A Rosa indomável escrita por WinnieCooper, Anny Andrade


Capítulo 9
Primeiro encontro




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Scorpius acordou cansado no dia seguinte, não cansado fisicamente, mas mentalmente. Estava cansado das conversas de seus melhores amigos, todas envolviam alguma piada machista, cansado de ter se enfiado em uma aposta ridícula que agora se arrependia de ter criado. Cansado do jeito de Rose, parecia que ela era mais espinhenta de perto que longe. Achou que podia amolecer o coração dela com tudo que fizera no dia anterior, mas pelo que percebeu nunca era suficiente. Estava cansado. Talvez a ignorância fosse uma benção porque antes de ouvir Rose e conhecer todos os motivos dela a sua vida era muito fácil. Mas agora era tarde demais.

― Ei Scorpius, posso participar do seu grupo? – era uma garota bonita que falava com ele no café da manhã. Era loira com um corpo modelado, na certa não se encaixava no perfil que Rose queria para essas reuniões.

― Pode – respondeu simplesmente e olhou para sua tigela do café.

A garota ficou sem graça pela reação dele e resolveu ir embora.

Rose viu o sonserino de longe cabisbaixo. Começou a andar em direção a ele.

― Rose eu estarei lá nessa reunião – era uma garota negra lhe dizendo.

― Vou dar uma passada na primeira reunião para ver se são o que acho que são – desta vez uma garota acima do peso lhe dirigiu a palavra.

― Posso levar meu namorado? – era um garoto lufano lhe perguntando.

Estava atingindo quem queria atingir, as minorias que precisavam ter voz naquele castelo. Quando finalmente chegou perto de Scorpius se sentia leve e feliz, pela primeira vez naquele ano achou que as coisas estavam começando a dar certo.

― Vai dar tudo certo – comentou para o suposto namorado – Várias pessoas já vieram falar para mim que vão aparecer na reunião.

Ele olhou chateado para ela e deu de ombros.

― Preciso fazer uma pauta dos assuntos que vamos tratar nesse primeiro encontro.

Ele entregou um falso sorriso para ela e voltou a olhar sua tigela.

― Quero que todos tenham voz, que exponham seu lado e seu lugar de fala naquilo que vivem diariamente.

Ele concordou com a cabeça ainda olhando a tigela. Rose reparou no silêncio do rapaz e estranhou.

― O que há com você? – perguntou brava.

Ele sacudiu a cabeça negativamente ainda não a encarando.

― Estou tão feliz achando que finalmente terei forças e voz nessa escola e você está parecendo um morto-vivo.

― Talvez eu seja assim mesmo, um morto-vivo que não tem utilidade nenhuma e que quando faço alguma coisa, dando o máximo de mim, não é suficiente. Já que faria muito melhor – desabafou levantando da mesa.

Rose abriu a boca abalada pelas palavras dele, mas não conseguiu dizer nada.

― Nossas primeiras aulas são diferentes hoje eu... – ele apontou para a porta do grande salão e saiu de perto dela andando cabisbaixo.

 A garota pensou consigo o que teria feito de tão errado. Será que ele esperava uma palavra de agradecimento dela? Ou apenas ser menos espinhenta, como diziam que ela era por aí.

― Estão todos enlouquecendo. – Ela deduziu balançando a cabeça. 

xx

Lily segurava consigo a carta que havia recebido de Hugo no dia anterior. Ainda estava pensando no que ele quis dizer com a metáfora toda do coração. Não sabia que o primo era tão bom com as palavras.

Sentou-se para tomar café e viu Anne logo atrás dela andando rapidamente, como se estivesse fugindo de algo.

― Preciso te confessar uma coisa – disse a morena para a melhor amiga – Me desencantei por Dave.

― O quê? – expressou Lily sem se controlar.

― Ele é ótimo beijando, ótimo com carícias, mas é só! – ela suspirou frustrada – Aquele garoto das cartas românticas não existe. Acho que vou terminar com ele.

