quer fosse sozinho. Ele gostava do cardápio italiano e achava o ambiente aconchegante, o atendimento não poderia ser criticado, os empregados eram solícitos e discretos. 

Era, todavia, sua primeira vez ocupando um banco no bar de espera. Diferente dos dias comuns, Hajime não estava ali para realizar uma refeição, ele desejava apenas desfrutar de uma boa bebida em um lugar calmo para preservar os seus últimos resquícios de sossego.

Ao chegar ao estabelecimento, ocupou o lugar em que estava e sequer deu-se ao trabalho de checar quem iria lhe servir. Em baixo tom, pediu um whisky para si e esperou alguns minutos para que o drink fosse posto à sua frente. Os olhos esverdeados estudavam o padrão irregular das cores do mármore, enquanto os dedos deslizavam sobre a pedra, perseguindo o rastro incerto e curvilíneo. 

Os meros instantes em que passou em silêncio — sem falar nada, também sem ouvir —, esperando o seu pedido, foram um ínterim agradável. No entanto, no exato momento em que sua bebida fora servida, a pergunta descabida saltou da boca do homem que estava lhe atendendo. 

Apesar de sentir muito pelo tom rude usado em sua resposta, Hajime ansiava para que fosse o suficiente para colocar um fim aquele diálogo mal iniciado. Não estava a fim de conversar com alguém após o péssimo dia que teve, muito menos um desconhecido que lhe ousava fazer perguntas despropositadas e inoportunas. 

No seu curto campo de visão, Iwaizumi conseguiu enxergar a forma habilidosa que as mãos grandes e finas repousaram sobre o balcão, deslizando para o lado enquanto o corpo do homem — sem rosto e sem nome —, inclinava-se para frente, clamando por alguma atenção. 

— Meu chefe falou que você era — o timbre estava salpicado de diversão e, embora não estivesse vendo a face dele, Hajime apostaria que seus olhos sorriam, de si ou da situação era o que desejava descobrir. 

Finalmente, seu olhar abandonou o cenário entediante das cores neutras do mármore e alcançou o rosto daquele desconhecido que lhe fazia tantos questionamentos, decidido a colocar um fim naquela conversação. 

Assustou-se.

O homem — dessa vez, somente sem nome — tinha um rosto encantador: olhos cor de chocolate e, talvez, por isso carregassem um aspecto tão risonho, maçãs sobressaltadas, nariz delicado, boca bem desenhada e queixo marcado. Ele era belo, provavelmente, uma pintura perdida do Michelangelo.

A língua de Iwaizumi dançou sobre seus lábios finos e, agora, secos, em uma tentativa falha de recobrar a compostura, totalmente desarmado diante daquele estranho. 

— O gato comeu sua língua ou apenas está maravilhado demais comigo? — Perguntou altivo, cheio de si, embora o bom humor ainda persistisse e um sorriso pedante morasse em seus lábios.  

— Aquele homem ali — apontou para um rapaz de cabelos pretos e com uma expressão fechada — ele, sim, é rico. É de uma família que faz doações no hospital em que trabalho, invista nele.

Terminou de falar e voltou o olhar para o seu copo, balançando-lhe antes de tornar o restante do whisky na boca e pedir por mais um. Ouviu o som contido do riso do barman ao vê-lo se afastar do balcão. 

Hajime levantou a cabeça mais uma vez e manteve o escrutínio preso às costas do homem de rosto bonito, enquanto ele preparava-lhe outro drink. O descontentamento pelo dia corrido ou pela forma incrédula com a qual foi abordado ao chegar ali sumiram e, em vez disso, uma inquietação repentina estava tirando-lhe de eixo. 

Os seus olhos esquadrinharam a figura do barman, perdendo-se nas proporções harmoniosas do corpo alheio e lavando Hajime a questionar se ele praticava algum esporte. Os ombros eram largos, assim como as costas, as quais afunilavam para formar uma cintura fina e esculpida. 

As pernas eram grossas, marcadas na calça justa do uniforme que ele usava, realçando a bunda que Iwaizumi admitiu ser culpado de se demorar demais contemplando aquela parte. Seu rápido momento de apreciação fora interrompido quando o barman girou sobre os calcanhares, surpreendendo-o ao trazer uma nova bebida para servi-lo. 

