Graveyard of Flowers — Roses escrita por crowhime


Capítulo 4
Capítulo 4




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Outubro, 1976

 

O verão trouxe mais mudanças do que eu poderia prever, além da minha passagem para o quinto ano.

Sirius fugiu de casa. Era um dia de calor intenso, o ar seco tornava a tarefa de respirar incomoda, quando ouvi os gritos dele e de minha mãe no andar de baixo. Farto de todos nós, Sirius pegou a motocicleta trouxa que havia escondido e enfeitiçado, e partiu definitivamente para morar com os Potter, com o som do motor roncando se distanciando, deixando apenas um rastro de fumaça para trás.

Barty e eu nos aproximamos mais desde o final do ano letivo. Trocamos cartas o verão inteiro. Eu me sentia mal por me apoiar daquela forma nele, mas ele parecia mais do que satisfeito e determinado em me curar: ele havia dito que faria com que eu me apaixonasse por ele, assim eu não teria mais de me preocupar em virar um cemitério de flores. A última parte, não dizia, mas ambos sabíamos que era como a sentença acabava; não era necessário pronunciá-la.

A doença por si só parecia estável. Segundo o livro, era o terceiro estágio, me restando passar por apenas mais um antes da morte iminente. Mas permanecia quase discreta, facilitando que eu escondesse minha condição dos meus familiares, utilizando de feitiços para sumir com as rosas e qualquer possível evidência e poções de cura que Severus havia me ajudado a produzir para ter um estoque para as férias.

Eu não tinha notícias de Remus. Com as provas do fim do ano chegando e os exames do quinto para ele, foi fácil me distanciar sem levantar suspeitas até que nossas interações fossem praticamente findadas. Embora parte de mim se perguntasse se ele sentia minha falta, a outra parte - a mais racional e que possuía senso de autopreservação - havia decidido que o melhor era eu me enfurnar em qualquer outro afazer ou tarefa, e ocupar minha mente para não ficar pensando nele.

Mais fácil falar do que fazer. Especialmente quando, após ser escolhido como monitor da Sonserina, passei a ver Remus com muito mais frequência que meu coração aguentava. Havia reuniões e rondas programadas, mas sempre dava um jeito de evitar ficar sozinho com ele, limitando-me a retribuir os cumprimentos com acenos distantes.

Quando a festa de Halloween chegou, eu não estava minimamente animado. Foi Barty quem me obrigou a tirar o pijama e colocar roupas adequadas para a ocasião, apesar de no fim eu ter de arrumar a gravata dele, já que ele nunca se preocupava com estar alinhado. Acabava suspirando com o descuido, ele abria um sorriso e então eu não achava tão ruim aquele tarefa.

Eu me sentia deslocado no meio do Salão Principal que estava enfeitado para o Halloween. Estava com Barty, trocávamos bebidas, conversava um pouco com outros colegas da comunal da Sonserina, fazia meu melhor para participar, entretanto eu sentia sempre como se observasse de fora: a música alta ressoava abafada em meus ouvidos, como se houvesse um filtro, e eu podia observar o mundo se movimentando, os alunos dançando, rindo e se divertindo, mas eu não fazia parte daquilo.

Talvez fossem os ares mórbidos que me rondavam ou minha personalidade depressiva, porém aquele mundo parecia inalcançável para mim.

Alheio a meus pensamentos, Bartemius segurou minha mão e me puxou, fazendo com que derrubasse metade da minha bebida no chão e instintivamente soltei uma exclamação de protesto, franzindo o cenho. Ele apenas riu. 

— Você precisa se divertir, Reg! Vem, vamos dançar.

— Eu não danço, Barty.

Murmurei, não aquele tipo de música ao menos, fazendo um bico que sabia ser infantil. Ele revirou os olhos, divertido.

— Não que alguém aqui saiba.

Fazia sentido. Virei o restante da minha bebida, colocando o copo vazio sobre uma das bandejas que flutuavam entre os alunos, deixando que ele me guiasse. Alguns meses atrás, me incomodaria com os olhares e cochichos referentes à nossa relação, mas agora parecia algo tão pequeno que eu não me importava mais. Aos poucos, me soltava, os passos se tornando menos travados e eu me permitia me divertir, inclusive rindo quando ele me girou por baixo de seu braço.

Eu queria me apaixonar por Bartemius.

