OMNITRANIL (Ben 10 - Força Alienígena) escrita por TarryLoesinne


Capítulo 41
A odisseia




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Antes que você pense que eu esqueci de Benjamin Kirby Tennyson, garanto para você que não esqueci. Eu sei, faz um bom tempo que ele não aparece aqui e você tem todos os motivos do mundo para querer saber o que aconteceu com ele, mas repito, não esqueci.

A última vez que o vimos ele acabara de sair de sua casa danificada pela primeira explosão. Estava em posse de sua hoverboard e flutuava em direção à enorme fumaça no horizonte em busca de Gwen e Kevin.

Se você já está nesse capítulo, significa que já sabe o que aconteceu com eles. Gwen e Kevin passaram por maus bocados, mas estão bem na medida do possível. No entanto, Ben não sabe disso. Se você já passou pela experiência de ficar sem notícias de um ente querido após uma possível tragédia, sabe muito bem como ele está se sentindo no momento.

Caso não saiba, eu não recomendaria que experimentasse a sensação, pois é incrível a capacidade da nossa mente em criar cenários catastróficos, envoltos em sofrimento e possibilidade de perda. A angústia é esmagadora e faz os intestinos revirarem freneticamente. A sensação no peito é a de que um elefante sentou-se sobre você e não está nem um pouco preocupado em procurar outro lugar para utilizar como assento. Tudo isso enquanto sua mente cria o pior cenário imaginável que comece com a letra “A”, tomando o cuidado de lhe fazer pensar uma situação terrível para cada letra do alfabeto.

Nesse momento Ben Tennyson flutuava rumo ao seu objetivo com seus pensamentos elaborando um cenário com a letra “D”. O bairro residencial ao seu redor apresentava variados níveis de comprometimento. Pouquíssimas janelas permaneceram inteiras, vários telhados foram descobertos e paredes antes já comprometidas por cupins não resistiram à onda de choque da primeira explosão. Vários carros na rua se encontravam com os alarmes disparados, unindo-se ao som das pessoas que saiam de suas casas gritando pelo nome de seus familiares.

Ben, por sua vez, tentava-se manter focado no caminho. Desviava dos obstáculos e dos pedidos de “alguém viu fulano?”. Uma preocupação por vez. Sua mente concluía o cenário de letra “E”, preparando-se para começar a letra “F”, quando uma fumaça escura surgiu à direita de seu campo de visão. Virou-se.

Um pequeno prédio residencial de seis andares estava pegando fogo. O terceiro e quarto andar já se encontravam engolfados pelas chamas. As pessoas saiam de dentro do edifício como formigas e se agrupavam a uma distância segura do local. Um homem musculoso de cabelo curto direcionava as pessoas dizendo:

― Vamos pessoal, rápido, sigam por aqui! Afastem-se do prédio o mais rápido possível!

Correndo em sentido oposto ao fluxo da multidão, um rapaz ruivo olhava para os rostos de cada uma das crianças que passava por ele. Enquanto procurava, gritava:

― Rachel! Rachel! Cadê você!? Rachel? Não, não é ela. Rachel!

O rapaz continuou avançando, trombando contra as pessoas, até chegar ao homem musculoso e disse:

― Minha filha, Rachel, você viu ela!?

― Senhor, me escute, você precisa se afastar daqui! Eu sou bombeiro e esse lugar não é seguro-

― Você não está entendendo, eu preciso encontrar a minha filha!

― Em qual andar vocês moram?

― Sexto andar, apartamento 604. Você a viu? Ela é ruiva e-

Um grito agudo de socorro na varanda do sexto andar atraiu a atenção dos homens e, claro, de Ben Tennyson que até aquele momento não sabia bem o porquê de estar parado em pleno ar.

― Rachel! ― gritou o rapaz ruivo.

