Abusivo: A história que ninguém conta escrita por Pauliny Nunes


Capítulo 29
Capítulo 29




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Um pesadelo… Só foi um pesadelo… Eu preciso acordar.

 

Com uma certa dificuldade em abrir os olhos, eu só escutava algumas vozes, mas nada nítido, eu não conseguia identificar quem era, mas eram várias vozes, meu corpo parecia mais leve e eu conseguia respirar normalmente e finalmente consegui abrir os meus olhos.

Eu estava no quarto onde eu e Jean havíamos tentado conversar, ele estava de pé na porta junto com Sérgio, um outro rapaz que estava com um estetoscópio em volta do pescoço e a loira ao lado do Jean. Na poltrona próxima a minha cama estava Tereza e meu sogro em pé.

— Ela acordou ! - Anuncia Tereza. - Minha querida, está melhor? Você deu um belo susto na gente.

—  Jean? Jean… - Digo mas ele olha em minha direção fecha a porta saindo do quarto junto com Sérgio e a loira voltando apenas o rapaz com o estetoscópio que vem até minha cama.

—  Que bom que acordou Catarina, eu sou o Saulo, sou médico e psiquiatra. Preciso que fique calma e olhe para a luz que eu vou te mostrar.

Faço como Saulo me pede, ele me examina novamente, parecia ser gentil e só agora olhando melhor seu rosto que reparo ser o outro padrinho.

—  O que aconteceu? - Questiono.

— Você teve uma crise de ansiedade, provavelmente causado pelas emoções do casamento, mas como você desmaiou e caiu ao chão nos preocupamos se causou mais alguma lesão. Ao que parece você está bem. Tem histórico na família com alguma psicopatologia? - Diz Saulo enquanto se senta na beirada da minha cama.

—  Não… - Digo. 

— Vou apenas passar alguns calmantes para seu marido comprar depois e deixar a receita com ele, recomendo que evite qualquer situação de nervoso ou muita comoção, fora isso você está bem.

— Vamos deixar você descansar. - Diz Tereza se levantando da poltrona.

—  Chama o Jean para mim? 

Tereza apenas acena que sim, se retira do quarto acompanhada de Saulo e meu sogro mas ao abrir se deparam com Jean, eu me arrumo na cama para ficar sentada e sorrio.

— Ela não pode passar nervoso. - Diz Saulo que coloca a mão no peito de Jean. — Eu vou tirar a receita agora para vocês.

Todos terminam de sair do quarto ficando apenas Jean e eu no quarto. Ele fecha a porta mas fica parado ao pé da cama me encarando sério enquanto passa a mão no queixo.

— Jean… - Digo mas ele levanta a mão fazendo um sinal de para pra mim.

— Cala a boca… Eu não quero ouvir mais nada hoje. Vamos embora amanhã para São Paulo e vamos esquecer essa noite de merda! Foi um fiasco! Um fracasso! Por sua culpa. - Diz Jean segurando na madeira da beira da cama.

—  Minha culpa? Jean eu não…

— Tudo o que você fez foi reclamar, criticar e nada estava bom para você… Você vai descansar, aproveite a nossa noite de núpcias.

Ele sai do quarto e fecha a porta batendo com força, me deixando sozinha no quarto.

No outro dia, pegamos estrada para São Paulo e Jean não olhou para minha cara ou trocou uma palavra sequer comigo a viagem inteira, eu também não tive vontade alguma de fazer isso, ainda estava magoada e chateada da maneira como foi a festa de casamento no religioso, não sei se vamos fazer o casamento civil.

Ao chegar na cidade, ainda não estava muito habituada com as ruas e não lembrava como chegar até o apartamento, mas eu lembro bem da fachada do prédio, porém Jean entrou na garagem de um prédio com fachada diferente.

— Chegamos. - Diz Jean, terminando de estacionar e  desligando o carro.

— Casa nova? Deixa eu adivinhar sua mãe escolheu? - Retruco descendo do carro.

— Que ótimo que você está bem, já pode ir pegar suas malas sozinhas. Estamos no sétimo andar, apartamento 701. - Diz Jean ironicamente quando bate a porta do carro e sai andando em direção ao elevador.

Não era bem assim que eu imaginava chegar em casa depois de casada, sempre sonhei em meu marido me pegar no colo para entrar na porta, mas seria depois de curtir uma lua de mel maravilhosa em algum lugar romântico onde iria lembrar sempre desse momento encantador.

