A Rosa indomável escrita por WinnieCooper, Anny Andrade


Capítulo 11
Segredos revelados




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Rose se trocava com suas amigas de casa para ir ao baile de Natal, estava nervosa e ansiosa pensando no que poderia acontecer. Sua mãe havia lhe enviado um vestido azul marinho com pequenas pedras de strass contornando seu busto. Sua máscara era branca e cobria seus olhos e acima do seu nariz, as mesmas pedras azuis de strass decoravam ela.

― Você está linda e estou tão feliz por você – disse Ellie terminando de arrumar com um floreio de varinha uma mecha teimosa do cabelo da garota que insistia em se desprender do penteado.

― Feliz por mim? – ela perguntou com receio.

Seus cabelos estavam amarrados em um coque com duas mechas desprendida ao lado.

― Você vai viver um grande amor essa noite e merece isso – ela agachou e olhou a amiga nos olhos.

Será que era permitido ela viver um grande amor? Ela um feminista que lutava pelos direitos das mulheres e dos que não tinham voz sozinhos? Ela que jamais tinha deixado um garoto chegar perto desde então? Ela que era estressada demais ou espinhenta demais? Ela?

― E se eu fizer tudo errado? – perguntou não olhando as duas.

― Não tem como fazer nada errado quando se está amando – disse Chloe entregando a ela seu perfume.

As amigas olharam para Chloe e começaram a rir. Talvez Ellie fosse a mais provável a dizer tais palavras. Das três a garota era a mais sonhadora e romântica, por isso tinha se metido com Markus.

― Chloe está bem mudada também. – Ellie sorriu. – Deu uma chance para uma garota que fazia parte do grupo de Nancy.

― Por que não me contaram? – Rose estava feliz pela amiga. Um dos motivos de querer que todos tivessem segurança e igualdade também era por Chloe. As outras duas se entreolharam. – Tá bom. Talvez eu fosse um pouco contra namoros.

Ambas voltaram a sorrir. Scorpius Malfoy jamais entenderia o quão bem foi capaz de proporcionar apenas sendo insistente e gentil.

― Aquele carrapato... – Rose falou e viu pelo espelho seu rosto corar.

xx

Lily se olhava no espelho do banheiro de seu quarto brigando com seu reflexo. Estava triste, Dave não havia a convidado para o baile.

― É claro que não, você jamais vai ser bonita igual Anne.

― Então por que ele me beijou aquele dia em Hogsmeade?

― Hahaha não se iluda, ele já esqueceu aquele beijo.

Não queria ir ao baile, odiava brigar com seu eu interno. Mas Anne havia convencido ela a ir à festa e a amiga estava bem mudada. Disse que não precisavam de homem nenhum para chama-las e se divertiriam como nunca.

Lily invejava essa autoestima da amiga. Invejava várias coisas nela.

E tinha Hugo, o primo não tinha conversado mais com ela direito desde então. Ele estava diferente, triste pelos cantos, mas quando chegava perto de Anne ele sorria e conversava animado. A melhor amiga havia tirado até Hugo dela.

― Até Hugo prefere Anne. – Aquela voz era insuportável. – Pobre e insignificante Lily.

Não culpava Anne, a culpa era dela mesma de ser tão insignificante que perdia tudo e todos a seu redor.

― Vou provar a você que sou significante – apontou seu dedo indicador ao espelho e saiu do banheiro decidida a ficar linda, tão linda que Dave ia nota-la assim que chegasse no salão.

xx

― E então, está preparado para amanhã aparecer no café como veio ao mundo? – era Markus ao seu lado. Estavam todos os garotos com par parados no final da grande escada do Hall esperando as garotas chegarem para caminhar juntos para o grande salão ao lado onde aconteceria a festa.

― Já disse para você esquecer essa aposta.

― É claro, porque ficou três meses na cola da espinhenta e não conseguiu nada com ela – respondeu ao amigo com um sorriso na cara – Ela te venceu e não admite isso. Fez você de um elfo doméstico e não conseguiu nem sequer um beijo dela.

― É – ele concordou com a cabeça sorrindo – E eu gostei.

Scorpius virou para o amigo encarando ele.

― Desiste dessa aposta, eu já desisti.

Markus fez não com a cabeça e ia falar outra coisa, mas olhou para cima da escada e viu o par de Scorpius chegar.

O loiro assim que a viu ficou hipnotizado, como se ela fosse uma espécie de veela, o que sabia que não era. Estava linda e parecia irradiar uma luz em volta de si.

