Aulas de Matemática para Ticci Toby escrita por Naoki


Capítulo 1
Capítulo único


Notas iniciais do capítulo

Oh, hai! Eu sei que a comunidade das creepypastas está bem debilitada e quase não se falam mais delas no fandom. Mas hey... eu vim trazer um feixe de esperança. Sendo você um fã ou não, não há necessidade de saber muito sobre os personagens para entender a história. E se você nunca ouviu falar, fica aí uma indicação, vale a pena conferir cada um deles.
É isto! Boa leitura e muito obrigada :>



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"Dois, quatro, seis..." Toby tentava exasperadamente fazer um cálculo mental enquanto separava o que sobrou de suas moedas. Seu esforço, no entanto, era inútil, já que sempre confundia adição com multiplicação. E ele mesmo detestava admitir que havia esquecido de como subtrair. Sua expressão atordoada denunciava facilmente a dificuldade que tinha para realizar uma simples conta, embora tentasse esconder. Não demorou muito para que todos os Proxys — exceto um — logo ficassem sabendo disto e tornassem Toby um saco de pancadas perfeito para piadas de mal gosto. Sim, ele havia esquecido, mas lá dentro ainda carregava a esperança de conseguir lembrar. E era exatamente o que estava tentando fazer. Sua busca estava parecendo quase uma obsessão.

Uma gotícula de suor emergiu no canto de sua testa. Suas mãos estavam frias e úmidas, de modo que quase não dava mais para manter o lápis sob domínio de seus dedos. Era uma dor de cabeça que estava sentindo martelar seu crânio? Tanto faz. Assim como no dia anterior, ele desabou sobre a folha de papel rabiscada com números aleatórios e fórmulas "sabe lá Deus" de onde ele tirou. Seu rosto agora estava abraçado ao material duro e gélido da mesa. Qualquer um que passasse por ali poderia jurar que Toby estava morto, pois sua posição estava perfeitamente encenada.

Não era como se o garoto tivesse esquecido apenas a matemática, e sim da sua própria essência e raciocínio. Quem sabe o que mais ele poderia acabar esquecendo daqui a alguns meses ou dias? 

Enquanto ainda estava debruçado sobre a mesa choramingando sua incompetência, eis que outro Proxy surge na cozinha em busca de algo para beber. Era Masky. Inicialmente ele apenas constatou a presença de Toby e o ignorou, como habitualmente fazia. Mas ao conseguir o copo de água que tanto almejava beber, começou a se perguntar o que havia acontecido ao garoto cabisbaixo. Nem seu tórax, em sincronia com sua respiração, parecia se mover. Não era o tipo de situação que alarmava o lado preocupante de Masky, mas o deixou levemente apreensivo e desconfiado. Como quem não quer nada, o jovem mascarado se acomodou em uma das cadeiras e observou o garoto, cujo rosto permaneceu virado para baixo. Era impossível saber se ele estava acordado, dormindo ou...

Masky ainda estava com o copo em mãos quando, motivado por uma onda de curiosidade mórbida, cutucou o ombro do garoto, que respondeu com um grunhido. Masky suspirou. Não sabia discernir se era de alívio ou de decepção consigo mesmo por ter pensado no pior. Ele voltou a esboçar sua típica expressão de tédio quando Toby lentamente ergueu a cabeça.

 

— Você por acaso dormiu aqui noite passada? — indagou Masky, claramente não interessado, mas ainda querendo saber. 

— Eu estou acordado desde ontem — respondeu Toby, fazendo Masky se engasgar com a água.

 

O mais velho não disse nada, mas era evidente todo o esforço que Ticci Toby estava fazendo apenas para conseguir fazer uma conta. Talvez ele precisasse de ajuda? Mesmo que a resposta fosse sim, Masky dificilmente se daria ao trabalho de ensiná-lo.

 

— E o que você está calculando?