― Mas que droga... ― disse o bombeiro. ― Eu pensei que tinha conseguido tirar todo mundo. Senhor!? ― o homem correu para segurar o rapaz ruivo ― Pare, isso é loucura, o senhor não pode entrar aí!

― Me solta! ― o rapaz se debatia no abraço firme do bombeiro ― Rachel!

Ben inclinou a prancha para frente, impulsionando-se rumo ao edifício em chamas. Apoiou parte do peso de seu corpo para trás, inclinando a ponta do hoverboard para cima e avançou rumo ao sexto andar. As chamas e a fumaça pareciam querer agarrá-lo em pleno ar. No solo, se ouvia os gritos do pai sendo forçosamente afastado da entrada do prédio.

O jovem alcançou o sexto andar e viu agarrada ao parapeito da varanda uma garota ruiva de cerca de onze anos, com o rosto lavado de lágrimas. Ela só parou de chorar com a aproximação súbita de Ben em sua prancha voadora.

― Oi! Rachel, estou certo? ― perguntou Ben, com um sorriso no rosto.

A garota concordou com a cabeça.

― Ótimo! Rachel, eu sei que você é uma garota corajosa...

A garota acenou uma negativa com a cabeça.

― Ah, não é? ― ele ofereceu novamente um sorriso ― Então vou precisar que seja. Eu preciso que você suba nessa minha prancha mágica pra eu conseguir te tirar daqui.

― E-eu não vou conseguir... ― disse Rachel.

― Consegue sim ― Ben olhou além da garota e viu a fumaça e as chamas começarem a atingir o corredor que dava acesso ao apartamento 604. ― Vem, eu te ajudo!

Rachel tremia. Ben ergueu a garota por sobre o parapeito da varanda e com cuidado deixou que ela colocasse um pé de cada vez na hoverboard. Uma vez sobre a prancha, a garota abraçou Ben com força semelhante ao do bombeiro musculoso que segurava seu pai.

― Pronto, pronto... ― disse Ben, apoiando uma mão no dorso e outra na nuca da garota.

Com cuidado para não tirar a prancha de sua posição horizontal, Ben começou a se afastar do prédio. Aos poucos, foi reduzindo sua altura, observando o solo que se aproximava e o topo do prédio que se afastava. O vento era quente e o ar pesado, mesmo estando longe das chamas. A multidão abaixo dele começou a abrir um espaço circular para recebê-los na rua cheia de carros estacionados.

Aproximavam-se da altura do primeiro andar, quando um estouro no topo do prédio fez Rachel se assustar, desequilibrando-se na prancha abaixo deles. Ben agarrou-a firmemente e, ciente de que não conseguiria recuperar o equilíbrio, inclinou-se para trás puxando a garota para junto de si. Caíram por sobre o teto de um sedan cinza e ali ficaram na lataria amassada. A multidão correu na direção deles. O pai de Rachel foi o primeiro a chegar. Ben acariciou a cabeça da garota e perguntou:

― Você se machucou?

Rachel afastou-se aos poucos de Ben e acenou uma negativa com a cabeça.

― Que bom! ― ele sorriu.

― Rachel! ― o rapaz ruivo ofereceu os braços para receber a garota de cima do carro. ― Ô meu Deus, minha filha! ― Agora com a garota em mãos, o pai envolveu a cabeça da filha em beijos.

Enquanto a multidão direcionava a atenção para o momento pai e filha, Ben calmamente desceu pelo outro lado do carro, tentando ignorar a dor em suas costas, e caminhou calmamente até sua hoverboard caída sobre dois sacos de lixo. Pegou a prancha, subiu e flutuou para longe dali.

O problema de se ter um pensamento persistente na cabeça é que se der qualquer espaço, por menor que seja, ele faz questão de voltar e o ocupar. E então, como quem liga um interruptor, a mente retorna aos seus trabalhos de “em que letra que eu estava mesmo? Ah, é, F. O que começa com F que possa matar alguém? Como sou bobo, fogo, é claro!

