Hermione passou o final de semana inteiro pensando no que aconteceu sexta-feira à noite na sua sala. A visita inesperada de Ron, seu beijo e principalmente a sua proposta. Andava pesquisando sobre o processo de inseminação artificial e o quanto isso iria custar, com a compra do apartamento e o seu salário de professora, Hermione teria o dinheiro para realizar seu sonho somente daqui uns 3 anos. Não poderia esperar tanto, seu relógio biológico estava disparado e queria tanto se recuperar da traição de Krum com uma família.

Na segunda-feira assim que chegou na escola correu ao encontro de Luna e contou brevemente o que aconteceu. Luna não acreditou, a abraçou feliz pela notícia, mas vendo a cara de Hermione percebeu que não era tão simples.

—Você vai aceitar, não vai? –Luna perguntou baixo enquanto as crianças passavam por elas entrando nas salas. –Hermione, essa proposta é maravilhosa, você pode sair com um filho e marido. O combo completo!

—Luna, por favor! –Hermione a puxou para o canto, não queria que escutassem sobre a sua vida. –Além de ser meu vizinho gostoso eu não o conheço, e pelo pouco que vi ele não é do tipo pai e marido.

—Pelo menos me diga que irá pensar. Você pode fazer um contrato ao algo do tipo, protegendo você e o bebê de quaisquer imprevistos, e protegendo ele também já que você disse que ele não é do tipo pai e marido.

—Eu vou pensar. –Hermione encerrou o assunto no instante que o sinal tocou, indicando que a aula iria começar.

—Eu vou conversar com Neville, ele pode te ajudar com o contrato. –Luna falou e entrou na sua sala.

Hermione bufou, agora Neville também seria envolvido nesta loucura que ela chamava de vida.

Nos dias seguintes, Hermione tentou esquecer a proposta do Ron, mas estava difícil. Além de trabalhar cercada de crianças, em todo lugar que ia um bebê lindo aparecia em seu caminho, mexendo ainda mais com as suas emoções.

Estava no mercado quinta-feira depois do trabalho quando seu celular tocou, era Neville trazendo notícias sobre o seu contrato.

—Ficou pronto? –Hermione perguntou surpresa com a rapidez que o amigo fez o documento.

—Consegui com um colega um exemplo, o que ajudou bastante, afinal não fazia ideia de quais pontos este contrato deveria cobrir. –Neville respondeu sem graça. –Além do fato de Luna me pressionar para terminar o quanto antes, pois só assim você teria o seu bebê.

—Eu vou matar a Luna! –Ela disse envergonhada, mas agradecida pelos amigos a ajudarem. –Me mande por e-mail que eu vou dar uma olhada, qualquer coisa te ligo. Obrigada Neville.

—Não foi nada, Hermione.

O prazo dado por Ron estava acabando e Hermione estava vivendo a expectativa e medo de encontra-lo no elevador. Desde que o vira pela primeira vez algo nele a chamou atenção e torcia todas as vezes que chegava ou saia para vê-lo. Como se o destino estivesse atendendo seu pedido, quando voltava para casa na sexta-feira após uma exausta semana, Hermione encontrou Ron descendo do taxi com uma mala, deveria estar voltando da viagem que mencionou.

—Boa noite, Hermione. –Ron a cumprimentou, feliz em revê-la. –Estava planejando uma visita a minha vizinha favorita, mas vejo que você não conseguiu esperar.

—Boa noite, Ron. –Ela revirou os olhos sem deixar de rir. –Já te falaram que você é bem convencido?

—Já, mas eu digo que faz parte do meu charme. –Ele piscou e a deixou passar pela porta do prédio. –Então, pensou na minha proposta?

—Sim. –Hermione respondeu entrando no elevador.

—E? –Ron estava ansioso pela resposta.

—Precisamos conversar. –Ela disse após alguns minutos em silencio, estava confusa.

—Ótimo, querer conversar já é um sinal! –Ele segurou a porta do elevador para que ela saísse no seu andar. –Preciso tomar um banho e trocar de roupa, passo te buscar daqui uma hora.

—Como? –Hermione não entendeu.

—Vamos jantar, assim podemos conversar e você aceitar a minha proposta. –Ron explicou o que na cabeça dele era óbvio. –Uma hora, pode ser?

—Ok. –Ela respondeu indo em direção ao seu apartamento.

