A casa da enseada escrita por Kori Hime


Capítulo 1
A casa da enseada I


Notas iniciais do capítulo

Inspirado na história da série em que o Jaskier vai embora depois que o Geralt briga com ele. O resto é da minha cabecinha kkk



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— Ora se não é o nosso mais ilustre bardo, Visconde de Lettenhove, senhor da palavras e canções eruditas, aquele que tudo toca vira calor e emoção. Salve, Julian Alfred Pankratz...

— Tá, tá, pode parar com essa apresentação, Duk, não tem ninguém olhando.

Jaskier estava parado em frente aos portões de Porto Valente, sua verdadeira cidade Natal. Ficava alguns quilômetros de onde havia recebido seu título de Visconde, mas quase ninguém sabia desse detalhe. Mudou-se ainda muito pequeno para a outra cidade, enquanto a pequena vila de pescadores ficou para trás, junto com as histórias mentirosas de um pai bêbado e falido.

Sua mãe casou-se novamente e teve uma vida um pouco mais digna. Sorte de Jaskier.

Contudo, estava de volta ao antigo lar de seu pai, unicamente para se esconder do mundo. Duk, o guardião do portão, anunciava a todos que chegava por ali. Embora não houvesse plateia para ouvir. A cidade estava indo de mal a pior, desde que monstros marinhos migraram do sul para o norte e acabaram com a pesca, única forma de economia local.

Duk, a quem Jaskier já conhecia de sua passagem pela Universidade de Oxenfurt, era um homem baixo e que possuía uma generosa barriga. Os dois se conheceram em algumas das muitas festas que Jaskier frequentou e ele jamais esqueceria de todas as duzentas e vinte e cinco tortas de javali que Duk comeu num festival de quem comia mais tortas. O prêmio, um leitão cor de rosa, não deveria mais existir desde aquela época. Mas, ao contrário do que pensou, Jaskier olhou para o lado e viu um bicho tão redondo quanto Duk e com um laço em volta de seu pescoço inexistente.

— Se lembra da Madame Lestrange? — Duk desceu com dificuldade do caixote que havia subido para fazer as honrarias. — Ela não mudou nada.

— Estou vendo, continua... bela, como sempre foi. — Jaskier estreitou os olhos e olhou ao redor. — Onde estão as pessoas dessa cidade?

— Estão na prefeitura, fazendo uma reunião. Parece que alguém comprou algumas propriedades e todos estão preocupados. — Duk começou a andar pela rua principal vazia, acompanhado de Madame Lestrange. Jaskier ia logo na frente, passando a mão nos cabelos. O calor daquela cidade era quase insuportável, se ele já não tivesse visitado o deserto e quase morrido nele.

— Sim, sim, eu as comprei. — Ele falou, de forma tranquila. — Onde é a prefeitura?

Duk estava com a boca escancarada, e se Jaskier não tivesse visto Madame Lestrange com dificuldade de respirar antes, ele ia pensar que a leitoa também abriu a boca de surpresa naquele momento.

***

Quando você tem o coração partido, a única coisa que resta é tentar recomeçar. Esse era o lema de alguém que Jaskier conheceu há muito tempo, mas que se encaixava perfeitamente em sua situação atual.

Aquela não era a primeira vez que tinha o coração partido. Contudo, era a primeira vez que não sabia como reparar a dor que sentia. Isso porque não foi o responsável pelo problema que causou aquele sentimento. E não estava ao seu alcance fazer com que a pessoa se redimisse das dolorosas palavras proferidas, quando teve seu coração estilhaçado em mil partes.

— Como a vida é dura, Madame Lestrange. — Ele suspirou, apoiando os cotovelos na sacada da casa que havia comprado semanas atrás.

A leitoa estava deitada no chão da varanda e suas patas mal conseguiam encontrar descanso com a barriga protuberante.

Jaskier causou uma grande surpresa ao comprar a casa da enseada, uma residência famosa por ter sido palco de um dos maiores acontecimentos de Porto Valente, o nascimento da princesa Samila. É claro que isso aconteceu há quase meio século e a casa estava abandonada desde então. A rainha havia sido resgatada de um naufrágio e deu a luz ali, em Porto Valente. Foi assim que a cidade ficou conhecida no mundo, mas já fazia tanto tempo que ninguém mais se lembrava daquele lugar, então o valor imobiliário caiu muito e Jaskier usou de suas economias para comprar a casa.