Ben atravessava agora o bairro comercial. Talvez por ser mais próximo do centro, os serviços de ambulância e polícia estavam bastante presentes ali. Era claro que se encontravam em número insuficiente, pois mesmo no melhor cenário, não tinha como socorrer toda uma cidade ao mesmo tempo.

Enquanto passava por uma avenida famosa pela cultura asiática, Ben por muito pouco não viu uma faixa semidestruída que convidava para o oitavo festival do bairro, e esse quase não ver significa que ele precisou desviar no último segundo, abaixando a cabeça e agachando-se na prancha para conseguir passar debaixo da faixa. Com o movimento, o hoverboard perdeu altura e o jovem viu à sua esquerda um policial franzino e uma paramédica tentando erguer as ferragens de uma placa que caíra sobre um senhor idoso.

Ben continuou a descida de sua prancha até pousar no solo. Encostou a hoverboard numa parede ao lado e disse ao policial e à paramédica:

― Eu vou ajudar vocês! ― e agarrou uma ponta da ferragem.

― Valeu, garoto! ― disse o policial.

No entanto, mesmo com muito esforço, os ferros quase não se mexiam. Posicionados sobre o tórax do idoso, era evidente que todo aquele peso estava dificultando-o respirar.

Ben não desistiu, mudou de posição entrando por debaixo do ferro, apoiando-o em seu ombro direito e tentou um movimento de alavanca. A ferragem ergueu alguns poucos centímetros, mas logo voltou a sua posição de origem.

― Droga! ― disse Ben. Por alguns segundos olhou para as pessoas que corriam pela rua desesperadas com seus próprios problemas. Decidiu ignorá-las. ― No três a gente tenta levantar de uma vez, ok? ― disse ao policial que concordou com a cabeça.

Ele começou a contagem.

― Um... Dois... ― encheu o pulmão de ar e disse ― Três!

Novamente a ferragem ergueu poucos centímetros, insuficiente para retirar o idoso dali. Ben, que olhava para o chão enquanto fazia força, viu sombras se aproximar deles. Mais três pessoas, dois homens e uma mulher, agarraram outras partes dos escombros e, finalmente, o enovelado de ferro começou a ser erguido.

A paramédica colocou as mãos por debaixo das axilas da vítima e com velocidade e cuidado, puxou-o para fora das ferragens. Uma vez livre, Ben e as pessoas soltaram os restos metálicos contra o chão, soando um barulhento som agudo.

A paramédica começou a fazer os primeiros socorros no homem idoso. O policial agradeceu a ajuda às pessoas e rapidamente voltou a atenção para seu walkie-talkie solicitando a presença de uma ambulância para aquele local.

Um dos homens que ajudou no resgate deu um tapinha nas costas de Ben e disse:

― Mandou bem, garoto! ― e seguiu correndo pela rua.

Ben deu um sorriso leve que não se sustentou por mais do que dois segundos. Acenou com a mão, também agradecendo, e pegou sua prancha apoiada na parede.

Eis que se ouviu a segunda explosão.

O chão balançou como um lago atingido por uma pedra. Um poderoso vento correu pelo labirinto de prédios e adentrou a rua, arrancando o que restava de faixas, enfeites e fiação que não fora arrancada na primeira explosão. As pessoas ali procuravam se proteger como conseguiam. Ben se agachou na calçada, segurando a prancha contra o tórax, tentando não ser arrastado pela ventania.

Aos poucos, vento e tremor foram se reduzindo, mas o medo geral foi crescendo cada vez mais. A primeira explosão já tinha sido traumatizante o bastante, agora a ocorrência da segunda só podia significar uma coisa: nada impede que ocorra uma terceira.

Assim que teve condições, Ben ergueu-se da calçada e começou a correr contra o vento. Virou-se à direita numa avenida, tentando desviar das pessoas que disparavam em fuga, e conseguiu ver por entre os edifícios uma coluna de luz que subia em direção ao céu, afastando as nuvens no horizonte.