Ele esticou sua mão e ajoelhou-se. E como se tivessem combinado ele usava uma veste azul marinho. Tinha pedido para sua mãe qualquer cor que não fosse preto ou verde. Não gostava das vestes sombrias de seu pai e não aguentava mais usar verde por causa de sua casa. Sua mãe tinha sido um gênio escolhendo o azul.

― Não lhe parece que fomos feitos um para o outro? – Ele disse quando Rose segurou sua mão e sorriu.

― Um escorpião venenoso e uma rosa espinhenta. – Rose sorriu.- Uma combinação explosiva.

Aceitou o braço que Scorpius a oferecia e juntos seguiram para o salão deixando vários garotos boquiabertos com a beleza de Rose e várias garotas suspirando com o charme de Scorpius. Se esse baile tivesse o terrível costume de nomear reis e rainhas já se saberia qual seria o casal vencedor. Por sorte os bailes bruxos já tinham evoluído em tal quesito.

Lily estava sentindo-se estranha naquele vestido preto, achou que seu cabelo não tinha ficado bom, era liso demais e por mais que ela tentasse mudar o penteado se desmanchava rapidamente. Tinha escolhido uma máscara da mesma cor do vestido com pequenas pérolas falsas coladas no entorno dela e uma pequena pluma branca pousada do lado direito.

Se sentiu mais feia ainda quando viu a amiga. Anne estava radiante, também estava com o vestido preto, o mesmo que o dela já que ela havia a convencido que seria genial se fossem todas iguais como numa igualdade. Anne estava feliz, estava rodeada de várias garotas que tinha feito amizade nos últimos encontros do Kahlo, todas com o mesmo vestido preto. Lily sentia-se cada vez mais insignificante. Dave nunca a olharia. Ainda mais com todas aquelas garotas mais bonitas que ela vestindo a mesma coisa que ela.

Sentia-se péssima.

― Lily eu prometo que essa noite será magnífica – Anne assegurou a amiga assim que chegaram juntas no salão e viu que a ruiva não estava sorrindo.

Mas a amiga não acreditou nas palavras dela.

― Hugo infelizmente não pode vir – Anne anunciou ao lado dela como se fosse uma informação banal.

― O quê? – ela perguntou um pouco alto para a amiga já que a música já tocava extremamente alta.

― Parece que teve uma daquelas febres de novo – Anne lhe explicou.

Lily não sabia por que, mas quis chorar quando soube que o primo não estaria na festa. Sentia que tinha culpa na febre do garoto. Sentia que Hugo já não era mais seu melhor amigo já que Anne sabia mais informações dele do que ela.

 A garota sentia que aquela noite seria horrível. Mas resolveu fingir, como já estava acostumada a fazer e foi dançar em companhia das meninas uma música agitada na pista de dança.

xx

Hugo mentiu a Anne, não estava com febre, estava era com receio de ir à festa e ver Lily com Dave. Ao mesmo tempo queria a felicidade da prima então resolveu se ausentar. Na manhã seguinte estariam em casa mesmo para os feriados festivos e talvez convencesse sua mãe a passar o natal com seus avós Granger aquele ano ao invés dos Weasley, assim não precisaria encarar Lily durante um bom tempo. Não precisaria fingir que estava feliz ao vê-la perto de Dave e a esqueceria.

Mas Anne havia lhe garantido que Dave não havia convidado Lily. A garota estava triste e tentou convencer ele a ir à festa. Talvez ele pudesse consola-la quando percebesse que Dave não era para ela. Contar toda história das cartas, ela então percebesse que o garoto que ela estava apaixonada pela escrita era na verdade ele.

Óbvio que Hugo não acreditou nessa história toda de amor que dá certo em uma noite de baile. Aquele ano já estava suficientemente estranho e não esperava que as coisas se resolvessem em uma simples noite mágica. Mas, talvez Anne tivesse razão no fato de Lily precisar de um ombro amigo se tudo desse errado. E se tudo desse certo para ela no final ele só precisava se esconder em seus avós trouxas durante alguns dias e se recompor.

― Estarei lá por você – anunciou a si mesmo se vendo no espelho e começando a se arrumar para a festa.

xx

Rose estava se divertindo muito com as musicas e surpreendentemente com Scorpius Malfoy. O menino começou a noite um pouco parecido com os outros. Parado de braços cruzados, mas no primeiro desafio que as amigas lançaram rindo do quanto os garotos eram todos iguais, Scorpius pagou Rose pelas mãos e a arrastou para o meio da pista.

