Seven Years Gone escrita por Sora Takenouchi Ishida


Capítulo 1
De volta aonde você pertence




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O vento bagunçou o cabelo do homem no momento em que ele cruzou a porta do avião. Ele ficou tantos anos longe que tinha esquecido que Tóquio podia ter ventos fortes às vezes. E frio também.
“Marie.” Ele chamou sua assistente pessoal por cima do ombro. “Pegue meu casaco preto.”
“Sim, senhor.” A mulher morena e baixa entrou para pegar a roupa solicitada.
“Bem vindo ao Japão, senhor.” Um empregado do aeroporto o recebeu enquanto ele pisou no chão. “Você irá sair por outra porta porque há um grupo grande de fãs te esperando no saguão principal.”
“Ótimo. A última coisa que eu preciso agora é tirar fotos e assinar autógrafos.” Ele olhou para o empregado, que tinha um olhar esquisito no rosto. “O que foi? Estou cansado dessa viagem longa.”
Mary voltou correndo e colocou o casaco preto sobre os ombros do homem.
“Mary, por que demorou tanto? Eu poderia ter morrido de frio.”
“Perdão, senhor.” Ela rapidamente se desculpou. “O senhor tem muitas bagagens de mão, foi difícil encontrar.”
“Eu não quero desculpas; quero que seja mais rápida.”
“Sim, senhor.”
“A fama subiu mesmo à cabeça dele, não acha?” Um segurança do aeroporto sussurrou para outro.
“O que você disse?” O cantor parou e se virou para eles, de cara amarrada.
“Nada, senhor. Por favor, nos perdoe.”
“Vai demorar um pouco para eu me acostumar com isso de novo.” Ele suspirou.
“Yamato!”
O músico olhou na direção de onde a voz veio e um sorriso apareceu em seu rosto. Seu pai, um produtor de TV, e seu irmão de 21 anos o esperavam.
“Olá, Takeru. Pai.”
“É bom ter você de volta, filho.”
“Meu Deus, eu senti sua falta!” Takeru abraçou forte seu irmão.
“Eu esqueci o quão afetuoso você pode ser às vezes.” Yamato tentou se afastar dele.
“É você que é muito frio.”
“Então, como é estar de volta ao Japão?” Hiroaki perguntou.
“É… estranho. Vai ser difícil me adaptar ao estilo de vida japonês de novo. Esses sete anos que eu passei ao redor do mundo foram incríveis. Alguns lugares são loucos; vocês não fazem ideia.”
“Bem, vamos ter muito tempo para saber de todas as coisas que aconteceram nesse período.”
“Então, como você está, irmãozinho?” Yamato se dirigiu ao Takeru. “Você fez faculdade? Está trabalhando agora?”
“Estou estudando Letras na Universidade de Tóquio. É o meu último semestre, na verdade.”
“Legal! Você está gostando?”
“Estou! Eu me apaixonei por escrever desde que a mamãe conseguiu um estágio na redação do jornal que ela trabalha. Eu pretendo escrever um livro muito em breve.”
“Incrível! Tenho certeza que vai sair muito bem nisso.”
“Obrigado.”
“Eu posso presumir que você e a mamãe estão se falando novamente, então.”
“Bem, você me conhece… Eu não consigo ficar bravo com alguém por muito tempo.”
“Eu sei, sim.”
“Vamos, rapazes. Vamos para casa.”
“E quanto a você?” Takeru perguntou. “Você e a banda estão pensando em gravar outro CD e sair em uma nova turnê?”
“Por enquanto, não.” Yamato colocou as mãos atrás da cabeça. “Agora só o que eu consigo pensar é em descansar. Tenho certeza que os outros também querem.”
“Vocês todos trabalharam muito, vocês merecem um pequeno descanso.”
“Sim.” O irmão mais velho olhou pela janela. “Eu vejo que nada mudou por aqui, não é?”
“Se você estiver falando de prédios e coisas assim, então definitivamente não muito. Mas algumas coisas mudaram, sim.”
“Tipo o que?”
Takeru e Hiroaki trocaram olhares preocupados, que não passaram despercebidos pelo Yamato.
“Ah não, não façam isso. Eu quero saber.”
