Drania escrita por Capitain


Capítulo 32
Ogün


Notas iniciais do capítulo

espero que não tenha ficado muito confuso.
boa leitura!



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A apóstola de Kraaz encarava o Chefe Ogün com um olhar superior. Ele, como sempre, sorria calmamente.

— Temo não poder aceitar seu pedido - a voz de Ogün era gentil - embora cultuemos a mesma divindade, e respeitemos a ferocidade do Grande Dragão, nós orcs do clã Kvöth não concordamos com as práticas do culto de Kraaz. Não interferiremos em seus cultos ou seu território, desde que respeitem o nosso.

— Tolo! - a voz da Apóstola era recheada de escárnio - No dia do julgamento, quando Kraaz atravessar a ferida para trazer seu reino de fogo e fúria, ela se lembrará da traição dos orcs!

A garota fantasma observava tudo com seus olhos escuros e profundos. Ela parecia ter cinco, talvez seis anos. Ao notar que eu a observava, ela fez uma expressão carrancuda e desapareceu entre as dobras do vestido de Aurora. A bruxa tinha uma expressão séria, porém seus olhos eram distantes, como se ela procurasse algo no horizonte. O que não fazia muito sentido dentro de uma tenda.

O Chefe Ogün moveu-se na sua cadeira feita de ossos, acendendo um cachimbo. Após uma longa tragada, mantendo o contato visual com a Apóstola, ele soprou um enorme anel de fumaça que flutuou na direção do rosto dela, por um segundo emoldurando sua expressão de desgosto antes de se dissolver.

— Quando esse dia chegar, sofreremos as consequências - Ogün disse, com o cachimbo no canto de sua boca, na sua voz mais meiga - mas até lá, espero que seus últimos dias sejam tão felizes quanto seus primeiros.

Ele fez um sinal para mim e Rasth, e nós nos colocamos a postos para escoltar a apóstola para fora da tenda. De relance, com o canto do olho, eu pude ver a garotinha encarando a cultista com um olhar entendedor.

Saia da minha cabeça!

A voz mental de Goroth era bem parecida com a de Rasth.

Sinto muito, eu tentei responder não fui eu, foi a pergunta, ela me obrigou...

Não dê desculpas, só saia!

Antes que eu pudesse tentar, outra memória me atingiu.

— Nosso pai devia ter aceito a proposta - Rasth e eu voltávamos para o acampamento após escoltar a Apóstola. Ele cuspiu o fumo que estivera mascando - temos que fazer alianças se quisermos vencer a guerra contra Vralgongard.

— Não estamos em guerra com Vralgongard - eu pontuei - na verdade, não tem guerra nenhuma a centenas de anos.

— Quando Vralgongard souber que estamos tomando a Floresta Negra, eles vão nos atacar, escreva o que eu digo - meu irmão mais velho disse - não podemos permitir que eles nos arrastem de volta para o deserto.

— Ninguém além de nós mostrou qualquer interesse pela floresta negra nos séculos desde que os elfos desapareceram - eu respondi - você está procurando chifre em cabeça de cavalo.

Você é sempre assim - Rasth não escondia a irritação na voz - sempre desmentindo tudo o que eu falo, e dizendo “espere” e “não precisamos lutar”, sempre se achando o sábio das montanhas, seu merdinha.

Por isso mesmo que nosso pai quer que eu seja o próximo chefe, eu pensei. eu sabia que Rasth estava pensando a mesma coisa.

Saia da minha cabeça!

Não dá!

Porque não?

Eu não sabia porquê. Eu não estava no controle de mim mesma, não sabia onde meu corpo estava, a pergunta que achei que já tinha respondido me puxando mais e mais fundo na mente do orc.

— Sabe, Aurora, ninguém por aqui costuma usar a cabeça para muita coisa - eu disse, sem saber bem o que eu queria com aquilo - isso é parte do que admiro em você.

Aurora sorriu. Seu sorriso era doce como as flores em um campo no verão.

— Não saia mentindo só pra me agradar, que eu tenho um fraco para elogios - ela comentou. - Eu não conheço o clã inteiro, mas pelo menos você e Ogün parecem ter a cabeça no lugar. Não diria o mesmo sobre seu irmão, entretanto.

Ninguém diria que meu irmão tinha a cabeça no lugar.

— Rasth é... complicado. Ele gosta de lutar, é a única coisa com que ele se importa. Guerra. - Deixei minha expressão séria novamente - Aurora, eu preciso perguntar uma coisa sobre a garota fantasma.