― Você o que? – não conseguia esconder o seu espanto pelas palavras da melhor amiga.

― Aí Lily, sei lá. Sinto falta de conversas, confidências. De um amigo que posso contar o que for que não serei interpretada errada. Quero conversar! – disse enérgica começando a tomar seu café.

Lily reparou na amiga. Ela tinha tudo o que queria, o namorado perfeito, mas mesmo assim não parecia o melhor para ela.

― Sabe aquela ilusão de garoto perfeito? – disse com a boca meio cheia pelo ovo com bacon que estava comendo – se desfez assim que me aproximei dele. Vou terminar.

A ruiva não acreditava no que estava ouvindo, será que era possível? Será que teria um pouco de esperança? Será que com o término Dave lhe procuraria? Não teriam mais barreiras para esconder o beijo errado que haviam trocado. Será que Anne ficaria chateada se namorasse seu ex?

Todas essas perguntas passavam por sua cabeça numa velocidade alarmante enquanto via a amiga tomar seu café. Nem reparou numa figura ruiva que chegou perto de si.

― Hugo! Você melhorou? – Anne fez a pergunta e só então Lily reparou a sua volta.

― Hugo! – ela exclamou levantando-se e indo em direção aos braços lhe abraçando fortemente.

O primo a envolveu em seus braços era bem mais alto que ela então a cabeça da garota estava pousada em seu coração. Se perguntou se Lily tinha entendido suas palavras sobre esse seu órgão que só fazia bobagens, se perguntou mentalmente se ela estava reparando o quanto ele estava acelerado agora. Ela passou seus braços em volta de seu pescoço e notou uma correntinha. Não sabia que seu primo usava uma correntinha igual Dave. Devia estar na moda entre os garotos.

Anne observou os dois. Pareciam um só no abraço, pareciam que queriam se fundir um no outro. Era uma amizade linda e verdadeira e ela teve inveja de não ter aquilo para si.

xx

Naquele dia as aulas estavam passando como um raio. Rose estava mais nervosa do que nunca e ao mesmo tempo não conseguia deixar de pensar em como o trasgo que atendia por Scorpius estava esquisito. Não a perturbando em nenhum momento. Apenas permanecendo ao seu lado em mais profundo silêncio.

― Está me irritando. – Ela por fim falou.

― Mas estou na minha.

― Está mudo o dia inteiro, parece que estou andando com um cadáver como aqueles das historias trouxas de Hugo.

― Se eu falo você reclama. – Scorpius não parecia mais um morto vivo, mas alguém bem irritado. – se fico na minha também reclama. Só sabe reclamar.

Rose ficou muito ofendida. Ela não ficava apenas reclamando. Estava preocupada com aquele verme andante e ainda recebia uma resposta atravessada como aquela.

― O novo casal do castelo. Como vão?

Para ajudar Nancy ainda apareceu para provocá-la. E ela começou o dia tão feliz.

― Estamos ótimos! – Rose disse se agarrando ao braço de Scorpius.

― Maravilhosos. – O loiro respondeu sem tanto entusiasmo.

― Nunca imaginei que aceitaria um garoto encabeçando suas manifestações. – Nancy comentou normalmente.

― Não encabecei nada. – Scorpius não gostou dessa provocação com Rose. Ele gostava de provocá-la, mas não com as questões importantes dela, só com as coisas bestas. – Apenas dei o apoio que minha namorada merece.

Rose olhou para Scorpius com tamanha gratidão que ele quase não reconheceu sua expressão.

― Que bom que encontrou algum apoio. – Nancy disse continuando a caminhar.  – Boa sorte com suas reuniões. 

A garota não era uma má pessoa, mas não conseguia perdoar Rose por tê-la julgado tanto por causa de seu romance com Alvo sendo que agora estava fazendo o mesmo. E muitos de seus apoiadores estavam interessados em dar uma olhada nesse novo grupo que tinha tão sabiamente se nomeado de Kahlo. Nancy estava frustrada, não poderia negar.

