I'm With You escrita por KL


Capítulo 3
Capítulo Dois: 31 de Outubro


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoas!
Temos aqui um novo capítulo, espero que gostem!



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Setembro se foi e outubro começou com o tempo agradável.

Os alunos do quinto ano se achavam imerso em deveres, revisões e trabalhos. A dificuldade nas aulas aumentava gradativamente conforme o fim do mês ia se aproximando e não parecia que iria melhorar até o fim do ano.

—Eu não aguento mais! –Kai exclamou em alto e bom som.

Estavam junto com toda a turma do quinto ano da Grifinória e da Sonserina na porta da sala de Poções, sete semanas depois do início das aulas, esperando o professor Snape chegar, revisando os trabalhos que ainda tinham para entregar aquela semana.

E todos olharam para o grifinório quando ele gritou.

—Certo, Kai. –Kira disse entre dentes enquanto Scarllet cobria o rosto com as mãos, balançando a cabeça –Mas Hogwarts inteira nem precisa e nem quer saber disso.

—Você fala isso porque tem Scarllet em tempo integral para te ajudar! –o garoto reclamou.

—Claro! –Scarllet exclamou com ironia –Porque eu não tenho nenhuma dificuldade com nada também, sou Merlin reencarnado.

—Me diga uma matéria que você tem dificuldade, Scar! –desafiou o Stom.

—Herbologia. –ela afirmou e depois de um suspiro cansado admitiu –E Poções está se tornando um martírio depois que Snape começou a dar aula.

Os dois amigos fitaram a expressão desolada da ruiva com solidariedade. Poções sempre foi a matéria preferida de Scarllet e ela nunca escondeu isso de ninguém, desde o primeiro ano. Ela sempre contava para os dois amigos como os livros de seu pai sempre foram um refúgio para ela, que ficava entretida, lendo por horas sobre venenos e antídotos, remédios e as mais diversas poções que aqueles simples livros de escola poderiam informá-la. E, quando chegou em Hogwarts, o fascínio que os líquidos cozinhando no caldeirão, borbulhando e mudando, se transformando a cada ingrediente adicionado, a ganharam de vez.

Era a melhor aluna de seu ano, segundo o aposentado professor Slughorn. Que sempre dizia não ter tido aluna melhor, exceto talvez Lily Evans.

Mas as últimas semanas estavam sendo complicadas para Scarllet em sala de aula. Sempre entregava boas poções, muito acima da média que o resto da sala, e isso sempre rendeu bons pontos para a Grifinória e boas notas. Porém, apesar do professor Snape raramente conseguir encontrar um defeito em suas poções, em seu modo de preparo ou em seus trabalhos, ele ainda assim estava abaixando a nota dela de propósito e os pontos, tão preciosos para Grifinória neste momento, não eram dados. Os erros eram apontados, sempre, mas o sucesso era ignorado e esse tipo de injustiça era como um bolo na garganta de Scarllet, principalmente porque os colegas da Sonserina ganhavam pontos e elogios do professor mesmo quando não mereciam.

O professor Snape chegou e abriu a porta da sala, indicando com um gesto de cabeça que todos deveriam entrar e os alunos obedeceram, em silêncio. Mesmo os sonserinos sabiam que Snape não era uma pessoa para brincadeiras e baderna.

Scarllet passou pelo professor e seu olhar encontrou o dele por um segundo, fazendo aquele arrepio frio e característico correr sua espinha. Ela desviou rápido o olhar, fingindo não ter notado o encontro dos olhos, e seguiu para perto de Kira e Kai que ocupavam carteiras mais para o meio da sala, onde Snape não costumava zanzar muito.

O professor assumiu seu lugar na frente da sala e começou a aula. Scarllet abriu um pergaminho e seu livro, começando as anotações conforme ele começava a falar da poção que fariam aquele dia: a poção da paz. O pior de tudo é que ela não podia nem mesmo dizer que a aula dele era ruim ou que ele era um mal professor. Snape entendia perfeitamente do que falava, sua voz amansava e ele parecia perdido em um outro mundo enquanto explicava detalhes e destilava o conhecimento para quem quisesse retê-lo, gota a gota. E Scarllet o queria, e muito. Ela prestava atenção em cada pequeno pormenor que saia da boca do bruxo, encantada com cada conselho subentendido que ele deixava, sedenta por desvendar os nuances das formas mais precisas que ele apresentava, que eram reparáveis apenas para quem de fato prestasse atenção no que ele estava propondo experimentar.

