Different Autumn escrita por Nerilla


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Primeiramente, olá.
Faz um tempo que não posto uma fic sem ser +18 e acho que é até um pouco estranho quando posto, rç.

Segundamente... Parabééns, dona Isa ♡. Gostaria de boa com as palavras, mas não sou, rç. Então, espero que goste de seu humilde presente.

OBS: Eu sei que a temática da fic veio em uma época meio conturbada, mas, fazer o quê? Esse enredo estava na minha cabeça desde o ano passado, rere.



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Após tantos anos, algo extremamente raro havia acontecido com Gray Fullbuster.

Ele estava resfriado.

Poucas foram as vezes em que o poderoso mago do gelo da Fairy Tail tivera pego aquela doença em sua vida, mas as sensações que o acometiam eram sempre as mesmas.

Ele odiava a inflamação incômoda de sua garganta, as dores perturbadoras em seu corpo, a febre alta que o obrigava a se enrolar entre os cobertores mais quentes que tinha em sua casa e qualquer outro minúsculo sintoma que indicava que havia adoecido. Entretanto, além de sofrer com as terríveis alterações físicas, o humor do Devil Slayer também era drasticamente afetado.

A expressão que ocupava o centro do rosto do mago deixava evidente a irritação e o desgosto que o possuía por sentir-se inútil e detestavelmente mais fraco do que todos os seus outros companheiros de guilda. Porém, em certos instantes, sua faceta séria se atenuava, e os traços da amarga melancolia que apertava constantemente seu coração também conseguiam se manifestar.

Adoecer fazia com que algumas memórias de sua infância surgissem, e, sem que pudesse evitar, ocupavam sua mente com as lembranças dos momentos em que aquela situação incomum teria ocorrido enquanto convivia com as pessoas que mais amou.

Era com pesar que Gray se recordava de sua mãe pondo compressas frias em sua testa, levando chás deliciosos que amenizavam suas dores e, à noite, sentando-se em sua cama para colocá-lo no colo e acariciar seus cabelos suavemente enquanto seu pai contava diversas histórias até fazê-lo dormir. Ur, por sua vez, preocupava-se em mantê-lo aquecido sob várias cobertas, alimentava-o com refeições ricas em nutrientes e reclamava quando o via fora da cama tentando lutar contra Lyon, que se divertia provocando-o.

A falta que sentia daqueles entes perturbava-o tanto quanto as dores do próprio resfriado, o que o fazia preferir ficar em sua residência a ter que estar na companhia barulhenta dos demais. Todavia, assim que Juvia descobriu sobre a maldita doença, o que seriam quatro ou cinco dias sozinho entre xingamentos e recordações, subitamente, transformaram-se nos dias mais estressantes que ele teria de encarar.

Gray tirou o termômetro da boca, espirrou duas vezes e balbuciou uma reclamação contra a dor violenta que alfinetou sua garganta. A dama da chuva voltou à sala em menos de meio minuto, aproximou-se do sofá onde seu amado estava sentado com o corpo envolvido por diversos cobertores e o observou preocupada.

— Como está se sentindo, Gray-sama? — perguntou ela sentando-se ao lado do homem enfermo que lhe entregava o termômetro.

— Ainda resfriado — respondeu sem conseguir evitar que uma nota hostil saísse junto às suas palavras.

— Sua febre baixou um pouco, isso é um bom sinal — a maga da água falou abrindo um pequeno sorriso satisfeito, e expirou aliviada. Porém, o curvar de seus lábios logo aumentou e se tornou mais abobado assim que ela abaixou o termômetro para mirá-lo com um grande olhar cintilante. — Logo, logo, você estará recuperado, e voltará a ser todo da Juvia…

— D-De onde diabos tirou isso? — ele inquiriu baixo, desconfortável com aquela ideia.

 — Mas, não se preocupe, Gray-sama. Enquanto estiver doente… — a Lockser repousou a cabeça no ombro de seu querido Gray-sama e fechou os olhos — ...Juvia fará de tudo para que se recupere o mais rápido possível...

Gray revirou os olhos enfadado, sentindo um leve ardor esquentar suas bochechas.

— Juvia vai arrumar a mesa para servir o jantar — avisou um segundo antes de se levantar e voltar a ser observada pelo mago sério. — O seu banho já está pronto. E, se quiser, Juvia pode ir primeiro com você para ajudá-lo a se esfregar e...

— Eu consigo tomar banho sozinho! — retrucou de imediato ao corar ainda mais.

