Terrível primeiro encontro escrita por Caty Bolton


Capítulo 1
Quando tudo dá errado - Capítulo Único




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Quando Damien chamou Pip para aquele encontro, na sua cabeça tinha a imagem de um momento ótimo em que poderia passar algum tempo sozinho com o loiro sem que ninguém fosse atrapalhar, mas o jovem anticristo esqueceu de alguns detalhes muito importantes sobre a relação de Phillip com, no geral, toda South Park.

Todo mundo odiava Pip.

Primeiro eles decidiram passar algum tempo no Tweek Bros Coffee, onde o ambiente era quente e tinha aquele leve cheiro de café adulterado. Pelo menos nenhum deles pediria café, mas era aí que também morava o problema pois, veja bem, o Sr. Tweak não ficou nada feliz quando recebeu o pedido de Pip:

— Eu acho que não entendi bem, jovenzinho.

— Eu gostaria de saber se o senhor serve chá aqui. — O loiro piscou confuso, sem entender o súbito mal humor do adulto. — Senhor—?

— Chá. — O sorriso do homem era quase assustador. — Por que você não se retira do meu estabelecimento agora mesmo? 

Tweek, aquele garoto loiro viciado em café, tremia de ansiedade observando a cena atrás da caixa registradora e arregalou os olhos com o olhar mortal que Damien dirigiu ao pai dele. 

— O que…? 

— Você vai pedir mais o que? Croissant? Baguetes? 

Sr. Tweak reclamou em voz alta, ignorando quando o filho tentou chamar a atenção dele e também sem escutar as próximas palavras de Pip:

— Senhor, eu não sou francês-

Não adiantou explicar nada, pois ninguém ouvia Pip e no fim das contas o britânico passou quase cinco minutos tentando convencer Damien que estava tudo bem e ele não precisava queimar coisa alguma. 

O anticristo não conseguia entender como aquele garoto ficava tão bem e calmo mesmo com todos tratando ele do jeito que tratavam e, honestamente, não era fingimento. Ele saberia se fosse.

Depois os dois tentaram ir ao cinema mas, aparentemente, franceses eram proibidos de entrar. Não exatamente, Christophe e Gregory conseguiam entrar quando estavam os dois sozinhos. Mais uma vez o problema era só com Pip, e eles arrumariam qualquer desculpa que fosse para implicar com o loiro.

Os dois pararam em um banco de madeira perto do lago Stark e Damien estava particularmente cabisbaixo depois de tudo, nem mesmo teve a oportunidade de ter uma conversa real com o britânico. Percebendo o humor dele rapidamente se esvaindo, Pip segurou a sua mão discretamente e deu um sorriso incerto:

— Aconteceu alguma coisa?

O jovem anticristo suspirou e olhou para Pip, sem ter vontade de retribuir o sorriso:

— Esse dia não tá sendo exatamente como eu imaginei, desculpe, Phillip.

— Ora Damien, eu não sei do que você está falando. — Podia jurar que existia uma aura brilhante ao redor daquele garoto, o sorriso dele era só tão bonito que Damien não percebeu quando corou. — Passar o dia com você é sempre maravilhoso!

Isso arrancou um sorriso tímido da criança-demônio, que apertou levemente a mão de Pip, bastante feliz com aquelas palavras. As coisas não tinham dado muito certo no início, mas o dia ainda não tinha terminado e Damien ainda tinha chances de falar para Phillip o que estava preso na sua garganta.

— Eu preciso falar uma coisa.

O par de olhos azuis de Pip lhe encararam com interesse e curiosidade genuínos, ao mesmo tempo ele murmurou um “sim?” baixinho, o anticristo juntou coragem para continuar. Não foi imediato e ele não conseguiu pensar em palavras muito melhores que aquelas:

— Phillip, eu te-

Então uma explosão soou logo atrás deles e interrompeu Damien bruscamente. Quase no mesmo instante Pip olhou para trás, na direção oposta ao lago Stark, e quando o anticristo virou a cabeça para ver o que diabos tinha acontecido, ficou ainda mais irritado.

