Éris, a deusa da discórdia resolveu iniciar uma confusão e deixou em uma mesa no Palácio uma maçã dourada, com a mensagem “Para a mais bela”.

Imediatamente, as três deusas mais poderosas do Olimpo começaram a discussão. Afrodite, Athena e Hera queriam o prêmio. Zeus, como rei do Olimpo, devia escolher a quem dar o troféu, mas, com medo da ira das mulheres, designou Páris, um mortal, para fazê-lo.

As deusas tentaram o rapaz: Afrodite lhe garantiu o amor da mulher mais bela do mundo; Athena lhe prometeu uma guerra da qual sairia vitorioso e sobre a qual cantariam músicas; E Hera lhe ofereceu ser Rei de grande parte do mundo.

Páris, após refletir sobre as ofertas, apanhou a fruta brilhante e a entregou a Afrodite.

Athena tocou seu pé branco na grama verde e macia do jardim. O dia estava bonito e o ar cheirava a amor, Perséfone estava se esforçando muito naquela primavera, realmente.

Caminhou calmamente tocando as flores e ramos em seu andar, até que encontrou o que buscava naquele lugar: uma majestosa e alta árvore que continha apenas maças douradas, as mais belas e suculentas de todo o mundo.

Com cuidado, apanhou uma fruta, escondendo-a dentro de seu chiton, e voltou para o Olimpo, fingindo não estar carregando nada que não devia.

A barra branca de sua vestimenta estava levemente suja de terra quando entrou no palácio de mármore, mas não quis ir para seu quarto trocar de roupa, pois tinha algo muito importante para fazer naquele momento.

Bateu suavemente em uma porta alta de madeira, segurando a maça nervosamente entre os dedos finos e refletindo se aquela não tinha sido uma péssima ideia. Podia acabar com uma porta batida no rosto, ou pior, poderia ser humilhada ali e, quem sabe, até na frente de todos os outros deuses. Suspirou sentindo o corpo tremendo e bateu mais uma vez, escondendo a fruta na roupa mais uma vez.

— Um segundo – Ouviu a voz melodiosa pedir de dentro do quarto, logo antes de a porta ser aberta, revelando Afrodite, Deusa do amor e da beleza. E, fazendo jus à sua “profissão” a mulher estava impecável. Os cabelos longos e cacheados caiam em cascatas exibindo uma coloração avermelhada. Direcionou seus belos olhos com cílios compridos para a visitante e abriu um sorriso – Olá.

— Afrodite – Falou baixinho – Trouxe um presente.

— Entre, por favor – Convidou dando espaço para que Athena adentrasse o quarto dela. Caminhou até a sacada que tinha em sua janela e, silenciosamente observaram as ondas quebrando na praia lá embaixo.

— É uma visão estonteante – Athena comentou – Entretanto, não vejo porque a observa com tanto fervor. Faria mais sentido se fosse deusa do mar.

— Acha que Poseidon observa as ondas se quebrando de sua janela? – Indagou curiosa. A brisa que invadia o quarto balançava seus cabelos, que exalavam um cheiro bom.

— Não creio que os homens sejam capazes de tamanha delicadeza – Sorriu como se estivesse se desculpando. Afrodite inclinou a cabeça concordando.

— Eu as olho por outro motivo – Confidenciou estendendo sua mão delicada e apontando para o mar – Foi de lá que nasci. Gosto de ver a espuma sobre as águas e imaginar como foi para os deuses quando me viram sair de lá.

— Uma surpresa e tanto, creio eu.

— Sim, devo ter sido – Acenou positivamente – Mas você veio me ver por algum motivo, certo?

— Ah, sim. Claro.

Pigarreou, repentinamente ficando muito nervosa na presença grandiosa daquela deusa.

— Estive pensando no incidente com Páris – Falou ainda sem retirar o presente de suas vestes.

— O incidente seria a fruta dourada para a mais bela ou a guerra que acabei causando?

Athena não conseguiu controlar a risada que correu por seus lábios, fazendo com que Afrodite se sentisse livre para rir também.

— Estava falando sobre a maçã. Eu gostaria de fazer um pedido.

— Um pedido? A mim? – Surpresa se espalhou pela sua expressão, provavelmente ela acreditava que Athena estava ali por vingança.

— Eu trouxe um presente – Falou puxando a fruta roubada e mostrando-a – E em troca gostaria de ganhar a mesma coisa que Páris ganhou.

— A mulher mais bela do mundo? – Franziu a sobrancelha – Helena já é de Páris.

— Helena não é a mulher mais bonita do mundo para mim – Ergueu seus olhos cinzentos, focando-os em Afrodite e esperando que ela entendesse o que acontecia. Sua boca, que estava contorcida com a confusão, começou a se suavizar até que um sorriso foi exibido.

— Então quer a mulher mais bonita do mundo, Athena. E quem seria ela?

— Estou dando a maçã dourada para ela. A deusa mais bonita do Olimpo e a mulher mais perfeita já criada por esse mundo.

Afrodite piscou algumas vezes, absorvendo o elogio. Em seu rosto, um brilho apaixonado foi tomando conta.

— Não sei se posso fazer isso – Comentou brincando e tomando a fruta das mãos da outra.

Athena sorriu provocante, e beijou os lábios da deusa, segurando seu corpo junto ao seu.

— Está bem, talvez eu possa – Riu enquanto era tocada mais uma vez.

Ao fundo, as ondas quebravam na praia enquanto as apaixonadas se amavam.