Estar com ele era tão… mais fácil. Mais simples. Não precisava me preocupar se ele estava me vendo como uma cópia de Sirius ou só interessado no sobrenome Black.

Uma pena que não conseguia controlar aquele sentimento sufocante.

Quando perdi o ar, me sentindo cansado e respirando com dificuldade, Barty se ofereceu para buscar outro drink para mim e eu me dirigi a uma das cadeiras dispostas no canto do salão para me sentar. Estava sem fôlego e só podia desejar que não tivesse relação com a doença e que não atrapalhasse as partidas de quadribol, enquanto meus olhos percorriam casualmente as pessoas, assistindo-as como se fosse um filme.

Não foi por querer que meus olhos pousaram em Remus Lupin. Ele atraía meus olhos como se fosse um ímã. Ele carregava duas bebidas, seguido por Peter Pettigrew que carregava mais duas, e pude adivinhar que era para os dois patetas que controlavam o grupo. Quis desviar minha atenção, mas a expressão de choque e dor em seu olhar fez com que minha curiosidade falasse mais alto. Aprumei o corpo no assento, espiando por entre os alunos, seguindo a direção que ele encarava fixamente em busca de entender o que causara aquela expressão.

Meu estômago se agitou, fazendo com que sentisse ânsia quando entendi.

Sirius estava beijando Marlene McKinnon no meio da pista de dança, eles pareciam que queriam engolir um ao outro e era totalmente nojento. Ele não tinha vergonha nenhuma, de fato. Eu sabia quem era aquela aluna trouxa, porque no ano passado ele ficou se gabando de como havia a “pegado” sem nenhum pudor. Na época, já havia reparado também nos sorrisos forçados de Lupin.

Mas não bastava aquela cena que me enojava, Sirius não estava com Remus? Não era algo que ele clamava pelos corredores ou falava aos quatro ventos, porém eu sabia que sim. A cólera crescia junto com o enjoo e mal tive tempo de puxar Talkalot e pedir para avisar para Barty que iria ao banheiro, indo o mais rápido que pude até o que havia no corredor mais próximo.

Me tranquei na última das cabines. Havia começado a reconhecer quando vinha uma crise: falta de ar, peito doendo, garganta se fechando e suor frio que fazia meus cabelos grudarem no rosto e na nuca. No período em casa, foi essencial ouvir os sinais, afinal. Quase não sentia mais dor quando as flores subiam por minha garganta, os espinhos cortando minha boca. Outra coisa que havia aprendido foi: ser silencioso. Mesmo após a crise, com a respiração descompassada, conseguia apenas apoiar a testa nos braços, respirando calmamente para voltar ao controle de meu próprio corpo.

Quando a porta se abriu de súbito, não me movi, permanecendo sentado no chão e com o rosto afundado nos braços, de olhos fechados, imaginando que era Barty que havia entendido o que minha saída repentina significava e vindo me procurar. Contudo, me assustei quando ela bateu com um estrondo, me fazendo erguer a cabeça e piscar desnorteado. Não disse nada, afinal não era do meu feitio me meter na vida alheia, porém congelei como se tivesse sido atingido por um feitiço petrificante quando ouvi a porta se abrindo e a voz de Sirius ressoando enquanto a batia atrás de si.

— Por Merlin, Remus, deixa de ser dramático! — ele soava irritado e eu me encolhi, sem nem respirar, temendo que me descobrissem ali, mesmo que não estivesse espiando propositalmente.

— Me erra, Sirius! O que quer que eu faça? Que pedisse pra entrar no meio? Ah, vá se foder!

Remus estava tão bravo quanto. E eu não podia tirar sua razão…

— Seria melhor do que dar chilique — ironizou e, mesmo que não fosse direcionado a mim, me dava raiva aquele tom de voz de quem sabia tudo.

— Chilique? Você não viu metade! Onde eu estava com a cabeça? Puta que pariu, Sirius! Eu já devia saber… céus, eu sou um idiota. Devia ter acabado isso depois do que você fez. Não sei como isso durou até agora! Você é um babaca egoísta, atrás de qualquer foda fácil.

— O que eu fiz! O que eu fiz, Remus?

— A bebida consumiu sua memória também? — a voz de Remus soava ácida e com uma raiva que nunca tinha ouvido antes. — Você quase fez com que eu virasse um assassino, Sirius. Um assassino! E eu deixei passar porque é meu amigo. Porque eu gostava de você! Como sempre, engoli tudo por sua causa!