Jean acaba subindo sozinho de elevador me deixando para trás, eu pego as minhas malas e subo também sozinha. Abro a porta do apartamento e me deparo com um caminho de pétalas de rosas, o apartamento era maior, tinha conceito aberto com cozinha americana, uma bela sala espaçosa logo que entra e dá para receber amigos, estava  interligada a sala de jantar luxuosa e a cozinha parecia ser planejada com uma bela ilha central. ao lado do painel da TV havia uma porta dupla de madeira linda. Ainda da porta da entrada, dava para ver o corredor que levava ao resto do apartamento.

  Jean estava na cozinha, pegando uma garrafa de vinho da adega abaixo da ilha e uma taça dentro do armário de vidraçaria.

—  Era para ter alguma surpresa? - Digo parada na porta.

—  Era sim. - Jean responde seco e entra no cômodo das portas duplas e logo as fecha.

Essa situação já estava mais do que incômoda para mim, decido fechar a porta e deixar as malas um pouco adentro. Vou atrás de Jean abrindo as duas portas. Era o escritório do Jean todo em madeira, havia uma mesa enorme onde ele estava sentado atrás em uma cadeira enorme de couro e um notebook sobre a mesa onde Jean estava focado.

— Jean a gente precisa conversar. - Digo.

— De novo isso Catarina, estou de saco cheio de ouvir essa frase de sua boca. - Diz Jean sem olhar para mim.

— Eu não sei o que fiz para você me tratar assim e você me deve explicações. 

Jean vira a tela do notebook para mim e esta aberta na coluna social de São Paulo. Era uma matéria sobre nosso casamento e uma foto minha e dele no jardim.

— Pelo menos não falaram do seu showzinho e só tem elogios. - Diz Jean fechando a tela do notebook.

— O que isso tem haver com a gente? - Questiono cruzando os braços parada no meio da sala.

— Tudo Catarina! A minha imagem! A minha reputação! O meu emprego! - Diz Jean em pé atrás da mesa. —  Como você ainda pode ser tão ingênua com isso ainda? Como pode ser tão burra?

Fico calada, olhando para ele e tento segurar o choro, ele pode não perceber mas as palavras deles me machucam muito.

— Desculpa…

— Olha Catarina… Eu odiei a sua postura de ontem, mas eu vou relevar, afinal eu tentei fazer uma surpresa, fui com a melhor das intenções e você poderia pelo menos ter agradecido. - Diz Jean um pouco mais calmo e sentando na cadeira.

— Você tem razão… Eu estava chateada e não reparei a sua intenção. - Digo limpando algumas lágrimas do meu rosto. - Eu estava tão chateada com algumas coisas.

— Meu amor… Vem cá. - Diz Jean batendo no colo dele.

Eu vou até a ele, sento em seu colo já o abraçando igual uma criança que precisa de colo ao tomar um tombo.

— Eu imagino como a sua mãe tenha te tratado, sinto muito por ela não dar a benção. - Ele me abraça e faz carinho em meu cabelo.

— Eu não queria que fosse desse jeito, sem minha família, sem minha mãe, sem alguém comigo, só tinha estranhos… E as minhas amigas, por que elas não vieram? Você as chamou? A Tiemi ia ser minha madrinha.

— Eu sei meu amor, sinto muito mas elas não aceitaram o convite e Tiemi não atendeu a ligação…

—  E a lua de mel?

— Sobre a lua de mel, eu queria te contar antes, mas é que o trabalho não me liberou, mas te prometo recompensar nas minhas férias, viajando só eu e você para onde você quiser.

Jean segura meu rosto, limpa minhas lágrimas e dá alguns beijos nele.

— Vai ficar tudo bem minha Senhora Vasconcelos. - Ele diz rindo, me fazendo rir igualmente.

— Obrigado Senhor Vasconcelos. 

Jean me dá alguns beijos, coloca minhas madeixas atrás da orelha, me beija suavemente nos lábios, mas logo ele se intensifica no beijo, suas mãos ágeis apertam a minha cintura e me erguem colocando sobre a mesa. Jean dá uma arrumada na mesa enquanto ele me beija no pescoço.

—  Mas aqui? A nossa primeira vez? - Questiono.

— Primeira vez? - Ele ri. —  Eu vou te comer por toda essa casa enquanto for só eu e você.