Precisava morar longe de lugares que eventualmente poderia cruzar com um certo bruxo. E era isso, comprou uma casa, uma taberna e um depósito que iria transformar em estalagem, assim que conseguisse um bom carpinteiro, já que o responsável pela reforma da casa da enseada acabou desgastando o único mestre de obras da região.

Contudo, a casa estava arejada, limpa e com os reparos bem feitos. Jaskier olhou orgulhoso para as portas duplas que dava para a sala elegante que ia até o outro lado na cozinha. Os quarto estavam vazios ainda, porque todos os móveis foram destruídos pela maresia. Mesmo assim, ainda dava para se orgulhar de seu novo lar, mesmo que fosse dormir em cima de almofadas improvisadas, ou da leitoa. Tanto faz.

Jaskie suspirou novamente, ele estava entediado. Pensou que olhar para o mar fosse ajudar a trazer de volta cor a sua vida, alegria ao seu coração despedaçado, e música ao seu mundo. Porém, nem mesmo se uma sereia aparecesse naquele momento e acenasse para ele das rochas onde as ondas quebravam, Jaskier ia conseguir dar um sorriso.

Depois de tantos anos, e tantos foras que levou na vida, quem diria que um bruxo seria o responsável pela queda do maior bardo que o mundo já viu?

Ele virou-se para a leitoa e lamentou o azar que havia acometido sua vida.

— Você deveria ver, Madame Lestrange, eu era como uma estrela brilhando no mundo. Um sol, por assim dizer, levava luz a todos os lugares que passava e sorriso nas bocas desdentadas dos miseráveis. Ah! Se o mundo fosse um pouco mais justo, quem estaria pagando por isso seria ele.

A leitoa tentou se mexer, mas as patas ainda balançavam no ar. Jaskier continuou, sem se dar conta da dificuldade do animal.

— Ele teve a coragem de olhar nos meus olhos e falar que desejava não ter me conhecido. Acredita? Sim, pois ele teve essa audácia. Depois de tudo o que passamos, e não vou enganá-la Madame Lestrange, nós passamos por muitos problemas juntos. Foram elfos, monstros, feiticeiras malucas e taradas, e tudo o mais de estranho que possa imaginar. E eu estava lá, como sempre, um amigo fiel, o companheiro de aventura. Para que? Para ser chutado feito um cachorro sarnento quando não mais agradasse aos desejos daquele bruxo. Se arrependimento matasse, olha, eu estaria empalado a esse momento.

Depois de tanto falar, Jaskier ouviu o gemido rouco da leitoa e foi ajudá-la a se levantar. Com muita dificuldade, ele conseguiu virá-la. Mas continuou sentado no chão da varanda, pensando onde tudo havia dado errado na sua vida.

Desde quando ele se deixava levar pelas emoções e se afundava na lama do amor? Nem mesmo Henrietta teve o dom de abalar sua alegria de viver. Então, o bardo chegou a uma conclusão lógica.

— Geralt me enfeitiçou!

— Quem é Geralt? — Duk perguntou, enquanto arrancava um pedaço de carne do osso em sua mão.

— O bruxo, ao qual comentei. — Jaskier estava sentado no chão, ainda não havia mesa e nem cadeira e sua casa, então eles estavam comendo a moda piquenique, com uma toalha no chão e a comida disposta sobre ela.

— Oh! O lobo branco, sim, aquele da sua canção. — Ele balançou a cabeça, mas Jaskier não conseguia nem ver seu pescoço, quem dirá entender o que aquele sinal significava.

— Eu tenho certeza de que foi um feitiço. — Jaskier continuou, envolto das teorias que sua mente criava. — Tudo faz sentido, a gente se encontrava sempre de forma suspeita e aleatória. Todas as vezes que eu ouvia seu nome, era como se um chamado divino me levasse até ele.

— Espera, você e o bruxo de Rívia são um casal? — Duk abaixou a mão pela primeira vez na noite e ignorou a comida.

— Você está ouvindo o que eu estou falando? — Jaskier se levantou. — Aquele bruxo me enfeitiçou para que eu corresse atrás dele feito um cachorro desesperado e apaixonado.

— Então você realmente está apaixonado?

— Estou enfeitiçado. — Jaskier o corrigiu, erguendo o dedo indicador. — E eu vou conseguir uma forma de me curar. Você vai ver.