— Se precisar de mais alguma coisa, não hesite em chamar a Juvia — dispôs-se exibindo um largo sorriso carinhoso para o Devil Slayer que somente franziu as sobrancelhas e virou o rosto enrubescido para o lado contrário ao dela.

Assim que Juvia se retirou, o Fullbuster levantou-se devagar, atrapalhado pelas poucas dores nas articulações que os remédios de Porlyusica, trazidos por sua companheira de guilda, ainda não teriam conseguido aliviar.

Deixou os cobertores que o protegiam do frio anormal sobre o sofá, mostrando que trajava apenas a cueca boxer, espirrou novamente e caminhou rumo ao banheiro, olhando de soslaio a mulher que colocava as colheres ao lado das duas tigelas postas sobre a mesa. Porém, ao sentir o cheiro de uma refeição bastante familiar, ele precisou interromper seu curto trajeto.

— Oe — a Lockser o olhou no mesmo instante em que o ouviu se pronunciar —, o que você preparou?

— Um missoshiru com bastante cenoura, brócolis e salmão — respondeu alargando um novo sorriso gentil.

O mago do gelo cerrou o maxilar e inclinou a cabeça para baixo discretamente, exibindo nas linhas de seu rosto a abrupta tristeza que o tomou e fez sua colega de guilda se aproximar devagar.

— Aconteceu alguma coisa, Gray-sama? — questionou ao parar à frente dele.

— Faz muito tempo desde a última vez que comi isso — revelou ele preservando um tom de voz baixo e calmo.

— Juvia tem certeza de que o missoshiru que ela fez será o melhor que comerá! — assegurou tornando a exibir um largo sorriso amoroso. — Ninguém foi capaz de colocar tanto amor quanto a Juvia, enquanto ela o preparava...

Gray não alterou sua expressão. Continuou em silêncio e distante entre pensamentos mesmo ouvindo-a suspirar romanticamente após tais palavras, o logo que a preocupou.

— Gray-sama?...

— Não quero jantar essa noite — pronunciou ele ao enfim voltar a fitá-la.

— Eh? — estranhou. — Mas você precisa comer, e-e Juvia...

— Eu não estou com fome — interrompeu-a forçando o esboço de um meio sorriso no canto de seus lábios para tentar encobrir a sensação ruim que o apunhalou. — Apenas vou tomar banho e me deitar. Desculpe.

A maga da água ainda o observou confusa, sem entender aquela repentina reação. No entanto, a volta da feição séria de seu amado a fez guardar as inúmeras dúvidas dentro de si, e, mesmo relutante, preferiu não insistir; apenas desviou seus olhos para outra direção, recolheu algumas das coisas que havia trazido consigo pela manhã e o acatou retirando-se da residência de seu querido Gray-sama em silêncio.

O Fullbuster levou seus olhos à porta assim que a ouviu fechar. Soltou um suspiro cansado e aproximou-se da mesa, ficando de frente para as duas tigela maiores que mantinham a sopa de missô e o arroz branco.

Apesar de ter sido preparada com ingredientes diferentes dos que era acostumado, somente o odor daquela refeição fora capaz de fazer com que recordações diferentes de sua infância voltassem a ocupar sua razão.

Tanto sua mãe quanto sua mestra preparavam missoshirus para servirem durante o jantar quando estava doente. Mika cozinhava a sopa com abóbora e cebola, o que auxiliava no combate de sua dor de garganta, enquanto Ur, querendo livrá-lo do cansaço, servia um missoshiru de tofu com inhame ralado. E mesmo que aquelas fossem versões diferentes da sopa, ambas eram tão saborosas que facilmente conseguiam purgar sua irritação e alegravam-no instantaneamente.

Nenhum outro caldo de missô o entusiasmou tanto quanto os das pessoas que perdeu; todos com seus cheiros genéricos o repeliam, tiravam sua fome, faziam com que a culpa guardada dentro de si despertasse e lembravam-no de que ele fora a razão para aqueles momentos terem acabado. Entretanto, o missoshiru preparado por Juvia era diferente.

O odor exalado pela sopa da maga não trazia o conhecido remorso, mas, sim, os mesmos rastros da antiga ansiedade pueril que o possuía quando o aroma característico das deliciosas refeições entravam em seu nariz.

Gray enrubesceu ao ouvir um ronco delator inédito vir de sua barriga entre os segundos que passava observando a sopa que se parecia cada vez mais atraente. Ele se sentou à mesa nervoso e hesitante, no entanto, acatando a demasiada vontade abrupta de prová-la, segurou uma das colheres, mergulhou-a lentamente dentro do missoshiru, trazendo com ela pouca quantidade do caldo, e encarou-a sentindo o coração bater involuntariamente mais acelerado.