― Sério. – Ele gritava mais alto que a música. – Não entendo porque gostam tanto disso.

― De festa? – Rose gritou de volta.

― Dessa música.

― Todo mundo escuta, inclusive tia Gina sempre coloca no final das festas de família. – Rose pulava fazendo mais alguns fios se soltarem.

― Uau. – Ele a segurou pela cintura.- Em casa só escutamos músicas clássicas.

― Por isso é tão ruim!

Rose ria dos movimentos do loiro. Ele poderia ser o melhor jogador de quadribol da Sonserina, mas como dançarino estava longe de acertar qualquer passo.

― Sempre me humilhando né?

― Você sabe que esse é o meu hobbie preferido... – Rose riu. – Acordo de manhã e penso: como vou humilhar Scorpius hoje.

― Eu já sabia que não conseguia me tirar dos seus pensamentos.

O garoto estava tendo uma noite agradável, gostava de ver Rose se divertindo e rindo como nunca à via. Parecia outra garota. Livre. As amigas faziam piadas e implicavam umas com as outras, com seus pares e principalmente com ele. E ele também podia fazer piadas sem que o olhassem estranho.

Outra coisa que Rose e o grupo dela tinham o ensinado. Brincadeira só é brincadeira quando todos se divertem, quando alguém fica triste ou se mágoa deixa de ser brincadeira.

― Eu gostaria de entender o que faz os caras convidarem as garotas e passarem a noite toda encostados em uma parede ou sentados em uma cadeira. – Chloe questionou. – Sorte que eu gosto de garotas.

Scorpius podia ver os amigos encostados na parede olhando para os outros se divertindo, tinham perdido seus pares para o grupo de meninas que tinham ido juntas e de vestidos iguais.

― Não sou uma garota e estou aqui.- Scorpius gritou.

― Sorte da Rose! – Chloe riu.

― Suas amigas acham que sou uma dádiva em sua vida.- Scorpius gritou para Rose.

― Elas são todas malucas. – A garota riu.

Scorpius ia continuar a conversa, mas as risadas do grupo de Anne acabaram chamando sua atenção.

As meninas dançavam como se não houvesse amanhã, bem... quase todas.

― Você deve estar orgulhosa...

Scorpius disse apontando o grupo que crescia a cada nova música.

― Não vou mentir... Estou muito orgulhosa. – Rose gritou.

Lily, no entanto, não parecia nem orgulhosa e nem contente. Tinha dançado algumas músicas com as meninas, elas estavam chamando atenção de todos. Mas ela queria uma atenção específica e Dave ou estava tentando ignorar por completo todo mundo que estivesse perto de Anne, ou estava realmente se divertindo sentado na mesa com alguns garotos que se recusavam a dançar.

Enquanto bebericava um ponche de frutas silvestres a ruiva tentava tomar a coragem necessária para chamar Dave para uma dança. Esperando a música certa.

Hugo observava o grupo de longe, estavam se divertindo e dançavam felizes, todos menos Lily que parecia perdida. Como ele queria ficar ao lado dela naquele momento, mas achava que estaria estragando sua noite se possível.

Foi quando a viu, ela saiu de perto da pista de dança e começou a andar por entre as mesas em que as pessoas estavam sentadas. Parecia desesperada procurando alguém. Queria que fosse ele, desejava que ela procurasse ele, mas sabia quem ela queria encontrar.

― Dave – ela disse sem fôlego de frente ao rapaz assim que o encontrou. Estava vestindo um blazer preto por cima de uma camiseta branca, sua máscara era simples e preta. Ele estava emburrado bebendo uma bebida de cor verde. Não fez menção nenhuma que tinha escutado a garota.

Lily estava tirando dentro de si uma coragem que ela não sabia que existia, se sua prima, que até então não acreditava em histórias de amor estava vivendo uma daquelas noites, ela tinha o direito de viver uma também. Reparou onde os olhos do rapaz estavam se direcionando e percebeu que era para a pista de dança.

― Você quer dançar? – ela quase gritou perto do ouvido dele esperando que ele reparasse nela pela primeira vez.

Ela conseguiu, Dave a olhou. Pareceu pensar um pouco, mas logo em seguida puxou a garota pela mão levando ela para onde estava olhando agora a pouco.

xx

Não é como se Scorpius não esperasse, mas a escola inteira parecia olhar para eles. Todos seus passos e movimentos eram registrados pelos olhos dos outros alunos. Talvez porque Rose pela primeira vez estava irradiando felicidade a cada gargalhada que dava e nas conversas que tinha com os amigos. Ele não conseguia deixar de olhar para ela reparando em detalhes que antes não havia notado na garota. Por exemplo, no fato dela ser linda até dançando descalça.