Me sinto mal com essa fala dele, não sei porquê mas acabo perdendo a vontade de fazer amor, mas acho que apenas eu queria fazer amor enquanto Jean só queria… “me comer”.

Ele tira a minha blusa, eu não sei como dizer a ele que não estava mais no clima, apenas contínuo permitindo que ele continue, não queria frustrar ele mais e logo após tudo ter se resolvido entre nós. Era a nossa primeira vez como casados, primeira vez naquela casa e como ele disse… Primeira vez naquele cômodo.

— Você é deliciosa Catarina..

Jean continua beijando meu pescoço, abre meu sutiã e toma meus seios com ferocidade os chupando. Meu corpo corresponde a altura se arrepiando por inteiro enquanto sinto o volume em sua calça, mas Jean estava agindo como um animal, ele puxa a minha calça juntamente com a minha calcinha me deixando completamente nua. Eu mal olho para meu corpo e já me preparo para ser penetrada, apenas torço para não doer. Ágil e feroz ele me adentra, apenas urra em meu ouvido e dava para sentir sua respiração pesar. 

Seus movimentos começaram lentos mas logo estavam rápidos, ele me mordia e chupava a minha pele. Como sempre eu estava na torcida para acabar logo e mentir que havia gostado. Jean começa a gemer me dando os primeiros sinais que estava perto de gozar, até que ele agarra meu pescoço, me obriga a deitar na mesa e sua mão me enforca para meu desespero. Ele realmente parecia um animal, estava vermelho e ofegante. Mas finalmente ele goza dando aquelas estocadas mais fortes e sinto o líquido me preencher.

— Nossa… Isso foi… Demais. - Diz Jean saindo de dentro de mim e sentando na cadeira ofegante. —  Busca uma água pra mim amor? Estou cansado e sem pernas.

Apenas me levanto cobrindo meu corpo com as mãos, visto a minha blusa e a minha calcinha e vou para cozinha pegar água. As vezes penso se sexo é assim mesmo, se toda mulher goza ou nem todas gozam, dizem que algumas não sentem o orgasmo, mas as que sentem dizem que é uma descarga de energia. Lembro uma vez de uma conversa da minha mãe com a minha tia sobre casamento, que os maridos acabam parando de procura com o tempo pois eles se acostumam e quando vem os filhos simplesmente somem. Eu não quero negar o Jean, fico com medo dele procurar outra mulher se eu ficar negando, mas eu acredito que sexo não é para mim.

Volto para o escritório, Jean estava vestido e estava caminhando para a porta.

— Sua água. - Digo entregando o copo.

— Obrigado meu amor, mas preciso me arrumar, estou de plantão hoje e só volto perto do almoço. - Jean vira todo o copo, me dá um beijo na testa e me entrega o copo.

Mais uma noite sem ele ao meu lado, segunda noite sem dormir com meu esposo e eu sou uma recém casada. Não era assim que eu imaginava, na verdade tudo está sendo como eu não imaginava.

Os meus dias eram solitários quando Jean tinha plantão, se não eram os plantões era um dia normal de trabalho, mal via Jean em casa e quando ele estava, ele simplesmente transava comigo e dormia. Não tinha momentos como antes, de sair com ele, jantar com ele e conversar. Eu sempre deixava tudo pronto para ele não se atrasar, até mesmo suas roupas, queria ser útil de alguma forma já que eu não estava fazendo nada e isso estava me irritando. Acabou que criamos uma rotina, eu deixava pronto as refeições, arrumava a casa e deixava separada suas roupas para usar no outro dia. Demorou para entrarmos nesse eixo por algumas semanas, nas primeiras foi difícil e ele brigava comigo me culpando por seus atrasos.

Depois de eu fazer tudo que era necessário na casa, não tinha mais nada para fazer, um tédio enorme me tomava, já não queria mais ficar assistindo televisão ou lendo algum livro. Eu tinha uma vida, uma ocupação e eu não sabia ser apenas dona do próprio lar. Como a minha mãe disse, não me criou para ser apenas mulher de alguém, mas sim alguém e então eu decido fazer isso. Comecei a ver faculdades, para eu voltar a estudar e poder me ocupar.

Era uma manhã, Jean estava terminando de se arrumar e eu já havia deixado pronto o café da manhã na mesa. Peguei o notebook do Jean do escritório e deixei acima da mesa aberto na página de uma faculdade com mensalidades baratas. 

— Bom dia meu amor. - Diz Jean passando por mim e sentando na cadeira da ponta da mesa. - O que esse computador ta fazendo aqui?