— Fale. - A bruxa parecia legitimamente surpresa com o tópico.

— Você confia nela? - eu perguntei - eu a segui noite passada. Ela deixou a sua tenda e foi conversar com a apóstola no meio da noite.

— Drania é só uma criança, Goroth - Aurora falou - uma criança que morreu de forma trágica. Eu a resgatei das ruas de Vralgongard, vagando sem destino, e dei um propósito a ela. Confie em mim, ela conversa com todo mundo que ela encontra. É uma máquina de fazer perguntas, espere só ela escolher você para responder porque o céu é azul.

— Porquê o céu é azul? - a voz infantil veio de trás de mim, atravessando minha coluna com um arrepio. A quanto tempo ela estava escutando?— e porque o tio Goroth não gosta de mim?

— Não é que ele não goste de você, querida - Aurora falou de forma meiga - ele só é bem desconfiado e cabeça dura. Ei, tio Goroth, porque o céu é azul?

Eu suspirei.

— Por causa do ar - eu disse - a luz azul é refletida pelo ar antes das outras cores.

— porquê?

— Não sei. -Respondi - mas é verdade.

— Goroth não está errado - Aurora sacudiu a cabeça - mas faltou muita coisa na explicação dele. A luz na verdade é feita de ondas...

Saia!

Eu estou tentando! Eu respondi. Tentei me concentrar em achar uma saída, voltar  ao meu corpo, sair da cabeça do orc. Porém, não importava para onde eu ia, só tinham mais memórias.

Tente não pensar em nada! Eu gritei com minha mente talvez se você parar de pensar, eu ache o caminho pra fora.

Não tive tempo de ouvir a resposta de Goroth, porque fui invadida por outra memória.

A chuva batia na minha pele como um tambor, enquanto eu caminhava até a tenda do Chefe Ogün, vindo da tenda de aurora. A garota fantasma havia sumido por horas, e a bruxa estava preocupada. Onde será que aquela menina se meteu? Me perguntava. Talvez meu pai tivesse um plano para procurá-la. Eu tinha a sensação de que o culto de Kraaz tinha algo a ver com isso.  os guardas me cumprimentaram quando passei por eles, e eu sorri ao entrar. A tenda de meu pai, o Chefe Ogün, era sempre aconchegante. Até hoje.

Ele estava dormindo em sua cadeira de ossos, cachimbo ainda aceso em sua boca, a fumaça subindo em linha reta para o teto. E havia mais alguém. A garota fantasma estava em pé ao lado da cadeira, com as mãos fechadas em punhos. Ao redor dela, haviam runas flutuantes, pequenas ruas azuis que dançavam no ar. Ela estava ali, parada, encarando meu pai que dormia, a fumaça do seu cachimbo... não se movia. 

Ele não estava respirando.

Ele não estava dormindo.

— Não é pessoal, é sério - a voz que saiu da boca da garotinha não era mais meiga nem jovem, uma voz controlada e fria, a voz de quem estava acostumada a matar - minha mãe me prometeu um corpo se eu o matasse.

Pai!

— Não! - eu gritei, correndo até ele, segurando suas mãos geladas entre as minhas - pai!

Meu pai estava morto.

A fantasma apenas me encarou com seus olhinhos profundos.

Não havia nenhum remorso neles.

— Drania... - eu sussurrei - porquê?

— Esse não é o meu nome - ela disse - e eu te disse porquê. Eu preciso de um corpo para possuir, e a minha mãe precisa de alguém para fazer o trabalho sujo.

Ela encarou meu pai com desdém.

— Ogün deveria ter aceito o pedido da minha mãe - ela voltou o olhar para mim - que bom que Rasth é mais sensato. Ele vai culpar Aurora, então se quiser que ela viva, vai ter que correr.

Minha faca atravessou a cabeça do fantasma sem causar nenhuma reação. A garotinha sorriu.

— Eu espero que você sobreviva - ela disse - poderíamos ser amigos, se eu tivesse te encontrado antes de morrer. Eu realmente sinto muito pelo seu pai. Morrer antes da hora é uma merda.

 

 

 


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Notas finais do capítulo

e aí, ficou muito confuso? talvez eu tenha que reescrever essas memórias de outras pessoas em 3ª pessoa. mas só na revisão, agora não dá mais pra mudar isso antes de terminar a história.
enfim, vejo vocês nos próximos capítulos!



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