― Obrigada. – Rose disse como se estivesse cuspindo algo que queimava sua língua. E no gesto mais improvável do mundo ficou nas pontas do pés e beijou a face esquerda de Scorpius.

O garoto foi pego de surpresa e enquanto ainda tentava se acostumar com a reação dela levou um banho de palavras frias.

― Não se acostume. – A ruiva começou a andar mais rápido. – E ande logo, não seja a lesma que sei que é.

Scorpius tinha certeza que ela iria enlouquecê-lo com suas mudanças de humor e atitudes. A garota era completamente alucinada. Mas sua face continuava quente onde ela havia tocado com os lábios e ele gostaria que aquele calor nunca o deixasse.

xx

― Não sei o que estamos fazendo aqui. – Dave disse olhando em volta.

Estava na sala em que a reunião do Kahlo iria acontecer. Estavam apenas Rose, Scorpius, Lily, Hugo, Anne e ele

― Estamos apoiando a irmã do Hugo.- Anne disse um pouco estressada.

― Nem sabemos se vão vir mais alunos. Talvez sejamos só nós. – Dave disse apontando para os quatro. – Isso é um desperdício de tempo.

Anne revirou os olhos. Não aguentava mais o garoto, gostaria de sufocá-lo com suas próprias mãos.

― Apenas o ignore Hugo. – disse por fim. – eu estou tentando fazer isso.

Lily assistia toda a cena sem acreditar. Não era possível que Anne realmente tivesse se desapaixonado tão rápido. Dave era o garoto certo para viver um romance arrebatador, impossível não permanecer apaixonada por ele para sempre. Ficava sempre abraçando Anne e pousando sua cabeça na curva do pescoço da garota. Segurava suas mãos e também tentava beija-la constantemente mostrando a todos o quanto a amava. A amiga só poderia estar louca, reclamando mesmo tendo o relacionamento perfeito.

Hugo não entendia o que tinha perdido enquanto ficou com febre, mas aparentemente Anne não estava gostando tanto assim de Dave sem cartas. Infelizmente agora não poderia fazer mais nada. Ele conseguia ver sua irmã os observando por cima dos papéis que lia e relia. Seus olhos perguntavam o que estava acontecendo. Ele deu de ombros também não sabia.

― Dave, poderia me deixar respirar por um momento? – Anne disse um pouco alto demais assustando todos da sala.

― Anne...

― Fica me agarrando todo tempo. – Ela parecia chateada. – Isso é algo importante, estamos aqui para apoiar Rose, não que eu ache que você entende algo sobre se preocupar com os outros.

― Está mesmo falando isso?

― Pelo menos estou conseguindo falar. – Anne cruzou os braços.

Não aguentava mais aceitar todos os beijos e nunca ter uma conversa real.

O garoto pareceu triste e com raiva ao mesmo tempo, mas não teve tempo de responder, pois começavam a chegar algumas pessoas para a reunião.

xx

Rose estava nervosa achando que ninguém apareceria. Seria um desastre. Novamente seria apenas ela e os amigos de Hugo. Por um momento pensou que apesar de tudo que Hugo tinha lhe contado era uma sorte ter amigos que gostavam dele ao ponto de apoiar até mesmo sua irmã.

― Está nervosa? – A voz de Scorpius chamou sua atenção.

E apesar de não ter as amigas para apoiá-la ali estava o apoio menos provável de todos.

― Se ninguém aparecer? – Ela confessou sua preocupação.

― Seguimos com o plano e no próximo jogo de Grifinória versus Corvinal eu entro no campo junto com você. E juntos chamamos a atenção merecida. – o loiro riu.

― Só iria para estragar o jogo.

― Uniria o útil ao agradável. – Ele quase viu um sorriso nos lábios da garota. – Mas eles virão.

