O teto do Salão Principal refletia a imensidão azul escura salpicada de estrelas que existia do lado de fora, as velas flutuantes bruxuleavam acima das cabeças dos alunos sentados nas quatro longas mesas e que aguardavam em um silêncio ansioso o início da Seleção das Casas, logo após a onda de aplausos ao final da canção do Chapéu Seletor que falava sobre a união das casas, num aviso claro sobre a guerra que afetava toda a Inglaterra bruxa do lado de fora das paredes de Hogwarts.

Os alunos do primeiro ano, amontoados em frente a mesa dos professores, encaravam ainda assombrados o velho chapéu posto em cima do banco de três pernas que agora aguardava pacientemente para ser usado. A professora Minerva McGonagall pigarreou e, pegando o Chapéu com uma das mãos, orientou, olhando os novos alunos pelas lentes quadradas de seu óculos:

—Quando eu disser o nome dos senhores, sentem no banquinho para experimentar o Chapéu.

Os pequenos alunos pareceram perceber que era com eles que a professora falava um segundo mais tarde e retornaram ao nervosismo e inquietação silenciosa que se encontravam antes do Chapéu Seletor começar a cantar.

O primeiro nome da lista foi chamado:

—Bee, Heltton .

Um garoto loiro e de expressão contorcida em uma careta se adiantou e sentou-se no banquinho. O Chapéu Seletor afundou quase até seu queixo e depois de um momento de reflexão, anunciou:

—Sonserina!

A segunda mesa à direita bateu palmas para receber seu novo estudante. Os outros estudantes não pareceram muito entusiasmados com a casa selecionada para o garoto, mas a professora McGonagall não se abalou e continuou a chamar nomes e os próximos dois alunos receberam recepções muito mais calorosas quando foram indicados para Lufa-Lufa e Corvinal.

A seleção seguiu com Dalton, Kleyton indo para Lufa-Lufa e Fay, Mônica para Sonserina. O primeiro selecionado para Grifinória foi um menino de cabelos despenteados e sorriso faceiro, Gowen, Scott. Um garoto pouco mais velho e muito parecido com ele se levantou quando ele chegou próximo a mesa que ovacionava, abraçando-o e trazendo-o para o banco com um ar satisfeito.

No meio de todos aqueles alunos que ainda aguardavam sua seleção, uma delas tinha que ficar na ponta dos pés para ver o que estava acontecendo mais a frente. A menininha era dona de cabelos ruivos, que caiam em ondas até seus ombros, os olhos claros apareciam vez ou outra sob o ombro de um colega e ela já estava ficando irritada com a falta de visibilidade.

Uma risadinha ao seu lado chamou sua atenção enquanto Makino, Sabrina era selecionada para Lufa-Lufa e ela olhou para o garoto de cabelos castanhos claros, o rosto adornado por um óculos bonito de lente retangular, mais alto quase um palmo do que ela. Ela revirou os olhos e acertou uma pisada no pé dele, fazendo-o soltar um gemido, o Chapéu anunciando que Smaler, Marta haveria de ir para Grifinória abafou o som, e a garota do lado oposto a ruiva, os cabelos castanhos caindo como cascatas ao redor do rosto de pele amorenada de expressão nervosa, deu um olhar amedrontado para os dois, como quem diz que não podiam ser repreendidos antes mesmo de serem selecionados.

Sparkers, Beatrice foi para a Corvinal e a professora McGonagall chamou, seus olhos subindo para fitar os alunos abaixo:

—Stom, Kai.

Os olhos muito azuis do garoto de óculos se arregalaram e ele se adiantou ligeiro, sentando-se no banquinho. O Chapéu Seletor demorou apenas um momento em sua cabeça antes de anunciar em alto e bom som:

—Grifinória!

A mesa da casa citada bateu palmas entusiasmadamente enquanto recebia o garoto que sorriu presunçoso. Sven, Atilla, foi para a Corvinal logo depois, seus olhos amendoados pareciam aliviados enquanto corria para sentar a mesa que aplaudia.

—Tuner, Kira. -McGonagall chamou.

Aquela altura, a menininha ruiva já não tinha tantas pessoas em sua frente e, recebendo um olhar alarmado da morena ao seu lado, viu-a se dirigir rapidamente até o banquinho de três pernas. O Chapéu Seletor demorou um pouco mais dessa vez, parecendo indeciso, mas declarou por fim:

—Grifinória!

Tuner sorriu e se levantou, deu um passo e só depois notou que ainda estava com o chapéu na cabeça, causando risadas. Ela devolveu o chapéu para a professora McGonagall, o rosto muito vermelho, e disparou para a mesa que aplaudia com mais entusiasmo.