— Puta merda, mataram o Kenny!

— Filhos da puta!

Havia uma cratera no chão, com o corpo carbonizado de Kenneth Mccormick dentro, mas daquela distância nenhum dos garotos conseguiu realmente ver isso. Uma fumaça escura subia pelos céus, sumindo quando chegava alto demais.

Olhou para o britânico ao lado, que estava com uma mão cobrindo a boca e os olhos arregalados, completamente chocado com a cena. Mas esse choque inicial não durou muito e, como quase todos os habitantes daquela cidade, Pip parou de prestar atenção rapidamente a tragédia que tinha acabado de acontecer.

— Que coisa horrível. — Ele comentou vagamente, mas logo voltou sua atenção ao filho de Satanás. — Mas o que você estava dizendo, Damien?

Engoliu seco e ficou quieto por mais alguns segundos, pensando se essa era uma boa ideia. Mas estava ali, com Phillip, não poderia desistir depois de tudo.

Foi realmente uma pena que, no instante que abriu a boca para falar, acertaram uma bola de neve bem na cabeça de Pip. A boina de jornaleiro dele caiu na neve por causa do impacto, Damien ficou imediatamente preocupado e olhou ao redor bastante zangado, vendo alguns garotos do outro lado da rua olhando naquela direção, parados com bolas de neve em mãos. 

Para o bem de todos eles, o anticristo esperava que fosse um acidente. 

— Ai — O britânico soltou uma reclamação baixinha e tirou a neve da cabeça, Damien rapidamente foi ajudá-lo com isso. — Bem, eu não estava esperando por isso… 

Era irônico demais que os dois, especialmente Pip, só tivessem um pouco de paz quando estavam no Inferno. 

— Foi mal ai!

Um dos garotos gritou, mas ele não soou muito sincero em aspecto nenhum. Um dos amigos dele revirou os olhos enquanto outro se agachou perto da neve já fazendo outra bola. Damien estreitou os olhos, vagamente desconfiado.

— É melhor a gente ir para algum outro lugar…? — Foi Pip que sugeriu, enquanto pegava a sua boina do meio de um montinho de neve, e deu um sorriso meio melancólico. — Parece que ninguém realmente me quer em South Park hoje. Bem, não que isso seja uma novidade… 

— Eles são todos uns idiotas. — Damien se levantou primeiro, oferecendo a mão para Phillip fazer o mesmo que sorriu por causa do gesto e prontamente segurou. — Onde você quer ir? 

— Algum lugar calmo está ótimo. 

Bastante vago, mas aceitaria essa resposta por hora. Talvez o lago Stark fosse um bom lugar para falar sobre certo assunto com Pip, pois Damien estava começando a ficar impaciente. Aquilo tudo parecia de propósito. 

Os dois atravessaram a rua, quietos e de mãos dadas, quando o loiro chamou pelo seu nome e virou o rosto na direção dele:

— Sobre o que você queria falar?

Merda.

— Bem, é sobre… — O anticristo se atrapalhou nas próprias palavras por um segundo e coçou a parte de trás da cabeça, ao mesmo tempo que parou de andar. O olhar de Pip foi ainda mais curioso. — Eu só queria falar que te-

Mais uma bola acertou a cabeça de Pip e dessa vez ele tombou para frente, só não caiu pois Damien foi mais rápido e o seguro. A pedra no chão, agora apenas parcialmente coberta pela neve, fez o seu sangue ferver de raiva e o vermelho no cabelo do loiro e na neve lhe deixaram extremamente preocupado. 

Não muito longe dali os mesmos garotos de antes estavam rindo até que, subitamente, cada um deles pegou fogo espontaneamente e saíram correndo, desesperados, para longe. Conseguiu bem escutar os gritos, mas tudo que importava no momento era como Phillip não atendia os seus chamados.