Aparentemente as coisas entre os mais novos não estavam boas e a amiga de Lily parecia um pouco alterada, Rose estava pronta para intervir, mas começaram a chegar mais alunos.

O alívio de estarem dispostos a escutá-la. E o medo de não ser o que esperam dela.

Um a um sentaram-se nas cadeiras pré-dispostas em círculo. Rose começou a analisar todos, a sua volta. Eram alunos de diferentes raças, cores, aparências, uns eram puro sangue, outros mestiços, percebeu que o garoto homossexual que tinha conversado com ela estava lá com seu namorado. Não tinha muitas pessoas no fim, mas tinham as pessoas que ela queria atingir, que ela queria ouvir. Assim que viu que já tinha dado o horário para o início da reunião, pegou o papel que tinha ficado horas escrevendo e reescrevendo, pigarreou e começou a ler:

― Todos sejam bem-vindos. Meu nome é Rose Weasley, mas pode ser que me conheçam como Rosa espinhenta, é o que gostam de me chamar por aí – ela ergueu seu olhar ao pequeno grupo e viu que todos prestavam atenção nela – Minha mãe é Hermione Granger, a pioneira a lutar pela libertação dos elfos, aquela que fundou o F.A.L.E aos quatorze anos. Sempre tive muito orgulho de ser filha dela e queria fazer a diferença nessa escola como começou a fazer quando estudava aqui. Desta forma quis fundar este grupo há muito tempo, para lutar não só pelos direitos dos elfos, mas para dar voz às minorias, as pessoas que sofrem por preconceito racial, preconceito corporal, preconceito sexual. Vivemos em uma sociedade que não aceita as pessoas fora do padrão, pessoas que pensam diferente, aqueles que causam tumulto. Quero que saibam que aqui vocês terão voz e juntos vamos lutar por vários direitos e enfrentar os preconceitos.

Terminou sorrindo olhando todos. Estavam olhando sério para ela, não esperava palmas, mas algo talvez uns sorrisos de aprovação assim que acabasse seu discurso. O que não aconteceu.

― Bom – ela pigarreou sem graça – para esse primeiro encontro queremos escutar vocês. Aqui vocês tem voz. Alguém quer começar?

Então o medo dominou a garota da Grifinória, e se ninguém se pronunciasse, não saberia o que fazer.

Mas seu medo foi embora assim que viu uma garota negra se levantar.

― Meu nome é Linda Thomas, meu pai era amigo dos seus Rose e dos seus também Lily, queria falar um pouco sobre como é ser uma garota preta nos dias atuais. Sim uma garota preta, pois esse é o nome da minha cor e eu tenho muito orgulho dela. Se você reparar tudo que é ruim nesse mundo eles chamam de preto. Gato preto é azar, a coisa tá preta para quando algo dá errado. Não é um acaso. Nós pretos éramos a escória da sociedade e isso perdura até hoje porque o preconceito ainda existe...

A garota começou a dizer tudo o que vivia de preconceito e o quanto ser uma mulher e ser preta era difícil, contou fatos históricos, mostrou fatos atuais. No fim de sua explicação Rose estava radiante de tantos conhecimentos sendo compartilhados. Todos bateram palmas quando ela terminou.