— Pelo reflexo do vidro escuro que há depois das prateleiras — falou, indicando o lugar atrás de si —, eu conseguia vê-lo — confessou, o sorriso sarcástico e o olhar, debochado. — Gostou do que viu?

Iwaizumi engasgou-se com cuspe, nervoso, ao descobrir que havia sido flagrado espionando. Às pressas, tomou um gole da bebida na esperança de limpar a garganta e se recompor.

— Eu não estava…

— Não se preocupe, Iwa-chan, não me incomoda que olhe. Eu gosto de ser admirado. 

— Do que me chamou?

— Iwa-chan — respondeu risonho, obviamente divertindo-se com a confusão bordada no rosto de Hajime. — Iwaizumi é seu nome, certo? Iwa-chan é o apelido que te dei. 

Desde que a conversa havia se iniciado, Hajime estava, novamente, incomodado com o rumo que ela estava tomando. Aquele homem à sua frente sabia muitas informações de sua vida, apesar de não possuir noção de como ele havia descoberto-as. Era intrigante, desconcertante também, e aquela posição não era confortável de se estar. 

— Como sabe meu nome? — Perguntou bravo, um tanto desconfiado. — É a primeira vez que conversamos. 

— Meu chefe me contou. 

— Seu chefe parece te dar muitas informações sobre a minha vida — rebateu, dando mais um gole no drink. — É assim com todos os clientes?

— Kuroo é linguarudo, você sabe — contrapôs, simplista. — E não, não temos esse protocolo com todos os clientes, apenas com você. 

Naquele ponto, Iwaizumi deveria concordar com ele: Kuroo era linguarudo. Eram amigos desde os tempos da faculdade, embora tivessem feito cursos diferentes. Enquanto havia se dedicado à medicina, Tetsurou tinha seguido o campo da administração para conseguir gerir os negócios da família, aquele restaurante incluso. 

— Acho que depois devo dar uma coça no Tetsurou — comentou. — Não acho certo dar tratamento especial somente para alguns clientes. 

— Te incomoda? — Pela primeira vez, Hajime sentiu sinceridade em uma pergunta feita por aquele homem; sem deboche, sem presunção. 

— Que estranhos saibam meu nome e me perguntem se sou rico? Sim, me incomoda. 

— Então, vamos parar por aqui, senhor — informou, inclinando levemente a cabeça em um pedido mudo de desculpas. 

Na mesma impetuosidade que ele havia rompido em frente a Iwaizumi, cheio de perguntas e completamente inoportuno, afastou-se, calado e cabisbaixo. 

Hajime indagou-se se o barman arrependeu-se de puxar conversa consigo. Talvez tivesse sido um pouco grosso, mas o seu humor naquele dia não estava bom. Em outro momento, outra situação poderiam ter um diálogo mais agradável. E mesmo repetindo para si essas justificativas vazias, Iwaizumi ainda estava inquieto pela maneira como tudo terminara. 

O homem de rosto bonito e de nome desconhecido tornou-se, para seu dia conturbado, uma válvula de escape. Não saberia nomear aquilo que estava acontecendo entre os dois, mas achava que poderia chamar de flerte e, por mais que nunca fosse admitir, Iwaizumi gostou de paquerar com alguém tão belo.

Continuou em silêncio, apreciou sua bebida, enquanto, vez ou outra, lançava o olhar sobre o barman que estava ocupado atendendo os demais clientes. Ele tinha sempre um sorriso nos lábios, prestativo, ao servir cada drink pedido.

Por mais de uma vez, Hajime torceu, ansioso, para que seus olhares se encontrassem em algum momento, mas, a contragosto, aceitou que estava levando um gelo. A constatação, embora óbvia, machucou-o um pouco. Jamais gostou de ocupar os centros das atenções, mas adorou quando havia sido o centro das atenções daquele desconhecido. 

Levantou a mão, indicando que queria mais uma bebida e aguardou, satisfeito, que o barman curioso chegasse para atendê-lo. Entretanto, seu contentamento murchou quando viu ele indicar para o outro rapaz de cabelos laranjas ir servi-lo. 