“Bem…” O future escritor disse com insegurança. “A Sora ficou noiva recentemente.”
Yamato sentiu um arrepio por todo seu corpo. Ele nunca ia imaginar que seria sobre sua ex-namorada. Uma dor aguda passou pelo seu coração, fazendo-o se sentir culpado novamente por deixá-la tão bruscamente há sete anos.
“Desculpa. Eu não deveria ter te contado.”
“Não, tudo bem.” O musicista balançou a cabeça e sorriu. “É bom saber que ela seguiu em frente. Eu e ela não daríamos certo.”
“Se você está dizendo...”
“Não seria justo fazê-la esperar por mim.”
“Está dizendo que ainda a ama?”
“De onde você tirou isso? Nós terminamos há anos.”
“Mas um amor tão forte quanto o de vocês não pode ser facilmente esquecido. Pode ser enterrado, mas não acabado.”
“É uma ideia romântica na teoria. Não funciona assim na vida real.”
“Mas poderia.”
“Eu sei que você gostava muito dela, Takeru. Mas não tem como nós recomeçarmos. Ela provavelmente não me perdoou por escolher minha carreira.”
“Eu não a culpo.”
“Nem eu. Eu só espero que lá no fundo ela entenda que escolher minha banda não significou que eu não a amava. Eu amava.”
“Tenho certeza que ela entendeu isso enquanto o tempo passou.”
“Eu não quero mais falar sobre isso. Então podemos mudar de assunto, por favor?”
“Claro.” Hiroaki disse. “Sua mãe está fazendo um jantar especial para nós, em casa.”
“O que?” Yamato perguntou com descrença. “Ela está na nossa casa? Cozinhando?”
“Isso mesmo.”
“Desde quando você e a mamãe começaram a se entender de novo?”
“Não faz muito tempo. Acho que foi quando o Takeru estava quase terminando o ensino médio.”
“Eu disse que algumas coisas tinham mudado por aqui.”
“Vocês dois estão juntos de novo?”
“Não mesmo. Sua mãe e eu não conseguiríamos ficar num casamento novamente. Nem estamos juntos, nós só… damos uns amassos de vez em quando.”
“Me poupe dos detalhes, pode ser?”
Hiroaki começou a rir. “Desculpa, filho. Mas já que você vai morar comigo de novo, você provavelmente vai ver isso com frequência.”
“Eu preciso achar minha própria casa então.”
“Por favor, me leve com você.” Takeru implorou. “É tão constrangedor ouvir gemidos e gritos vindos do quarto da mamãe quando eles estão transando.”
“Caramba, pai, você e a mamãe transam com o Takeru em casa? Isso é horrível!”
“Nem me fale!”
“Não é nada disso. Às vezes acaba acontecendo.”
“Eu vou ficar traumatizado pelo resto da vida por causa disso.”
“Não seja tão dramático, Takeru. Como se você não fizesse isso com as meninas que você fica na faculdade.”
“O QUE?!” Yamato olhou por cima do ombro. “Eu quero saber tudo sobre isso quando chegarmos em casa.”
“Sério, Yamato, não é nada demais… o papai está exagerando.”
“Uma ova que estou. Você sempre vem me pedir preservativos.”
“Pai!” O loiro mais jovem escondeu a cabeça nas mãos.
“Meu irmãozinho finalmente virou um homem.”
“Ah não, você também, não. E pare de apertar minhas bochechas, você sabe que odeio isso.”
“Eu sei, mas é divertido te provocar. Eu senti falta disso.” O musicista riu. “Então você sai pelo campus procurando por meninas, não é?”
“Eu vou lá para estudar, eu levo isso muito a sério. Às vezes eu fico, sim, mas não estou pronto para entrar num Relacionamento ainda, desde…”
“Desde que a Hikari te rejeitou e escolheu o Ken? Você ainda gosta mesmo dela?”
“Ei, você ainda ama a Sora. Então quem é você para dizer alguma coisa?”
“Parem os dois. Já chega.”
“Desculpa, pai.”
“Desculpa.”
“Ótimo.” Hiroaki desligou o carro. “Lar doce lar.”