— Puta merda, não acredito que vai se doer por causa do Ranhoso.

— NÃO é por causa do Ranhoso! Se não consegue entender isso, fique menos bêbado antes de vir falar comigo!

Meu corpo tremia. Não conseguia ver a cena, mas eu podia imaginar quase perfeitamente a discussão e não sabia se deveria intervir e me revelar ou se acabaria sobrando para mim. Mais do que ninguém, eu sabia como era brigar com Sirius e, com os olhos fixos nas flores flutuando na água, não sentia vontade de lidar com isso. Não havia falado com ele desde que ele havia fugido de casa. Ele era um traidor. E não tinha nada a ver comigo o que acontecia ali.

Sirius havia erguido a voz quando, mais uma vez, a porta se abriu, dessa vez com delicadeza, fazendo com que ele se calasse antes que proferisse um novo palavrão.

— Reg, você está a… í. — Reconheci a voz de Bartemius. Ele odiava Sirius e não foi surpresa seu tom se alterar para um frio e cheio de desprezo. — São vocês.

— Se manda, Crouch.

Sirius foi o primeiro a enxotá-lo com algo que parecia um rosnado.

— Não.

Os passos de Barty ecoaram pelos azulejos e eu, sinceramente, não sabia o que fazer, por reflexo me encolhendo onde estava.

— O que você quer? Está vendo meu irmão por aqui? Não, então pronto, ele deve estar fugindo de você. Ele é bom em se esconder e fugir, sempre foi.

Apertei os dedos na superfície fria do vaso sanitário, bem como cerrei os dentes, meu sangue começando a ficar quente enquanto ouvia a ironia presente na voz dele.

— E o que você sabe?! — Barty disparou, sua voz alterada. — Sempre foi uma merda de irmão mais velho, qualquer um fugiria de você, sua escória da sociedade!

— Ah, é? Não ache que conhece mais ele que eu só porque está dando uns pegas no meu irmão, seu merdinha!

Conhecendo Barty, sabia que iria para cima de Sirius e sinceramente? Queria me abster. Não sabia se queria revelar minha posição, me assustando quando a voz de Remus voltou a ressoar. Havia achado, por um momento, que ele havia ido embora no meio da confusão.

— Parem, os dois! Sirius, pare de provocar também, que porre.

— Não encoste em mim.

Barty vociferou e, mesmo distante, sentia sua raiva emanando. Remus não merecia aquilo só porque não conseguia me amar de volta… Sentindo-me tonto, mais uma vez precisei me curvar sobre o sanitário, cuspindo mais um punhado de rosas vermelhas.

Eu queria enviar um sinal mental para Barty para que não me delatasse ali, afinal eu tinha certeza de que havia ouvido o que não deveria, mas ele me conhecia bem suficiente para saber meu padrão de pensamento e veio direto para a última cabine do extenso banheiro, sem hesitar. E eu também o conhecia bem: ele não iria perder a chance de esfregar na cara de Sirius que sim, me conhecia melhor do que ele e que estava certo. Afinal, eu estava mesmo escondido no banheiro.

Os passos pararam em frente a cabine e ele bateu duas vezes na porta para se anunciar.

— Reg, estou entrando.

E não hesitou em destrancar a porta com um alohomora, como sempre fazia quando eu não respondia. A situação era mais recorrente do que eu tinha coragem de admitir. Eu odiava me sentir tão fraco e dependente de Bartemius, mas mais de uma vez ele viera me ajudar, então era um cenário comum na nossa relação.

— Você está bem? — ele me sussurrou o questionamento após se abaixar ao meu lado, acariciando minhas costas com uma das mãos.

Não consegui encontrar minha voz. Percebi que o sangue se acumulava na minha língua e mesmo tentar engoli-lo fazia minha garganta arder. Ergui os olhos para ele e não consegui focar a visão em sua figura me fitando preocupada, balançando a cabeça em uma negativa. Não que precisasse esboçar qualquer tentativa de resposta, só de me olhar ele sabia que eu não estava bem. Barty retirou um lenço de dentro do bolso do terno aberto e limpou meus lábios gentilmente, embora os cortes recentes ardessem.

— Regulus precisa de ajuda…?

Não foi Sirius quem perguntou. Remus tinha um tom mais gentil agora enquanto se aproximava e eu voltei meu corpo para os braços de Barty, escondendo o rosto quase junto a seu peito, segurando o lenço contra a boca com uma das mãos e apertando-lhe o braço com força em um sinal silencioso.