— A soma das minhas moedas. Eu tenho a impressão que perdi a maior parte delas depois que o Jeff me vendeu uma de suas raras HQs.

 

Inesperadamente, Masky começou a rir. Ele riu tanto que Toby acreditava jamais viver o suficiente para presenciar isso. Começou a se perguntar se ele não estava sendo o motivo de suas gargalhadas.

 

— "Raras HQs"? — disse Masky, enquanto tentava recuperar o fôlego — Não é por nada não, Toby, mas acho que o Jeffrey passou a perna em você.

— Ele o quê?

— Todos sabem que o Jeff não tem nenhuma HQ "rara" dentro da espelunca que ele chama de quarto. Na verdade, ele sequer tem uma HQ. Não me surpreenderia se ele tivesse roubado uma do Ben apenas pra enganar você. Deve ter se aproveitado da sua burrice pra levar mais dinheiro do que realmente seria cobrado por uma revistinha — explicou Masky, terminando de beber sua água.

 

Toby foi deixado como um idiota, ludibriado pela sua própria inocência. É certo que ele acertaria as contas pessoalmente com Jeff mais tarde, mas agora estava se lamentando pelo que fez e pelo que jamais retornaria ao seu bolso. No meio de suas risadas, Masky foi levado a sentir pena do garoto. Querendo ou não, ele foi enganado. Mais de uma vez. E isso só iria mudar se uma coisa fosse feita. Masky puxou a folha sobre a qual Toby estava debruçado e em poucos segundos conseguiu fazer toda a soma das moedas que restaram. 

 

— 15 centavos?? — indagou Toby, incrédulo — Meus 20 dólares em economia se transformaram em 15 centavos?! 

— Pois é. Então parece que Jeff tomou de você 19 dólares e 85 centavos em uma revista que provavelmente custa, vejamos... No máximo $3,50.

 

Toby não abriu a boca, mas por dentro já havia xingado Jeffrey de todas as formas possíveis. A raiva e a tristeza disputavam a liderança dentro de sua mente, deixando-o atordoado. Ele apenas cobriu o rosto com uma das mãos e entre os planos para recuperar o que foi perdido, estava também o funeral de Jeff.

 

— Como você fez isso?

— Isso o quê?

— A conta! Como você a fez??

 

E num instante, toda a liberdade de Masky e as horas de folga que havia reservado para treinar seu arremesso de facas foram por água abaixo. Não tinha como voltar atrás, ele devia ensinar o Toby se quisesse ao menos conseguir dormir à noite.

 

[. . .]

 

— Mas isso não faz sentido!

— Esquece o "sentido", se você quiser aprender não entenda, apenas faça!

— Mas como eu vou fazer se não entender? 

— Você já tá esfolando a minha paciência, imbecil! Você quer deixar de ser um questionador para se tornar menos idiota? Então faça, porra! 

 

Toby já ia começar a expressar seus pensamentos em palavras quando se ouviu um pequeno "click" logo atrás deles, na entrada da cozinha. E lá estavam Eyeless Jack e Hoodie, que segurava sua clássica filmadora, claramente a responsável pelo barulho.

 

— Vocês parecem pai e filho discutindo uma partida de futebol em que são rivais — disse Jack, adentrando o cômodo juntamente com Hoodie. 

 

O garoto de máscara azul estava caminhando em direção a um dos assentos vazios da mesa quando esbarrou propositalmente no ombro de Masky, que praguejou.

 

— Se não quer ajudar, ao menos não atrapalha, Jack — disse.

— Mas eu não falei nada de mais — defendeu-se o outro, enquanto apoiava os pés na mesa e acomodava os braços atrás da cabeça. 

 

Masky bufou. Ele podia ser ausento de muitas emoções, mas se tinha alguém além de Toby responsável por tirá-lo do sério, esse alguém era Eyeless Jack. Hoodie se manteve de pé, observando tudo através de sua câmera e em completo silêncio. Ele era um rapaz de poucas palavras, preferia gesticular ao invés de falar. Mas agora que estavam todos reunidos ali, provavelmente Toby já não corria mais tanto risco de ser atacado por Masky. Ele continuou a resolver as contas por si mesmo depois de receber inúmeros exemplos. Mas não havia acertado nenhuma desde então. 