― Sapatos de salto são uma invenção de um homem baixinho e não sei porque nós mulheres temos que ser obrigadas a usar em uma festa elegante.

Scorpius sorria em cada palavra que ela dizia, pedia mentalmente para aquela noite durar uma eternidade para que ele pudesse decora-la na maneira nova que ela estava se mostrando a ele.

― Você está linda – ele falou baixo no ouvido dela.

― O que? – perguntou a ele quase gritando devido à música alta.

― Eu disse que você está linda! – voltou a falar olhando pra ela.

Rose sorriu e Scorpius reparou que as orelhas dela tinham ficado vermelhas.

― Quer namorar comigo? – fez o pedido que tinha guardado dentro de seu coração.

Ela balançou a cabeça negando para ele.

― Você costumava ser mais romântico quando queria me conquistar no começo – disse perto do ouvido dele.

Ambos sabiam que vários olhos curiosos eram dirigidos a eles, mas não se importavam.

― E você costumava ser bem brava no começo – ele respondeu.

Estavam quase se abraçando na pista, mesmo que a música fosse agitada.

― Eu quero namorar com você – colocou sua boca no ouvido da garota para não precisar gritar – Porque estou apaixonado pela mulher incrível que você é.

Ela afastou-se um pouco dele para olha-lo nos olhos, seus lindos olhos azuis acinzentados.

― E eu quero namorar com você por causa da pessoa incrível que demonstrou que é.

Terminou sua fala colocando o braço envolta do pescoço dele selando seus lábios.

Seu coração batia tão forte naquele momento. Se misturando com as batidas da música e com as luzes que piscavam em todos os tons possíveis. Parecia que as baterias estavam dentro de seu peito. Ela estava tomando a iniciativa e mais do que isso estava com os lábios colados com os de Scorpius. Rose deixou que as mãos se agarrassem nos cabelos do loiro os bagunçando apesar do gel que sempre os deixavam intactos. Ela gostava quando o cabelo dele ficava despenteado caindo um pouco sobre os olhos.

E apesar de gostar de ter controle sobre tudo permitiu que o garoto determinasse o quanto o beijo duraria. Por ela seria por toda a noite. Com os olhos fechados não conseguia pensar em algo melhor para fazer. Beijar Scorpius Malfoy era simplesmente incrível. Se deixar senti-lo era algo novo que ela talvez nunca mais conseguisse esquecer.

Scorpius ficou surpreso com a iniciativa dela. Mas se permitiu aproveitar o momento. Já tinha beijado muitas garotas apesar de não deixar que passasse dos beijos. Com Rose ele queria tantas outras trocas, queria continuar andando de mãos dadas, queria fazer piqueniques quando a primavera chegasse, e ficar estirado no sol. E queria continuar beijando-a o resto da noite. Sentindo os cabelos dela pinicando seu rosto, sentindo as mãos dela bagunçando seus cabelos, sentindo o coração dela batendo contra ele.

Quando finalmente o beijo chegou ao fim Rose sorria enquanto abaixava seu rosto contra o peito de Scorpius respirando ofegante.

― Têm certeza que nunca tinham te beijado antes? – Ele perguntou sorridente.

― Teve uma vez que roubaram um beijo meu, mas faz tanto tempo. Nem o reconheço mais...

― Tenho certeza que ele não é mais o mesmo.- Scorpius disse sendo agora o responsável pelo beijo que se seguia.

xx

Lily estava dançando com Dave pela primeira vez e estava radiante. A música não era lenta e o clima para o romance não era dos melhores, mas ela tinha a atenção dele toda voltada para si.

― Você dança bem – ela tentou puxar assunto. Não sabia direito como se comportar perto dele e o que falar.

― Você também.

Era estranho ele a tratá-la por você, pareciam que não tinham intimidade nenhuma. Ela tinha decorado cada palavra das cartas que o garoto enviou para Anne. Ela sabia que o garoto era sensível, romântico e ótimo com as palavras. O beijo errado que tinham trocado ainda estava em sua boca guardado em suas lembranças.

