Abusivo: A história que ninguém conta escrita por Pauliny Nunes


Capítulo 8
Capítulo 7




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Gostaria de poder dizer que depois da última conversa que tive com Jean , ele apareceu de surpresa em casa, pediu desculpas e decidiu deixar a nossa relação bem clara perante a todos... Mas a verdade é que passei o dia sem qualquer sinal dele. Nada de mensagens meigas, nada de ligações para saber como eu estava, nada de carona para faculdade, nem ao menos cruzei com ele no corredor. Jean desapareceu da mesma forma que entrou na minha vida.

As meninas disseram que era melhor assim, eu também queria acreditar que sim, pois tínhamos problemas e dramas demais antes mesmo de termos alguma coisa, mas eu senti sua falta e uma enorme vontade vê-lo. Alimentei uma pequena esperança de ele ir à Calourada e poder falar com ele. Mas o que eu diria? O que há para dizer? Pedir desculpas pela forma como o tratei? E se ele me ignorar? Ou se ele estiver com outra menina? E se aparecer outra menina?

Balanço a cabeça afastando meus pensamentos e tentando me concentrar na música sertaneja dançante que tocava na Calourada. As meninas estavam animadas dançando com os rapazes que estavam por ali.Balanço meu corpo desajeitada, tento cantar algumas músicas, mas tudo o que ganho é uma garganta sedenta. Toco de leve no ombro da Tiemi que me encara sorridente:

— Vou pegar uma cerveja para mim, você quer?

— Não, eu estou ótima – respondeu beijando o rapaz que ela conheceu há 20 minutos.

Olho para as outras meninas que também estão em clima de azaração. Ali estou eu, Catarina, a vela. Respirei fundo e caminhei em direção a barraca rústica de bebidas, que foi fincada no chão batido daquela fazenda bem distante de Campo Grande. Sorrio para o rapaz que está com uma cartola de medicina na cabeça e assim Jean volta a surgir em meus pensamentos:

— O que vai querer? – pergunta o rapaz.

— Cerveja, por favor – respondo.

— Tá na mão – diz o rapaz entregando uma lata para mim.

— Quer dizer então que você gosta de cerveja?

— Pois é – digo me virando com a cerveja na mão, sorrindo – Olá, Patrick

—Olá... Nossa! – exclama Patrick, surpreso pedindo uma cerveja.

—O que foi? – pergunto olhando para minha camisa xadrez atrás de qualquer mancha, botão aberto e rasgo. Verifico também se meu zíper do short Jeans está aberto. Tudo certo, o que me deixa mais confusa.

—Você está diferente – solta Patrick .

— Como assim diferente?– perguntei confusa andando em direção as meninas e sendo acompanhada por ele.

—Sei lá... Talvez seja seu cabelo. Não sabia que ele era cacheado, ou você fez alguma coisa nele? – pergunta Patrick tocando em um dos meus cachos rebeldes.

— Ele é assim– respondo, mordendo os lábios. Aquela é a segunda vez que uso meu cabelo cacheado naquela semana. O resto dela passei com ele alisado , ou preso. Só para agradar o Jean... — Eu usei ele assim na faculdade na segunda feira,você quem não reparou...

— Desculpa ... – solta com um sorriso fraco. Ele bebe um gole e continua –— É difícil reparar em você quando tem buldog no seu cangote.

—Bulldog? – pergunto arqueando minhas sobrancelhas.

— Seu namorado – responde observando que minha expressão não muda — O rapaz que traz você para faculdade...

— O Jean? – respondo com uma pergunta. — Ele não é meu namorado.

— Não? Quer dizer, vocês não estavam juntos? – questiona Patrick.

— Estávamos, não estamos mais... Ou talvez nunca estivemos. É bem complicado de se definir... – respondo nervosa.

— Entendi... Gostaria de dizer que estou triste por saber disso – continua Patrick tocando em meu rosto até chegar em meu queixo. Ele o puxa de leve, fazendo minha cabeça ir em sua direção...

— Então é aqui que você está se escondendo – diz Jean se aproximando de nós com uma cerveja nas mãos.

—Olá, Jean – digo , sorrindo para ele que retribui , mas seu sorriso está estranho, frio, mas não mais que seus olhos. — Está tudo bem?

— Melhor agora – responde me puxando para perto dele e , sem se importar com Patrick, me beija.

Seu beijo estava mais intenso que o normal. Estávamos tão grudados parecia que íamos tornar um só de tão forte que seus braços me apertavam. Seus lábios engoliam os meus , enquanto seus dentes me mordiam, deixando um gosto de sangue, meu sangue, em nosso beijo. Empurro de leve seu peitoral tentando afastá-lo, porém ele me aperta mais , impedindo meus movimentos. Era sufocante, e ao mesmo tempo doloroso,ainda mais quando uma de suas mãos foi parar em meu cabelo, o puxando com força, mas não com desejo, mas como se estivesse me punindo. Por que sinto que estou sendo punida?