— Não da sua, mestiço imundo.

Barty colocou toda sua raiva naquela sentença baixa, e eu imaginava que ele não precisava se esforçar para isso.

Não queria que ele falasse aquilo de Remus, ele não merecia ser tratado daquele jeito, mas ao mesmo tempo eu não queria que ele chegasse perto. Como Lupin travou no lugar com a resposta, silenciosamente agradeci pelo comportamento agressivo que Barty direcionava a ele e a Sirius. Como sempre, me ajudava a lidar com a situação, e tudo que podia fazer era me apoiar nele.

— Vem, Reg. Vou te levar na enfermaria.

Barty me ajudou a ficar de pé, e eu continuei a cobrir a boca com o lenço, pois não queria correr risco de que um dos dois vissem os cortes, mas não os encarava em momento algum. Andava lentamente, com o olhar baixo, encarando o chão, embora sentisse a preocupação de Remus pesar sobre mim e o olhar surpreso e contrariado de Sirius.

Ao invés da enfermaria, Barty me levou para a comunal, sabendo que estaria vazia já que todos estavam na festa. Com exceção de Snape, que saiu mais cedo com a raiva de um furacão devido a bebida que Sirius e Potter jogaram nele, então não foi uma surpresa entrar e vê-lo sentado no sofá com a maior carranca do mundo, os cabelos molhados denunciando o banho recente. Ele já sabia de meu problema, então não era grande coisa ele nos ver entrando após Barty dizer a senha que dava acesso ao salão nas masmorras. Severus apenas ergueu o olhar do livro em que estava com a cara enfiada, arqueando uma das sobrancelhas e não precisou que esclarecêssemos algo para ele entender que eu tive outra crise pesada. Em gesto quase mecânico, ele se levantou e nos seguiu até nosso quarto.

Severus me passou uma das poções que eu guardava escondido nas minhas coisas para aquele tipo de situação, sentando-se na cama ao lado da minha - a que pertencia a Barty - e ficou me encarando enquanto eu tomava o conteúdo do frasco, enquanto Barty estava ao meu lado, a mão sempre posta de modo assegurador sobre minhas costas.

— Você deveria considerar a cirurgia, Regulus. — A voz séria de Snape soou e eu odiava aqueles olhos escuros, graves, pesando sobre mim.

Terminado o conteúdo do frasco, fechei os olhos, enquanto sentia a poção fazendo efeito e fechando meus ferimentos. Quando os abri, vi Barty mordendo o lábio inferior como se estivesse se controlando para não comentar nada, mas quando seus olhos se encontraram com os meus, o controle foi deixado de lado.

— Eu também acho.

Suspirei e pigarreei, tentando achar minha própria voz, sentindo vestígios do gosto metálico de sangue na língua, pegando o copo que havia trago para o quarto e o enchendo de água com um feitiço. Enquanto ponderava, bebi seu conteúdo para limpar o gosto da boca, estalando os lábios ao final. Eu sabia que eles estavam certos, porém o problema não era simplesmente decidir fazer a cirurgia - com todos seus riscos - ou não.

— Eu teria de falar com meus pais… é uma cirurgia cara. Não sei nem se alguém no país seria capaz de fazê-la... Mas... eu tenho medo.

Confidenciei, abaixando a cabeça. Não era um tópico que eu gostava de falar muito. Por mais que eu quisesse acreditar que eram meus pais, que eles me ajudariam, eu temia que meus receios estivessem certos e no fim eles simplesmente achariam tudo um incômodo. Eu não gostava de dar trabalho a eles: já bastava Sirius; embora agora ele estivesse fora da equação, já havia sido decepção demais.

O silêncio que recaiu no ambiente era pesado. Me incomodava ser quem deixava o clima ruim e mórbido, e ultimamente era tudo que acontecia, mas eu sabia que eles me entendiam, ao menos em partes. Barty sabia o que era não poder contar com o pai, apesar de ter uma mãe amorosa, e Severus… bem, eu não sabia muito sobre sua família, mas tinha impressão de que ele não se dava nem um pouco bem com os pais, já que sempre estava em Hogwarts quando possível, mesmo nos feriados, e não o via recebendo muitas cartas de casa. Eu, talvez por falta de referência, acabava visualizando alguém como Orion ou Bartemius Sr., homens sérios e fechados, mas que negligenciavam ou eram distantes da família, e podiam se tornar violentos quando provocados.