Naquele momento a música mudou para uma lenta. Dave a olhou sem saber o que fazer e ela, com a coragem que havia adquirido naquela noite, colocou suas mãos envolta do pescoço dele e começou a dar passos lentos. Ele por sua vez pousou suas mãos na cintura dela. Essa proximidade nunca experimentada por Lily antes fazia seu coração pular do peito de uma forma que ela jamais imaginou ser capaz. Se permitiu encostar sua cabeça no peito dele.

Hugo continuava a observar seus passos e viu a garota dona de seus sonhos finalmente nos braços de quem ela sofria de amor nos últimos meses. Se permitiu sorrir mesmo em sua dor. Ela estava feliz e sabia que o amor também era saber deixar partir.

Anne apareceu ao lado de Lily dançando com um garoto que a amiga nunca havia visto antes em toda Hogwarts. Ela deu uma piscadela a Lily como se dissesse que estava feliz por ela e que não sentiria traída se conseguisse realizar o desejo de seu coração. Lily sentiu que ela a estava de certa forma a abençoado.

Dave pisou em seu pé e a garota sentiu seus dedos esmagados pelo sapato duro dele.

― Me desculpe – apressou a dizer.

― Tudo bem.

Ela reparou no rapaz e viu que os olhos dele estavam perdidos em algum ponto no meio dos alunos dançando.

― Vou pegar umas bebidas para a gente – anunciou a ela separando da garota e sumindo no meio de vários casais que dançavam grudados.

Lily ficou parada olhando o nada sem saber o que fazer. O que estava acontecendo?

Hugo não acreditou que o insensível do amigo que ele havia ajudado com as cartas tinha deixado ela sozinha pista. A garota não conseguia se mexer estava parada sem saber o que fazer. Na certa ele havia lhe dispensado e ela estava com seu coração partido.

Ou talvez ele houvesse lhe confessado que não escreveu as cartas, que na verdade era seu primo, no caso ele mesmo, e disse que não poderia engana-la mais, já que não gostava dela como ela gostava dele.

Várias teorias passavam na cabeça do garoto, mas ao mesmo tempo que pensava em todas elas começou a andar em direção a dona de seus pensamentos, de sua febre, de suas palavras doces ditas em carta.

Sem raciocinar e acreditando que estava fazendo a coisa certa pela primeira vez parou atrás dela e tampou seus olhos com sua mão.

― É você? – ela perguntou com sua doce voz – Eu sabia que você apareceria no fim.

Será que ele estava entendendo direito. A garota estava falando com ele? Será que Dave contou mesmo toda verdade a ela e descobriu que estava apaixonada pelo dono das palavras e não por quem achava que era antes.

― Ainda lembro do nosso beijo, sonho com ele todas as noites pensando em repetir – era a deixa que ele precisava.

Tirou suas mãos do rosto dela e colocou-se a sua frente. A garota já estava com os olhos fechados só esperando que ele selasse seus lábios uma vez mais.

E ele a beijou. Dessa vez muito melhor do que havia sido pela primeira vez. Ela estava completamente sóbria. Suas mãos tocavam o pescoço do garoto procurando pela correntinha. Quando conseguiu tira-la de debaixo da roupa Lily se agarrou como se a vida dela dependesse desse gesto. O coração de ambos no mesmo ritmo, assim como a respiração. Eram um encaixe quase perfeito.

Hugo gostaria de nunca deixar a prima, se pudesse a manteria em seus braços para sempre. Protegida. Longe de todos os medos e traumas que ela tanto sentia. Se tivesse algo que ele gostaria de ofertar para sua tão amada prima, seria o dom de se enxergar com os olhos dele. Se ao menos uma vez conseguisse Lily saberia o quanto ela era incrível e maravilhosa.

O fim do beijo estava próximo. Lily mantinha a perna erguida como todo romance clássico merecia como ela sempre sonhava.

A menina sentia-se como se flutuasse e sua mente estava rodando perdida. O beijo dele era como um calmante que ela nem sabia que precisava. E o perfume que se pudesse guardaria em um frasco para espirrar em suas próprias roupas e adormecer sentindo-o.

Infelizmente beijos não duram para sempre. E quando abriu os olhos não tinha mais em sua frente o responsável por seus sonhos.

Mas Lily sabia o que iria fazer em seguida. Merecia romance, amor, sorrisos e palavras. Como ela queria palavras.

Andando apressada procurava Dave, estava pronta para assumir seus sentimos. Depois do beijo tinha certeza que não seria rejeitada.

xx

Eles corriam, como dois foguetes subindo ao espaço, em direção aos jardins, lá eles poderiam conversar, namorar e descobrirem novos segredos.