— Eu queria te mostrar uma coisa. - Digo virando a tela do computador para ele enquanto ele começa a comer. — Eu estava pensando em voltar a estudar já que eu não faço nada o dia inteiro e…

— Não faz nada? Você limpa a casa, cuida de mim, lava as nossas roupas e isso é trabalho demais. - Responde Jean ignorando a tela.

— Sim mas isso pode continuar sendo feito se a gente contratar uma empregada e eu voltar a estudar.

Jean dá uma golada do suco dele, se encosta na cadeira, olha para a tela do computador e fecha.

— Pra que você quer voltar a estudar? Não está feliz com a sua vida?

— Estou sim mas…. - Quando tento terminar de explicar ele me interrompe.

— Tive uma ideia melhor. - Diz Jean segurando a minha mão e passando a mão em meu rosto. — Acho que você precisa marcar um almoço com a Laura, ela vai te ajudar a entender o seu lugar como esposa de médico. 

Jean se levanta dá mesa e me dá um beijo na testa, pega suas coisas e sai me deixando sozinha novamente e sem espaço para argumentar algo.

Eu penso na proposta do Jean de ligar para Laura mas eu não me sinto confortável com a ideia, não sei nem como abordar ela e entrar nesse assunto, mas eu vou tentar.

Vou no escritório do Jean, pego a agenda dele e disco o número no meu celular. A cada toque de chamada, minha garganta parece secar e eu estava torcendo para não atender.

— Alô? - Diz  uma voz feminina do outro lado da linha.

— Laura? - Digo apreensiva.

— Sim ela mesma, quem está falando?

— Sou eu, Catarina, a noiva… esposa do Jean Vasconcelos.

— Catarina querida! Eu ia te ligar ainda essa semana, estava apenas esperando a sua lua de mel acabar para te chamar para um almoço aqui em casa. - Diz Laura animada.

— Eu estava te ligando para saber se você deseja almoçar comigo hoje. 

— Que coincidência! Então venha almoçar comigo aqui em casa, precisamos conversar, posso enviar meu motorista ir te buscar, me passa o seu endereço no meu email e te vejo dentro de duas horas, pode ser?

Fico surpresa com a facilidade que ela teve de resolver tudo, eu ainda estava nervosa e transpirando pela mão.

—  Tudo bem. 

— Ótimo, então esta combinado, preciso desligar agora. Tchau querida. - Laura desliga.

Foi mais fácil do que eu esperava, estava nervosa e apreensiva a toa até. Ligo o computador do Jean, envio o email com o endereço daqui e começo a me arrumar logo em seguida. 

O carro estava me aguardando como combinado e sou levada pela primeira vez na casa dos Chateubriand. Era uma mansão grandiosa, tinham funcionários mexendo no jardim, havia uma funcionária me esperando na entrada, ela abre a porta do carro com um sorriso largo estampado no rosto.

— Senhora Vasconcelos, me chamo Clara, sou a governanta da casa dos Chateubriand. Por favor me acompanhe para levar ao encontro da senhora Chateubriand que lhe aguarda.  

Acompanho a Clara enquanto observo os detalhes da casa, logo no hall tinha uma escada grande e larga de madeira, forrada com carpetes vermelhos igual de palácios, tinham vasos de plantas, estátuas de mármore, realmente parecia um palácio. Laura desce as escadarias sorrindo para mim.

— Catarina! Como você está linda. - Diz Laura terminando de descer a escada e me cumprimenta dando beijos no ar nos dois lado do rosto. 

— Digo o mesmo para a senhora. - Digo sem jeito e sorrio para ela.

— Clara, o almoço está pronto? - Diz Laura se direcionando para a governanta.

— Estará pronto dentro de 30 minutos senhora. - Responde  Clara sorrindo.

— Vou estar  na sala de estar com Catarina, por favor nos chame quando estiver pronto e servido. Leve um suco para nós por favor, hoje o dia está muito quente e aumente o ar condicionado, sabe que odeio o calor. - Diz Laura que toca nas minhas costas suavemente e começa a andar. — Vamos querida e fique a vontade.

A casa era muito bela, cheia de janelas, espelhos, obras de artes em muitas paredes, havia um quadro dos Chateubriand com ela sentada em uma poltrona, Frederico em pé com um charuto na boca, havia uma menina e um menino de pé, um de cada lado do senhor Frederico.