*****

A mulher de 25 anos e cabelos vermelhos ouviu um carro buzinando quando ela estava saindo de seu prédio. Ela revirou os olhos quando ouviu o homem cantando sua melhor amiga.
“Sério, Mimi, como você não consegue ficar brava com isso?”
“Bem, bom dia para você também!”
“Desculpa. Bom dia.”
“Você se acostuma a isso depois que se torna normal. Não é como se eles conseguissem alguma coisa comigo, então eu apenas ignoro. É o que acontece quando você é bonita.”
“Não deveria ser assim, sabe?”
“Alguém está com ciúme porque ela não recebe essas coisas?”
“Por favor! Eu mal tenho tempo de ser cantada por homens com tesão em seus conversíveis.”
“Não pode negar que alguns deles são bonitos.”
“Mas eles também não têm cérebro, então qual a razão? Eu prefiro o Mike sem hesitar.”
“Claro que prefere. Ele é o seu noivo.” Mimi deu uma cotovelada no braço dela. “Só estou dizendo que deveria observar mais.”
“Mimi, eu não pretendo terminar com ele. Você sabe o quão difícil foi abrir espaço para ele.”
“Eu só estava dizendo, você não precisa terminar.”
“Eu sei.”
“Aliás, você viu quem voltou?”
“Não, quem?”
“Sora, pare de olhar seu celular e olhe para mim!” Mimi tirou o celular das mãos da sua amiga. “É um hábito muito irritante. As pessoas pararam de socializar pessoalmente e começaram a se comunicar online!”
“Olha só quem fala! Não faz muito tempo que você costumava se esconder no seu quarto para poder falar com o Koushiro.”
“Mas ele tinha problemas de socialização, você sabe disso muito bem. Eu precisei me esforçar muito para tirá-lo do casulo.”
“Eu sei. Eu sei. Me desculpe.” A estilista colocou o celular no bolso. “É que o Mike vai voltar para a Inglaterra e nós estamos tentando aproveitar todos os momentos que pudermos antes de ele partir.”
“Nossa, o que?” Mimi disse meio alto. “Você não me disse que ele estava voltando para o país dele! Quanto tempo ele vai ficar lá?”
“Ainda não sabemos. Depende de quão rápido ou devagar o serviço termine. Pode ser por meses, ou anos.”
“Sinto muito, Sora.”
“Tudo bem. Eu sabia que isso ia acontecer alguma hora.”
“Mas você ainda pode visitá-lo, certo? Você definitivamente deveria visitar Londres!”
“Eu não sei. Eu tenho minha loja de roupas para cuidar e a Yumi tem aulas e tudo o mais. Eu não posso simplesmente deixá-la com meus pais.”
“Então vocês não vão se ver até ele voltar?”
“Vamos ter que nos falar por vídeo-chamada, eu acho.” Sora deu de ombros. “Nós nunca fizemos isso antes, mas nós vamos dar um jeito.”
“Uau.” Mimi disse, chocada.
“O que?”
“Nada… é só que você não parece o tipo que concorda com esse tipo de coisa.”
“Sério?” Sora levantou sua sobrancelha. “Por que você acha isso?”
“Bem, porque… não me leve a mal, mas às vezes você é muito rígida. Você só aceita quando as coisas são do seu jeito.”
“Eu não sou! Eu consigo aceitar de jeitos diferentes.”
“Ok, se você diz.”
“Então, quem voltou? Você ainda não me disse.”
“Você não viu mesmo os noticiários?”
“Mimi, eu tenho coisas mais importantes para fazer. Eu tenho uma filha.”
“Isso não significa que não pode ver TV, mas tanto faz. O Yamato voltou ontem.”
Sora ficou estática, uma sensação gelada preencheu seu corpo todo. “O que você disse?”
“Está em todo lugar. Seu ex voltou ao Japão.”
“O Yamato está de volta? O que eu faço agora?”
“Não se preocupe, não é como se ele viesse direto até você. Tóquio é muito grande, vocês nunca vão se encontrar.”
“Estou falando sério, Mimi. Ele não pode descobrir sobre a Yumi.”
“Sora, você não acha que é hora de contar a verdade a ela? Você vai deixá-la passar a maior parte da vida achando que o pai dela morreu?”