Quando Watson, Katherine foi chamada, a ruivinha se sentiu ainda mais nervosa, tendo sobrado apenas ela e mais uma garota muito pálida ao seu lado, que contorcia a boca em expressões engraçada, mas aos quais ela não conseguia rir. A menina sentada no branquinho, dona de uma pele escura e cabelos cheios, foi selecionada para a Grifinória, correndo para a mesa tão logo o chapéu foi tirado de sua cabeça.

Williams, Marie foi chamada e a menina se viu sozinha de frente para a professora McGonagall e o Chapéu Seletor. Mais rápido do que os últimos, a outra menina foi mandada para a Corvinal e a professora chamou o último nome na lista:

—Wolfgan, Lily.

Com uma careta que não tinha só haver com o nervoso a menina se adiantou, tropeçou e quase caiu. O salão explodiu em risadas e ela amaldiçoou baixinho, chegando até o chapéu com o rosto mais vermelho que a bandeira da Grifinória que enfeitava a parede atrás da mesa dos professores junto a das outras três casas.

Demorou um momento para o Chapéu Seletor descer, fazendo com que tivesse uma visão ampla do salão. Durante um único segundo, seus olhos encontraram com olhos muito negros e de expressão espantada na mesa da Sonserina, que fizeram um arrepio gelado descer sua espinha. O interior do chapéu quebrou o contato e a garota sentiu-se aliviada e apreensiva enquanto escutava o Chapéu falar com ela em sua cabeça.

—Grifinória! -ele anunciou depois de alguns segundos de reflexão.

O sorriso nasceu em seus lábios e ela suspirou de alívio, esquecendo-se dos olhos negros enquanto lembrando-se de tirar o chapéu da cabeça e entregá-lo a professora antes de correr para a mesa de sua casa e sentar-se no espaço que Kira Tuner e Kai Stom abriram para ela.

Albus Dumbledore se levantou ao mesmo tempo que a professora McGonagall retirava o Chapéu Seletor e o banquinho por uma entrada lateral e um tanto escondida.

—Bem-vindos para mais um ano em nossa querida Hogwarts! -ele exclamou -Existem coisas que precisam ser ditas, mas elas podem esperar nós nos deliciarmos com o jantar.

Ele bateu palma e as travessas de ouro que adornavam as quatro mesas se encheram com os mais variados tipos de comida. Cheiravam tão bem que nenhum dos alunos se atreveu a hesitar antes de encher os próprios pratos e atacar e, em poucos minutos, o salão se encheu do barulho de talheres e conversa.

—Você mentiu para gente! -Kira Tuner exclamou para a Wolfgan ao seu lado depois de alguns minutos, enquanto Kai Stom devorava com afinco uma coxa de frango.

—O que? -a ruivinha perguntou assustada.

Kai franziu o cenho e engoliu o frango em sua boca

—É verdade… A professora McGonagall te chamou de "Lily". -ele respondeu meio arrastado. -Você se apresentou como "Scarllet" no trem...

—Ah! -a garota exclamou -Sim, claro… Sinto muito, Lily Scarllet Wolfgan. Mas não me chamem de Lily, eu detesto!

—Por que? -Kira perguntou curiosa.

—Sou alérgica a pólen. -Scarllet respondeu com uma careta -Flores são um problema pra mim. E…. É tão delicado...

Kai e Kira se entre-olharam, olharam para Scarllet e deram de ombro.

—'Ta! -os dois concordaram em uníssono.

Scarllet também deu de ombro com um sorriso e voltou a comer. Um tempo depois, a comida desapareceu das travessas e foi substituída por sobremesas que estavam tão deliciosas quanto o jantar. Os alunos do primeiro ano, talvez desacostumados com tanta fartura, comeram pouco da sobremesa, empanturrados do jantar.

—Tenho que lembrar de comer menos amanhã. -Kai reclamou -Queria um pedaço de torta de caramelo.

Kira assentiu, olhando para torta desejosa e Scarllet concordou também, já tendo parado de comer a alguns minutos. Estava sonolenta e se perguntava se ainda demoraria muito para acabar o jantar e poderem se recolher, seus olhos vagando pelas mesas sem procurar nada em específico, quando os mesmos olhos negros de mais cedo cruzaram com os seus, dessa vez a fitando com curiosidade.

Com um sobressalto, a ruiva sentiu novamente aquele arrepio, corou e desviou o olhar antes que pudesse examinar melhor o dono daqueles olhos. Segundos mais tarde, se atreveu a olhar de novo naquela direção, mas no mesmo instante o professor Dumbledore fez um gesto amplo, se levantando e chamando a atenção de todos.