― Eu estou me sentindo uma boba – ela sorriu esticando seus braços no ar e dando rodopios na grama gelada.

Estava com seus sapatos em mãos, sua máscara já tinha saído de seu rosto há tempos, seus cabelos se desprendiam cada vez mais do coque que havia feito. Os efeitos que Scorpius provocou visivelmente nela.

― Quem diria que eu faria a Rosa espinhenta virar uma boba apaixonada? – ele não conseguia tirar o sorriso de seus lábios. Jamais lembrava de ter sentido tamanha felicidade, seu coração tinha se rendido a ela, sem perceber e sem pretensão tinha deixado que ela dominasse tudo de si.

― Acontece um problema – ela o olhou sério.

― Qual problema? – perguntou preocupado. Não poderia ter problema nenhum tudo estava perfeito.

― Acho que não vou conseguir continuar a ser a Rosa espinhenta.

Ele sacudiu a cabeça ainda sorrindo e começou a se aproximar dela.

― Você me transformou em uma pétala.

― Uma pétala delicada – ela riu quando ele completou sua fala.

― Adoro seu apelido romântico para mim.

―Prometo ser seu carrapato para sempre.

E Scorpius voltou a beija-la, mas desta vez calmamente, sem os desesperos de antes, queria conhece-la de todas as formas possíveis. E ela parecia querer fazer o mesmo, pois quando seus lábios se separaram ela lhe deu pequenos beijos por todo seu rosto.

Ele sorriu, não conseguia parar de sorrir. Ela o encarava radiante como ele. Eram o reflexo da felicidade.

xx

― Anne! – ele gritou perto da garota chamando sua atenção – O que está fazendo como ele?

A morena encarou o dono da pergunta e não acreditou em quem estava vendo.

― Dave não devia estar aqui!

― Quem é ele? – apontou o garoto que ela dançava descaradamente.

― Eu não sei. Acabei de conhecê-lo.

Disse sorrindo para ele. Ela era uma garota livre e assim permaneceria até achar alguém que lhe fizesse bem em todos os aspectos. Ela estava apenas dançando.

― E além disso não devo satisfação a você!

― Eu preciso conversar com você. – pediu como se não tivesse ouvido o desprezo dela.

― A pessoa que tem que conversar está em algum lugar na pista de dança esperando você.

― Não gosto dela Anne. – ele negou com a cabeça pensando em Lily – Gosto de você. Trocávamos cartas e éramos bons juntos. Achei que estávamos dando certo.

A essa altura da conversa o garoto que ela dançava saiu de perto dos dois deixando que conversassem sem sua presença.

― Você nunca gostou de mim. Éramos marionetes – explicou a ele.

― O que está dizendo?

― Eu sei que Hugo respondia as cartas por você – ela confessou. Já que tinha começado o assunto sinceramente com ele iria até o final – E eu, também não escrevi as cartas.

― O que está dizendo? – ainda estava perdido.

― Nós éramos coadjuvantes de um romance que não devia existir, pelo menos não entre nós dois – ainda soava enigmática ao rapaz a sua frente – Lily escrevia as cartas. Era ela o tempo todo. Os sentimentos entregados a você pertenciam a ela.

― A Lily? – se questionou tentando raciocinar a nova informação entregue a ele.

― Ela ainda pensa que você escrevia as cartas e está apaixonada por você. Então a escolha está em suas mãos.

― Que escolha? – perguntou desesperado por uma resposta.

― Se quiser viver o romance das cartas ela está em algum lugar dessa pista te esperando. Se achar que não a merece seja sincero e diga que tudo foi um grande mal entendido.

Dave começou a pensar na garota, em todos os sinais que ela havia lhe entregado aquela noite, a dança, as palavras...

― Vocês estão juntos? – era Lily que finalmente tinha encontrado Dave na multidão.

O garoto a olhou e decidido a viver seu amor das cartas pela primeira vez, chegou perto dela e a beijou.

xx

Estavam entrelaçados, sentados num banco olhando as estrelas. A mão de Scorpius sobre seus ombros a abraçando, a perna esquerda de Rose pousada em cima da perna direita dele. Ela segurava a mão livre do rapaz com suas duas mãos e as acariciava.

― Sabe o nome daquela constelação bem ali? – o garoto apontou para um ponto do céu para que a garota olhasse na mesma direção – Scorpius.

― Ah pare de mentir – ela riu dele.

― É verdade – ele disse sério – meus pais decidiram meu nome por causa dela.

