Nêmesis pousou no chão, tocando as folhas secas com seus pés nus e se escondeu atrás de uma árvore grossa. Sabia que ela estaria ali, ela sempre seguia aquele rapaz e a Deusa ainda não compreendia bem o porquê.

— Tem alguém aqui? – Narciso, um jovem rapaz de cabelos cacheados, pele de marfim e sorriso encantador, perguntou para as árvores.

Nêmesis segurou a respiração, torcendo para que ele não a ouvisse, quando uma resposta veio do lado oposto ao que ela se encontrava.

— Aqui.

A voz era suave e aqueceu o coração da bela mulher alada.

— Vem! – Narciso pediu buscando a portadora do som.

— Vem.

— Porque me evitas? – Indagou confuso, vendo que ninguém surgia.

— Porque me evitas.

— Vamos nos juntar – Sugeriu.

— Vamos nos juntar – E, do meio das folhas e galhos, ela surgiu. Nêmesis sentiu as pernas tremendo ao ver seu rosto: era a ninfa mais bonita de todas e seus olhos eram tão expressivos que a Deusa quis chorar. Sentiu raiva de Hera por ter machucado aquela garota, mas guardou aquilo para mais tarde, ficando apenas observando o desenrolar da situação.

Narciso, ao ver a ninfa, cambaleou para trás, não permitindo que ela o tocasse com seus braços abertos que aguardavam um abraço.

— Saia para lá, criatura horrenda! Não me toque!

Eco, magoada, se afastou com lágrimas nos olhos e correu de volta mata adentro, fugindo das ofensas e da dor do coração partido. Nêmesis sentiu seu interior queimando com a raiva e, em vingança a todas as ninfas que ele já tinha desprezado, fez com que ele enxergasse seu reflexo no lago que corria ao lado de seus pés.

Narciso se abaixou para beber a água corrente, quando avistou seu rosto perfeito. Tentou busca-lo com as mãos, mas o reflexo se afastava mais e mais.

Com um sorriso malicioso, Nêmesis deixou o mortal orgulhoso sozinho para morrer e foi atrás de Eco, para encontrar a ninfa sentada em uma pedra limosa chorando.

— Eco? – Tocou seu braço, que escondia o rosto. A garota levantou os olhos assustada.

— Eco.

— Eu sinto muito – Eco fungou, limpando as lágrimas com as costas da mão.

— Sinto muito...

— Narciso é um idiota, ele não sabe o que diz.

— Não sabe o que diz – Concordou.

Acariciou os cabelos escuros da ninfa, sentando ao seu lado, cobrindo suas costas com suas asas brancas.

— Você é linda.

— Linda – Sorriu, exibindo um sorriso que fez com que a Deusa se apaixonasse ainda mais.

— Eu sou Nêmesis – Contou – Me chamam de "a inevitável".

— A inevitável?

— Eu sou a vingança divina, Eco – Explicou – Eu vingo as criaturas que não podem fazê-lo sozinhas.

— Sozinhas – Sua testa enrugada demonstrava toda sua confusão.

— Eu vinguei você. E todas as ninfas que Narciso desprezou.

— Narciso desprezou...

— Eu castiguei o reis, eu destruí pessoas ruins e acabei com algumas injustiças.

— Injustiças – Sussurrou. Nêmesis tomou suas mãos, brincando com os dedos gordos da ninfa.

— E eu vou vingar você, pelo que Hera fez. Se você quiser.

— Quiser – Sorriu, uma lágrima solitária correu pelas bochechas da garota.

— Então eu o farei – Garantiu. Encarando os olhos cheios de gratidão de Eco, Nêmesis não conseguiu se conter e beijou o sorriso dela, afastando o rosto em seguida, com medo de ser rejeitada.

Eco a olhava com surpresa.

— Quer que eu vá embora? – Murmurou, temerosa da resposta.

— Embora – Eco repetiu negando com a cabeça, balançando suas madeixas negras e exalando o cheiro da floresta.

Nêmesis sorriu e passou os dedos pelo pescoço dela, aproximando seus rostos e intensificando seu contato, sentindo seu corpo inteiro derreter com o amor que sentia pela ninfa.