Hermione entrou em desespero, em uma hora não só teria um encontro com seu vizinho lindo como poderia terminar a noite mais perto de realizar seu sonho de ser mãe. Correu para se arrumar, tirar a roupa de professora e ficar pronta para o jantar. Ficou nervosa, pois nem lembrava a última vez que tivera um encontro, ficou encarando seu armário tentando escolher o que vestir. Lembrou que Ron não disse onde iriam, se iriam em um pub na esquina ou em um restaurante sofisticado. Não tinha seu número para ligar e se recusou a interfonar para o seu apartamento perguntando. Por fim, decidiu por um jeans, uma camisa e um blazer e um sapato de salto, com uma maquiagem leve.

Estava terminando de se maquiar quando a campainha tocou, exatamente no horário combinado.

—Você está linda. –Ron a elogiou e sem cerimônia a cumprimentou com um beijo no rosto. –Vamos?

—Obrigada. –Ela agradeceu e para inflar ainda mais o ego dele retribuiu o elogio. –Você também está muito bem.

Ron trocou o terno e gravata por um jeans e suéter de lã e o sapato social por um tênis casual, o cabelo ruivo ainda molhado pelo banho e a barba recém feita o deixavam ainda mais encantador.

—O que acha de irmos andando? Tem um restaurante muito bom algumas quadras daqui. –Ele sugeriu após Hermione retornar do quarto com a bolsa, pronta para sair.

—Ótimo, assim já conheço um pouco mais do bairro. –Hermione concordou esperando ele sair do apartamento para fechar a porta.

Eles foram andando até o restaurante sugerido por Ron, estava uma noite agradável de outono, as folhas das arvores caídas no chão deixavam a paisagem diferente. O restaurante estava cheio, várias pessoas estavam na entrada aguardando uma mesa e Hermione pensou que teriam que entrar na fila, porém Ron cumprimentou a recepcionista com certa intimidade e ela já os levou para uma mesa em um canto, longe do barulho do salão movimentado.

Percebendo a cara de surpresa e ciúme que Hermione tentava esconder da intimidade dele com a recepcionista, Ron explicou assim que a moça se distanciou após se acomodarem na mesa.

—Monica é uma velha amiga, estudamos juntos na escola. –Ele falou recebendo o cardápio do garçom que iria atendê-los. –Nossos pais são amigos desde sempre, nossa família frequenta bastante este lugar, mas se quiser podemos ir em outro lugar.

—Não, está ótimo. –Hermione preferiu ignorar a explicação dele, negava-se a admitir que sentiu ciúmes dele com a recepcionista. –Adoro comida italiana.

Eles fizeram o pedido ao garçom e Ron pediu uma garrafa de vinho para acompanhar o jantar. Hermione queria beber pelo menos um gole do vinho antes de tocar no assunto “bebê” então perguntou rapidamente sobre a viagem dele. Ron contou que estava trabalhando na construção de um parque eólico na Alemanha. Hermione ficou bem interessada no projeto e queria saber como era possível gerar energia a partir do vento, Ron demonstrou amar o que fazia e explicou com entusiasmo como o processo acontecia.

Durante o jantar eles conversaram sobre tantas coisas que pareciam se conhecer de longa data. Por um momento ela até esqueceu da razão daquele encontro. Como se adivinhasse que Hermione estava pensando na proposta, Ron resolveu tocar no assunto.

—Podemos conversar sobre a proposta que eu te fiz? –Ele tomou um pouco do vinho antes de continuar. –Acredito que irá aceitar ou então não estaríamos aqui.

—Eu tenho alguns pontos a discutir antes de tomar uma decisão. –Hermione se ajeitou na cadeira e arrumou a postura, ficando séria.

—Ok, vamos aos pontos. –Ron inclinou-se na direção dela segurando por um momento a mão dela que estava na mesa e depois jogando-se para a cadeira.

—Certo, por que você quer me ajudar? –Hermione perguntou e antes que ele respondesse ela se adiantou. –Além do fato de querer.... Você sabe.

Ron riu do tom corado que o rosto dela ficou ao tentar mencionar o fato deles transarem. Vendo como para ela era difícil essa parte, ele resolveu ser sincero. Se fosse idiota, poderia perder tudo e Hermione nunca mais iria olhar na sua cara.

—Além de querer transar com você, várias e várias vezes. –Ele sussurrou a deixando ainda mais vermelha de vergonha. –Eu quero te ajudar, vejo o quanto você deseja ser mãe e assim posso tirar da lista a obrigação de ter um filho. Você sabe aquele ditado: “há uma coisa que um homem deve fazer na sua vida: plantar uma árvore, ter um filho e escrever um livro.”. Só vai ficar faltando um livro.