― Por causa das estrelas?

― Achei que estava se tornando uma garota romântica – comentou para azucrina-la – Mas é sério, minha mãe trabalhava no Saint Mungus na época e meu pai estava fazendo tratamento na ala psiquiátrica.

Rose o olhava enquanto escutava a história do rapaz. Adorava quando contava de si mesmo. Havia se apaixonado assim por ele. Quando tinha aberto seu coração na primeira reunião de seu grupo.

― Meu pai ficou meses se cuidando por causa de todas as coisas erradas que tinha feito na guerra e minha mãe estava ajudando a curá-lo. Ela foi a primeira a não olha-lo com olhos de desprezo.

― E da onde surgiu seu nome?

― Minha mãe era fascinada por estrelas. Sabia de cor, e sabe até hoje como encontrar cada constelação nos céus e no dia que meu pai recebeu alta estava analisando essa constelação.

Os olhos do garoto permaneciam nos céus e Rose somente o olhava. Não conseguia desgrudar seus olhos dele.

― De certa forma ele se libertou das amarras de seu passado no dia que minha mãe me encontrou. Eu sei... Soa patético. Mas eu gosto dessa his...

Ele não terminou de falar, Rose havia chegado mais perto se possível dele e o beijado com admiração. Ela até então não sabia que era possível sentir outros sentimentos em um simples beijo de recém-namorados, mas ela sentia. Carinho, admiração, orgulho. Tinha tanto sentimentos que achava que ia transbordar.

Eles se separam e Scorpius começou a analisar as sardas do rosto dela, eram tão lindas que começou a colocar os dedos delicadamente em cima delas a fim de decorá-las. Havia encontrado sua constelação preferida no rosto de Rose.

xx

E Lily o beijou, não se importou que Anne estava ao lado, ela o beijou como antes, mas algo estava errado. Seus lábios não eram os mesmos, o jeito dele a tocar não era o mesmo, o segurar em sua cintura não era o mesmo, seu cheiro não era o mesmo. Ela não estava entendendo. Esticou sua mão a fim de segurar a correntinha no pescoço dele. Foi quando não a sentiu. Afastou ele de si.

― Onde está sua correntinha? – perguntou.

O garoto pareceu não ouvir e foi de encontro a ela para iniciar outro beijo, Lily deu um passo para trás impedindo ele de fazer o que fosse fazer.

― Onde está sua correntinha? – reiterou a pergunta.

― Não sei do que está falando.

― A correntinha que sempre leva em seu pescoço, a que esconde por debaixo de sua camiseta. Onde está sua correntinha?

Perguntou desesperada, sentia que alguma coisa de errada estava acontecendo, mas não sabia o que era.

― Eu nunca tive nenhuma correntinha, nunca usei nenhuma.

Lily sentiu seu chão abrir sob seus pés, o que ele estava dizendo não podia ser real.

― Você tinha uma correntinha sim! – disse enérgica – Percebi enquanto te beijava em Hogsmeade!

― Que beijo em Hogsmeade? Nunca nos beijamos, pelo menos não até essa noite.

As palavras de Dave foram como feitiços sendo lançados nela, sentia-se tonta. O que estava acontecendo?

― O beijo em Hogsmeade não foi você? – perguntou a si mesma tentando clarear sua mente - O beijo agora a pouco não foi você! – não era uma pergunta dessa vez – Nunca foi você!

― O que está falando Lily?

Ela sentiu lágrimas se formando no canto de seus olhos.

― Eu criei uma história fantasiosa em minha cabeça e acreditei nela – ela o olhou nos olhos – Nunca foi você!

Dave a olhava sem entender o que estava acontecendo.

― Conte a verdade a ela! Conte! Ela merece escutar – era Anne ao lado do garoto.

― Que verdade? – perguntou ainda confuso.

― A verdade sobre as cartas!

Lily olhou a amiga curiosa, o que tinha de misterioso nas cartas afinal?

― Eu não escrevi as cartas, nenhuma delas.

A ruiva abriu a boca em choque, só podia ser um grande mal entendido. Aquilo não estava acontecendo.

― Diz quem escrevia as cartas para você!

Pedia Anne quase desesperada a Dave. Lily olhou curiosa para ele esperando o desfecho.

― Hugo escrevia as cartas.

― O que? – definitivamente sua cabeça estava girando.

― Lily tudo isso foi um grande mal entendido, mas está tudo bem... – Anne estava na frente da amiga tentando consola-la.