Mas todo aquele encanto se quebrava quando o professor Snape mandava que começassem a poção e ele virava novamente o carrasco injusto andando entre as carteiras e criticando as poções de todos os alunos da Grifinória de forma ácida e desnecessária.

A aula passou com certa tranquilidade, exceto pela parte de tentar ajudar sem muito sucesso Kira e Kai sem que o professor percebesse. A poção da paz era uma poção complicada, que precisava de precisão na hora de adicionar ingredientes na ordem certa e mexer a quantidade de vezes corretas no sentido certo.

Quando percebeu a presença do professor Snape de pé a sua frente já no meio do segundo tempo teve um pequeno sobressalto, concentrada que estava em mexer sua poção o número de vezes correspondente. Olhou para cima, mas evitou encontrar com os olhos dele. Mesmo assim pode ver a boca se contorcer em desagrado por não encontrar nada que pudesse criticar. Ele andou um passo para o lado e mirou o caldeirão de Kai. Jurou que o ouviu soltar um riso baixo de júbilo.

 -O que é isso dentro de seu caldeirão, senhor Stom? –a voz aveludada soou, já carregada com ironia.

—Eu creio que seja a poção da paz, senhor. –Kai respondeu sem se abalar, ciente da sua total inabilidade com poções.

—Está parecendo mais que o senhor colocou suas roupas de quadribol de molho. –Snape retorquiu com um sorriso desagradável. –O senhor sabe ler, eu creio.

—Sim, senhor. –Kai respondeu.

—Então por que não leu as instruções do livro, em vez de ficar com a cabeça nas alturas dos aros que tenta defender nos jogos, senhor Stom? - Kai abri a boca para responder, mas a fechou. Snape esperou mais um momento antes de continuar –Essa poção não serve nem mesmo para atestar sua incompetência. –o professor sacou a varinha da manga de sua veste e com um aceno fez o líquido desaparecer de dentro do caldeirão. –Zero no trabalho do dia para o senhor e cinco pontos a menos para a Grifinória. E enquanto a aula não termina, arrume o armário de ingredientes por gentileza.

Kai deu de ombro e preparou para se levantar, mas Scarllet já rangia os dentes a essa altura e foi ela que se levantou, encarando Snape.

—Isso é totalmente injusto, professor! –ela exclamou.

—Eu não me lembro de ter dirigido a palavra para a senhorita em nenhum momento, senhorita Wolfgan. –Snape respondeu, encarando-a com a sobrancelha arqueada.

—Scar... –Kai chamou, colocando a mão no ombro dela –‘Ta tudo bem...

—Não, não está! –ela respondeu, olhando para Kai depois de volta para o professor –O senhor está sendo injusto em tirar pontos da nossa casa e ainda zerar o trabalho do Kai. Isso é apenas por não poder criticar o meu trabalho?

—O mundo não gira ao redor do seu umbigo, senhorita Wolfgan. –Snape respondeu e Scarllet pode ouvir os sonserinos rirem –Agora sente-se e termine o seu trabalho antes que eu o zere também. Senhor Stom, faça o que eu te pedi.

—A poção do Bee está pior do que a do Kai. –Scarllet continuou de pé e apontou para bancada ao lado, onde dois sonserinos dividiam-na e cuja a poção de um deles soltavam estrelinhas, algo que não acontecia em nenhum momento da preparação da poção da paz –O senhor vai zerar o trabalho dele também? Vai tirar pontos da Sonserina?

—A senhorita está alegando que tem mais competência para avaliar poções do que eu? –Snape perguntou sarcasticamente –Quer vir aqui na frente e ministrar aula no meu lugar, senhorita Wolfgan?

—Não, senhor. –Scarllet respondeu, seu rosto corando –Eu só...