― Posso falar? – uma garota acima do peso levantou de seu lugar e começou a falar assim que Rose concordou com a cabeça para ela começar – Meu nome é Sarah Jackson e eu sofro por ser gorda. Gordofobia, que no caso se traduz como aversão a pessoas gordas. Podem se perguntar como isso é possível, mas uma pessoa pode ser magra, alta, baixa, morena, ruiva, loira que jamais vai saber o que é sofrer toda vez que frequenta um lugar e fazem uma piada dizendo que a cadeira vai quebrar ou que se não fechar a boca não passará mais pela porta. Pois eu sofro. Minha condição física não é uma doença, minha condição física não devia ser uma ofensa a qualquer pessoa... E além de tudo isso as pessoas ainda insistem em usar termos como “fofinha", “cheinha", “gordinha" ou “acima do peso". Mas eu sou gorda. A palavra gorda não ofende. Podem usar ela que não vai ser agressivo. Existem estudos que exemplificam também o quanto o termo acima do peso é equivocado, o meu peso é apenas meu e eu digo se ele está abaixo ou acima. E antes que venham com um discurso de apologia a obesidade, isso não existe e nunca irá existir. Pessoas gordas possuem exames em dia, muitos se alimentam muito bem. Por exemplo, quem aqui durante as férias passa mais dias comendo hambúrguer e batata frita? - Várias pessoas ergueram as mãos a maioria magras. – Eu não. Sou vegetariana e me alimento muito, mas muito mais de vegetais e legumes. É sobre isso que temos que discutir e entender o corpo alheio não deve ser motivo de piadas ou brincadeiras. E deve conseguir ocupar os espaços como todos. Sem precisar expandir cadeiras ou passagens com magia, como faço às vezes mesmo.

A garota terminou de falar e muitos estavam boquiabertos. Quando a luta não é sua fica difícil de enxergar a dor do outro. Reuni-los ali fazia com que se enxergassem melhor.

Mais conhecimentos compartilhados, todos prestavam atenção, todos queriam ter voz também. Depois de Sarah o garoto homossexual falou de tudo que sofria ao escutar comentários maldosos, que seu jeito de amar ofendia as outras pessoas. E por que ofendia as outras pessoas se ele não tinha nada a ver com a vida delas? Por que elas tinham que opinar sobre sua vida?

Um filho de trouxas também começou a retratar o que vivia, os preconceitos dos outros alunos achando que só porque ele era filho de quem era não conseguiria realizar todas as coisas da escola, não conseguiria viver na sociedade bruxa.

No final da reunião a porta se abriu e Rose se surpreendeu com uma figura pequena entrar pela porta. Era um dos elfos da cozinha que viera participar. Ele não quis dizer nada, mas só de estar presente Rose achou um grande passo em sua luta. Estava com o retrato de cada minoria em sua singela reunião. Era um ótimo começo, melhor do que ela podia imaginar.

― Bom já se passaram mais de uma hora, podemos nos reunir na próxima semana para discutirmos...

― Rose eu queria falar – Scorpius a interrompeu.

A garota o olhou surpreendida, ele não havia dito nada desde que todos começaram a expor seus problemas. Apenas sacudiu a cabeça afirmativamente deixando que prosseguisse.

― Bom, meu nome é Scorpius Malfoy, acho que a maioria me conhecer. Garoto popular que tem tudo o que quer, de uma família rica, puro sangue, branco, magro, hétero. Tenho tudo a meu favor, não sou uma minoria como vocês, que precisam lutar para ter voz em tudo que fazem.

Rose o olhou apreensiva, o que ele estava querendo dizer com aquilo tudo, estava menosprezando seus convidados?

― Bom, não teria problema nenhum como vocês. Mas eu sou um Malfoy e cresci escutando de meus avós paternos que devia honrar o sobrenome que carrego.  Mas depois da segunda grande guerra em que vários sobrenomes foram heróis, o seu – ele apontou a Lily – o grande herói, os Malfoys eram os traidores, os que ficaram do lado de Voldemort. Minha mãe salvou meu pai, ele se culpava de várias coisas erradas que tinha feito na minha idade e ela o aceitou todo machucado e foi ajudando a colar os cacos que ele tinha virado depois da guerra. Ela me educou a não menosprezar ninguém, ou a machucar ninguém, sem antes conhecer. E assim estava achando que fazia o certo até semanas atrás, antes de começar a enxergar as coisas de uma maneira diferente. Vi que várias de minhas atitudes eram erradas e que no fim, estava confirmando o legado do meu sobrenome, fazendo tudo errado.

A líder do grupo não tirava os olhos dele, reparava em tudo que fazia o jeito que falava, suas mãos apertando uma a outra, seus ombros duros e tensos.