— Tem filhos? - Pergunto apontando para o quadro enquanto andávamos.

— Sim, eles não moram mais com a gente. Minha filha está em Londres e meu filho está nos Estados Unidos. Eles estão casados, me deram netos e em breve pretendo me mudar para Londres quando o senhor Chateubriand se aposentar.

Chegamos na sala de estar, parecia uma biblioteca, mas era mais clara e tinha abertura para um jardim. Havia um piano de cauda branca. Laura se senta em uma poltrona de encosto alto e eu me sento em outra próxima a ela.

— Como foi de lua de mel? - Pergunta Laura.

— Não teve… Jean tinha que trabalhar, mas vamos viajar em breve quem sabe.

— Entendo, na minha lua de mel, tivemos que voltar antes do tempo pois Frederico teve uma emergência no hospital. Ser mulher de médico é difícil e era sobre isso que eu queria falar com você.

Clara entra na sala segurando uma bandeja, uma jarra de ferro, copos com gelos, canudos e biscoitos em um prato. Ela deixa na mesa de centro próximo a nós e logo sai de  imediato.

— Como está sendo a vida de casada? Sendo agora a Senhora Vasconcelos. - Questiona Laura servindo para mim e para ela o suco.

— Sendo sincera? Entediante, eu queria voltar a estudar, talvez até trabalhar.

— Querida, ser mulher de médico, é um trabalho árduo, eles precisam de nós para organizar melhor a vida deles, resolver problemas domésticos... mas é claro que devemos pedir a opinião deles para eles não se sentirem excluídos das decisões da casa, mas a casa é a gente que cuida. Marido feliz terá um casamento feliz.

— Mas Jean e eu decidimos que eu iria voltar a estudar. 

— Vou te contar um caso, de uma esposa de médico. - Ela bebe um pouco do suco e o coloca na mesa. 

— O Doutor Xavier, é um neurocirurgião de nosso hospital, ele tinha uma esposa chamada Sandra Xaxier, ela é uma promotora, então ambos trabalhavam demais e mal se viam. Ela não cuidava dele e nem da casa por ser muito ocupada. O Doutor Xavier começou a se envolver com a Liliana, uma enfermeira que trabalhava juntamente com ele, ela cuidava dele, dava atenção e com isso ele deu um apartamento para ela. Ele começou a passar mais tempo com a Liliana do que com Sandra, até que eles se separaram. - Diz Laura, contando tranquilamente a história.

— Se Jean me trair, eu me separo dele também. - Disparo irritada.

Para minha surpresa, Laura pega a minha mão e me olha seriamente.

— Não seja tola menina, vocês são recém casados, agora ele te procura bastante, mas tudo muda com o tempo e… - Ela solta a minha mão, fica séria e olha para a aliança em sua mão. — Às vezes eles vão ter casos, mas não significa nada para eles, simplesmente para aliviar o estresse do trabalho, mas eles sempre ficam com a gente. O Doutor Xavier apenas trocou Sandra porque ela não era uma esposa presente. Agora a Liliana é a nova Senhora Xavier, eles tem uma filha juntos e estão com um casamento forte.

— Nossa…- Digo pasma me encostando na poltrona.

— Eu estou casada a mais de 35 anos, o senhor Chateubriand já teve alguns casos durante os anos, eu sabia e as conhecia pois eram enfermeiras, mas… Ele nunca se separou de mim e até preferia que ele tivesse um caso ou outro, porque ai não me perturbava me procurando para fazer… amor. - Diz Laura olha para mim e sorri novamente. — Mas o que você prefere Catarina, ter um casamento longo ou curto?

— Longo mas… - Ela me interrompe.

— Então você fará de tudo para apoiar seu marido, vai suportar o que for e o deixará sempre feliz. Vocês são novos, Jean está começando a carreira, você vai usufruir de todo o fruto deste trabalho e depois chega os filhos para melhorar tudo. - Diz Laura parando para tomar mais um pouco do suco.

— Como você conseguiu aceitar as traições? 

— Por amor, todas nós amamos muito nossos maridos, nossos casamentos e nossas famílias, eu jamais abriria mão fácil depois de tudo que a gente faz por eles para uma outra qualquer pegar de mão beijada. Eu amo Frederico, eu sei que ele jamais vai me largar por outra ou por uma mais nova. São anos de casamentos, de dedicação, trabalho e companheirismo. Apoie seu marido Catarina, sempre.