O estômago dele roncou outra vez.

O mago do gelo abriu os lábios cerrados vagaroso, odiando a ansiedade gerada por aquela singela situação. Colocou a pequena porção da sopa dentro de sua boca, deixando que o líquido quente e salgado se espalhasse por sua língua por alguns poucos segundos para atiçar suas papilas gustativas, e ingeriu-o devagar.

Ele engoliu a saliva mesclada ao gosto remanescente da sopa logo depois, e não se sentindo mais intimidado por seus receios, puxou as tigelas para perto e tomou uma colherada maior, pegando, inclusive, um pedaço do brócolis com um pouco de arroz.

— Isso está mesmo gostoso — admitiu em um murmúrio antes de deglutir.

Outra colher cheia ocupou a boca do mago, mas dessa vez, para que ele experimentasse uma porção do peixe fatiado. Em seguida, experimentou o caldo junto à verdura e ao salmão, e continuou a tomar a sopa de missô em grandes colheradas, impressionado com o rico sabor do caldo que, sem que percebesse, fazia com que um sorriso animado se moldasse aos poucos em seus lábios.

 

✴✴✴

 

— Essa é a última colher. — A dama da chuva ergueu o talher que continha o resquício do okayu preparado naquela manhã, e colocou a outra mão embaixo, apartando qualquer pingo do caldo com arroz. — Ahhhh.

O Fullbuster envergonhado e com uma feição levemente irritada abriu a boca, permitindo que ela terminasse de servi-lo da mesma forma que ela havia feito no dia anterior.

— Acabamos — avisou sorrindo após pousar a colher dentro da tigela vazia. — Juvia espera que tenha gostado.

— Estava bom — Gray respondeu sentindo suas bochechas arderem ao mesmo tempo que virou o rosto para o outro lado e apertou o longo cobertor que o envolvia por cima dos ombros.

Juvia aumentou seu sorriso afável e se levantou com a louça no instante em que seu amado também deixou a mesa. Porém, em vez de seguir rumo à pia, ela permaneceu parada, e engoliu em seco.

— Gray-sama... — ela o chamou de súbito, fazendo o mencionado interromper o trajeto que fazia e olhá-la. — Juvia. queria pedir desculpas por ontem... — revelou deixando evidente o arrependimento que carregava dentro de si no tom tênue de sua voz. — Juvia se encontrou com Erza-san quando chegou à Fairy Hills, e ela explicou que você havia parado de comer missoshiru por causa das lembranças… — A maga da água inclinou o rosto ruborizado para baixo. — Juvia não queria magoá-lo…

— Não se preocupe com isso — devolveu ele, observando-a com uma expressão tranquila.

— Juvia promete que vai se esforçar para compensá-lo! — ela garantiu com mais determinação ao logo tornar a fitá-lo sem mais quaisquer sinais de inibição.

— O quê?

— Ela terá prazer em mantê-lo aquecido até sua febre baixar… — falou abrindo um sorriso amoroso ao abraçar-se com o mago de repente. — Juvia também pode ser o seu travesseiro, se quiser se deitar um pouco…

Gray expirou em uma bufada ruidosa e olhou emburrado para cima, tentando ignorar a colega de guilda que afundou a metade do rosto em seu peitoral desnudo assim que apertou o abraço suavemente e continuou a falar as outras opções em que poderia ajudá-lo utilizando seu próprio corpo. Entretanto, em meio à vermelhidão das maçãs de sua face, os cantos de sua boca se curvaram para cima, transparecendo um pouco da felicidade que sentia por agora ter Juvia Lockser em sua vida.


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Notas finais do capítulo

“Missoshiru” é uma sopa acompanhada por arroz, tradicional do Japão. Tem diversos tipos, mas a que Juvia fez é tomada para melhorar o sistema imunológico da pessoa (segundo o site que consultei). “Okayu” também é uma sopa, mas é de frango, e também é tomada por pessoas doentes. Ambas são comidas que normalmente despertam uma sensação de nostalgia/ligação sentimental nas pessoas.

Parabéns mais uma vez, @Brigtter ❤. Desculpa se ficou bobo, eu tentei fazer um Gruvia meigo e decente, e saiu isso. Mas, no fim, o que importa é a intenção.

Obrigada por ler, dear.
Bgs ♥



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