Entre o Céu e o Inferno. escrita por Sami


Capítulo 7
Capítulo VI


Notas iniciais do capítulo

Olá amores, mais um capítulo para vocês totalmente do ponto de vista do nosso querido Kambriel.

Boa leitura!



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CAPÍTULO VI                 

Um pouco mais de cinco minutos se passaram desde a saída apressada da filha do pastor Jacob West da igreja, algo que Kambriel julgou ser fora do comum e um tanto esquisito de sua parte. Ele havia percebido a estranha inquietação por parte dela e principalmente como isso pareceu ficar ainda pior após a chegada inesperada do pastor Jeffrey. Algumas perguntas se formaram em sua mente assim que o arcanjo percebeu a mudança drástica de comportamento da jovem, entre tantas perguntas a que mais parecia fazer sua cabeça doer: Por que ela não quis ficar quando estava muito óbvio para ele que, era ela quem parecia querer falar com o homem? 

Essa mesma questão foi simplesmente deixada de lado no segundo em que deu-se conta de que, o homem apresentado como pastor Jeffrey poderia também lhe ajudar com a sua missão — apesar de não querer envolver nenhum outro humano naquela história, Kambriel viu que precisaria de ao menos uma pequena ajuda vinda do mundo dos homens para se situar melhor no que realmente acontecia naquela cidade — e por isso aceitou o convite feito pelo mais velho em ficar na igreja e conversar. Antes de descer para a terra havia se preparado para fazer as perguntas certas, isso quando ainda tinha em mente que quem o ajudaria nisso seria o pastor West, mas com as mudanças inesperadas de seu plano, foi necessário que, ele também se adaptasse à nova situação. 

Kambriel era um conhecedor nato da palavra e por ser um dos filhos Deleseu conhecimento para com o mundo religioso era infinito e até mesmo mais vasto do que o do novo pastor. Algo que sabia sobre o mundo dos homens era da necessidade que eles tinham em procurar algum líder religioso para lhes ajudar ou aconselhar, por isso não se espantou com a reação do pastor ao dizer o real motivo para querer aquela conversa.  

— As mortes que vêm acontecendo aqui na cidade, o que o senhor pode me dizer sobre elas? — A pergunta feita pelo arcanjo veio como um soco notável no rosto do mais velho que, ao escutá-lo teve sua expressão facial modificada em uma fração de segundos que beirava a algo incomum até mesmo para um ser celestial como ele.  

Provavelmente o homem estava esperando por algum pedido de oração ou conselho, mas Kambriel não precisava disso. Antes de respondê-lo o homem limpou a garganta, mostrou-se tenso por estar prestes a contar sobre aquela estranha desgraça que tem feito de uma cidade inteira um verdadeiro caos. 

— Entendo a sua curiosidade nesse assunto e percebo que também não seja de Grória, mas por que o claro interesse em algo tão horrendo? — Questiona o pastor, olhando na direção do rapaz enquanto pegava uma de suas tantas bíblias e a arrumava na escrivaninha ao canto.  

Nesse momento Kambriel precisou pensar rápido no que iria dizer ao homem, afinal não poderia simplesmente contar a ele que era um arcanjo enviado a terra para combater aquele mal. Mentir ia contra sua natureza, mas se viu sem saída.  

— Sou jornalista — A mentira fez com que algo dentro de si o incomodasse fortemente, era natural da raça humana contar mentiras e dizer aquela, mesmo que tão simples e boba, pareceu transformá-lo em um dos piores homens daquela terra. — Estou escrevendo uma matéria sobre o que têm acontecido por aqui e preciso saber sobre isso do ponto de vista de quem vive na cidade. 

Sua fala pareceu convencer o pastor e apesar de saber o quão errado era tal atitude, mentalmente o arcanjo agradeceu por isso. Ainda que existisse em seu ser interior um grande e forte incômodo pela mentira contada.  

