Wei Wuxian descobriu, da pior maneira possível, que viver sem arrependimentos era mais difícil do que ele imaginava. Mesmo assim, ele viveu intensamente sua curta vida, a primeira. Pois, essa segunda, começava de forma muito conturbada.

Quando proferiu seu juramento, ele era um jovem cheio de energia a pronto para desbravar o mundo. Sonhava alto, era verdade, mesmo levando alguns tropeços. Tudo era novidade, assim como tudo era diversão. Para ele, cada minuto de vida era um presente ao qual deveria aproveitar. Aprendeu isso ainda muito criança, quando fugia dos cachorros pelas ruas da Vila, onde tentava sobreviver.

E, depois disso tudo, com certeza não seriam três mil regras que o limitaria a viver intensamente.

Naquela montanha, quando fez seus votos, o seu coração estava repleto de amor e uma sensação de liberdade ao qual não poderia explicar, mesmo estando em um local cheio de normas e padrão altíssimo de se alcançar. A não ser que essa pessoa fosse Lan Zhan, daí o padrão era alcançado facilmente.

Novamente, a vida não era como correr pelo campo atrás da faisão ou beber deliciosos licores.

Daquele momento em diante, poderia fazer uma lista quase do tamanho das regras do Clã Lan de Gusu, de acontecimentos que fizeram com que suas decisões pudessem ser questionadas e ele repensasse se viveu realmente sem arrependimentos a sua trágica primeira vida.

E, provavelmente, teria feito tudo o que fez, talvez um pouco melhor.

Ora, essa, e o que mais ele poderia fazer depois do arrependimento? As pessoas voltariam à vida magicamente? A guerra findaria? O mundo retomaria a paz e ele seria ordenado com um novo título sublime?

Pensar naquela vida era doloroso, os rostos das pessoas que amava, de seus amigos, não deixaram de persegui-lo.

Mas, talvez... havia algo que pudesse mudar, caso se arrependesse naquele exato momento. Algo que não precisava de uma reencarnação ou mágica, talvez um pouco de sorte e um licor para ajudar a criar coragem.

Os olhos de Wei Wuxian desviaram da vela acesa e repousaram sobre o homem deitado na cama, próximo onde ele estava, naquele quarto grande. Ele pegou a máscara prateada sobre a mesa e pensou que entendia um pouco mais de Mo Xuanyu, cobrindo sua verdadeira face para que o mundo visse apenas o que ele permitisse ver.

Wei Wuxian virou o restinho de licor na boca e depois levantou-se e caminhou até a cama, sentando-se ao lado do corpo de Lan Zhan, que dormia pacificamente. Havia passado das nove horas da noite e, como era natural, o cultivador foi dormir. Antes disso, ordenou que ele também dormisse, mas a cabeça de Wei Wuxian estava cheia demais para que ele conseguisse fechar os olhos e relaxar o corpo.

Wei Wuxian ergueu a mão bem próximo de Lan Zhan, mas recuou, quando pensou em tocar a pele fina. Lan Zhan possuía a fama de belo, e não era para menos, ele de fato se fazia merecedor dos suspiros de todas as garotas que o conhecia.

Riu, balançando a cabeça, porque não eram apenas garotas que suspiravam por ele. Voltando a olhar para Lan Zhan, com uma expressão serena em seu rosto pálido, Wei Wuxian suspirou baixo, tal como uma adolescente apaixonada.

Ele se arrependia de não ter sido totalmente sincero com Lan Zhan, antes de morrer. Era verdade que os sentimentos por ele eram intensos e verdadeiros. Contudo, muitas coisas aconteceram com o passar do tempo, e naquela época, ele pensava se era correto declarar verbalmente o que se passava em seu coração. E, sinceramente, era possível que Lan Zhan virasse as costas, caso tivesse se declarado.

Conseguia até imaginar a expressão fria e sua boca movendo para falar “Patético” quando ouvisse que estava apaixonado.

Além disso, Wei Wuxian poderia ser uma pessoa muito arrogante, mas ele nunca desejou fazer mal algum a quem amava, mesmo que, no fim, acabou machucando todos que amava. Incluindo aquele homem que dormia a sua frente.

Mas, agora que havia voltado a vida, pensava que deveria ter seguido fielmente suas palavras e sido sincero. Deveria tê-lo surpreendido com um beijo roubado ou até mesmo aparecido de noite em seu quarto.

Mais uma vez Wei Wuxian riu, no corpo de Mo Xuanyu. E depois lamentou, porque não era mais quem ele era. Obviamente, estava mais magro e mais baixo, com olheiras profundas porque aparentemente não dormia nada bem fazia muito tempo.

Virou-se, de costas para Lan Zhan, ele não era mais Wei Wuxian? Mesmo que seu espírito estivesse ali. E sua promessa havia sido quebrada na outra vida. Ele havia causado dor em muitas pessoas. E sempre achou que seu final seria pelas mãos de alguém como Lan Zhan, embora no último momento, ele foi o único que lhe estendeu a mão. Mesmo depois de tudo o que fez, Lan Zhan ainda estava ali por ele. Naquela última troca de olhar, Wei Wuxian sentia tanta dor em seu coração, mas estava feliz porque poderia morrer com a visão do belo rosto de Lan Zhan. Talvez uma pessoa como ele não devesse ter tido essa sorte antes da morte, partir com a imagem da pessoa que amava, tentando salvá-lo.

Ele queria ter tido tempo para pedir desculpas, por ser um idiota e depois dizer que o amava. Contudo, seu corpo já despencava do precipício e aos poucos a imagem de Lan Zhan se distanciou, até que a escuridão o embalou.

Wei Wuxian sentiu um leve arrepio, quando a brisa da noite entrou pela janela, erguendo a cortina de seda. Ele estremeceu e esfregou os braços com as mãos. Quando menos esperava, um par de braços fortes o abraçava pelas costas. Apesar de se debater um pouco para se afastar, o calor do corpo de Lan Zhan o acalmou e ele parou de se mexer.

A voz séria e fina do cultivador foi firme, dizendo que era hora de dormir. Não havia discussão, era isso e pronto.

Wei Wuxian pousou a cabeça no peito de Lan Zhan e ouviu as batidas leve de seu coração. Ele riu, sentindo-se eufórico com aquele som. Apesar de sempre muito frio e distante, Lan Zhan era um homem de princípios e aos olhos de Wei Wuxian, ele era perfeito daquele jeito.

Hmm, quem sabe, amanhã de manhã a gente conversa...