—É sério? –Ela não acreditou que Ron estava usando a poesia para responde-la. –Não sabia que você era interessado em poesias e, principalmente, deixar um legado no mundo.

—Bom, minha mãe e irmã adoram literatura, escutei essa frase delas. –Ron disse ficando vermelho assim como ela estava minutos atrás. –Mas os dois primeiros motivos são verdadeiros. Penso em levar você para cama desde o dia que te vi no elevador carregando aquela caixa de papeis e purpurina.

Hermione ficou surpresa com a revelação dele, pois se sentiu atraída por ele também. O único problema da proposta dele era conceber essa criança no modo tradicional, essa parte a estava impedindo de dizer sim.

—Ron, eu nunca fiz isso. –Ela tentava encontrar um jeito de explicar sem morrer de vergonha.

—Bom, eu também não. –Ele não entendeu. –Nunca me ofereci para ser doador de sêmen a ninguém e até onde sei não tenho nenhum filho.

—Fico feliz em saber. –Hermione sorriu sem graça antes de admitir. –Eu nunca transei com ninguém.

—Você é virgem? –Ron falou um pouco alto demais e chamou a atenção do garçom que passava, por isso levou um chute por baixo da mesa dela. –Aí, doeu.

—Não, idiota, eu não sou. –Ela suspirou constrangida. –Eu apenas fiz isso com pessoas que eu tive um relacionamento.

—Entendi. –Ele estava mais aliviado. –Quantos foram sortudos de te terem na cama?

—Dois. –Hermione bebeu todo o vinho da taça e se serviu de mais, essa conversa pedia mais vinho. –Meu primeiro namorado, ficamos juntos desde o ensino médio até metade da universidade. E então meu ex, ficamos juntos por 5 anos e ele me traiu com a minha melhor amiga. Não só descobri que ele me traia como que ela estava grávida e eles iriam se casar.

—Caralho. –Ron ficou chocado com a história e a sua reação foi terminar com o vinho. –Além dos dois não houve ninguém?

—Não. –Ela já perdera qualquer constrangimento de falar sobre a sua vida com ele, com certeza era o efeito do álcool. –Não sou igual você que sai por ai transando com qualquer coisa que passe na sua frente. Desculpe, não quis te ofender.

—Me ofendeu um pouco, não saio por ai transando com qualquer coisa que passe na minha frente. –Ele achou graça no comentário. –Apenas mulheres bonitas como você. E quem te disse isso?

—O porteiro comentou que você leva algumas mulheres para casa. –Hermione admitiu. –Eu precisava fazer uma pesquisa sobre você antes de aceitar, vai que você quer me drogar e roubar meus órgãos ou me traficar?

—Porteiros mentem. –Ron se defendeu, mas não tinha muito o que pudesse falar para se defender. Sua fama de mulherengo era notória. –Pode ficar tranquila, não quero seus órgãos ou te traficar, quero apenas ter você algumas vezes na cama ou onde preferir para fazer esse bebê.

Hermione respirou fundo estava pronta para aceitar a proposta. Seria apenas um negócio. Não teria que gastar uma fortuna com inseminação e correr o risco de ter o filho de um serial killer. Ron parecia ser uma boa pessoa.

—Ok, eu aceito a sua proposta. –Ela respondeu por fim.

—Você não sabe o quanto eu fico feliz em escutar isso. –Ron sorriu satisfeito. –Quando começamos?

—Primeiro precisamos assinar um contrato. –Hermione falou séria. –Um amigo advogado fez, isso nos protege e protege a criança no futuro...

—Espera. –Ele a interrompeu incerto. –Eu não quero ser pai, abro mão de trocar fraudas sujas e noites sem dormir. Achei que isso estava claro para você.

—Sim, está. –Ela falou, mesmo que aquilo a machucasse por dentro. Sonhou tanto em ter uma família, porém na sua atual situação a família que poderia ter era ela e seu bebê. –Justamente por isso o contrato, isso te protege de quaisquer obrigações paternais.

—Ok. –Ron ficou aliviado. –Podemos terminar aqui e ir para a sua casa ler esse contrato.

—Ok. –Hermione concordou.

Não era a situação ideal, mas Hermione estava se aproximando do seu sonho de ser mãe. Mesmo que para isso tivesse que quebrar a barreira e ir para cama com um desconhecido, algumas vezes.