O pastor Jeffrey caminha por seu escritório e para de frente para a única janela existente ali, do lado de fora era possível ter uma pequena visão das folhagens da árvore que se encontrava bem de frente para ela, impedindo que ele visse além do que o vasto verde. Kambriel percebeu que falar sobre o assunto parecia causar no homem algo desagradável e isso era visível na forma como ele passou a se portar.  

— É difícil de explicar, há aqueles que acreditam que isso se trata de um daqueles assassinos em série causando todo esse pânico por aqui como é visto nos filmes, a polícia e muitos outros sequer sabem dizer exatamente o que acontece, mas honestamente... — Ele fez uma pausa breve, se aproximando de onde o rapaz estava sentado, olhando-o mais seriamente. — Tenho uma opinião mais pessoal quanto a isso, não sei se poderá escrever sobre ela.  

O arcanjo estreitou levemente seus olhos, dessa vez sendo ele a olhar para o homem mais velho de forma séria. 

— Toda opinião é bem-vinda, — Diz, sentindo-se estranhamente curioso sobre o que seria dito pelo pastor. — Como disse antes, quero saber dessa história do ponto de vista daqueles que vivem aqui, que estão tendo contado com isso. 

O homem assentiu.

— Acredito que tudo isso seja um castigo divino. — O pastor Jeffrey conta, apoiando parte de seu corpo já envelhecido na poltrona livre. Desviando por curtos segundos seu olhar do outro. — Uma punição do alto, se preferir nessa linguagem.  

A revelação dita pelo pastor mais velho fez com que o rosto do guerreiro se transformasse também e logo adquirisse uma expressão confusa em sua face tão perfeita. Foi instantâneo, um amontoado de pensamentos começara a ganhar vida dentro de sua mente e ele precisou de um tempo para pensar melhor no que ouviu e também para reorganizar-se.  

— Castigo divino? — Questionou depois de um minuto de silêncio, unindo as sobrancelhas enquanto mantinha seu olhar fixo no homem mais velho à sua frente; ele também a lhe encarar da mesma maneira fixa. — E por que o senhor acha isso? 

— E por que não seria? — Pergunta de volta. — A nós, seres humanos, nos foi dado o livre arbítrio, podemos fazer o que bem queremos e quando queremos e muitos aqui estão abusando dessa liberdade, você viu a igreja e como ela está... Acredite, antes não era assim, nesse horário existia aqueles que vinham até aqui para pensar ou simplesmente pedir por algum tipo de ajuda, mas hoje, as coisas mudaram. Mudaram muito.  

— Está dizendo que todas essas mortes que estão acontecendo é um... 

— Estou dizendo que estamos sendo punidos por largá-Lo. — O pastor o interrompe. Gesticulando com uma mão para dar ênfase a sua fala ao mencionar o Senhor.  

Aquilo que o pastor lhe contou o pegou desprevenido, Jeffrey era o primeiro humano com quem o arcanjo estava trocando mais do que cinco palavras e podia dizer que houve uma confusão em si na forma como deveria se sentir com suas palavras, existia a surpresa pelo pensamento do homem ser dito com tanta firmeza e certeza e também existia a confusão causado pelo motivo que ele achava que tais mortes eram um tipo de castigo divino.  

— Pastor, com todo o respeito, mas isso não é um castigo. Acredite, Ele não está punindo o senhor e nem a ninguém. — O arcanjo diz, suas palavras e tom de voz carregados de uma certeza que somente ele carregava. Ele não poderia prová-la ao homem, mas estava certo de suas palavras, caso contrário, por qual outro motivo teria sido enviado à terra se não fosse para dar um fim em tudo aquilo e trazer tranquilidade para aquelas pessoas?