“No que me diz respeito, ele está morto para mim.” Ela deu de ombros. “Além disso, o que eu deveria dizer a ela? Seu pai escolheu sua banda ao invés de mim?”
“Ele não sabia que você estava grávida. A decisão dele poderia ter sido diferente se soubesse.”
“Por que você está defendendo ele agora?”
“Não estou defendendo ele, Sora. Só estou dizendo que as coisas seriam diferentes se ele soubesse.”
“Você não sabe disso.”
Mimi suspirou. “Apenas prometa que você vai pensar nisso. É essa a vida que você quer para sua filha? Ela tem o direito de saber quem o pai dela é. E o Yamato tem o direito de saber que tem uma filha. Você não pode esconder isso deles para sempre.”
“Apenas estou protegendo ela, Mimi. É para o bem dela.”
“Se você está dizendo. Só não se arrependa depois.”
“Não vou me arrepender. Eu prometo.”
“Certo.”
“Então, como está o seu programa no horário novo? Você disse que estava tendo problemas com os índices de audiência, eles conseguiram resolver?”
Mimi suspirou. “Infelizmente não. Quero dizer, a audiência aumentou um pouco, mas ainda não é o bastante. Eu não sei o que esperar agora.”
“Está dizendo que eles podem cancelar?”
“É provável. Eu só sou boa nisso, Sora. Eu não sei o que vou fazer se perder meu programa.”
“Não se preocupe, as coisas vão melhorar. Tenho certeza que vai encontrar alguma coisa em que tenha talento.”
“Eu espero que sim.” Ela colocou uma mecha do cabelo atrás da orelha. “Não consigo me imaginar fazendo nada além de estar na TV.”
“Talvez você devesse falar com seu diretor e ver se eles conseguem colocar em outro horário ou alguma coisa assim.”
“Talvez. Mas eu duvido que eles iriam fazer algo a respeito.”
“Por que não?”
“Eu não sei. Eu costumava falar minhas opiniões e sentimentos, mas eles nunca as levaram em consideração. E eu sou a apresentadora do programa.”
“Que coisa terrível de se fazer. Eles deveriam ao menos considerar suas ideias.”
“É, bem…”
“Eu acho que você deveria tentar de novo. As coisas podem ser diferentes dessa vez.”
“Você acha mesmo?”
“Bem, você nunca vai saber se não tentar.”
“Então, com o que você precisa da minha ajuda?”
“Ah, é verdade! Eu quero preparar uma festa especial para o Mike antes de ele ir embora. O aniversário dele é nesse fim de semana.”
“Certo, você quer uma festa íntima? Uma festa romântica?” Mimi bateu o cotovelo no braço de Sora, fazendo o rosto dela corar intensamente.
“Talvez. Você não deveria falar essas coisas desse jeito.”
“Ahh você fica tão fofa quando fica envergonhada!”
“Pare com isso, Mimi! Eu odeio ficar tão envergonhada.”
“Eu não sei por que fica assim. É normal querer um jantar romântico com seu noivo.”
“Eu sei. Eu sei. Eu só não quero fazer uma coisa maior do que é. Deveria ser uma coisa particular, sabe?”
“Bem, você não está ‘fazendo uma coisa maior do que é’. Você só está pedindo a ajuda da sua melhor amiga.”
“Tá bom, a vergonha já passou.”
“Ótimo. Então o que você tem em mente?”
“Eu quero fazer uma coisa diferente, sair do tradicional. Eu quero fazer alguma coisa que ele vá se lembrar para sempre.”
“Ok, então eu sei o restaurante perfeito para você fazer reservas! E você também deveria comprar um presente que ele não vá esquecer.”
“Eu acho que sei o que comprar, mas ainda não posso te contar.”
“Hmmm safadinha.” Mimi provocou e Sora se sentiu envergonhada mais uma vez.
“Quer parar com isso? Não é nada disso aí!”
“Se você está dizendo.”
“Foco, Mimi.” Ela disse, séria. “Certo, a primeira coisa que precisamos fazer é reservar naquele restaurante. Podemos pensar no resto depois disso.”
“Eu dirijo.” Ela pegou a chave e elas se dirigiram ao restaurante do Hino.


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