—Já chega, senhorita Wolfgan. –ele a cortou, com um tom venenoso que ela nunca havia escutado em outro lugar a não ser na voz dele –Vinte pontos a menos para a Grifinória e já que a senhorita não aprendeu com a última detenção a não ser petulante, estou te colocando em outra. Sexta-feira- na minha sala, às 20h. Senhor Stom, vá fazer o que eu te pedi.

O professor Snape deu as costas antes que Scarllet pudesse dizer qualquer outra coisa e ela sentou-se, frustrada e vermelha de raiva. Kai lançou um olhar que era dividido entre solidariedade e eu-avisei-que-não-precisava-disso antes de se encaminhar para o armário de ingredientes.

Apesar de tudo, antes da aula acabar, Kai teve uma pequena vingança pelos dois: Um estrondo  barulho de vidro quebrando no armário de ingredientes foi ouvido enquanto todos engarrafavam suas poções e o professor Snape correu para lá, saindo de dentro com um Kai vermelho, alguns poderiam dizer que de vergonha, mas Scarllet e Kira sabiam que ele segurava a risada. Kai também perdeu pontos e ganhou uma detenção por sua falta de atenção, mas ele garantiu depois para as garotas que a cara de Snape valeu a pena.

OoOoOoOoOoOoOo

Às oito da noite em ponto, Scarllet bateu à porta da sala do professor Snape na sexta-feira.

Escutou a voz aveludada mandando-a entrar e o fez. Ele estava sentado atrás de uma escrivaninha de madeira escura, com várias pilhas de pergaminho a sua frente, um vidro de tinta do lado da mão e uma pena na mesma. Ela parou à frente dele e o professor levanto os olhos do pergaminho para ela.

—Vejo que aprendeu a ser pontual, senhorita Wolfgan. –ele despejou o comentário ferino e, sem dar tempo de resposta para Scarllet, completou –A senhorita irá separar a casca, a seiva e as sementes daquelas vagens selvagens. –indicou uma enorme bacia cheia até a boca de vagens laranja fosforescentes e gordas, que estava ao lado de uma mesa com uma faca e um caldeirão em cima e outras duas bacias vazias ao lado. –Despeje a seiva no caldeirão, coloque as sementes em uma bacia e as cascas na outra.

Scarllet assentiu, tomando seu posto atrás da mesa.

—Até que horas devo ficar aqui, senhor? –ela perguntou, pegando a faca na mesa e arregaçando as mangas do uniforme.

—A senhorita nem começou e já quer saber que horas vai embora? –Snape perguntou em desagrado.

—Desculpe, senhor. –Scarllet pediu. –Não queria parecer petulante novamente.

Se Snape percebeu a ironia em sua fala, e ela sabia que tinha, não era possível logo ele não ter percebido, resolveu relevar.

—Vou dispensá-la um pouco antes do toque de recolher. –Snape respondeu sua pergunta e deu um leve sorriso maldoso –Porém se a senhorita não terminar essa bacia hoje, vai continuar amanhã à noite.

—Mas amanhã é a comemoração do Dia das Bruxas! –Scarllet exclamou, mas entendeu o porquê dele ter relevado sua ironia. Ver sua reação com a possibilidade de perder a comemoração era mais prazeroso do que rebatê-la.

—Então eu sugiro que a senhorita comece logo se não quiser perder a festa.

Scarllet apertou os dentes, corando de raiva, mas segurou a resposta que gostaria de dar, pensando que era melhor não garantir a noite de detenção do dia seguinte. Começou a descascar as vagens com alguma velocidade, mas depois de cortar os dedos duas vezes, se convenceu de que precisava ir mais devagar ou não chegaria com todos os dedos ao fim da noite.

O silêncio na sala não era total apenas por conta do arrastar da pena esporádico no pergaminho e da faca afundando nas vagens. Vez ou outra, o professsor Snape soltava algum resmungo, quase como se não lembrasse que Scarllet estava ali, o que a fazia subir os olhos para observá-lo por poucos segundos antes de voltar a trabalhar. Nesse meio tempo, era quase fácil esquecer que estava furiosa com o professor e que o detestava, porque era deveras engraçado as expressões em seu rosto para o pergaminho enquanto escrevia algo e ela se perguntava o que ele estava lendo que o fazia contorcer a face assim.