Dia após dia, Jaskier buscou em livros e todos os tipos de pergaminhos formas de quebrar um feitiço de amor. A maioria dos contra feitiços precisava do coração da pessoa que havia realizado o ritual. E estava fora de cogitação arrancar o coração do peito de Geralt. Além disso, Jaskier duvidava que o bruxo tivesse mesmo um no peito.

Quando os livros já não resolviam mais, ele partiu para as curandeiras que Duk encontrou nas redondezas, elas não eram tão bem familiarizadas com rituais de magia do amor, mas sabiam como fazer o intestino voltar a funcionar de forma regular. Duk ficou agradecido pelas dicas.

— Não existe uma forma para quebrar esse feitiço. — Jaskier lamentou, sentado na poltrona de sua sala. Agora, já mobiliada. Havia se passado três meses e desde então ele ainda se sentia medíocre. Não conseguia sequer tocar uma música em seu alaúde e isso, ele jamais perdoaria. Geralt teria que pagar por fazê-lo tão mal. — Mas, como?

***

Em uma manhã, quando voltava de sua caminhada matinal a beira da praia, Jaskier notou uma movimentação próximo de sua residência.  Ele levou a mão à testa para fazer sombra e conseguir olhar melhor o que vinha de lá.

O trotar manso da égua sobre a areia causou preocupação. Jaskier olhou para os lados e tentou identificar se estava tendo uma miragem. Havia caído em muitas miragens no deserto, mas não conseguia identificar nada que o expusesse a tal drama.

Mais alguns metros e Jaskier reconheceu a égua e o seu dono. O bardo estancou no mesmo lugar e não conseguia mexer as pernas. Logo atrás, um outro cavalo vinha fazendo companhia para o primeiro e mais ao fundo, bem longe deles, estava Duk, acenando com os dois braços e gritando algo que ninguém entendia.

Quando a égua parou diante de Jaskier, ela apenas bufou e o bardo sorriu. Não poderia jogar no animal a tristeza que o seu dono lhe causou, por isso ele ergueu a mão e fez carinho em Plotka.

Os gritos de Duk começavam a fazer mais sentido, e todos viraram a cabeça para olhá-lo se aproximar lentamente, mas com um esforço tremendo.

— O que? — Jaskier perguntou, aos berros.

— Rívia... O bruxo de Rívia. — Duk parou, tentando puxar o ar pela boca. — Salve...

— Tudo bem, Duk, já entendi. Ele está na minha frente. — Jaskier suspirou, enquanto uma jovem de cabelos acinzentados descia do cavalo e entregava para Duk um cantil com água para ele se refrescar.

— Está tudo bem? — Ela perguntou, preocupada e Jaskier olhou para Geralt, se perguntando mentalmente quem era aquela garota gentil que nada se parecia com o brutamontes do bruxo que a acompanhava.

— Sim, obrigada, senhorita... — Duk a olhou sem saber como chamá-la, o que era uma vergonha para o Senhor do Portão.

— Cirilla — Ela disse.

— Salve, Cirilla. — Duk disse, erguendo a mão, muito cansado para continuar.

— Não liguem, é o trabalho dele. — Jaskier comentou, acenando para o amigo que retornou para seu posto na portaria da cidade.

Jaskier voltou a passar a mão na cabeça da égua e com um sorriso quase morrendo nos lábios ele virou-se e começou a caminhar na direção de sua casa.

— Espere, Jaskier. — O bruxou falou pela primeira vez, mas Jaskier estava decidido a não cair naquele feitiço novamente. — Onde vai? Jaskier...

O bardo continuou andando e logo depois foi seguido pela égua e o cavalo. Ele só parou quando subiu as escadas para sua varanda.

— Agora vou entrar na minha casa e espero que ninguém me incomode. — Jaskier falou alto o suficiente para que Geralt ouvisse.

— Ele deixou a porta aberta. — Ciri comentou, olhando para Geralt.

— Sim, ele deixou. — O bruxo encarava a varanda vazia, e os sinos que balançavam com a brisa do mar.

— Vamos ficar aqui ou... — Ciri moveu a mão, segurando a rédea do cavalo.

— Vamos esperar um pouco mais. — Geralt respondeu.


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Notas finais do capítulo

Não é uma longfic ainda não é dessa vez que farei uma fic grande deles, mas é uma fic para me acalmar os ânimos porque eu tava sedenta kkkk



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