— Não digo que seja uma punição do alto e sim daqueles que vivem abaixo de todos nós, um castigo divino que não vem dos céus e sim do inferno. Quanto mais distantes estamos Dele, maior é a brecha para que demônios e todo esse mal que acontece aqui tenha a liberdade e a força necessária para causar tanto pânico e mortes. — Explica, Kambriel conseguiu compreender um pouco a fala do homem e a ideia de que ele tinha. Apesar de não saber sobre isso, o pastor Jeffrey estava certo sobre achar que as mortes eram obras de demônios, mas tal informação não poderia ser dita assim para um humano. Mesmo este sendo um servo Dele. — As pessoas estão sendo mortas sem um tipo de explicação plausível, o pai da jovem que estava aqui a pouco morreu da mesma maneira terrível e até agora a polícia não consegue encerrar esse caos...  

Continuou a dizer, o pastor se mostrava firme em sua fala, o que podia ser um tanto preocupante. Já vira isso acontecer antes e a pessoa começou a seguir um caminho do qual seu fim não fora nada agradável.  

— Pastor, tenho certeza de que essa situação não seja uma punição para essa cidade, independente de qual dos lados ache que ela venha. — O arcanjo começa a falar. Seu tom seguindo um tipo de calma que mostrou ser estranha ao homem mais velho. — O senhor é um homem que conhece a palavra, então deve saber que demônios não possuem esse tipo de autoridade e mesmo que possuísse acredito que haveria algum tipo de intervenção, certo?  

Pergunta, sabendo que o homem estava olhando para a resposta e sequer tinha noção disso.  

— Eu duvido muito que causaríamos esse tipo de comoção — Confessa de forma pesada, como se suas palavras fossem uma verdade dura de serem aceitas. 

— Duvida Dele e de sua compaixão para com a raça humana? — Kambriel fez uma pergunta, dessa vez seu tom tornou-se sério e estranhamente firme. Os homens e suas constantes dúvidas sobre o Senhor, causava nele um sentimento próximo a raiva.  

— Não estou duvidando, mas já estamos vivendo esse terror por dois meses, é normal que tenhamos nossas fés abaladas — Diz, novamente surpreendendo o arcanjo com suas palavras. Pensativo, ele levanta-se de sua cadeira, sentindo que precisava fazer isso, enquanto cada palavra dita pelo pastor parecia martelar em sua mente. 

Kambriel vira-se de frente para alguns dos quadros que o pastor tinha em sua sala, na verdade eram duas pinturas antigas. Duas delas fazendo uma alusão do que o pintor imaginou como seriam os anjos e os demônios e a segunda atraindo mais a sua atenção. Era uma pintura mais elaborada, mostrando como esse mesmo pintor imaginava uma batalha entre os dois lados. As duas pinturas fizeram com que ele pensasse um pouco mais a respeito do que escutou até aquele momento, contudo algo aconteceu atraindo sua atenção de volta para o pastor.  

Durou apenas três segundos, para um humano isso não seria absolutamente nada demais, mas para o ser celestial, foi como se os poucos segundos fossem como minutos. Algo demorado e torturante. A luz do escritório piscou repetidas vezes e uma presença estranha pareceu tomar conta ao mesmo tempo em que ele sentiu como se algo passasse ao seu lado.  

— Grória está um verdadeiro caos, meu jovem. Se vivesse aqui saberia como as coisas estão e não digo mencionando apenas as pessoas, mas me refiro a tudo por aqui... — O pastor voltou a falar e Kambriel seguiu sua voz, virando-se para olhar o homem e também como uma forma de conferir se ele percebeu aquela estranha mudança de ambiente. —  A verdade é que...  

O homem interrompeu a própria fala, pareceu ter as palavras engasgadas em sua garganta. Jeffrey tentava limpar a garganta para retomar sua fala, mas parecia que existia algo que o impedia de fazer isso. Percebendo isso, o arcanjo fez menção de se aproximar do homem a fim de ajudá-lo, mas parou quando sentiu o odor forte de enxofre preencher aquele lugar. Foi então que o pastor pareceu começar a se sufocar sozinho. Seu rosto começou a ficar avermelhado e levemente inchado, os olhos se arregalavam em um medo notável e foi possível até mesmo perceber o desespero no homem já idoso.  