— Então... Eu vou indo nessa, Cat – avisa Patrick .

— Adeus, parceiro – despede-se Jean  do meu amigo ,voltando a me beijar.

Jean continua me segurando, mas consigo me afastar de seus lábios e encarar Patrick que demonstra estar completamente sem graça com a situação. As palavras sobem pela minha garganta, mas antes que saiam Patrick já está caminhando em direção oposta. Encaro Jean que está sorrindo diante da minha irritação:

— O que está fazendo? – pergunto me soltando finalmente de seus braços e quase caindo com tamanha força que tive de fazer.

— Oras, o que todo mundo está fazendo... Curtindo a Calourada – responde me encarando como se fosse óbvio demais. — Esqueceu que sou o organizador da festa?

— Não estou falando disso – retruco arrumando minha roupa. Jogo os fios rebeldes do meu cabelo para trás da orelha enquanto tento reformular minha pergunta — O que eu quis dizer é o que está fazendo me beijando aqui? Ainda mais depois de ontem...

— O que tem? – pergunta encolhendo os ombros.

— Achei que nós... Achei que eu tivesse sido clara a respeito de nós, ontem.

— E foi... como água. – comenta Jean, sério.

— Então, você entendeu o que eu quis dizer, certo? – pergunto mordendo meus lábios.

— Sim, perfeitamente , Catarina. – ele segura minha mão entre as suas e a leva para seus lábios, beijando-a. — Pensei muito no que disse e entendi o que você quer.

— Que ótimo – respondo , aliviada.

— Então, vamos – fala Jean puxando minha mão, me forçando a andar.

— Para onde? – pergunto, assustada praticamente correndo atrás dele.

Ele nem ao menos se vira. Tento parar algumas vezes, mas Jean continua me puxando, enquanto sinto meu pulso doer. Olho para a multidão procurando as meninas, Patrick, qualquer pessoa , mas não as encontro. O ambiente começa a ficar mais escuro, até que percebo que estamos atrás do palco de apresentações. Ele me puxa em direção a escada que dá acesso ao palco, me obrigando a subir. Depois disso tudo o que vejo é uma forte luz branca em minha direção, me cegando. Coloco minha mão em direção à luz, tentando enxergar alguma coisa... Finalmente Jean me solta, mas não sem antes seus lábios se aproximaram da minha orelha e soltar as seguintes palavras:

— Por você... para você.

****

—BOA NOITE , CALOURADA!!!!! – grita Jean no microfone. Ele caminha pelo palco enquanto o pessoal grita contagiado por sua energia. Olha para mim mais uma vez , dando uma piscadela e então se volta para o público — Estão gostando? Eu também!!! Hoje é um dia único, com certeza! Hoje vocês finalmente são considerados universitários por todos da UFMS!!! Hoje também é meu último dia na frente dos eventos da nossa amada Universidade. E assim como eu entrei , trazendo surpresas, quero terminar esse momento compartilhando algo meu com vocês. Quero que deem uma salva de palmas para Catarina!!!

A luz branca volta a focar em mim, tento fugir, mas as pessoas me impedem. Jean vem em minha direção e me puxa para o centro do palco, diante de todos que estão ali. E como se isso não fosse o suficiente , uma moça entra com um enorme buquê de rosas vermelhas e praticamente o joga em meus braços. Uma balada romântica começa a tocar ao fundo, algo que sem dúvida já tinha escutado no rádio de pilha da minha mãe. Como era mesmo o nome da música? Consigo ver minha mãe cantarolando aquela melodia enquanto fazia o pão caseiro... Jean está dizendo algo engraçado para o público que ri, então se aproxima , beija minha mão enquanto vejo suas pernas dobrarem... Em instantes ele já está de joelhos:

— Jean, o que está fazendo? – pergunto, mas minha voz se perde por  entre os gritos histéricos.

— Catarina, de todas as oportunidades que a vida me deu, a possibilidade de ter você do meu lado foi a que me deixou mais feliz. Ter você me faz sentir que tenho em minhas mãos o mais valioso tesouro do mundo, você é a única pessoa que me traz sorrisos aos lábios quando a tristeza estampada na minha face. Nada é mais confortável e prazeroso do que estar com você, do que sentir a sua pele macia e a sua meiga voz. A sua fala me soa como uma harpa angelical e o teu hálito lembra a hortelã recém colhida no jardim. Você é tudo o que eu sonhei e,por isso, eu sempre estarei disposto a lhe oferecer o melhor de mim. Por favor, me dê uma chance de provar o quão eu posso te fazer sorrir, eu quero estar ao teu lado; nos bons e maus momentos.Catarina, aceita namorar comigo?


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