Mais um whisky fora posto diante de si e, em velocidade recorde, o copo fora esvaziado. Esperou o momento adequado para pedir outra bebida, mantendo-se quieto no banco. O escrutínio acompanhava cada passo do rapaz que o ignorava com tanta diligência, implorando, sem palavras, para que lançasse ao menos um olhar em sua direção. 

Pediu o drink novamente quando viu que o homem de fios laranjas estava atendendo outro cliente, não dando outra escolha ao barbam curioso além de vir fazer o seu pedido. 

— Aprecie a bebida — desejou ao depositar o copo sobre o balcão, ostentando um sorriso enorme. 

Iwaizumi não gostou daquele sorriso, para ele, parecia falso. Gostava dos sorrisos genuínos que o outro direcionou a ele mais cedo. 

O barman cumprimentou-o novamente com um leve menear de cabeça e girou o seu corpo sobre os calcanhares para ir atender outro cliente, mas fora impedido de ir em frente quando a mão de Hajime segurou-lhe pelo pulso.

— Não sou rico — enfim, deu a resposta para a primeira pergunta que ouviu enquanto ocupava aquele banco. — Apenas sobrevivo com uma condição financeira boa. Agora que respondi, por que tanta curiosidade?

— Não me interessa se você não é rico, Iwa-chan — a voz estava carregada de honestidade. — Como você insinuou mais cedo, não estava perguntando se você era rico, porque quero te dar um golpe — riu sozinho, debochando do absurdo que parecia para ele essa possibilidade. 

— Então, o que quer de mim? — Iwaizumi o questionou sabendo que, independente do que ele respondesse, daria-lhe sem pensar duas vezes. 

— Eu só queria saber se você ganha o suficiente para me pagar um jantar.

A confissão veio seguida de um riso envergonhado, obrigando o jovem barman a desviar os olhos do seu cliente. Após ouvi-lo enunciar em voz alta, Hajime deixou um riso roufenho escapar pelos seus lábios finos, surpreso pela maneira invasiva e, mesmo assim, assertiva que fora abordado.

Era a primeira vez que Iwaizumi sorria naquele dia catastrófico e, com alegria, constatou que o motivo responsável por despertar sua felicidade era aquele homem de rosto bonito — e ainda sem nome. 

— Aceita jantar comigo,…? — Procurou pelo nome dele no uniforme, mas não encontrou. De tal forma, a pergunta fora interrompida, deixando Hajime com uma expressão confusa. 

— Oikawa, meu nome é Oikawa Tooru — apresentou-se, não conseguindo impedir que um sorriso aflorasse em seu rosto, um daqueles que Iwaizumi gostara de olhar. 

— É um bom nome — atestou, o braço esquerdo sobre o balcão e o direito segurando o copo de whisky, conforme o olhar saltava da bebida para a fisionomia sorridente do outro, inutilmente, tentando silenciar um sorriso que surgia em seu rosto. 

Aquela felicidade, que estava crescendo à surdina em virtude de uma simples conversa, preocupou Iwaizumi. Estranhamente, sua postura reclusa e semblante fechado não foram suficientes para evitar que Oikawa se aproximasse de si e desarmasse suas defesas. 

No entanto, apenas aquela noite, Hajime não queria pensar sobre os efeitos incomensuráveis que Tooru despertava em si. Por outro lado, gostaria de aproveitar todas as sensações bobas e leves que poderia vir a sentir, desde uma falsa indignação por estar sendo ignorado até a felicidade de compartilhar um sorriso. 

Pensando nisso, colocou a culpa na bebida, nos vários copos de whisky que tomara desde cedo. 

Por aquela noite, seria um bêbado feliz, que riria de tudo, inclusive da forma desavisada que fora arrebatado por um barman. Também, somente enquanto a lua governasse o céu, seria alguém que adorava abraços e trocas de carinho e estava, em segredo, ansiando por qualquer mero afago que Tooru pudesse dar-lhe. 

Apenas daquela vez, Iwaizumi não se importaria com nada que estivesse aquém do horizonte daquele copo à sua frente.


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Notas finais do capítulo

Comentem!

Até amanhã!



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