Mesmo que outra forte ventania viesse em sua direção e lhe derrubasse, Ben não pestanejou em subir em sua hoverboard e voar rumo a floresta de Bellwood. Os cenários de desgraça em sua mente começavam a se sobrepor um sobre o outro. Letra K, L e M combinavam-se num combo de agonia e desespero. Lágrimas começaram a escorrer do canto de seus olhos, mas Ben convenceu a si mesmo de que era o vento em seu rosto.

Percorreu um longo caminho de estrada, aproximando-se cada vez mais do feixe de luz que começava a afinar. Inclinou a prancha para a direita e adentrou a floresta de troncos altos e finos. As folhas e galhos esquálidos que atingiam sua cabeça e braços eram como agulhas. Desviou de um largo tronco mas não viu o galho longo diagonal que ligava uma árvore à outra. Chocou o abdome contra o obstáculo, dobrando o corpo e deixando a hoverboard escapar de debaixo de seus pés. A prancha avançou e despedaçou-se ao acertar outra árvore à frente.

Meio desnorteado com o impacto, Ben não conseguiu continuar agarrado ao galho e caiu de costas contra o solo de terra fofa e folhas. Apoiou as mãos na barriga e contorceu o rosto numa expressão de dor. Com dificuldade, levantou-se, apoiando numa árvore. Tentou encher o pulmão de ar, mas parou subitamente ao fim da inspiração: quebrou uma costela.

Mancando, continuou floresta adentro, cuidando da respiração e tentando ignorar as dores. Ergueu a cabeça e olhou por entre as copas das árvores em busca da coluna de luz para se guiar. Se tem um lugar que Gwen e Kevin possam estar, esse lugar é ali.

― Eu tô chegando pessoal... ― disse Ben enquanto imaginava um cenário catastrófico começando com a letra T.

Caminhou por cerca de quinze minutos e notou que as árvores estavam começando a ficar mais inclinadas. Algumas delas já expunham as raízes de dentro do solo. De repente, ouviu um ruído de motores acompanhado de uma lufada leve atravessar por entre as árvores. Ben apressou o passo. Aos poucos, viu a espaçonave de seu avô pousando numa pequena claraboia de árvores caídas.

― Vovô...

Ignorou de vez as dores. Começou a correr. A rampa de entrada da espaçonave se encontrava abaixada e as portas de acesso abertas. Assim que adentrou a nave, começou a chamar:

― Vovô!? Gwen!? ― seguiu por um corredor rumo a ponte de comando ― Kevin!? Vovô, cadê o senhor!?

Ben chegou até a ponte e viu a cadeira do piloto vazia. Na janela frontal da espaçonave, viu a floresta de onde veio com pequenas telas flutuantes projetadas no vidro.

― Jovem Tennyson...

A voz envelhecida do alienígena fez um frio correr pela espinha de Ben. Um novo pensamento preenchia a mente dele empurrando para fora cada um dos cenários pessimistas imaginados anteriormente. Um pensamento não, uma lembrança, melhor dizendo. A conversa que teve com Albedo para ser mais exato...

Ben se virou em direção à voz. De um lado escuro da ponte de comando a silhueta de um galvaniano, famoso pelo potencial destrutivo de suas criações, caminhava de dentro das sombras rumo a luz.

― Sei que não é do meu feitio, mas folgo em dizer que me felicita vê-lo aqui... ― disse o alienígena.

― Azmuth...


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Notas finais do capítulo

Aos que ainda acompanham essa história, meus mais sinceros agradecimentos. Caso desejem deixar alguma opinião ou teoria eu ficaria bastante contente. Já são 41 capítulos e com esse capítulo a história está chegando ao ato final. Espero poder continuar com o apoio de você até lá!
Muito obrigado!



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