As horas passaram mais depressa do que Scarllet poderia esperar e ela avançou bem no progresso com as vagens. Porém, quando o professor Snape veio avaliar seu trabalho, mal havia chego na metade da bacia.

—Já está na hora de ir, senhorita Wolfgan. –ele informou, sem qualquer crítica ao que estava fazendo. –Lave a faca na pia ali atrás e tampe as bacias e o caldeirão por gentileza.

Scarllet suspirou, assentindo e fez o instruído, aproveitando para lavar as mãos. Acompanhou o professor até a saída da sala e os dois andaram alguns metros antes de tomarem caminhos diferentes, sem trocarem mais qualquer palavra.

OoOoOoOoOoOoOoOo

O sábado do dia 31 de outubro amanheceu com o céu limpo e azul.

Os alunos saíram de seus Salões Comunais para o café da manhã já na expectativa para o banquete de Halloween a noite. Mas Scarllet estava emburrada desde que levantara e sua expressão não melhorava conforme descia as escadas em direção ao Salão Principal junto com Kai e Kira, ouvindo os comentários dos colegas e as reclamações de Kai.

—Eu ‘tô quebrado! –se lamentava pela terceira vez o garoto, estalando os músculos dos ombros - O desgraçado do Filch me fez lustrar todas as armaduras do 5º andar sem magia! Vocês tem ideia de quanto tempo ninguém limpava aquilo por dentro?

—Até as armaduras estão entrando na dança das detenções. –Kira comentou. –O que você teve que fazer Scar?

Scarllet bufou com a pergunta, revirando os olhos e trincando os dentes.

—Pela cara dela, acho que teve que lavar as comadres da Ala Hospitalar –chutou Kai, sua expressão se contorcendo de nojo e se refletindo na de Kira.

—Não. –Scarllet respondeu –Separei a noite inteira casca, seiva e sementes de vagens selvagens.

—Então não foi tão ruim.... –Kira tentou consolá-la –A não ser que uma estivesse podre e explodiu na sua cara?

—Não. –Scarllet reforçou com um aceno de cabeça.

—Então por que você está com essa cara? –Kai perguntou perdido.

—O maldito Morcego estendeu minha detenção. –Scarllet respondeu azeda –Vou ter que continuar hoje a noite.

—Mas hoje é Dia das Bruxas! –exclamou Kira indignada.

—É o Snape, Kira. –Kai respondeu, balançando a cabeça –Ele não liga pra nada, exceto fazer a vida dos alunos a mais infeliz possível.

Kira acompanhou o balanço de cabeça de Kai, apoiando a mão no ombro de Scarllet em consolo.

Chegaram ao Salão Principal ao mesmo tempo que o correio coruja. Sentaram-se um ao lado do outro a mesa da Grifinória, de frente para Lin Smaler, a artilheira do time de quadribol do sétimo ano, que conversava com duas colegas de seu ano.

—Oi, Lin. –Kai cumprimentou enquanto uma coruja das torres pousava em frente à Kira, trazendo o Profeta Diário.

—Oi, Kai. –Lin cumprimentou de volta, colocando uma mecha de seu cabelo loiro, curto e ondulado atrás da orelha–A gente precisa reunir o time semana que vem pra marcar os treinos com a agenda de todo mundo.

—Eu ‘to ligado, gata. –ele respondeu. –Vou deixar um aviso no mural de recados do Salão Comunal amanhã. Falando no mural, você viu que saiu a data do primeiro fim de semana em Hogsmeade?

—Vi sim. –ela respondeu e sorriu e as amigas dela deram uma risadinha. Scarllet levantou uma sobrancelha para a cena, parando a meio caminho de levar seu ovo mexido ao prato.

Kai sorriu de volta.

—A gente toma uma cerveja amanteigada no Três Vassouras, o que você acha? –Kai convidou.

—Acho legal, Kai. –Lin respondeu –A gente acerta isso.

—Fechado. –ele respondeu e Lin sorriu de novo e desviou os olhos cinzentos para as amigas, se levantando com elas.

Assim que ela sumiu de vista, o garoto relaxou, começando a se servir de café da manhã.

—Você acabou de chamar Lin Smaler para sair? –Scarllet perguntou para ele enquanto ele se servia de suco de abóbora.