 

— E agora? — indagou Toby, entregando a folha ao Masky e torcendo para que ao menos aquela estivesse certa.

— Mas que porra é essa que você fez aqui, Tobias? Tá tentando virar físico agora? Porque tem um "a" no meio da subtração?

 

Toby simplesmente deu de ombros, nem ele havia percebido isso. Jack começou a rir, muito parecido com o que Masky havia feito antes, mas desta vez não era Toby o motivo de sua risada.

 

— Tá de brincadeira, né Timothy? — interveio o garoto de máscara azul, tomando a folha da mão de Masky — Se eu fosse você já teria me aposentado.

— Não me chame de Timothy... — repreendeu Masky, tomando o ar mais sério e sombrio de que era capaz. 

— Olha só, Toby, isso é mais fácil do que parece. O Tim só tá tentando enrolar você — Eyeless Jack se levantou para sentar perto de Ticci Toby.

 

Masky se corroeu por dentro. Nunca antes a cara de Jack havia pedido para ser quebrada como agora. No entanto, ele apenas cruzou os braços e mentalizou toda sorte de palavrões que conhecia. O dia estava sendo longo demais, e não era domingo. Eyeless Jack explicou os mesmos conceitos de Masky, mas com um linguajar menos formal. Entorno de alguns instantes, Toby havia se lembrado e conseguiu finalizar sua primeira conta da maneira certa.

 

— O que? Você conseguiu? — Masky tomou o cálculo e o analisou. Estava correto.

— Eu disse — orgulhou-se Jack.

— Mas ainda falta aprender divisão e multiplicação — anunciou Toby, fazendo o clima de vitória parecer uma caminhada árdua que ainda não fora finalizada. 

 

Masky foi o primeiro a jogar a toalha, se levantando da cadeira para ir descansar. Seu queixo quase despencou quando viu que já estava escuro lá fora. O descanso da tarde agora seria uma longa noite de sono. Ele saiu da cozinha pisando duro no chão. Toby se sentiu mal pela ausência de Masky. Mesmo xingando dezenas de vezes e com seu pavio curto, Ticci Toby percebeu como Masky se dedicou a ensiná-lo. Mas agora sem ele por perto, ainda tinha mais alguém para ajudar...

 

— Você vai me ensinar, Jack? — indagou Toby, esperançoso.

— Uhh, bem... Eu... — Eyeless Jack começou a andar para trás — Hoje é o segundo mês de verão, oportunidade perfeita para roubar os rins de uns turistas desavisados. Talvez outro dia, garoto!

 

Toby suspirou enquanto Jack dava as costas e saía pela porta dos fundos. Mas ainda havia mais alguém...

 

— E você, Hoodie?

 

Pela primeira vez desde que entrou na cozinha, Hoodie abaixou sua câmera e se sentou perto de Toby. Ele não havia falado nada, mas sua aproximação dizia que ele iria ajudar. Ticci Toby se animou e separou todas as folhas em branco que ainda tinha.

 

— Ótimo, você será meu instrutor!

— Eu não posso... — respondeu Hoodie.

— Por que não?

— Porque eu também não sei matemática...

 

E naquela noite, dois garotos passaram o tempo discutindo suas teses totalmente erradas sobre como resolver cálculos matemáticos.

 


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Notas finais do capítulo

É isto, meus amigos. Só uma historinha pra reviver o fandom das creepypastas e talvez deixar mais algumas pessoas interessadas em conhecê-los. Eu sei que foi longo, mas a empolgação que me dá em escrever qualquer coisa sobre esses caras é inegável.
Obrigada se você leu até aqui e fique com Rikudou.

Bai~