O fato era: ambos vindo de lares tortos e distorcidos, conseguiam compreender minimamente minha falta de iniciativa para faltar com Walburga e Orion. Por mais que eu fosse um pouco mais próximo de minha mãe, ainda não queria decepcioná-la. Ela já estava sofrendo demais por conta de Sirius, embora não demonstrasse para os demais.

— Irei deixá-los a sós.

Severus anunciou após ficarmos naquele silêncio mórbido por alguns minutos, já ficando de pé. Erguendo os olhos, não pude conter a dúvida que me passou pela cabeça.

— Severus. — chamei e ele me fitou por cima do ombro. — Quando mesmo você disse que foi atacado por um lobisomem?

Ele arqueou uma das sobrancelhas, desconfiado, mas simplesmente respondeu.

— No fim do ano letivo.

— Que pergunta é essa, Reg? — Barty riu, um pouco forçado, eu pude reparar, enquanto me apertava com um dos braços. — Está crescendo flores no seu cérebro também?

— Não enche… — resmunguei, um pouco constrangido, entendendo que a pergunta era aparentemente sem contexto, afastando-o com uma das mãos. — Só estava pensando nisso outro dia.

— Desde que não tente se matar se jogando na frente de um lobisomem.

Snape disse categoricamente, se virando de vez para sair. Quando a porta se fechou, fui pego de surpresa pelo gesto repentino de Bartemius, que se jogou para cima de mim e me derrubou na cama.

— Ei!

Tentei protestar, mas fui incapaz de continuar quando vi que ele afundava o rosto no meu peito, de forma que eu não conseguia ver sua expressão.

— Você não está pensando em se matar, está? — sua voz era tão profunda e sombria que me deu arrepios.

— Não. Eu não... 

Não consegui formular uma justificativa para minha questão, o que deve ter o preocupado, pois logo Barty subiu na cama, se apoiando nos braços para ficar em cima de mim, deixando que eu visse seu olhar faiscando de raiva.

— Eu te proíbo de fazer isso, Regulus. Se você se matar, eu te trago do inferno só pra pessoalmente ser eu a te matar.

Meu olhar se suavizou. Naquele momento, não estava pensando em algo tão mórbido, porém eu entendia a lógica por trás daquela sequência. A essa altura, ambos já me liam como uma pessoa depressiva e intensa, por vezes inconsequente, o que sinceramente eu via como um exagero, mas não podia julgar. E não é como se eu pudesse explicar o que me passava pela cabeça sem criar uma grande comoção e colocar Remus em risco. Deixando como estava, contornei o pescoço dele com os braços, trazendo-o mais para perto de mim.

— Eu não vou, Barty. Eu disse… mesmo que eu morra, vou ficar com você até o final.

— Acho bom.

Ele resmungou. Vi as bochechas dele ruborizarem, e eu sabia que ele só estava frustrado por vergonha. Era fofo como ele era sempre tão expansivo e cuidadoso, mas quando eu demonstrava carinho abertamente, ele terminava corando e até mesmo ficando constrangido às vezes; embora eu não falasse este pensamento em voz alta, pois quando o fiz tive que desviar de um feitiço lançado na minha direção. Achava graça, então guardava para momentos de implicância. Mas eu gostava. Não esquecia a expressão de surpresa e vergonha dele quando tomei a atitude de subir em sua cama para que dormíssemos juntos quando as aulas retornaram: e agora havia se tornado algo tão comum que Nott apenas revirava os olhos toda manhã quando nos via grudados e somente éramos ignorados sumariamente. Sem precisar pensar, o puxei em minha direção, selando os lábios nos dele. Eu sabia como era desolador alguém que se ama não retribuir seus sentimentos; para ele devia ser ainda pior porque dia após dia, ele via minhas crises piorando, minha saúde se deteriorando, e sabia que eu morreria se nada mudasse. Assim, mesmo que não pudesse amá-lo profundamente, eu me dedicava o máximo possível à nossa relação. Queria deixá-lo feliz naquele tempo limitado que tínhamos juntos - já havia aceitado meu destino, afinal. Mesmo que não fosse uma paixão avassaladora, eu ainda amava Barty a seu próprio jeito. Só não era o suficiente para me curar das rosas que cresciam em meu peito. E eu realmente desejava que fosse.

Se eu o amasse, que tipo de flores será que cresceriam em meu coração?


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