Kai deu de ombro.

—É. –respondeu como se comentasse do tempo.

—E isso não é estranho pra você? –ela perguntou.

—Você beijou Alan Gowen na beira do lago ano passado e largou a gente dois fins de semana em Hogsmeade para sair com ele, eu te julguei? –ele perguntou.

—Certo, você tem um ponto. –Scarllet corou e riu –Calei-me.

Kai piscou para ela e volto a atenção para sua comida, Scarllet virou para Kira, achando que a amiga estava silenciosa demais e desconfiando do motivo, mas a encontro concentrada lendo a manchete do jornal, sua expressão não era das melhores. Cutucou Kai, que a olhou indagativo, e apontou a amiga com um aceno de cabeça.

—O que foi, Kira? –os dois perguntaram juntos, Kai com a voz abafada por um pedaço de bacon que já tinha na boca, recebendo um olhar torto de Scarllet.

—Você-Sabe-Quem. –ela respondeu e não precisou dizer mais nada para que os dois se inclinassem e ela colocasse o jornal em uma posição que a matéria pudesse ser lida pelos três.

A manchete era a mesma de tantas outras vezes: “Ataque à Bairro Trouxa”. Havia uma foto da Marca Negra pairando sobre uma casa em ruínas e uma introdução a matéria, que descrevia a residência como de bruxos contrários ao partido das trevas, mas que moravam em um bairro trouxa no subúrbio de Londres.

Os três amigos leram toda a matéria em silêncio. Quando terminaram se entreolharam e num acordo silencioso deixaram a mesa e foram em direção aos jardins. Nenhum dos três com estômago para comer depois da tenebrosa leitura.

Não comentaram as atrocidades descritas no jornal. Apesar de aquele tipo de coisa estar cada vez mais comum fora dos  muros do castelo, todas as mortes, torturas, os desaparecimentos... todo o terror, eles preferiam focar a mente deles em coisas que podiam controlar, que podiam mudar. E, enquanto fossem meros alunos, a única coisa que podiam fazer era estudar muito para um dia ajudar a fazer um mundo melhor. Já haviam conversado sobre aquilo.

Passaram o resto da manhã no jardim, caminhando a beira do lago ou sentados embaixo de alguma árvore. Foi um passeio muito silencioso, mas não pareceu incomodar qualquer um dos três. Voltaram para o castelo apenas na hora do almoço e foram direto para o Salão Principal, mortos de fome.

—Quando vai ser o primeiro jogo da Grifinória? –Scarllet perguntou entre uma garfada e outra, sentada de frente para Kai e Scott e entre Kira e Katherine.

—Segundo sábado de novembro. –Kai respondeu.

—Acham que o Sthil será tão bom quando o Tyler? –ela questionou –Soube que ele foi chamado pelos Tornados para ser o novo artilheiro.

—Sim, foi. –Scott confirmou.

—É. –Kai sorriu sonhador –Que sonho!

—Acho que sim, Scar. –Katherine foi quem respondeu sua pergunta –Eu, ele e Lin temos uma sincronia.

—E ele tem boa mira e bastante força. –Kai continuou –É difícil defender as goles que ele lança.

—Ainda não acredito que você é o capitão do time. –Kira riu. –Eu achei que Lin seria escolhida.

—Está duvidando da minhas capacidades? –Kai perguntou –Logo você que não sabe nem a diferença da goles pro balaço?!

Kira abriu a boca para argumentar, mas fechou logo em seguida e fez cara de paisagem.

—Você não sabe? –Katherine perguntou.

Kira olhou para ela de soslaio e encheu a boca de coxa de frango para não precisar responder.

—Eu entendo que você não goste de Quadribol, Kira... –Scott a encarava espantado –Mas não saber a diferença entre uma goles e um balaço....

—Certo, certo. –ela respondeu –Não sei mesmo. Mas você sabe a diferença entre uma máquina de lavar e uma televisão?

—Uma o que? –Scott perguntou confuso –Ou o quê?

—Então, e você ainda faz Estudo dos Trouxas em! –Kira o olhou como quem tinha pego em cheio –Cada um com suas limitações.

Scott foi encarado pelos outros três como o derrotado na discussão e deu de ombro, admitindo a derrota.