― No fim eu era um Malfoy. Lembro dos olhares tortos nos primeiros dias de aula, dos cochichos nos corredores me apontando como traidor, eu só ignorava e como era criança não absorvia o quanto aquilo podia ser destrutivo. Consegui amigos e fui me desfazendo das amarras do meu sobrenome. Sei que meu problema não é maior do que o cada um aqui vive no dia a dia e peço desculpas se por acaso um dia, fiz alguma piada maldosa, fui preconceituoso ou machista. Quero dizer que estou nessa luta com vocês mesmo não sofrendo na pele o que sofrem, e que quero mudar o significado do sobrenome Malfoy. E gostaria de pedir um favor? Não somos nossos pais e não deveríamos nunca julgar um sobrenome ou alguém pela geração que lhe antecedeu.

Ele terminou ficando em silêncio. Rose não conseguia tirar os olhos dele, estava incapacitada de falar ou simplesmente terminar a reunião.

― Acho que a reunião acabou – disse Hugo pela irmã – Semana que vem na mesma sala Rose?

Ele a chamou e a garota tirou os olhos do loiro ao seu lado e voltou a atenção ao pequeno grupo.

― Tenho algo a pedir a vocês. Quero que escrevam algumas coisas que acham que precisam mudar no castelo e tragam na próxima reunião. Foi um prazer ouvir todos vocês.

― E, por favor, se quiserem convidar outras pessoas, serão todos bem vindos. – Scorpius terminou recomposto e sorridente.

Um a um começaram a sair da sala e Rose voltou a olhar Scorpius, ele por sua vez fingiu que ela não estava o observando e começou a organizar a sala bagunçada.

― Foi um ótimo começo Rose, eu amei a ideia do grupo – Anne a melhor amiga de Lily tinha ido até a garota a parabenizar.

― Fico feliz que tenha gostado Anne – a líder virou seu olhar para a garota do quinto ano. Reparou que o suposto namorado dela lhe abraçava pela cintura, mas ela o empurrava delicadamente com suas mãos.

― Fiquei curiosa a respeito do nome do grupo.

― Vem de Frida Kahlo, uma das maiores feministas das Américas.

― Vou pesquisar sobre – ela disse empolgada – até a próxima reunião.

Então ela saiu da sala com Dave seguindo a garota.

― Foi incrível – disse Lily a prima chegando perto com Hugo – Desta vez você vai conseguir o que quer.

― Quando Rose não consegue o que quer? ― comentou o irmão.

― E vocês como estão? Conversaram? – Rose perguntou curiosa. Hugo fez não com a cabeça atrás de Lily, só a irmã via.

― Sobre o que? – perguntou Lily curiosa.

― Sobre que você não tinha culpa por eu ter ficado doente – Hugo falou antes que Rose falasse outra bobagem.

― De certa forma conversamos – disse a prima lembrando-se das duas cartas trocadas.

― Fico feliz então – ela lhes entregou um sorriso sincero. Estava radiante, achava que poderia explodir de tanta felicidade. – Continuem conversando então.

Lily não entendeu muito bem.

― Querem ajuda para arrumar a sala? – se ofereceu Hugo observando que Scorpius mexia a varinha rapidamente organizando as cadeiras em seus lugares e recolhendo o lixo.

― Podem ir eu e Scorpius damos conta – respondeu se despedindo dos dois. – Hugo? Desenharia algo sobre essa noite para gente ter como recordação?

― Claro maninha.

E se foram deixando Rose e Scorpius sozinhos.

Na verdade ela queria entender ele, entender o que estava acontecendo com o rapaz para ter mudado tanto em tão pouco tempo.

― Aconteceu tudo melhor do que eu esperava – confessou a ele assim que viu o garoto guardar a varinha terminando de arrumar a bagunça.

― Pelo menos fiz algo certo então ao colar aqueles cartazes – ele deu de ombros não a encarando.