Ele gemeu de dor, colocou uma mão na cabeça e Damien respirou aliviado. 

— Phillip? — Chamou mais uma vez, preocupado. — Você consegue andar?

— Ora, claro que sim... — Ele passou a mão por onde a pedra tinha acertado e sentiu o sangue quente, então soltou um som frustrado com um misto de dor. — Oh Deus-

Não esperou mais nenhuma resposta do britânico antes de pegá-lo nos braços, carregando estilo noiva. Por causa do susto, Phillip se segurou em Damien também e olhou um pouco confuso na direção do anticristo. Pip parecia levemente tonto, também, e Damien apenas esperava que ele não fosse vomitar. 

Não tinha sido tão forte assim…? 

Em pouco mais de um piscar de olhos a paisagem ao redor mudou quando eles entraram pelo portal para o Mundo Inferior. Logo estavam no quarto de cores escuras de Damien, no castelo infernal do seu pai.

Colocou Pip sentado na cama e imediatamente foi verificar o estrago na cabeça dele, o chapéu de jornaleiro havia sido esquecido em algum lugar. Não conseguiu ver direito exatamente porque havia sangue o suficiente para lhe deixar especialmente preocupado. Em um outro estalar de dedos apareceu uma caixa de primeiro socorros na cama, em que o anticristo pegou para tentar fazer algo por Pip. 

Foram longos minutos e Damien ficou impressionado como aquele corte relativamente pequeno passou a impressão de uma grande hemorragia. Com um pouco do remédio e o curativo, finalmente parou o sangramento. 

Ainda estava trabalhando nisso quando Phillip, depois de muito tempo de silêncio, falou:

— Desculpe, Damien… 

Parou por um segundo e encarou o outro, chocado. Do que ele estava falando?

— Por minha causa — O loiro estava com as duas mãos cruzadas em cima das pernas, com a cabeça levemente abaixada pois era naquela área que o machucado estava. — você não pode sair ou ficar em lugar algum-

— Para, você não tem culpa de ninguém ser idiota. — Terminou rapidamente o curativo e só nesse momento percebeu a falta da boina. — Eu que deveria saber que isso iria acontecer.

Damien se sentia meio que culpado por causa disso, ele sabia como as coisas eram para Pip, como ninguém parecia nem tentar esconder aquele odeio – realmente não tentavam – e como nem a presença do próprio anticristo mudava isso. Só queria sair com o loiro, leva-lo em algum lugar legal e se confessar. 

Não esperava que, por culpa sua, ele saísse machucado.

— Não, Damien, eu me diverti muito com você! — Ele segurou as suas mãos e sorriu, um daqueles sorrisos mais bonitos do mundo, mesmo depois de receber uma pedra na cabeça. Como Pip conseguia isso era um mistério que Damien jamais entenderia. — Claro que houveram alguns imprevistos, mas esse tipo de coisa sempre acontece comigo.

— Eu sei, mas… 

Se calou no momento que Phillip beijou o seu rosto. Ele recuou alguns segundos depois, com as bochechas levemente avermelhadas e riu sem graça, encabulado, enquanto colocava uma mecha dourada atrás da orelha e lhe encarava mais uma vez.

— De novo, eu realmente gosto de passar tempo com você. Claro que não foi perfeito, mas a vida não é perfeita!

Após isso Damien ficou quieto por mais tempo que o necessária, pensando em como, pelas sete camadas infernais, podia existir no mundo alguém tão doce quanto aquele garoto britânico. Não percebeu quando o seu próprio rosto ficou levemente vermelho e apertou um pouco a mão dele.

— Eu te amo tanto, Phillip…

Muito menos percebeu que tinha pensado em voz alto, não antes do loiro arregalar os olhos. Ele parecia sem palavras, mesmo assim tentou falar algo:

— O que…?

— O que?


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