A porta automática da enfermaria se abriu, dando entrada a uma jovem andoriana alta e bonita, de olhos azuis muito claros e usando o uniforme amarelo da equipe de segurança da Enterprise.

— Thylia, esta é a alferes kyhlen Ch'therrik – disse a médica, indicando a jovem andoriana – Ela tem o mesmo tipo sanguíneo de Kethaar e prontificou-se a doar.

— É uma honra conhecê-la capitã – cumprimentou a moça, inclinando a cabeça ao modo andoriano.

— O prazer é meu, alferes. –  disse Thylia, também inclinando a cabeça em resposta.

Porém ao responder a oficial demorou-se alguns momentos olhando atentamente para a moça. 

— Notei que você tem a pele e os olhos em um tom de azul mais claro, incomum entre os andorianos em geral – continuou Thylia – Toda a sua família pertence à etnia Bish'ee, minha jovem?

kyhlen pareceu ficar constrangida, mas respondeu depois de alguns momentos.

— Meus pais são Bish'ee, assim como meus avôs maternos. Minha avó paterna também era Bish'ee, mas meu avô paterno era Aenar (1).

O semblante de Thylia se fechou e ela tornou a perguntar:

— E quantas pessoas em Andoria sabem sobre isso?

— Apenas os membros do meu clã. -  respondeu a jovem – Minha avó Zyrao  pertencia à etnia Bish'ee, assim como nós. Ela era tripulante de um navio corta-gelo que operava no nosso pólo norte. Há cerca de oitenta anos, quando participava de uma caçada fora do navio, foi atacada por um Razial, uma espécie de lontra carnívora grande que vive na região. Um jovem  Aenar, Areth, a encontrou quase morta no gelo e a levou para a vila onde morava e cuidou dela até sua recuperação, E eles se apaixonaram. E quando ela resolveu voltar para Laibok já estava grávida e por isso ele a acompanhou, mesmo contra a vontade de sua família.

— Seu avô era Aenar? –  perguntou Beverly, estranhando – pensei que eles não se relacionassem com as outras etnias andorianas.

 -  E realmente não se relacionam – continuou a moça – por isso a meu avô nunca foi bem aceito no nosso clã, o que trouxe muito sofrimento para eles. E logo que meu pai nasceu ele resolveu que seria melhor para todos que voltasse para o seu povo. Porém nossa família não permitiu que minha avó o acompanhasse de volta e ele teve que partir deixando para trás a mulher e o filho.

— E porque este fato não consta na sua ficha? – tornou a perguntar a médica.

— Porque este é um assunto particular e delicado para nossa família. – respondeu a alferes – e nunca achei que isso um dia fosse relevante para os meus serviços na Frota Estelar.

Thylia encarou silenciosamente a jovem por mais alguns instantes e depois se voltou novamente para a médica.

— Preciso conversar em particular com você – disse séria.

Beverly ficou preocupada com a atitude dela e notou que a alferes Kyhien também havia ficado tensa.

— Vamos para o meu gabinete. – falou a médica, indicando a porta anexa à enfermaria. Dirigiu-se então à jovem oficial andoriana – Alferes, eu a chamo novamente quando tudo estiver preparado.

A moça empertigou-se e assentiu.

— Certo doutora – disse  – eu aguardo.

Antes de sair, ela lançou um olhar cheio de tristeza para Thylia.

Assim que entraram no gabinete, e médica se sentou e aguardou em silêncio tinha a dizer.

— Você tem que achar outra maneira de cuidar de Kethaar, doutora, – disse finalmente a andoriana de maneira dura – Porque eu não posso autorizar que a alferes kyhlen doe sangue para o meu filho.

Referência do Capítulo:

(1) Os Aenar são uma sub-raça albina da etnia andoriana Bish'ee. Eles são cegos, telepáticos  e moram no extremo norte do planeta de Andoria em cidades subterrâneas. Por muito tempo foram considerados um mito e apenas algumas pessoas já os viram, porque são extremamente arredios, preferindo viver isolados. Ao contrário dos outros andorianos, são pacifistas, abominando a violência.