—De qualquer forma... –Kai retomou o assunto –Lin se forma esse ano. Não seria problema nenhum pra mim ser ela, mas acho que Madame Hooch achou mais cômodo adiar uma nova escolha por mais dois anos.

—Faz sentido. –afirmou Kira como se fosse a entendida do assunto o que fez os outros quatros rirem – O que? –ela perguntou, mas logo depois caiu na risada também.

OoOoOoOoOoOoOoOo

Quinze para as oito da noite, todo o bom humor acumulado durante o dia de conversa e brincadeiras foi por água abaixo enquanto Scarllet rumava em direção as masmorras após se despedir de seus amigos, sentindo a raiva queimar por ter que deixar aquele delicioso banquete e a boa companhia para trás.

A porta estava aberta quando chegou à sala e o professor Snape estava na mesma posição do dia anterior. Ele olhou-a assim que chegou a porta e indicou com a cabeça que entrasse, sem nada dizer, não parecendo mais bem humorado que ela. Scarllet entrou e não esperou qualquer instrução, se dirigindo ao mesmo local onde trabalhou noite adentro no dia anterior, abrindo as bacias e o caldeirão e retomando o trabalho manual que deixava sua mente vagar para nenhum lugar em especial.

O que se seguiu foi a mesma rotina do dia anterior, mesmo com o aparente mau humor dos dois ocupantes da sala. Scarllet continuava contandos as vagens, mas parava vez ou outra para olhar o professor Snape resmungar com o pergaminho, quase achando graça, quase se esquecendo que estava com raiva dele. Por alguns momentos, até mesmo queria perguntar o que tanto ele resmungava, se o que seus colegas escreviam era tão sem pé nem cabeça assim.

Dessa vez, a Wolfgan havia trazido seu relógio de bolso e estava atenta ao horário. Quando passou das dez, já bastante habilidosa com a faca, acelerou seu trabalho, na esperança de não ter outra noite de detenção. Já podia ver o fundo da bacia e sentiu o júbilo da vitória de dizer ao professor Snape que terminara antes dele a dispensar, quando o silêncio do cômodo foi quebrado por um grito.

Scarllet pulou de pé, a faca perfurou a carne da sua mão, mas ela sequer sentiu. O grito aterrorizado e dolorido se repetiu, um pouco mais baixo e só nesse momento ela entendeu que ele vinha do professor Snape, seus olhos assustados correram para o homem que também havia se levantado, derrubando pena, tinteiro e pergaminhos, e tinha uma expressão dolorosa no rosto, os dentes trincados e a mão segurando o antebraços esquerdo.

—Pro-professor? –a garota gaguejou em um ofego.

Snape subiu os olhos injetados rapidamente, parecendo só se lembrar naquele instante que tinha mais alguém na sala com ele.

—Está dispensada, senhorita Wolfgan. –ele disse entre dentes numa falsa calma.

—Mas eu... O senhor...

—Saia. –ele mandou, um pouco mais alto.

Scarllet sentiu-se paralisada, sem saber se deveria cumprir a ordem dada ou socorrer o homem, que voltara a contorcer o rosto em dor.

—Professor....

—SAI DAQUI! –ele gritou, interrompendo-a.

Os olhos claros da Wolfgan se arregalaram e ela largou a faca que ainda segurava, as pernas ganhando vida, mesmo parecendo serem feitas de gelatina, ela correu até a porta. Segurou a maçaneta e a abriu. Nesse instante, hesitou e olhou para trás, seu coração batendo na garganta.

—O senhor quer que eu chame... –tentou dizer, mas foi interrompida novamente por outro grito:

—CINQUENTA PONTOS A MENOS PARA GRIFINÓRIA! E SE A SENHORITA NÃO SE RETIRAR EM UM SEGUNDO, SUA MENINA ESTÚPIDA, VÃO SER CEM!

Scarllet engoliu em seco, saindo da sala e batendo a porta com força demais atrás de si.  


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Notas finais do capítulo

Um pouco mais do cotidiano em Hogwarts, um pouco mais sobre a personalidade dos nossos personagens e um pouco mais também de tensão nessa cena final.

Deixem comentários com o que estão achando! :D



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