Mas Lily não ouvia o que ela estava dizendo, seu cérebro começou a juntar as peças daquele quebra-cabeça. Hugo estava do seu lado em Hogsmeade, o reflexo do sol antes do beijo era ele, Hugo insistiu para que ela respondesse uma carta, soube das palavras secretas que queria colocar no papel, Hugo ficou doente quando descobriu que ela não leria sua carta, por isso Rose a culpou pela febre, Hugo usava uma correntinha.

― Eu sou uma idiota! – saiu correndo da festa. Seus olhos despejando algumas lágrimas. Não conseguia pensar em nada, ao mesmo tempo a enxurrada de informações estava começando a pesar em seus ombros.

xx

Scorpius deixou Rose nos jardins e entrou para pegar um bebida para eles. Encontrou Otto e Markus na mesa, Otto ria de alguma piada muito engraçada.

― Posso saber do que está rindo – ele estava tão feliz que estava com paciência até para as piadas sem graça dos amigos.

― Oras é óbvio Scorpius – disse Otto ainda rindo – Você venceu a aposta no último segundo.

Scorpius ergueu sua cabeça olhando Markus com os olhos apreensivos.

― Pegou a espinhenta no último momento, de certo para rir da minha cara – era Markus falando com raiva.

― Eu não disse para esquecer tudo isso? – Scorpius disse sério.

Mas talvez não fosse o momento para tal conversa.

― Me pegar? – Rose perguntou a Scorpius perplexa.

Ela tinha resolvido entrar porque estava muito frio lá fora sem os beijos dele, foi em direção à mesa de bebidas que sabia que Scorpius estaria lá e acabou ouvindo a fala de Markus.

― Sim, Scorpius é tão sortudo que acho que tomou Felix Felicis hoje.

― Cale a boca Markus! – gritou Scorpius.

― Agora ele vai falar – disse Rose ameaçadoramente apontando a varinha para o rosto do rapaz.

E Markus começou a falar, contou da ideia brilhante da aposta.

― ... O beijo só valeria se você aceitasse beija-lo. Por isso aquele beijo forçado não valeu.

Rose mantinha sua varinha apontada pra Markus, mas seus olhos estavam em Scorpius.

― E ele me venceu no último minuto, afinal se ele não te beijasse até o natal ele cumpriria o castigo.

― Já disse pra calar a boca Markus! – Scorpius estava desesperado.

No início de tudo Rose tinha jogado as palavras no ar. Havia até mesmo adivinhado que só poderia ser uma aposta. Uma massagem no ego de “pegador" de Scorpius Malfoy. Mas ele demonstrou que era diferente, ele aceitou os termos, ele ficou ao lado dela. E ele a manipulou como seu pai avisou que todos os garotos faziam.

― Eu acreditei em você! – ela gritou raivosa apontando a varinha dessa vez a Scorpius – Eu acreditei que tinha mudado por mim! Eu entreguei essa noite a você como jamais entreguei a outro homem e você...

Ela não podia segurar mais as lágrimas e elas caíram uma a uma. Virando as costas para ele, começou a correr para fora do salão.

― Não Rose não! – Scorpius limitou a virar para Markus e lhe meter um soco no queixo – Isso é para você aprender a calar a boca!

Ele saiu correndo atrás de Rose.

― Rose foi uma aposta no começo sim, mas só no começo! – ela estava há uns dez passos na frente dele. Podia ouvir suas palavras falsas em suas costas – Eu me apaixonei por você, nunca foi mentira!

Rose começou a andar mais rápido para não ouvir nada do que ele dizia.

― Rose eu mudei por você, eu...

― Para de mentir!!! – gritou virando para ele e levantando a varinha – para de me seguir!

― Não vou! Eu preciso que você me escute.

― Não vai mais me manipular.

― Não estava te manipulando eu me apaixonei por você.  Rose, por favor...

― Usou as palavras de Frida apenas para me “pegar". Parabéns. – a menina bateu palmas. – Ganhou sua aposta.

― Rose... – Scorpius deu um passo à frente.

Rose movimentou a varinha lentamente e pronunciou com a maior dor em sua voz

― Oppugno! – os artefatos que estavam mais perto da garota no momento eram as pequenas pedras do jardim ao lado e foram elas que voaram até Scorpius.

O garoto se abaixou e cobriu seu rosto com suas mãos.

Rose deixou ele para trás e correu para seu dormitório. Só torcia para as pedras ferirem ele por fora como ela estava ferida por dentro.


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