— Pastor Jeffrey! — Kambriel se lançou sobre o homem o segurando com os braços ao se dar conta que ele parecia estar prestes a cair, em agonia o homem tentava ainda falar, sua boca estava aberta e apenas um som desconexo saía de seus lábios. O arcanjo não sabia como ajudá-lo, pousou uma mão sobre o peito do homem e iniciou o que seria uma massagem, mas aquilo se mostrava ineficaz e praticamente inútil para a atual situação.  

O cheiro de enxofre seguia a predominar o ambiente, a luz voltou a piscar como aconteceu momentos atrás. O ser celestial sabia o que estava acontecendo e mesmo que seu lado guerreiro estivesse pronto para procurar pelo demônio, ele não podia simplesmente largar o homem naquele estado.  

— Zarael! — Bradou ele com força. Sua voz preencheu todo o escritório com extrema potência fazendo alguns dos papeis sobre a mesa voarem para uma direção qualquer e algumas páginas da bíblia aberta sobre a mesma serem folheada. A autoridade em seu tom foi o suficiente para deixar claro que aquilo não mais era um pedido e sim uma ordem para que o demônio aparecesse.  

Os olhos azuis e já tomado por fúria do arcanjo correram por todos os quatro cantos daquele escritório, ele conseguia sentir a presença do demônio, contudo este não estava se mostrando. E isso o preocupou por dois motivos. Demônios não podiam entrar em templos religiosos, seja qual fosse a religião. E o que estava acontecendo com o pastor naquele momento era o que muitos humanos chamavam de possessão. O demônio não estava apenas tentando matar o homem, isso era óbvio, mas estava tentando feri-lo de alguma maneira enquanto tentava possuir seu corpo, além de também ter ultrapassado uma hierarquia divina da qual nem mesmo Kambriel sendo um dos guerreiros do Céu podia fazê-lo.  

— Zarael! — Esbravejou novamente, contudo nada aconteceu. Provavelmente nem era o demônio do caos que estava por trás daquilo e isso causou no arcanjo uma preocupação que pareceu pensar em seus ombros. A vida daquele homem estava literalmente em suas mãos, ou ele ficava e enfrentava o demônio ou ajudava o pastor.  

Kambriel então deitou o homem no chão, fazendo-o com cuidado. Colocou-se de joelhos e estendeu ambas as mãos sobre o corpo do homem quase o tocando. O rapaz continuava a sentir a presença estranha dentro do escritório e isso o estava desconcentrando, seu lado guerreiro batalhava internamente contra ele mesmo para enfrentar aquela situação como faria se ainda estivesse com seu real corpo.  

Lutando contra seus próprios instintos de guerreiro, Kambriel fechou os olhos e começou a oração própria para àquele tipo de situação. As palavras eram ditas numa língua desconhecida pela raça humana, apenas os seres do céu e inferno conheciam tal idioma. Conforme as palavras eram ditas pelo arcanjo, ele sentia que aos poucos a presença ia perdendo mais força, ao ponto de ele não mais senti-la como antes. A luz que antes piscava de forma constante, parou e queimou, deixando-o no escuro, mas isso passava longe de ser um incomodo para ele.  

Já o pastor estava inconsciente, o coração batendo acelerado em seu peito. O inchaço de seu rosto aos poucos o deixando assim como a vermelhidão que também estava presente antes. Quando o arcanjo percebeu que tudo ao seu redor parecia ter sido retomado à calmaria, ele suspirou, ainda sentindo o peso em seus ombros e a fúria que lhe dominou com a presença do demônio.  


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Notas finais do capítulo

~ Eu sei que prometi que esse capítulo seria com mais encontro entre Alana e Kambriel, porém os personagens já não me obedecem mais, mas no próximo (que já está pronto) teremos sim esses dois juntos de novo!

~ Quem será que estava na igreja, hein?

~ Tem muita coisa acontecendo e perguntas se formando, mas logo mais tudo será respondido.

Beijos e nos vemos em breve!



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