Eu fico olhando para aquela senhora de cabelos brancos, haviam várias retratos, fotos deles dois pelo lugar, sempre felizes e sorrindo. Dava para sentir que se amavam naquelas fotos só não imaginava que tiveram dificuldades e tristezas.

— Eu tenho uma proposta a fazer a você. - Laura se aproxima e pega na minha mão novamente. - Nós temos um clube para esposas de médico, falando assim parece besteira. Nós sempre nos reunimos a tarde aqui para o chá e trabalhamos nas ONGs ligadas ao hospital. Venha participar, assim ocupa o tempo mas não muito.

— Eu vou pensar nessa proposta. - Respondo.

— As meninas estão vindo para o almoço, eu posso te apresentar a Liliana, vocês têm quase a mesma idade e Liliana tem alguns anos de casamento. Eu sei que Jean adoraria que você participasse de nossas atividades e por favor não diga que eu contei sobre a história de Liliana, ela não gosta de ser rotulada de amante.

O almoço fica pronto, logo as outras esposas de médicos chegam, todas em seus carros de luxos, bem vestidas,usando joias, pareciam celebridades e todas bem educadas. 

— Quero apresentar a vocês a Senhora Vasconcelos, ela é a esposa do Jean Vasconcelos o nosso mais novo médico.

— Eu o conheci, ele cuidou tão bem da Larissa. - Diz uma loira, que era notável que mexia no rosto. — Eu sou a Liliana, a Senhora Xavier. - ela vem me cumprimentar.

— Eu estava no seu casamento, realmente foi lindo e você estava bela. - Diz uma morena que não tinha o rosto mexido, seu cabelo era longo e liso. — Prazer em te conhecer Catarina, eu sou a Marcia, esposa do Doutor  Luís Carvalho, então eu sou a senhora Carvalho. 

— Vamos meninas nos sentar, o almoço vai esfriar. - Anuncia Laura que começa a andar para o local onde vai ser servido o almoço.

Durante o almoço, elas começam a planejar o próximo evento para arrecadar fundos para uma das ONG que elas participam, mas sempre pedem opinião e como se fosse autorização de Laura. Parecia que ela era a líder desse grupo de mulheres que só vivem para trabalhar nessas ONGs ligadas ao hospital, vivem para seus filhos e maridos.

— Preciso ir, hoje meu marido sai do plantão, ele deve estar exausto, preciso fazer uma harmonização na casa e me preparar para massagear ele. - Diz Liliane.

— Você realmente fez o curso de massagista? - Questiona Marcia. 

— Sim, uso apenas com ele, melhorou muito o humor dele quando chega em casa, a harmonização também, é só colocar velas e incenso pela casa. - Diz Liliane sorrindo.

— Eu espero o meu marido sempre com comida pronta. Ele parece um esfomeado quando sai de algum plantão. - Diz Márcia. - Vou tentar as velas e o incenso.

— Frederico prefere uma banheira de água quente com sais de banho. - Diz Laura - E você Catarina? Como Jean prefere?

— Eu ainda não sei. - Digo Constrangida.

— Laura, eles são recém casados, talvez ainda seja o sexo. - Diz uma mulher de meia idade com cabelos curtos pretos e alguns fios brancos. — Ainda me lembro dessa fase, ainda bem que acabou. - Todas acabam rindo.

— Talvez seja melhor esperar ele de lingerie e a luz de vela. - Diz Liliana. — Olha ser esposa de médico pode até ser difícil, mas com o tempo tudo melhora, você vai ver e pode sempre contar com a gente, somos suas amigas agora.

 

Eu olho para todas, que sorriem para mim e fico questionando como elas conseguem? Como podem ver isso como trabalho e ocupação? Saio dali com medo de meu casamento com Jean não durar muito. Fico pensando nos conselhos que Laura deu, como cada esposa realmente está ali se dedicando para tudo dar certo, se esforçam e amam seus maridos. Todas pareciam ser felizes até mesmo Laura que foi traída e aceitou os deslizes de seu marido por amor.

Chego em casa, estava escurecendo já e o apartamento estava todo apagado. Jean não havia chegado e eu fico encarando aquele lugar. Quero ser feliz, fazer aquele lugar um lar feliz, deixar meu marido feliz e fazer dar certo meu casamento. Olho para a minha aliança, faço um carinho nela e decido que vou fazer de tudo para meu casamento dar certo e digo para mim mesmo: 

Não vou perder o Jean


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