Rose engoliu em seco, sabia que tinha algo inacabado entre os dois, como se um enorme elefante estivesse na sala os observando e que ela tinha que acabar com aquele desconforto.

― Me desculpe – disse de uma vez. Scorpius voltou seu olhar para ela pela primeira vez – você foi incrível fazendo os cartazes, inventando o nome, enfrentando a McGonagall, convencendo um dos elfos a vir, eu não faria melhor.

― Não espera aí – ele sorriu não acreditando no que estava ouvindo – está admitindo que fiz uma coisa melhor do que você.

― Pelo menos uma vez em toda sua vida, não é mesmo? – ela não iria o deixar sair por cima.

Ele começou a dar risada e a garota estreitou seu olhar intrigada pelo comportamento dele.

― Do que está rindo? – perguntou nervosa. Ele conseguia lhe tirar do sério mesmo em um momento feliz como aquele.

― Não é nada é só que – ele voltou a rir – Você é muito orgulhosa, chega a ser mais orgulhosa que raivosa, se é que isso é possível.

Ela estreitou seus olhos e deu de ombros.

― Quer saber? Está enganado, não quero brigar com você.

― Bom então é melhor eu ir embora, vai que muda de ideia e me jogue algum livro da sala na cabeça – ele fez tchau com sua mão para ela e começou a andar em direção a porta.

Rose mordeu seus lábios, não ia falar nada, mas talvez e só talvez Scorpius tivesse razão em dizer que ela era mais orgulhosa que brava. Antes do garoto sair da sala resolveu deixar seu orgulho de lado.

― Scorpius! – o chamou fazendo o garoto parar de andar e olhar para ela.

― Diga Rose.

― Eu, eu... – porque era tão difícil para ela falar sobre aquilo – Fiquei orgulhosa de seu discurso hoje.

Ele inclinou sua cabeça para lado e deu um sorriso torto não acreditando no que estava escutando.

― Acho que... – ela engoliu em seco – acho que acrescentou bastante aos integrantes novos do grupo, da pra perceber que pode existir preconceito em todos os lugares.

― Lugar de fala não é?

― É – ela concordou com a cabeça. – Agora vai! Vai! Vai!

Ela levantou a mão o expulsando da sala. Scorpius negou com a cabeça e deu um sorriso.

― Rose.

Ele chegou perto dela. Tão perto que dava pra ver cada detalhe das sardas em suas bochechas. Eram lindas sardas e ele gostaria de toca-las interligando um pontinho ao outro.

― O que foi? – ela sussurrou a pergunta.

Ele a olhou nos olhos, com uma de suas mãos segurou sua cintura, a outra pousou na lateral do rosto da garota. Ela sentiu seu coração bater mais forte, seu cérebro não estava raciocinando, senão ela teria o empurrado pelo gesto de carinho, se seu cérebro estivesse funcionando ela não teria fechado os olhos esperando que ele a beijasse. O garoto sorriu quando a viu fechar os olhos, aproveitou e juntou suas testas e num gesto milimétrico, roçou seus narizes.

― Maldito contrato - ele sussurrou fazendo ela abrir os olhos.

Quando abriu os olhos Rose também viu as marcas que Scorpius trazia em seu rosto, muito menos sardas do que ela, mas ainda algumas. Provavelmente causadas pelos treinos e jogos de quadribol no sol, ou talvez em férias na praia. Tinha uma cicatriz na sobrancelha direita e uma quase invisível perto dos lábios. Ele era cheio de micros defeitos.

Scorpius limitou-se a beijar a testa da garota e se separou dela saindo porta a fora. Rose suspirou e sentiu que seu rosto estava quente. Agradeceu mentalmente sua ideia do castigo se ele a beijasse. E ao mesmo tempo pensou quais seriam os outros defeitos que ele escondia de todos.


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Notas finais do capítulo

Nossos capítulos vão continuar grandes. Então nos digam, o que acharam desse Scorpius na reunião. Gostamos de suas reviews. :*



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